ВДВ – 80 (Воздушно-десантные войска – 80)
Por Antonio Carmo • 21 Out , 2010 • Categoria: 08. JÁ LEMOS E... PrintВДВ – 80
Revista – edição especial do 80º aniversário;
Moscovo, 2010, 144 pp. (s/preço), Rússia.
( fotos a preto e branco e a cores, mapas e outras ilustrações)
No passado dia 2 de Agosto de 2010, a Federação Russa levou a efeito os festejos oficiais comemorativos do 80º Aniversário das TROPAS PÁRA-QUEDISTAS – ВДВ(*) promovendo diversificadas iniciativas.
A «certidão de baptismo» dos pára-quedistas russos aponta o dia 2 de Agosto de 1930, como o dia primeiro dos seus 80 anos.
Nesse dia, na Região Militar de Moscovo (Voroneg), foram efectuados alguns exercícios militares de demonstração da Força Aérea e, pela primeira vez, foi lançado desde uma aeronave em voo, um grupo de 12 pára-quedistas e vários contentores com armamento e munições.
Uma vez no solo, este aguerrido grupo recuperou todo o seu material, cumprindo com inegável profissionalismo a missão recebida.
Este êxito serviu de incentivo para o Conselho Revolucionário de Guerra do Exército Vermelho autorizar a formação e activação de unidades de Tropas Pára-quedistas.
O primeiro Destacamento de Tropas Pára-quedistas, composto por 164 militares, foi criado na Região Militar de Leninegrado e, em 1934, as Tropas Pára-quedistas russas já contavam nas suas fileiras com cerca de 8.000 efectivos.
Em Setembro de 1935, numas manobras militares realizadas na Região Militar de Kiev, todas as delegações estrangeiras presentes, foram surpreendidas com um espectáculo e prática nunca vistos: aeronaves lançam 1200 pára-quedistas, vários carros de combate ligeiros e algumas peças de artilharia.
No início da 2ª Guerra Mundial (1941-1945), a Rússia (ou URSS para este período) já dispunha de cinco Corpos de Tropas Pára-quedistas que combateram nas repúblicas do Báltico, na Ucrânia e na Bielorrússia (Belarus), e defendendo as cidades de Odessa, Sevastopol, Stalinegrado e Kerch.
No final deste conflito, os pára-quedistas russos ainda cumpriram missões na Karélia, Kishinev, Hungria, Checoslováquia e Áustria (Viena), enfrentando as aguerridas unidades alemãs das SS. Mas, para este corpo de elite, as acções de combate só terminaram de vez, em Agosto de 1945, quando eles desembarcaram nos aeródromos de Harbin, Girin, Mukden, Port Arthur, Pyongyang e Sul de Sakhalin, estancando as acções do Alto Comando japonês.
Terminado o maior conflito mundial, as Tropas Pára-quedistas russas reorganizaram-se e cumpriram missões diversas, sendo as mais conhecidas, a intervenção no Afeganistão, em 24 de Dezembro de 1979 e na Ossétia do Sul (Geórgia) em 2008.
Foi para perpetuar este inigualável historial acumulado ao longo de 80 anos que o Comando das Tropas Pára-quedistas russas, integrado num programa comemorativo, entre outras acções de carácter mais militar, editou esta riquíssima e bem elaborada revista de prestígio.
Esta revista é composta por nove “capítulos” temáticos, todos abundantemente ilustrados e distribuídos pelas suas 144 páginas.
Reabre com uma entrevista em jeito de editorial ao actual Comandante das Tropas Pára-quedistas Russas (Tenente-General Vladimir Shamanov) e, a mesma, passa em revista a história da evolução do pára-quedismo mundial e das primeiras unidades pára-quedistas russas, bem como todas as transformações orgânicas operadas ao longo dos seus 80 anos.
O capítulo imediato (página 6) é especial e significativo: aborda a participação das Tropas Pára-quedistas no conflito com a vizinha Geórgia, naquela que ficou conhecida como a «Guerra dos cinco dias». Igualmente, a experiência alcançadas na 1ª e 2ª Guerras da Chechénia (em 1994 e 1999/2000) são recordadas e passadas em revista, sem esquecer o “martírio” a que foram submetidos os pára-quedistas da 6ª Companhia do 104º Regimento da 76ª Divisão Pára-quedista (ou 76ª Divisão de Assalto Aéreo) na célebre batalha que se desenrolou nos vales de Ulus-Kert (Chechénia). Nesta batalha só sobreviveram 6 pára-quedistas de um total de 84 que integravam a 6ª Companhia, depois de estes terem combatido durante quatro dias ininterruptos e de terem abatido mais de 600 terroristas chechenos.
Os capítulos seguintes relevam importantes aspectos referentes à reorganização das unidades pára-quedistas no período pós-URSS, evidenciando as novas nomenclaturas, designações e localização geográfica, bem como a participação em missões de apoio à paz. Neles são ainda referidas, resumidamente, experiências operacionais de algumas subunidades orgânicas das diferentes divisões e os exercícios/operações de lançamento aéreo e as novas formas de lançamento de veículos motorizados de médio porte (páginas 95 a 101).
A revista, escrita no alfabeto de São Cirilo (e Metódio), diácono em Constantinopla, e um dos grandes responsáveis pela expansão do cristianismo ortodoxo entre os eslavos do Leste Europeu no século IX, é muito atraente sob o ponto de vista gráfico e abundantemente documentada.
Dependentes organicamente do Ministério da Defesa, com um estatuto de corpo militar independente no seio das Forças Armadas Russas, as TROPAS PÁRA-QUEDISTAS, vulgo «VDV», são a maior força pára-quedista do mundo.
Este importante documento histórico, em formato de revista, que evoca os 80 anos da sua história é um exemplo gráfico da sua grandeza que importa registar, e que uma biblioteca especializada não dispensa.
(*) ВДВ = abreviatura em alfabeto cirílico de TROPAS AEROTRANSPORTADAS.
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