«ZEUS 13»: TESTE À CAPACIDADE DE INTERVENÇÃO IMEDIATA
Por Miguel Machado • 22 Abr , 2013 • Categoria: 03. REPORTAGEM, EM DESTAQUE PrintA reforma que em breve vai atingir as Forças Armadas Portuguesas, com as suas linhas gerais e mesmo algumas alterações de detalhe já divulgadas no documento «Defesa 2020», refere-se a uma prioridade para a Força de Reacção Imediata (FRI). Alfredo Serrano Rosa e Pedro Miguel Matos foram ver em Tancos, Silveira, Chança e Ponte de Sôr, um exercício sectorial de parte da componente terrestre e aérea desta força. O “Operacional” agradece esta reportagem sobre o «Zeus 13» que teve a particularidade de incluir um pequeno destacamento de pára-quedistas franceses.
O «Zeus 13» levado a cabo pelo 1.º Batalhão de Infantaria Pára-quedista (1BIPara) da Brigada de Reacção Rápida do Exército, foi um exercício em que se testou a capacidade de reacção do batalhão e de componentes que lhe são exteriores, para efectuar uma operação de evacuação de “não-combatentes” (civis nacionais e estrangeiros) de um suposto país onde se encontravam ameaçados.
A FRI é uma força do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), composta por pessoal e meios da Marinha, Exército e Força Aérea, vocacionada para intervenções deste tipo, a qual tem unidades atribuídas mas cuja composição pode ser alterada consoante a missão concreta. Tradicionalmente realiza um exercício anual de grande dimensão – o “Lusíada” que em 2012 foi cancelado com a justificação que a missão realizada pela FRI na Guiné-Bissau, operação “Manatim”(*), havia gasto muitos recursos – e as forças que estão atribuídas realizam exercícios sectoriais de acordo com o planeamento dos ramos.
Para este exercício «Zeus» – assim se garante em caso de emprego real, a competência das forças para efectuar uma operação com elevada probabilidade de sucesso – o 1BIPara foi reforçado com elementos de outras unidades do Exército, com valências como a inactivação de engenhos explosivos, o abastecimento aéreo (preparação de cargas), transmissões, integrou uma pequena força – secção – do 3.º Regimento de Pára-quedistas da Infantaria de Marinha do Exército Francês (**), a seu pedido. Foi apoiado em diversas acções por meios aéreos da Força Aérea, para transporte táctico com aeronaves C-130 e C-295M e ataque ao solo com aeronaves F-16, para o que receberam ainda um controlador aéreo avançado da Força Aérea. Recorda-se a propósito que estes controladores aéreos avançados integraram durante várias missões o contingente português destacado no Afeganistão, cabendo-lhes no decurso das operações coordenar o apoio aéreo multinacional às nossas forças.
Em linhas muito gerais, durante os 3 dias que durou o «Zeus 13», testou-se o plano de alerta do 1.ºBIPara para quando a FRI é activada (o que acontece mais vezes do que muita gente julga!), a capacidade para rapidamente transportar os seus materiais orgânicos para a operação em causa – recorda-se foi uma NEO, operação de evacuação de “não-combatentes”, para a qual não está previsto armamento pesado – a partir do seu quartel em Tomar (o Regimento de Infantaria n.º 15) até à Base de Partida “Coronel Pára-quedista Luís de Noronha Krug” (a antiga Esquadra 502 da Base Aérea n.º 3 ), no Aeródromo Militar de Tancos. Aqui aterraram as aeronaves de transporte aéreo táctico vindas da Base Aérea n.º 6 (Montijo), para apoiar o batalhão e reforços, constituindo a Componente Terrestre da Força de Reacção Imediata. Optou-se pelo lançamento em pára-quedas como modo mais rápido de chegar junto ao núcleo de civis ameaçados, e o batalhão efectuou um salto táctico, armado e equipado para combate, na Zona de Salto da Silveira. A força reorganizou após o salto, e marchou em direcção a um objectivo intermédio que foi conquistado, e seguiu-se a recolha dos civis na região de Chança – aqui foram reabastecidos por lançamento de cargas a partir de C-295M – a partir de onde se iniciou um deslocamento em direcção a Ponte de Sôr. A infra-estrutura aeronáutica desta localidade foi capturada através de aterragem de assalto em C-295M. Aqui onde na realidade se encontra a “base aérea” da Empresa de Meios Aéreos do Ministério da Administração Interna), o 1.º BIPara instalou o seu posto de comando e um “centro de controlo de evacuados”, destinado a receber os civis e fazer a sua identificação e triagem antes do regresso à Pátria. Pelo meio as forças do 1.ºBIPara sofreram emboscadas, aquilo que hoje nos modernos teatros de operações de designa por “ataque complexo”, o que obrigou à intervenção dos especialistas em inactivação de engenhos explosivos, socorristas, e a testar a reacção não só dos militares que caíram na emboscada como os enviados para os socorrer. Isto integrando a secção do 3RPIMa que usou armamento cedido pelo 1BIPara. Algumas das operações terrestres, nomeadamente colunas auto e outras, contaram com diversas modalidades de apoio aéreo providenciado pelos F-16 de Monte Real, algumas das quais bem conhecidas quer dos nossos militares quer dos franceses, gente com muitas missões internacionais já cumpridas.
Quando as Forças Armadas são chamadas a intervir, pretende-se que respondam de modo rápido – por vezes é mesmo necessário no imediato – e eficiente. E é para isso que servem as Forças Armadas mas só o conseguem se treinarem e estiverem equipadas. Este tipo de exercícios, onde é testada a capacidade de comando e controlo a distâncias razoáveis, envolvendo meios aéreos de vária natureza, executando actividades com um grau de risco que confere realismo acrescido à acção, são a chave para manter operacionais forças nas quais o país possa confiar.
(*) Operação “Manatim” (15ABR-15MAi2012)– Realizou-se na sequência do Golpe Militar na Guiné-Bissau em 12ABR12 e levou à intervenção da FRI e do Quartel-General de Operações Especiais. No regresso da força, o General Piloto-Aviador Luís Araújo, CEMGFA, fez uma alocução da qual se retiraram estes elementos que permitem ver como foi comandada, como estava constituída a força na sua dependência e os departamentos do EMGFA intervenientes na acção:
Comandante Operacional Conjunto, Tenente-General Vaz Antunes (Planeamento e condução da operação), com o seu Estado-Maior chefiado pelo Contra-Almirante Almeida Carvalho;
Centro de Situação e Operações Conjunto; Centro de Informações e Segurança Militares; Quartel-General de Operações Especiais; Equipa de Ligação e de Reconhecimento Operacional; Posto de Comunicações Móvel, embarcado em apoio ao Comando e Estado-Maior da FRI;
Comandante da FRI – Capitão de Mar-e-Guerra Novo Palma;
Fragatas “Vasco da Gama” e “Bartolomeu Dias” e Destacamento de Helicópteros embarcado;
Corveta “Baptista de Andrade”;
Navio reabastecedor “Bérrio”;
Força de Fuzileiros e Equipa de Mergulhadores, embarcadas;
Destacamento P3C da Esquadra 601;
C-130 da Esquadra 501;
Destacamento de Ações Especiais do Corpo de Fuzileiros da Marinha;
Destacamento de Operações Especiais do Centro de Tropas de Operações Especiais do Exército;
1º Batalhão de Infantaria Pára-quedista da Brigada de Reacção Rápida do Exército.
(**) A “Infantaria de Marinha” do Exército Francês por vezes é confundida com “Fuzileiros Navais” ou “Marines”, mas nada tem a ver. Trata-se da designação que em França se atribuiu às unidades “Coloniais”, aquelas que estavam colocadas no antigo ultramar francês, e hoje estão especialmente vocacionadas isso sim para intervenções fora de França. São muitas em várias brigadas e guarnições as unidades da “Infantaria de Marinha”, algumas das quais…no antigo Ultramar:
Régiment de marche du Tchad de Meyenheim
Régiment d’infanterie chars de marine de Poitiers
Régiment d’infanterie de marine du Pacifique-Nouvelle-Calédonie de Nouméa
Régiment d’infanterie de marine du Pacifique-Polynésie de Papeete
1er régiment d’artillerie de marine de Châlons-en-Champagne
1er régiment de parachutistes d’infanterie de marine de Bayonne
1er régiment d’infanterie de marine d’Angoulême
11e régiment d’artillerie de marine de Saint-Aubin-du-Cormier
2e régiment de parachutistes d’infanterie de marine de Pierrefonds (Réunion)
2e régiment d’infanterie de marine du Mans
21e régiment d’infanterie de marine de Fréjus
3e régiment d’artillerie de marine de Canjuers
3e régiment de parachutistes d’infanterie de marine de Carcassonne
3e régiment d’infanterie de marine de Vannes
5e régiment interarmes d’outre-mer de Djibouti
6e bataillon d’infanterie de marine de Libreville (Gabon)
8e régiment de parachutistes d’infanterie de marine de Castres
9e régiment d’infanterie de marine de Cayenne (Guyane)
33e régiment d’infanterie de marine de la Martinique
L’école militaire de spécialisation de l’outre-mer et de l’étranger de Rueil-Malmaisona.
O 3 RPIMa cujos militares estiveram no «ZEUS 13» faz parte da 11.ª Brigada Pára-quedista (é um dos seus 8 regimentos) e tem uma longa e gloriosa história desde que foi criado em 1949 na então Indochina Francesa. Serviu na Argélia (sob as ordens do Coronel Marcel Bigeard), Líbano, Djibouti, Chade, República Centro Africana, Nova Caledónia, Togo, Gabão, Ruanda, Iraque, Turquia, Zaire, Bósnia, Kosovo, Costa do Marfim, Afeganistão e Mali.
Segundo o Exército Francês o 3RPIMa dispõe de 1.120 militares (2,1% mulheres) e 34 civis. Tem 4 companhias de combate, 1 de reconhecimento e apoio de combate, 1 de Comando e Logística, 1 de Administração e Manutenção e 1 de Reserva.
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