VISITA AO “GUARDIÃO” – GUARDA COSTEIRA DE CABO VERDE
Por Miguel Machado • 23 Jul , 2015 • Categoria: 03. REPORTAGEM, EM DESTAQUE PrintA Guarda Costeira da República de Cabo-Verde opera um navio que não sendo na sua origem militar, tem por força das circunstâncias que desempenhar algumas missões que noutros países são realizadas pelas Marinhas de Guerra. Hoje propomos uma visita a este meio naval, o “Guardião”, principal vector da autoridade do Estado no mar neste país arquipelágico. Este artigo apresenta o navio, fala em linhas gerais da Guarda Costeira e dos seus meios e recorda um amigo de Cabo-Verde.
Sendo certo que vários países – entre os quais Portugal com a classe Viana do Castelo – já apresentaram navios com características mais adaptadas às necessidades locais, a realidade é que o “Guardião”, construído nos estaleiros navais “Damen” na Holanda, vai continuar, pelo menos nos tempos mais próximos, a cumprir as suas missões no Atlântico que banha 10 ilhas de Cabo Verde. Não estará sozinho, ainda este ano dois navios chineses, novos, foram entregues a Cabo Verde, mas é o de maior capacidade e os restantes meios navais que podem actuar no Oceano estão desactualizados e alguns com limitações. Não é raro que navios e aeronaves de países amigos colaborem nas acções de controlo da vasta, rica e estrategicamente importante zona marítima de Cabo Verde.
A Guarda Costeira, parte integrante das Forças Armadas de Cabo Verde, está organizada com uma esquadrilha naval e outra aérea, tem essencialmente missões de defesa e protecção dos interesses económicos no mar sob jurisdição nacional, apoio a operações terrestres e anfíbias e bem assim como o combate à imigração ilegal e outras actividades ilícitas no meio marítimo (tráfico de droga, armas, terrorismo, etc) e também para actuar em situações de catástrofe natural e prevenção da vida no mar (busca e salvamento). No momento presente tem um avião Dornier 228, estacionado no aeroporto internacional da Praia, a operar normalmente de pois de ter sofrido grandes reparações e vários navios, o mais importante dos quais é o “Guardião”, que fomos visitar.
A Esquadrilha Aérea tem sede na cidade da Praia (Ilha de S. Tiago) e o seu meio aéreo está habitualmente estacionado no aeroporto internacional “Nelson Mandela” que serve a capital cabo-verdiana.
A Esquadrilha Naval está centrada na Ilha de S. Vicente, tem sede na cidade do Mindelo, comando junto ao aeroporto internacional “Cesária Évora” e o seu “porto base” é o Porto Grande do Mindelo.
Junto do Comando da Guarda Costeira funciona, ainda, o Centro de Operações de Segurança Marítima – COSMAR que é um órgão inter-agências de execução de serviços, no domínio da segurança marítima nos mares sob jurisdição nacional e na zona económica exclusiva.
“Guardião”
O “Guardião” (P511) construído nos estaleiros navais holandeses Damen em 2011, foi oficialmente entregue a Cabo Verde em Dezembro desse ano e à Guarda Costeira em 7 Janeiro de 2012. Desde então tem sido o principal meio naval da Guarda Costeira, chegou a estar previsto a entrega de mais navios idênticos mas tal nunca se concretizou. O navio não está armado embora haja planos nesse sentido, desconhecendo-se em que ponto está o processo. Há no entanto pontos de apoio para metralhadoras ligeiras/pesadas que podem ser adaptadas em caso de necessidade e, naturalmente, o armamento ligeiro da dotação própria da tripulação e fuzileiros embarcados.
O “Guardião” que dispõe de uma guarnição de 3 oficiais, 6 sargentos e 10 praças, pode embarcar fuzileiros, 10 com condições razoáveis e um número superior, em situação de emergência, mas com limitações acentuadas das condições de vida a bordo. O navio tem uma “semi-rigido” para operações de abordagem (2 tripulantes, 10 passageiros) o qual não está armado mas, onde se consegue adaptar uma metralhadora-ligeira.
Tem uma enfermaria e tendo em conta que as suas missões típicas são de 4 a 5 dias mas já chegaram a fazer 15 dias de mar esta instalação pode ser necessária.
Tem 50,2metros de comprimento, 9,4m de altura, 4,7m de largura, deslocamento de 480 toneladas e atinge uma velocidade de 23 nós. Embora não sejam navios comparáveis, só para se ter uma ideia das dimensões e performances, o “NRP Viana do Castelo” tem 83,1m de comprimento, 13 metros de altura, 3,8m de largura, e 1.870 toneladas de deslocamento, atingindo os 21 nós.
Busca e salvamento no mar e segurança
O governo de Cabo Verde já anunciou que mais navios e até helicópteros estão previstos para aumentar a capacidade de busca e salvamento e de patrulha marítima e área das suas águas territoriais, mas em termos de meios aéreos não tem havido novos desenvolvimentos. Em Janeiro de 2015 um trágico naufrágio nas águas cabo-verdianas com vários mortos, veio mais uma vez mostrar a prioridade que será necessário atribuir à aquisição de novos meios navais e aéreos. Em Março deste ano de 2015, a China entregou a Cabo Verde dois navios, no âmbito de um acordo de cooperação que envolve outros apoios e projectos em Cabo Verde. Estes meios reforçam o dispositivo naval no arquipélago, minimizam mas não resolvem muitos problemas que se mantêm.
Cabo Verde pela sua situação geo-estratégica tem uma grande importância em termos de segurança internacional, especialmente nas acções de combate ao tráfico de droga e ao terrorismo internacional. Por outro lado os recursos marinhos e o turismo são riquezas de Cabo-Verde que dependem do mar e das capacidades locais para com ele lidar. Quer num caso quer noutro é a soberania nacional e o bem estar dos cabo-verdianos que está em causa. Uma Guarda Costeira devidamente apetrechada e treinada é um factor muito importante para a segurança e o desenvolvimento de Cabo Verde.
Coronel Pedro dos Reis Brito
Nota do autor: só recentemente tive conhecimento do falecimento em Agosto de 2014, do Coronel das Forças Armadas de Cabo-Verde, Pedro dos Reis Brito, e quero aqui deixar expresso o meu pesar e sentidas condolências à Família, às Forças Armadas e ao Ministério da Defesa de Cabo Verde onde terminou a sua carreira. Conheci-o em 2005, era tenente-coronel chefe de gabinete do Chefe do Estado Maior das Forças Armadas e foi de um competência, lisura e abertura excepcionais em todos os assuntos que com ele tratei. Mais tarde colaborou com a “Revista Militar” em Portugal, escrevendo sobre as Forças Armadas do seu país e aí voltei a ter contacto com o Coronel Reis, como era conhecido. Prestou também serviço no Ministério da Defesa primeiro como Director Geral da Defesa e depois como Director Nacional, tendo nessas funções tratado de muitos assuntos relativos a Portugal e à Cooperação Técnico-Militar, alguns em Lisboa. Mantivemos o contacto e apoiou-me ainda em diversos artigos que escrevi em revistas militares, em Portugal e em Espanha. Depois de deixar o serviço no Ministério, ainda o tentei contactar na cidade da Praia, mas por infeliz coincidência estava ausente da cidade.
Até sempre meu coronel!
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