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“TERRORISMO” TELEVISIVO

Por • 17 Nov , 2015 • Categoria: 11. IMPRENSA Print Print

Os atentados terroristas de Paris no passado dia 13 de Novembro, à semelhança do que aconteceu em ocasiões anteriores na Europa e nos EUA, encheram os nossos diferentes canais de televisão (e as rádios e os jornais) de informação e de gente a debitar opiniões sobre a matéria. Como a quantidade raramente é sinal de qualidade, de quando em quando os disparates ultrapassam o tolerável.

Daniel Pinéu na SIC TV mostrou ser ignorante sobre a instituição militar, os seus elementos e a sociedade em que vivemos.

Daniel Pinéu na SIC TV (Jornal da Noite de 16NOV2015) mostrou ser ignorante sobre a instituição militar, os seus elementos e a sociedade em que vivemos.

Não pretendemos ter feito uma avaliação de tudo o que foi dito e escrito e nem sequer no respeitante a um órgão de comunicação social especifico, mas a realidade é que além dos tradicionais comentadores que costumam trabalhar com cada OCS, em ocasiões como esta aparecem umas caras novas, supostamente habilitadas a falar “mais em detalhe” sobre os acontecimentos. O princípio é bom, chamar a falar quem sabe do que fala e sabe mais do que os habituais comentadores generalistas, embora habitualmente, nesta áreas da política internacional, forças armadas e terrorismo, até nem se vejam grandes disparates nas TV’s. Podiam-se citar uma série de pessoas que por regra são convidados a falar com competência e que trazem realmente análises lúcidas que nos ajudam a compreender melhor os acontecimentos.

Seria assim de esperar que as pessoas chamadas trouxessem algo de novo, falassem com verdade e segurança irrepreensível. Note-se que não se trata já, neste caso que iremos apresentar, de uma análise a quente, minutos depois dos acontecimentos, que muitas vezes é pedida pelos jornalistas aos comentadores e que, essas sim, correm sempre riscos de falhar porque a informação fidedigna é escassa e, sobre a pressão das questões, as respostas só podem ser “para a zona” e não “com precisão”.

Aqui já se está numa fase de análise, de procurar explicações para o sucedido, de falar com base em factos razoavelmente conhecidos e até de comparar com outros casos bem conhecidos.

Ontem, 16 de Novembro, no Jornal da Noite (20.00) da SIC, um dos convidados para responder a questões do jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho, foi um cidadão apresentado como “especialista em relações internacionais” de nome Daniel Pinéu, que além de generalidades que qualquer pessoa que leia jornais é capaz de debitar, começou por meter os pés pelas mãos ao ser confrontado pelo jornalista com a classificação que estava a atribuir a uma das acções terroristas (teimava que tinha sido uma tomada de reféns, apesar do RGCarvalho lhe fazer ver que não tinham sequestrado as pessoas nem tinham exigido nada para as libertar, tinham-nas simplesmente massacrado), mas, o pior estava para vir. Na sequência deste desmentido em directo, ao ser questionado sobre as razões da determinação e fanatismo dos terroristas, respondeu «…isto não é de todo diferente daquilo que nós fazemos nos nossos exércitos profissionais há muitos anos, que é pegar em jovens, impressionáveis, normalmente de classe média ou baixa, com pouca educação, endoutriná-los por uma causa, que nós achamos a nossa causa particularmente boa, e repudiamos muitos dos elementos fundamentais do que estes chamam a sua causa, mas endoutriná-los para matar pessoas…».

Isto pode naturalmente ser desmontado com facilidade por qualquer pessoa que saiba minimamente o modo e os objectivos da instrução ministrada em qualquer exército ocidental e a miríade de regras de empenhamento que os soldados profissionais, portugueses ou de qualquer um dos “nossos países”, cumprem quando são empregues em operações, todas elas delineadas segundos regras estritas e muitas das vezes até com intervenção de assessores jurídicos para garantir os seus limites.

Uma análise às habilitações literárias e aos perfis psicológicos dos jovens que se tornam militares profissionais (ou contratados) também certamente contraria o referido por Daniel Pinéu que não faz a mais pequena ideia das habilitações literárias que são exigidas, hoje, a um jovem para ser militar profissional (se fizesse não dizia o que disse). Mesmo nos não-profissionais, o número de licenciados é cada vez maior e qualquer pessoa que conheça o universo militar nacional dos nossos dias percebe isto, constata esta realidade mesmo nos postos mais baixos da hierarquia. O mesmo se passa aliás nas Forças e Serviços de Segurança.

Quanto às origens sociológicas dos jovens que se profissionalizam, a sua “classe de origem”, não se percebe como chega à conclusão que referiu uma vez que não há estudos em Portugal sobre esta matéria há muitos e muitos anos. Terá acesso a alguma informação dos ramos das forças armadas que mais ninguém conhece?

Mas o mais grave nas afirmações de Daniel Pinéu, supostamente uma pessoa inteligente e bem formada, nem será esta ignorância factual sobre a instituição militar e os seus elementos, é sim o assumir que nas nossas sociedades, através de governos legítimos que determinam a acção das forças armadas de acordo com o primado da lei, haveria a mínima possibilidade de se pregar uma qualquer doutrina de morte, de terror, de assassínio frio de seres humanos desarmados, nos nossos jovens militares!

Mas em que século estará a mente deste cidadão que se supõe de cultura superior? Ofendeu com a arrogância dos ignorantes não só os militares como a sociedade a que pertencem e que servem no estrito cumprimento de ordens legitimas suportadas num sistema democrático que está nos antípodas das práticas dos  terroristas que nos atacam. 

 Clique e veja aqui as declarações de Daniel Pinéu.

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