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SOBRE O “10 DE JUNHO MILITAR” E A RTP

Por • 14 Jun , 2009 • Categoria: 11. IMPRENSA Print Print

A cobertura televisiva da Radio Televisão Portuguesa, em directo, da totalidade das cerimónias militares do 10 de Junho, dá-lhe efectiva divulgação nacional e relevante alcance internacional. Sendo “o” evento anual do conjunto das Forças Armadas, parece-nos que RTP deve alterar o actual formato de emissão para possibilitar que “em casa” se percepcione melhor o que se passa no local das cerimónias.

O Presidente da República, Cavaco Silva, passa revista acompanhado pelo Comandante das Forças em Parada e o seu (do PR) Ajudante-de-Campo

O Presidente da República, Cavaco Silva, passa revista acompanhado pelo Comandante das Forças em Parada e o seu (do PR) Ajudante-de-Campo.

Comandante Supremo divulga Forças Armadas
Com a chegada à Presidência da República de Aníbal Cavaco Silva alguma coisa mudou na divulgação pública das Forças Armadas (FFAA). Um desses aspectos foi o empenhamento da Presidência na organização da participação das FFAA no Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Pode parecer estranho mas tem sido o Comandante Supremo a assumir parte substancial da promoção da “imagem conjunta” das FFAA. Não só por aquilo que diz nas diversas ocasiões em que se tem pronunciado sobre temas relativos à “coisa militar”, mas muito também pelas suas acções e a forma cuidada, profissional, como a Presidência as tem divulgado. Mesmo reconhecendo-se alguns sinais positivos nos últimos tempos – de que são exemplo  o apoio militar à  extensa cobertura mediática da missão da fragata portuguesa no Índico, a cobertura de eventos aeronáuticos militares e um par de reportagens no Kosovo e Líbano com as unidades  nacionais –  o modo como o Comandante Supremo executa estas acções não tem paralelo em Portugal.
Não se entenda isto como uma critica fácil. Quem escreve estas linhas sabe bem as vicissitudes e condicionantes com que os militares e civis que trabalham nestas áreas têm que lidar no seu dia-a-dia. Em muitos aspectos e lugares a divulgação da imagem da instituição militar ainda é considerada uma actividade menor, deixada ao sabor de algumas boas vontades. Na Presidência, claramente, não é assim. É também por isto que urge melhorar a prestação da RTP no “10 de Junho militar”.

O site http://www.presidencia.pt/comandantesupremo/ tem é um espaço de consulta com muita informação sobre a actividade do Presidente nesta área e das unidades que visita

O site http://www.presidencia.pt/comandantesupremo/ é um espaço de consulta com muita informação sobre a actividade do Presidente nesta área e das unidades que visita.

Forças Armadas no Dia de Portugal
O anterior Presidente da República, Jorge Sampaio, ao contrário do que se possa julgar numa abordagem superficial, dedicou muita atenção à componente Comandante Supremo das suas funções. Introduziu mesmo algumas práticas importantes no relacionamento entre os diversos actores políticos e militares nesta área da Defesa Nacional e Forças Armadas. No entanto por motivos que só o próprio poderá explicar – embora não custe admitir que tenham a ver com aspectos ideológicos versus a carga política que o 10 de Junho ganhou no Estado Novo – concordou com a desnecessária criação de uma nova data para comemorar as Forças Armadas, o “Dia das Forças Armadas”. Quem se lembrará?

O último "Dia das Forças Armadas" nos termos da Resolução do Conselho de Ministros n.º 31/2003, realizou-se em Estremoz em 2005.

O "Dia das Forças Armadas" nos termos da Resolução do Conselho de Ministros n.º 31/2003 teve vida curta e a sua última edição realizou-se em Estremoz no ano de 2005.

Na realidade a Resolução do Conselho de Ministros n.º 31/2003 instituiu o “Dia das Forças Armadas”, a 24 de Junho, autonomizando uma celebração que se vinha realizando desde 1984, anualmente, no dia festivo de cada um dos ramos nos termos de uma deliberação do Conselho de Chefes de Estado-Maior. A dita e extensa resolução referia-se aos motivos “...A criação, em novos moldes de um Dia das Forças Armadas visa precisamente realçar essa ideia de conjunto e, em obediência ao espírito da reforma que o Governo quer propor à sociedade portuguesa, significar que umas Forças Armadas conjuntas e integradas representam mais do que a soma dos seus componentes…” e às razões da escolha da data, “…tem um duplo significado histórico. Nesse dia, travou-se a Batalha de São Mamede, que marca uma fronteira primordial da nossa vida como nação independente. Esse é, também, o dia em que, em 1360, nasceu D. Nuno Álvares Pereira. Assim, não só se faz alusão a esse momento de afirmação nacional que foram as nossas primeiras lutas pela independência, como se evoca uma figura ímpar, de homem e de militar, que foi o Santo Condestável…“. Tinha ainda uma curiosa condicionante, certamente influenciada pelo “espírito mediático” do Ministro da Defesa de então que teria gostado de potenciar o evento – o que em boa verdade nunca aconteceu – referindo “As cerimónias e actividades do Dia das Forças Armadas realizam-se no sábado imediato posterior àquela data (24 de Junho), sempre que a mesma não coincida com este dia da semana.
E terminava a resolução determinando que “Os procedimentos relativos à execução do Dia das Forças Armadas são fixados por despacho do Ministro da Defesa Nacional, ouvido o Conselho de Chefes de Estado-Maior.
Esta modalidade conheceu três edições (2003 em Guimarães; 2004 em Viseu; 2005 em Estremoz) sendo Ministro da Defesa nas duas primeiras o seu criador, Paulo Portas. Em todas estas cerimónias o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas discursou perante as forças em parada no espaço público, e na última edição, o então novo Ministro da Defesa, Luís Amado, também o fez havendo portanto por uma vez, protagonismo dividido.

Jorge Sampaio com um estilo diferente de Cavaco Silva, não deixou de acompanhar de perto a actividade das Forças Armadas. Aqui na Bósnia-Herzegovina em Junho de 1996.

Jorge Sampaio com um estilo diferente de Cavaco Silva, não deixou de acompanhar de perto a actividade das Forças Armadas. Aqui na Bósnia-Herzegovina em Junho de 1996.

Jorge Sampaio, Comandante Supremo das Forças Armadas, presidiu a todas as edições mas nunca discursou. Lembre-se no entanto que várias vezes Sampaio se dirigiu às Forças Armadas, quer em cerimónias militares quer através de mensagens à Assembleia da República ou mesmo na tomada de posse de chefes militares.
Em 2006 Cavaco Silva inicia uma nova época, em boa verdade há muito desejada pelos militares, de associar as FFAA ao Dia de Portugal com todo o simbolismo que isto acarreta. Mais, assumiu a divulgação activa das suas funções de Comandante Supremo das Forças Armadas. A exposição mediática da instituição aumentou consequentemente e sem dúvida o conhecimento que os portugueses têm das Forças Armadas e das missões que desempenham. Desde logo com as visitas a alguns dos teatros de operações exteriores onde os militares portugueses se encontram – embora se saibam as limitações que as próprias forças multinacionais colocam a estas visitas, o Afeganistão ainda está em falta – e também com visitas a unidades, sempre bem divulgadas e, acima de tudo, o “10 de Junho” com uma cerimónia militar de grande dimensão. Ao contrário, o Dia das Forças Armadas, sempre teve muitas resistências e pautava-se pelo mínimo que conferisse dignidade ao evento.
É bem sabido o peso mediático da Presidência da República. Se algumas actividades das FFAA por mais interesse que pareçam ter aos seus responsáveis, dificilmente conseguem um par de minutos nas televisões – o Dia das Forças Armadas por exemplo, tinha pouco mais do que isso de atenção e nem se sonhava com horas em directo – com este Presidente da República todas as suas acções (neste campo) são amplamente acompanhadas pelos OCS. A própria Presidência através do seu site dedicado ao “Comandante Supremo” divulga bastante informação quer sobre as unidades/forças que o Presidente visita quer sobre a própria visita, tudo em tempo oportuno – o que é raríssimo nos seus congéneres das Forças Armadas e da Defesa – e acompanhado de suportes multimédia de elevada qualidade.

O "peso mediático" da Presidência da República muito tem feito para divulgar a actividade das Forças Armadas Portuguesas em Portugal e no estrangeiro.

O "peso mediático" da Presidência da República muito tem feito para divulgar a actividade das Forças Armadas Portuguesas em Portugal e no estrangeiro.

Santarém 2009
Depois do Porto em 2006, Setúbal em 2007 e Viana do Castelo em 2008 coube este ano à capital do Ribatejo acolher o Dia de Portugal e consequentemente as cerimónias militares no formato actual desta data. De quem viu em casa, frente ao televisor, este “10 de Junho militar”,  ficam algumas reflexões sobre a transmissão em directo pela RTP.
Infelizmente não tivemos, aqui no “Operacional”, capacidade de analisar também a transmissão da TVI. Ficará para uma próxima.
Sendo altamente positivo o tempo e meios que a televisão pública tem vindo a dedicar a este evento, parece-nos que, ano após ano incorre nos mesmos erros e por isso nos lembramos destas chamadas de atenção e algumas sugestões. As primeiras em dois níveis: um o da imagem/locução que nos foi mostrada, sobretudo do desfile; outra do formato geral. As sugestões seguem-se a cada “crítica”.
É suposto que os telespectadores possam tomar contacto com o que se está a passar no local.
Para muitos não será evidente o que aparece na imagem. Não basta mostrar, é necessário “legendar”, ou seja, um jornalista mesmo que em “voz off” deverá dizer-nos o que estamos a ver.  Na maior parte das vezes isso ou simplesmente não aconteceu ou aconteceu desfasado, o que ainda piora a situação porque induz em erro quem na realidade desconheça as unidades ou meios. A  imagem estava claramente desligada do comentário e os comentadores militares tinham que ir tentando acompanhar os saltos frequentes que detectavam no seu monitor. O que era manifestamente impossível porque ao mesmo tempo estavam a responder a questões. Para quem gosta de ver desfiles militares, o ideal seria, durante o seu curso deixar-nos a voz do “speaker” militar da cerimónia que está a descrever em detalhe o que se está a passar. A realização teria naturalmente que se guiar por esta voz e não andar, durante o período de desfile da Marinha, por exemplo, a mostrar já as forças que se seguiam do Exército.

Entrevistas antecipadas podiam ser inseridas na emissão do "10 de Junho Militar"

Entrevistas antecipadas podiam ser transmitidas na emissão do "10 de Junho Militar", tornando-o mais interessante para os telespectadores.

É possível fazê-lo, sobretudo se houver estudo prévio do desfile (se os militares treinam…) e é ainda possível inovar, tornando-o mais aliciante evitando que a imagem se torne repetitiva numa mesma força. Por exemplo – como já vimos noutras paragens – se introduzirem pequeníssimas entrevistas (feitas previamente) a militares que estão no desfile (por exemplo a um porta-estandarte, a um soldado equipado para combate no Ártico, ao comandante da força, etc.) e a militares que estão em missão no exterior (por exemplo a um fuzileiro que está no Índico, a um pára-quedista que está no Afeganistão, etc.) quando as suas unidades passam na parada.
O formato do acompanhamento geral da cerimónia com um(a) jornalista a colocar questões a três oficiais, um de cada ramo, tem vários inconvenientes. Haverá como se nota claramente sempre a tendência de cada um fazer relevar as acções do seu ramo, caindo-se sem apelo nem agravo no auto-elogio do ramo. É inevitável, não tem a ver com as pessoas mas com o modelo. Além do tempo que se perde com perguntas iguais a todos para não ficar ninguém prejudicado, conseguindo-se por vezes, naturalmente, respostas repetitivas. No nosso entender seria mais adequado a jornalista ter um único interlocutor, aliás até mais conducente com estes tempos em que se prima pelo “conjunto”. Claro que tinha que ser “a pessoa certa no lugar certo” e não se duvida que há muitos oficiais em todos os ramos com conhecimentos para isso, nomeadamente agora que o Instituto de Estudos Superiores Militares dá formação conjunta.

Os militares em missão no estrangeiro, além de serem lembrados no discurso do Comandante Supremo, podem ser "inseridos" na reportagem sobre o 10 de Junho.

Os militares em missão no estrangeiro, além de serem lembrados no discurso do Comandante Supremo, podem ser "inseridos" na reportagem sobre o "10 de Junho" do serviço público de televisão.

Será o momento adequado – uma cerimónia militar – para questionar os ramos acerca dos problemas das Forças Armadas e até outros que os extravasam? Não nos parece, desde logo porque descentra a atenção ao que se passa no local, e também porque confronta os interlocutores com questões às quais não podem responder. Os jornalistas e as suas direcções editoriais sabem bem (?) como é gerida a comunicação nesta área da Defesa e Forças Armadas. É perfeitamente desnecessário perguntar a um porta-voz da Marinha, por exemplo, que responda claramente a um assunto que esteja dependente do Ministério da Defesa. Para quê? Claro que será importante no decurso de um programa televisivo dedicado ao reequipamento militar, colocar todas as questões a todos os responsáveis. Mas enquanto desfila a Policia Marítima eu preferiria que me dissessem que meios ali estão em presença do que saber quanto tempo demorarão ainda os “patrulhões” a chegar à Marinha. Aliás, há menos de um mês, o Chefe de Estado-Maior da Armada pronunciou-se sobre isso… O mesmo se poderia dizer para os Pandur do Exército ou as questões da manutenção do EH-101 na Força Aérea.
Por fim também nos parece atípico estar a questionar os oficiais em presença como se fossem comentadores políticos, ao pedir-lhes comentários sobre…o que acaba de dizer o Presidente da República! Na realidade parece haver um grande desconhecimento  sobre a instituição militar na comunidade jornalística. Que resposta poderia o jornalista ter quando pergunta a um oficial, em directo na televisão, o que pensa do que disse o Comandante Supremo das Forças Armadas?
Sobre as entrevistas a populares em directo parece-nos uma questão de mero gosto, mas pessoalmente não julgo que adiante grande coisa à transmissão. Talvez esse tempo pudesse ser melhor ocupado com entrevistas feitas antecipadamente a cidadãos da localidade onde as cerimónias decorrem.
Perante o que foi visto e dito fica-nos ainda a dúvida se não haverá vantagem em abandonar este modelo de entrevista, mesmo que a um único porta-voz. Em tempos já se entregou este acompanhamento/locução a um jornalista especializado, mesmo que assessorado, e talvez seja mesmo uma solução eficaz.
A RTP ao transmitir em directo as cerimónias militares do 10 de Junho presta um relevante serviço ao país que se integra perfeitamente no “serviço público de televisão”. Pode no entanto “limar arestas” e transformar essa transmissão em algo mais aliciante – introduzindo trabalho feito antecipadamente – mais rigoroso, mostrando a quem vê a emissão o que se está a passar no local – dando voz ao “speaker” militar da cerimónia – e mais eficaz, se o jornalista em presença tiver apenas um interlocutor.

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