RELATÓRIO “CHILCOT” SOBRE O IRAQUE, LIÇÕES PARA PORTUGAL
Por Miguel Machado • 7 Jul , 2016 • Categoria: 01. NOTÍCIAS PrintAlguém imagina em Portugal que uma comissão realmente independente – dirigida por um reformado da função pública – pudesse avaliar e tirar ilações do empenhamento nacional em missões militares? Abordamos uma pequena mas importante parte do The Report of the Iraq Inquiry, que podia (devia!) ajudar Portugal a melhorar o seu envolvimento mas missões expedicionárias.
The Report of the Iraq Inquiry apresentado no Parlamento britânico por Sir John Chilcot, em 6 de Junho de 2016, é mais uma lição de democracia impossível de ver na generalidade dos países democráticos. Tem muito que se lhe diga do ponto de vista político e é nessa medida que está a ter um forte impacto na opinião pública britânica, e de outros países envolvidos no conflito. Portugal é aliás citado por causa da cimeira nos Açores. Vários líderes mundiais de então já vieram a público dar explicações, algumas bem penosas de ouvir. Familiares de militares mortos em campanha – bem assim como algumas organizações da sociedade civil, e não só no Reino Unido – querem que se passe à fase da justiça, o que em boa verdade parece mais difícil.
Agora a leitura de alguns aspectos estritamente militares, devia dar que pensar por cá sempre que se decide o empenhamento de forças em operações expedicionárias e, a montante, quando se atribuem (ou cortam) recursos às Forças Armadas.
Pensando nas nossas missões, as que já se realizaram mas muito em especial nas que se aproximam, olhamos para as lacunas que as forças armadas britânicas apresentavam nas vésperas da intervenção no Iraque. Sendo conhecidas, ainda assim, não impediram a decisão governamental de empenhar os militares. Depois, no decurso da guerra, perante a evidência muitas vezes paga com sangue, as decisões de melhorar os equipamentos foram sendo tomadas, segundo o relatório, com lentidão muito superior ao que seria expectável.
O relatório é muito extenso (ver em baixo o índice geral e o dos capítulos aqui tratados), mas escrito e explicado de modo muito acessível, detalhando variadíssimos aspectos, das operações aos equipamentos, da organização operacional aos processos de decisão, e inclui um Executive Summary, do qual em tradução livre, se retiram algumas das conclusões:
«…De 2003 e 2009 as Forças Armadas do Reino Unido combateram no Iraque, com limitações importantes em áreas como a “protecção dos veículos”, “informações”, “vigilância do campo de batalha”, “aquisição de objectivos” e “apoio de helicópteros”;
(…)
Os atrasos em fornecer viaturas blindadas de transporte de pessoal com protecção adequada e a impossibilidade de fornecer às unidades britânicas capacidade ISTAR (Intelligence, Surveillance, Target Acquisition and Reconnaissance) e apoio de helicópteros, não deveria ter sido tolerada;
O Ministério da Defesa foi lento em responder ao aumento da ameaça dos “explosivos improvisados” (IED), as capacidades de mobilidade para as unidades britânicas eram limitadas. Embora os estudos decorressem desde 2002, a aquisição de veículos adequados só se efectivou em 2006 depois de intervenção ministerial;
(…)
A decisão de empenhar forças no Afeganistão – em simultâneo com o Iraque – teve um real impacto material em algumas capacidades muito importantes para as unidades no Iraque, especialmente helicópteros e ISTAR…»
Ficamos ainda a saber, entre muitas outras coisas sobre a operação ao longo destas mais de 300 páginas dos três capítulos que aqui tratamos (assinalados a amarelo), todo o processo que vai da identificação dos materiais necessários – quer os previstos para o Sistema de Forças britânico, quer os que foram comprados como urgentes devido à evolução das operações no Iraque – à sua selecção, posterior aquisição e entrada ao serviço. É aliás muito bem explicada a situação dessas necessidades que se deparam no decurso das operações e que dão origem a aquisições com carácter de urgência.
No inicio da operação, em 2003, o Reino Unido enviou para o Iraque uma força de 46,150 militares, número que foi reduzido para menos de 30.000 após os primeiros meses, tendo continuado sempre neste sentido decrescente, por exemplo em 2006, já andaria nos 7.000.
Até 2009, 178 militares britânicos e 1 civil do Ministério da Defesa, perderam a vida no Iraque.
Índice:
The Report of the Iraq Inquiry
Volume 1
Introduction
1.1 UK strategy 1990 to 2000
1.2 Development of UK strategy and options, September 2000 to September 2001
- Decision-making within government
3.1 Development of UK strategy and options, 9/11 to early January 2002
3.2 Development of UK strategy and options, January to April 2002 – “axis of evil” to Crawford
Volume 2
3.3 Development of UK strategy and options, April to July 2002
3.4 Development of UK strategy and options, late July to 14 September 2002
3.5 Development of UK strategy and options, September to November 2002 – the negotiation of resolution 1441
Volume 3
3.6 Development of UK strategy and options, November 2002 to January 2003
3.7 Development of UK strategy and options, 1 February to 7 March 2003
3.8 Development of UK strategy and options, 8 to 20 March 2003
Volume 4
- Iraq’s weapons of mass destruction
4.1 Iraq’s WMD assessments, pre-July 2002
4.2 Iraq’s WMD assessments, July to September 2002
4.3 Iraq’s WMD assessments, October 2002 to March 2003
4.4 The search for WMD
Volume 5
- Advice on the legal basis for military action, November 2002 to March 2003
6.1 Development of the military options for an invasion of Iraq
6.2 Military planning for the invasion, January to March 2003
Volume 6
6.3 Military equipment (pre-conflict)
6.4 Planning and preparation for a post-Saddam Hussein Iraq, mid-2001 to January 2003
6.5 Planning and preparation for a post-Saddam Hussein Iraq, January to March 2003
- Conclusions: pre-conflict strategy and planning
Volume 7
- The invasion
9.1 March to May 2003
9.2 May 2003 to June 2004
9.3 July 2004 to May 2005
9.4 June 2005 to May 2006
Volume 8
9.5 June 2006 to 27 June 2007
9.6 28 June 2007 to April 2008
9.7 May 2008 to October 2009
9.8 Conclusions: the post-conflict period
Volume 9
10.1 Reconstruction: March 2003 to July 2004
10.2 Reconstruction: July 2004 to July 2009
10.3 Reconstruction: oil, commercial issues, debt relief, asylum and stabilisation policy
10.4 Conclusions: Reconstruction
Volume 10
11.1 De-Ba’athification
11.2 Conclusions: De-Ba’athification
12.1 Security Sector Reform
12.2 Conclusions: Security Sector Reform
13.1 Resources
13.2 Conclusions: Resources
Volume 11
14.1 Military equipment (post-conflict)
14.2 Conclusions: Military equipment (post-conflict)
15.1 Civilian personnel
15.2 Conclusions: Civilian personnel
Volume 12
16.1 The welfare of Service Personnel
16.2 Support for injured Service Personnel and veterans
16.3 Military fatalities and the bereaved
16.4 Conclusions: Service Personnel
- Civilian casualties
Annex 1: Iraq 1583 to 1960
Annex 2: Glossary
Annex 3: Names and posts
Annex 4: Maps
Annex 5: How to read and navigate the Report
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SECTION 6.3
MILITARY EQUIPMENT (PRE-CONFLICT)
Contents
Introduction and key findings
Planning and readiness for expeditionary operations
Testing the UK’s expeditionary capability: lessons learned?
The UK’s expeditionary capability by 2002
Equipment preparations for the invasion (2002 to 2003)
Planning begins
Detailed planning for UORs begins
The decision to deploy ground forces to the South and its implications
Concerns about Combat ID
Progress on UORs
The situation in the week before the invasion
Issues that emerged post-invasion
Desert uniforms
Enhanced Combat Body Armour
Biological and chemical warfare protection
Ammunition
Combat ID
Asset tracking
MOD reflections on equipping the forces deployed for the conflict
Conclusions
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SECTION 14.1
MILITARY EQUIPMENT (POST‑CONFLICT)
Contents
Introduction
Background
The procurement process
Addressing equipment capability gaps
The need for an expeditionary capability
Preparing for the post‑conflict phase
Improvement in the MOD’s procurement process during Op TELIC
Protected mobility and the developing threat to UK troops
Initial deployment of Protected Patrol Vehicles (PPVs) in Iraq
Deploying PPVs to Iraq
The appearance of Explosively Formed Projectiles (EFPs) and the UK’s response
Project DUCKBOARD evolves
The impact of the 2004 Spending Review on FRES
A “Type B” vehicle
The threat in mid‑2004
A PPV for Afghanistan
Response to the increase in the threat
The impact on wider civilian operations
Decisions on the wider protected mobility capability for the Army
Project Vector
The decision to procure additional vehicles for Iraq
The introduction of Mastiff .
Changes to the arrangements for identifying and funding UORs
Protected mobility between late 2006 and mid‑2009
Introduction of a new process to determine the acceptable level of risk in operations
The requirement for an “urban” PPV
FRES as a distinct requirement
Call for a public inquiry into the use of Snatch
Snatch after Iraq
The impact of Afghanistan on the equipment available in Iraq
Existing capability gaps before 2006
ISTAR
Support helicopters
The availability of ISTAR and support helicopters from 2006 onwards
The DOC’s third report, 4 April 2006
Re-aligning assets and understanding the shortfalls
Mr Browne’s concern
The increasing threat of indirect fire attacks
Considering whether to deploy Reaper to Iraq
The drawdown of UK forces
The remaining levels of helicopter and ISTAR support in MND(SE)
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SECTION 14.2
CONCLUSIONS: MILITARY EQUIPMENT
(POST‑CONFLICT)
Contents
Introduction
Addressing post‑invasion capability gaps
Countering the IED threat
Requirement for a medium weight PPV
A failure to articulate the requirement
Attempts to improve the process for identifying requirements
Funding and the Future Rapid Effect System (FRES)
Intelligence, Surveillance, Target Acquisition and Reconnaissance (ISTAR)
The pressure of running two medium scale operations concurrently
Support helicopters
Lessons
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Descarregue aqui o Relatório: http://www.iraqinquiry.org.uk/the-report/
Veja quem o produziu: http://www.iraqinquiry.org.uk/the-inquiry/the-committee/
Quem o mandou fazer e porquê? http://www.iraqinquiry.org.uk/the-inquiry/
Quanto custou e porquê? http://www.iraqinquiry.org.uk/the-inquiry/inquiry-costs/
Leia no Operacional artigos sobre a participação portuguesa no conflito no Iraque
PORTUGUESES EM KIRKUK : A ÚLTIMA MISSÃO
E sobre a actual guerra no Iraque e Síria:
SEGUNDO ANO DE MISSÃO NO IRAQUE: FORMAÇÃO E TREINO
3.º CONTINGENTE NACIONAL DE PARTIDA PARA O IRAQUE
MISSÃO NO IRAQUE & MAIS UM NATAL LONGE DA PÁTRIA
IRAQUE: NOVO CICLO DE FORMAÇÃO
NOTÍCIAS DAS FORÇAS PORTUGUESAS NO IRAQUE
BANDEIRA PORTUGUESA DE NOVO HASTEADA NO IRAQUE
MISSÃO DAS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS NO IRAQUE – 2015/16
COMANDANTE DA COLIGAÇÃO INTERNACIONAL VISITA ESPANHÓIS E PORTUGUESES
EXÉRCITO PORTUGUÊS NO IRAQUE: A MISSÃO CONTINUA!
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