PORTUGAL NA “LAAD DEFENCE & SECURITY 2015″ – BRASIL
Por Miguel Machado • 22 Abr , 2015 • Categoria: 03. REPORTAGEM, EM DESTAQUE PrintRealizou-se no Rio de Janeiro de 14 a 17 de Abril de 2015, a Feira Internacional de Defesa e Segurança, conhecida pela sigla “LAAD Defence & Security”, que reúne fabricantes e fornecedores de tecnologias, equipamentos e serviços para as Forças Armadas e Forças e Serviços de Segurança, sendo segundo a organização a maior e mais importante feira dos sectores de Defesa e Segurança da América Latina.
Latin America Aero & Defence, 10 .ª Edição
Trata-se naturalmente de um certame vocacionado para profissionais do sector, onde os fabricantes e distribuidores mostram as últimas novidades, e os materiais já consagrados, a potenciais compradores. A “LAAD Defence & Security” que já vai na sua 10.ª edição, tem lugar nos anos ímpares alternando nos anos pares com a “LAAD Security”, apenas destinada às Forças e Serviços de Segurança.
Durante a semana, os visitantes tomaram contacto com mais de 20 sectores das indústrias de defesa e segurança, tais como: armamento e munições/misseis; autenticação, controle de acesso e vigilância; construção em defesa e segurança; consultoria, formação e serviços; emergência, salvamento e resgate; engenharia aeronáutica; engenharia naval; equipamentos pessoais; ópticos e optrônicos; perícia criminal e forense; sistema de protecção NBQ; tecnologia da informação e cyber security; transmissões; veículos de diversos tipos; aeronaves.
De acordo com o balanço preliminar divulgado pela organização do evento, este contou com 600 expositores de 45 países. A participação da base industrial de defesa brasileira contou com 189 empresas. Foram 158 delegações oficiais de 71 países que marcaram presença, entre os quais Portugal, que esteve representado por 16 empresas, integradas na “Plataforma das Indústrias de Defesa” (idD- Indústrias de Defesa Nacionais). Mais de 30.000 pessoas visitaram a feira o que é um número muito significativo num evento desta natureza, semelhante por exemplo ao divulgado pela DSEi Londres 2013, considerado um dos maiores certames da especialidade a nível mundial com cerca de 1.500 expositores nessa última edição.
O mercado de defesa na América do Sul, embora algo irregular dependendo naturalmente da capacidade económica de cada país, continua em expansão e o Brasil só por si representa 41,2% dos investimentos militares na América Latina. Como as próprias autoridades brasileiras reconhecem foram não só a necessidades tradicionais da Defesa Nacional – consubstanciadas em grande detalhe na Estratégia Nacional de Defesa aprovada em 18 de Dezembro de 2008 pelo Presidente da República, Lula da Silva – mas também os eventos desportivos de dimensão internacional (Campeonato do Mundo de Futebol e Jogos Olímpicos), que em determinados aspectos, potenciaram a realização de grandes investimentos.
O evento é apoiado institucionalmente por muitas entidades oficiais, desde logo o Ministério da Defesa, e os três ramos das Forças Armadas, mas também uma série de entidades ligadas à Justiça e à Segurança Pública.
Trata-se de um certame que atrai visitantes de todo o mundo e não apenas da América do Sul, tanto mais que muitos países europeus, EUA e Rússia são fornecedores de equipamentos para as Forças Armadas do Brasil, marcando assim presença para potenciar esses negócios na região. O Brasil como se sabe tem uma indústria de defesa pujante, a qual integra mesmo empresas de escala mundial – a EMBRAER que também opera em Portugal é uma delas – que fabricam, pode-se afirmar, praticamente todo o tipo de armamentos e equipamentos, muitos de criação nacional e outros sob licença.
Talvez seja útil recordar que Brasil possui uma área de 8.511.965 km2, uma população de 185.875.219 habitantes e um efectivo total nas Forças Armadas de 288.500 militares no serviço activo, dos quais 190.000 no Exército.
Paralelamente à exposição têm lugar muitos seminários onde temas da actualidade são discutidos. Além de aspectos de carácter mais geral como os relativos aos projectos estratégicos dos ramos das Forças Armadas, ou os incentivos às indústrias de defesa, outras áreas mais tecnológicas também tiveram espaço. Só para dar um par de exemplos, num deles foi abordada a problemática do uso de “drones” durante os próximos Jogos Olímpicos Rio 2016, com o governo federal a divulgar na Feira que irá editar um manual para esse efeito; noutro o tema foi a guerra electrónica no qual foram mostradas as capacidades das nações latino-americanas acerca da temática, além das tecnologias para o sector.
Foi ainda na feira que Jaques Wagner, ministro da defesa do Brasil, concedeu uma entrevista colectiva aos jornalistas nacionais e estrangeiros que cobriam o evento, garantindo que os projectos estratégicos das Forças Armadas já iniciados terão continuidade. Apesar da fase de “ajuste fiscal” o governo deverá assegurar o fluxo de recursos para os projectos estratégicos na área de Defesa. “O governo tem consciência de que esse tipo de projecto não pode ser descontinuado. Até porque o ônus para retomá-los é muito grande, porque o projecto vai ficar muito mais caro”, afirmou. Para Jaques Wagner, “é preciso preservar o que é prioritário e ‘apertar o cinto’ naquilo que não tem consequência danosa imediata”. Reconheceu que alguns projectos podem evoluir num ritmo menos acelerado. Sobre as Olimpíadas Rio 2016 o ministro também falou sobre o processo de compra de três baterias antiaéreas de média altura Pantsir S1 – com capacidade de atingir alvos a partir de 10 mil metros – de fabricação russa. A previsão é que as Forças Armadas Brasileiras possam empregar o equipamento no plano de defesa dos Jogos e que as negociações com a empresa sueca Saab corra de modo ao Brasil conseguir o empréstimo de dez caças Gripen – em modelo anterior ao que o Brasil terá a partir de 2019 – para ser empregado ao longo deste evento desportivo de impacto global.
Participação portuguesa
Este ano a participação portuguesa foi articulada pela idD – Indústrias de Defesa Nacionais(*), na qualidade de entidade promotora da economia deste sector em Portugal. A pedido do Operacional a idD fez um balanço da participação portuguesa referindo que «…contou com a visita de várias delegações ministeriais e militares, entre as quais o Brasil, Moçambique, Zimbabwe, República Checa, Mauritânia, Colômbia, S. Tomé e Príncipe, Rússia, França, Chile, Polónia e Uganda… … que se traduziram principalmente em potenciais oportunidades de negócios, e acordos de cooperação ao abrigo sobretudo dos protocolos estabelecidos entre as congéneres da idD, como foi o caso da brasileira ABIMDE – Associação Brasileira das Industrias de Materiais de Defesa e Segurança – oficializado dia 14….»
Em termos das empresas que integraram esta delegação nacional a idD recolheu algumas informações das quais destacamos em síntese:
AnubisNetworks, a Bitsight Company
«… estabelecimento de uma parceria com uma empresa brasileira de Cyber Segurança para testar e representar a ANUBIS no mercado brasileiro. Por outro lado, estabeleceu contatos para que os produtos da ANUBIS venham a ser utilizados por uma grande organização do setor bancário….»
Caetano Aernautics
«… foi possível confirmar que estávamos no caminho certo em termos comerciais para começar a trabalhar com a EMBRAER em 2015/2016, pois faz parte dos objetivos estratégicos da CAER, em particular para a estruturação da cadeia de fornecimento Portuguesa e o desenvolvimento da EMBRAER Évora (Dirigido pelo Brasil de momento)… … particularmente interessante a vinculação estabelecida com a CIAC (Corporacion de la Industria Colombiana) e em particular Flavio ULLOA ECHEVERRY (General del Aire – Gerente y representante legal); pois são fornecedores da AIRBUS Defense & Space e compradores do C295. Uma possibilidade de intercâmbio de carga de trabalho vai ser estudada nas próximas semanas…»
Arsenal do Alfeite
«… Ao longo do evento reuniu com cerca de 12 delegações de países e 6 reuniões com potenciais parceiros de consórcio, entre os quais Polónia, Canadá, França entre outros…»
Elecnor Demos
«… o momentum criado à volta do evento permitiu também avançar significativamente em acordos e negociações que a DEIMOS vinha mantendo nos últimos meses, sendo palco para o estabelecimento de um acordo muito importante para a distribuição de imagens DEIMOS-2 no país…»
Estaleiros Navais de Peniche
«… Estabelecemos alguns contatos com empresas que atuam no mesmo setor, fornecedores de equipamentos, e profissionais da comunicação social da especialidade interessados em obter informações sobre a nossa operação.
Recebemos também uma empresa Americana interessada em fomentar parcerias com o mercado português, no âmbito alerta acústico…»
Altran
«…reforçar o seu posicionamento junto do terceiro maior construtor aeronáutico do mundo – a EMBRAER – com quem já trabalha em Portugal… …Acompanhar outras empresas portuguesas, atuais ou potenciais clientes da ALTRAN no reforço da sua posição comercial no Brasil foi o segundo objetivo. Por fim, Portugal começa a ser uma geografia no radar de outras empresas brasileiras do sector aeronáutico para além da EMBRAER, que estão a ponderar… …instalarem-se em Portugal. A ALTRAN quer estar desde a primeira hora ao lado dessas empresas – que serão juridicamente portuguesas – aproveitando-se do vasto portfólio de capacidades e muitas referências em todo o ciclo do avião, desde a conceção, passando pela fabricação e terminando com a entrada em serviço do avião…»
Tekever
«…No âmbito da LAAD, o Grupo tecnológico português TEKEVER assinou com a empresa brasileira Santos Lab, um acordo para aquisição de uma participação desta fabricante brasileira de sistemas aéreos não tripulados… …em ano e meio foi desenvolvido um Sistema Aéreo não Tripulado (drone) luso-brasileiro designado AR2 Carcará, que já é utilizado pela Marinha brasileira em missões de fiscalização marítimas…»
Além da Tekever, que está cada vez mais lançada no mercado internacional de “sistemas autónomos aéreos”, também a OceanSacan, bem conhecidas das Forças Armadas Portuguesas, embora estas estejam a atravessar um período de pouquíssimo investimento em equipamento militar, esteve presente e mostrou as suas capacidades. Além dos projectos em curso com a Marinha Portuguesa a OceanScan já vendeu os seus sistemas “sistemas autónomos submarinos”, à Marinha da Lituânia (3 unidades), que os usa para “detecção de minas”, e à Federação Russa (2 unidades) para “busca e salvamento” e igual número a uma universidade da Croácia e outra da China.
1,72 mil milhões de euros
Criada em 1997 a idD, viu em 2000 a sua actividade abranger também “a Indústria de Armamento” e, recentemente, em Agosto de 2014 foi reorganizada por iniciativa do Ministério da Defesa Nacional, tendo a sua actividade desde então sido incrementada, dando-lhe o ministro da tutela, Pedro Aguiar-Branco, grande visibilidade por acompanhar, como neste caso, algumas das suas actividades. Em menos de um ano a idD participou com empresas nacionais em cinco feiras internacionais – Colômbia, Índia, Abu Dhabi e Madrid e agora Rio de Janeiro. Segundo dados divulgados pela idD, as exportações das 120 empresas que compõem este sector em Portugal, representaram em 2014 1,72 mil milhões de euros
Nota: as imagens que ilustram este artigo, independentemente dos créditos que estão assinalados, só foram possíveis graças à colaboração de Mário Roberto Carneiro, da revista “Segurança & Defesa” que também apoiou a elaboração deste artigo. Os nossos agradecimentos.
(*)A idD – Plataforma das Indústrias de Defesa Nacionais é uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos criada em 1997 mas em 2014 alterou o seu por objeto social que passou a ser: a promoção, divulgação, nacional e internacional, da atividade das empresas do setor da Defesa, incluindo as que integram a base tecnológica e industrial de defesa, bem como a realização de ações de formação e ações promocionais no âmbito da economia de defesa; a conceção, a indústria, o comércio e a manutenção de material de defesa e de desmilitarização de munições e outros acessórios a conversão de materiais e ainda todas as atividades e produtos que com eles se relacionem.
Missão: Tomar as diligências necessárias para promover a expansão internacional das empresas nacionais ligadas ao sector ASD (Aeronáutica, Segurança e Defesa), contribuindo assim para o desenvolvimento da Economia Nacional.
Objectivos: Identificar oportunidades de negócio para as empresas Nacionais incluindo as da BTID em mercados estratégicos; Dinamizar, preparar e apoiar visitas e missões ao exterior, relacionadas com a Economia de Defesa; Divulgar internamente as oportunidades identificadas no exterior, abrindo caminho ao aumento das exportações da indústria Portuguesa; Apoiar a definição e o desenvolvimento de estratégias de internacionalização das empresas Nacionais, incluindo as da BTID; Atuar em rede através de intercâmbios entre grandes e pequenas empresas, dinamizando projectos comuns, dos adidos militares e da diáspora Portuguesa, procurando assim maximizar os recursos existentes. Promover contactos e parcerias com organizações, agências e outras entidades de interesse público, Nacionais e Internacionais.
Entende-se por Base Tecnológica e Industrial para a Defesa o conjunto das empresas e das entidades do sistema científico e tecnológico nacional, públicas e/ou privadas, com capacidade para intervir numa ou mais etapas do ciclo de vida dos equipamentos e sistemas utilizados pela Defesa.
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