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OS MILITARES NO MOMENTO ACTUAL

Por • 21 Mai , 2013 • Categoria: 02. OPINIÃO Print Print

Acossados pelo descontentamento na rua, alguns comentadores políticos têm elaborado sobre a posição dos militares no momento actual. De um modo geral, desagradam-lhes as posições das associações do sector – que vão passando aos olhos de muitos por representantes de todos os militares e como rosto do corporativismo militar, mesmo que algumas das suas afirmações sejam da mais elementar justiça – consideram-nas uma pressão inadmissível por parte de quem tem armas e são unânimes em considerar impossível um golpe de estado.

Os militares momento actual

É muito mais simples mas perigoso: podemos chegar ao dia em que o povo prescinde da alternância democrática e procura na rua saídas para a situação.

Lembrando que quem tem armas é a instituição e não as associações e que os prejuízos efectivos para o País decorrem das medidas erradas de sucessivos governos e de acções reivindicativas em sectores que nunca os militares, lamento contrariar essas vozes autorizadas, mas fazer um golpe de Estado é coisa tecnicamente fácil e exequível. Qualquer “exército” (Marinha, Exército e Força Aérea) em qualquer parte do mundo o pode fazer, talvez com excepção de algumas ditaduras que dispõem de fortes aparelhos repressivos não-militares.

Aqui a questão não é a capacidade militar para tomar o poder, essa existe hoje maior até do que em 1974. Temos quadros e soldados bem formados, treinados, rotinados nas operações em ambiente urbano, coisa que não acontecia no tempo da guerra em África. Não se iludam: para ocupar uma dúzia de edifícios, proteger da ira popular um punhado de governantes e políticos e deslocá-los por via aérea para um dos arquipélagos, o aparelho militar português chega e sobra. Acresce que hoje não há polícia política nem milícia armada para defesa do Governo. Não é preciso ser um génio da estratégia para perceber que as três brigadas do Exército, ou nem tanto, ocupavam o poder em poucas horas, tanto mais que o estado de espírito das forças de segurança seria nessa altura semelhante ao da generalidade da população e dos militares. Bem sei que isto vai chocar uns e fazer rir outros, mas é a realidade.

O click para um golpe não seria a insatisfação de alguns militares como em 1974 – essa fase já foi ultrapassada sem drama nem tanques na rua, o mal-estar nos quartéis é o mesmo que se verifica em outro qualquer lugar do País. Só que hoje os militares, democratas que são na sua esmagadora maioria – o que não acontecia em 1974 ou em 1926 -, continuam a fazer o seu trabalho como qualquer outro cidadão e a seguir a hierarquia. Nem podia ser de outra forma. Embora com mais obrigações, vivem as mesmas dificuldades que a generalidade dos seus compatriotas. Também não há a probabilidade de haver por aí algum candidato fardado a ditador – os militares nunca o seguiriam. Nem sequer será uma questão da importância dos militares na vida pública, ou a falta dela; como qualquer outro cidadão, querem apenas ter uma vida minimamente digna, o que para os postos mais baixos e médios começa a ser um quebra-cabeças.

É muito mais simples mas perigoso: podemos chegar ao dia em que o povo prescinde da alternância democrática e procura na rua saídas para a situação. Todos concordamos que a solução deverá aparecer no quadro político vigente, e não penso que esteja perto, mas para onde se poderia a população virar se a situação social descambar?

O factor decisivo seria assim, a dois tempos e com igual importância, a vontade popular e a dos militares. Se na primeira vertente as coisas podem evoluir com uma rapidez imprevisível ou, pelo contrário, normalizar, a segunda depende desta evolução e da liderança militar.

Decisivo, no passo seguinte, poderia ser a unidade dos militares, se bem que em 1974, mesmo com muitas divergências e com a maioria a combater na África, o golpe deu-se.

E o dia seguinte?

Este é o problema maior destas soluções radicais, como o é das soluções miraculosas para a crise. Mas, em boa verdade, se a situação social se degradasse a ponto de um golpe ver a luz do dia, não me parece que esta incerteza o travasse.

Miguel Silva Machado

Este artigo foi originalmente publicado no Diário de Noticias em 05NOV2012

 

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