OPERAÇÃO “HOT DAGGER”, TESTE PARA O 1.º BATALHÃO DE INFANTARIA PÁRA-QUEDISTA
Por Miguel Machado • 16 Ago , 2013 • Categoria: 03. REPORTAGEM, EM DESTAQUE PrintA experiência recente no Mali mostrou novamente que o pára-quedismo militar é um poderoso meio, por vezes o único, capaz de rapidamente alcançar e conquistar objectivos a grandes distâncias, abrindo o caminho para a vitória que será quase e sempre de um conjunto alargado de capacidades. Uma das missões típicas deste tipo de unidades foi recentemente treinado em Portugal e o “Operacional” conta como foi.
Muita gente ouviu certamente falar do exercício “Hotblade 13”, da Agência Europeia de Defesa que decorreu em Portugal no passado mês de Julho, planeado e executado pela Força Aérea Portuguesa e que trouxe ao nosso país, helicópteros e tripulações da Áustria, Bélgica, Alemanha e Holanda. Em paralelo, inserido em mais esta actividade de treino multinacional na qual Portugal se está a tornar especialista (*), o Exército realizou o “Apolo 13”, da Brigada de Reacção Rápida (BrigRR), constituindo este o seu único exercício anual que envolve toda esta grande unidade. Assim a BrigRR incrementou e aperfeiçoou a capacidade de planeamento, coordenação, execução e controlo de uma Operação Aerotransportada e de uma operação de Evacuação de Não-Combatentes em ambiente incerto. Uma das unidades da BrigRR, o 1.º Batalhão de Infantaria Pára-quedista (1BIPara), é este ano a única unidade orgânica do Exército que está certificada para a missão de realizar Operações de Evacuação de Não-combatentes no âmbito da Componente Terrestre da Força de Reacção Imediata do Estado-Maior-General das Forças Armadas, mantendo-se em Stand-by, para uma eventual operação real.
O tempo de reacção da unidade a projectar com carácter de urgência tem obrigatoriamente que ser muito curto. Os decisores políticos, tipicamente, só dão “ordem de marcha” quando já está “tudo a arder” ou muito próximo disso; por outro lado, sobretudo no caso português, com o desinvestimento que tem havido no âmbito da recolha de informações, não é certo que quem planeia tenha os elementos necessários a este trabalho com muita antecedência (isto se os chegar a ter!); acresce que estamos perante operações complexas, envolvendo unidades e meios de vários ramos, com necessidade de grande coordenação. Tudo isto só é possível sabendo naturalmente a doutrina, mas, acima de tudo, com treino.
Neste exercício, foi mais uma vez testado pelo 1BIPara, o plano de alerta, carregamento, transporte e projecção do batalhão bem como a interoperabilidade e a integração das restantes forças que foram atribuídas ao batalhão com uma relação de comando: uma companhia de pára-quedistas do 2BIPara; um destacamento de precursores da Escola de Tropas Pára-quedistas; uma equipa EOD da Escola Prática de Engenharia; um destacamento de transmissões da Unidade de Aviação Ligeira do Exército; uma equipa de apoio de fogos do Regimento de Artilharia n.º 4; uma equipa sanitária com elementos de várias unidades.
O cenário criado para o exercício englobou três países fictícios, com características semelhantes às verificadas nos Teatros de Operações onde Portugal tem ou pode participar com forças no âmbito do Espaço Estratégico de Interesse Nacional (EEIN), e cuja situação de segurança tem vindo a degradar-se, não havendo condições de segurança para os cidadãos nacionais permanecerem na região.
Assim a chamada “Operação Hot Dagger” consistiu numa acção que esta força sob o comando do 1BIPara levou a cabo, em concreto, a conquista de um objectivo, em profundidade – a pista de aviação do Campo Militar de Santa Margarida – que se constitui como a Forward Mounting Base (FMB) para a operação. A inserção foi efectuada através de salto em pára-quedas para a Zona de Lançamento do Arripiado, utilizando uma aeronave C-130 da Esquadra 501 da Força Aérea Portuguesa; efectuada a reorganização, iniciou-se o deslocamento tácito apeado e a conquista do objectivo, que se constitui como a cabeça-de-ponte aérea para a realização da operação de evacuação de cidadãos nacionais não-combatentes num pais fictício, onde se encontra um grupo de forças insurgentes que tem desenvolvido ataques contra as forças internacionais e organizações não-governamentais. A acção foi levada a cabo por cerca de 400 militares e usadas 35 viaturas de vários tipos.
Os principais objectivos do exercício foram assim:
Exercitar e avaliar a capacidade de Comunicações e Sistemas de Informação (CSI) do 1BIPara, quando destacado fora do território nacional;
Desenvolver capacidades de planeamento e execução de operações em ambiente incerto;
Exercitar e desenvolver a capacidade de planeamento, coordenação, controlo e execução de uma NEO;
Exercitar e desenvolver a capacidade de planeamento, coordenação, controlo e execução de uma Operação Aerotransportada.
Mais um passo foi dado para, caso necessário, Portugal possa empenhar uma unidade pára-quedista com segurança e possibilidade de sucesso, na defesa dos interesses nacionais, onde e quando o poder politico o determine.
(*) São vários os países que têm usado Portugal para efectuar exercícios numa base regular, envolvendo sobretudo a Força Aérea e o Exército mas também a Marinha. O HOTBLADE é um destes.
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