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O PÁRA-QUEDISMO NA MARINHA

Por • 24 Set , 2010 • Categoria: 03. REPORTAGEM, EM DESTAQUE Print Print

O Capitão-de-Fragata Fuzileiro Rogério Paulo Figueira Martins de Brito, 41 anos de idade, 23 de serviço na Marinha desde Cadete na Escola Naval até à actual função de Expeditionary Operations Staff Officer, no Combined Joint Operations from the Sea, Centre of Excellence – CJOS COE – em Norfolk, USA, escreve no “Operacional” sobre um tema que julgamos pouco conhecido em Portugal: o pára-quedismo na Marinha.

Militares do DAE efectuam um salto automático para o Oceano nas p

Militares do DAE efectuam um salto automático para o Oceano no decorrer do Exercício "Swordfish 2002".

Rogério Brito desempenhou várias funções na área operacional no Corpo de Fuzileiros e na área da Instrução tendo depois servido durante uma década no Destacamento de Acções Especiais (DAE) como Chefe do Grupo Operacional, Imediato e Comandante. Mais tarde assumiu a chefia do Grupo de Trabalho para a Criação do Curso de Operações Especiais da Marinha, tendo também ministrado um Estágio de Operações Especiais no Meio Aquático ao GOE/PSP de Macau.
Do seu curriculum constam ainda vários cursos em diferentes áreas do “saber militar”, destacando-se, entre outros, na área operacional o Curso de Mando de Unidades de Operaciones Especiales, em Espanha e o Curso de Queda Livre Operacional – SOGA – em Tancos.
É conferencista em matérias relacionadas com Expeditionary Operations e tem integrado grupos de trabalho para o desenvolvimento de doutrina e conceitos da NATO, concretamente sobre Maritime Security Operations, Sea Basing e Counter-Piracy.

Este artigo de Rogério Brito que o “Operacional” publica, está ilustrado na sua quase totalidade com imagens de Alfredo Serrano Rosa. Foram captadas durante um exercício que o DAE e a Companhia de Precursores da Escola de Tropas Aerotransportadas (hoje Escola de Tropas Pára-quedistas) realizaram na região de Tróia em 2003, tendo sido utilizada a Base Aérea n.º 6 (Montijo) como base de partida para a operação. Os saltadores pertenceram às duas unidades (DAE e PREC’s), o material aeroterrestre  (pára-quedas dorsal e ventral e sistemas de lançamento de cargas) provinha de Tancos e utilizaram naturalmente um C-130 da Esquadra 501 da Força Aérea. Todo o apoio no mar foi garantido pela Marinha. Os três ramos das Forças Armadas a trabalhar em conjunto no ano de 2003.

Salto de treino em queda-livre na região de Tancos por elemento do DAE no decurso do curso de Saltador Operacional a Grande Altiude (SOGA)

Salto de treino em queda-livre na região de Tancos por elemento do DAE e um instrutor da então Escola de Tropas Aerotransportadas no decurso do curso de Saltador Operacional a Grande Altitude (SOGA)

O PÁRA-QUEDISMO NA MARINHA

A história recente do pára-quedismo militar em Portugal – especialidade que já conta com mais de cinquenta anos nas Forças Armadas Portuguesas – tem alguns aspectos pouco conhecidos, um dos quais, o seu emprego na Marinha, assunto que me proponho aqui abordar. Este ramo das Forças Armadas, que já no passado teve registos de pára-quedistas nas suas fileiras(1), integra actualmente nos seus quadros tal «espécime de homens». E porque o emprego desta capacidade se estende para além das fronteiras do ramo, este artigo é também uma homenagem a todos aqueles que com valentia descem lá dos céus, de noite ou de dia, destemidos e por vezes desconhecidos. É aos Boinas Verdes que me dirijo… independentemente da sua origem, do propósito da sua formação ou mesmo da organização a que pertencem.
O pára-quedismo é muito mais do que um desporto de aventura (ou radical, como alguns insistem em chamar); é uma técnica; eu diria, uma preciosa ferramenta que requer conhecimento, destreza e capacidade de decisão, e que nem todos estão aptos a desenvolver pelo risco e pela exigência que esta actividade assume. Muito menos na sua vertente militar, onde a componente, supostamente lúdica do salto, dá lugar ao incómodo da carga que o pára-quedista transporta consigo, ao stresse do combate que vai ter de enfrentar no terreno, ao tipo de equipamento que utiliza, até às circunstâncias do transporte em voo táctico ou às condições de visibilidade reduzida em que vai ter de operar. É pois na técnica, na segurança e na preparação para combate que residem as maiores preocupações da formação e do treino do pára-quedista militar… e porque é de vidas humanas que se trata, a qualidade da formação deve ser, prioritariamente, medida por esta orientação. Este é, seguramente, o princípio que prevalece na formação dos Boinas Verdes, na Escola de Tropas Pára-quedistas (ETP), em Tancos.

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6-231-precs-e-fuzos-troia-2003-copyEm 1997, e após vários anos de propostas que envolveram os três ramos das Forças Armadas(2), o Destacamento de Acções Especiais (DAE) do Corpo de Fuzileiros da Marinha, recebeu luz verde para enviar os seus primeiros elementos à então ETAT, a fim de obter qualificação em pára-quedismo militar (CPM) tendo-se seguido, posteriormente, várias outras edições que garante a extensão desta capacidade a todos os elementos que prestam serviço na unidade(3).
Mas a formação de elementos da Marinha em pára-quedismo militar não se esgotou por aqui; em 2001, dá-se inicio ao primeiro curso de Queda Livre Operacional(4), também frequentado na ETAT, abrindo assim portas para que um pequeno grupo do DAE fosse qualificado em saltos de grande altitude, utilizando o sistema de abertura manual com recurso a equipamentos de oxigénio. Esta valência, e uma vez que não requer um sistema automático de abertura com ligação à aeronave, permite ainda, embora limitado à altura fisiológica(5), que o lançamento dos pára-quedistas se realize a partir de qualquer plataforma aérea, nomeadamente através dos helicópteros que a Marinha opera, o MK95 Lynx. Apesar desta possibilidade ainda não ter sido operacionalizada, espera-se, em breve, ver reunidas algumas sinergias que permitam aproveitar a existência deste meio aéreo no ramo e a formação do salto já adquirida, potencializando-se assim o investimento já efectuado.

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11-268-precs-e-fuzos-troia-2003-copyMas porquê atribuir a qualificação de pára-quedismo (militar) aos Fuzileiros? A resposta tem, a meu ver, tanto de racional como de simples: elementos de operações especiais (como é o caso concreto dos militares do DAE(6)) e independentemente do meio que normalmente operam ou são especialistas, não poderão deixar de cumprir a sua missão por incapacidade ou limitações de inserção/extracção na área de operações, quer optando-se pela projecção a partir do mar, pelo ar ou em terra, ou mesmo conjugando as várias modalidades. Naturalmente que a incidência dos elementos do DAE, até pelas suas idiossincrasias deverá privilegiar o mar como meio de intervenção principal, treinando e aplicando as técnicas necessárias que lhes permita alcançar o objectivo em condições de combater.
Mas a formação já adquirida, não é, per si, suficiente para se garantir esta capacidade; há necessidade de manter as qualificações com treinos periódicos, em ambientes e cenários tão parecidos quanto possível, àqueles em que um dia possa vir a ser exigido o seu emprego operacional.
A manutenção semestral das qualificações, os exercícios e intercâmbios conjuntos (e também combinados) com inclusão de saltos operacionais, poderão constituir uma oportunidade de excelência, a não desperdiçar onde um eventual protocolo entre as partes envolvidas iria, indubitavelmente, contribuir de forma decisiva .

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13-274-precs-e-fuzos-troia-2003-copyA amizade, a disponibilidade e o apoio (sempre inexcedíveis) dos nossos camaradas pára-quedistas, é por todos os militares do DAE reconhecido e recordado, merecendo aqui também o meu público testemunho. Quem é que não se recorda das calistenias, dos toros ou do cântico “Ó Pátria Mãe”? Afinal, também na Marinha há boinas Boinas Verdes…
Saúdo e felicito todos os pára-quedistas, em particular as unidades que em Tancos nos receberam pela sua total abertura e disponibilidade neste processo, e em especial à sua Escola que nos formou e que sempre recordaremos com nostalgia.

«Que nunca por vencidos se conheçam»

Muitos fuzileiros o Destacamento de Acções Especiais estão hoje habilitados com diversos cursos ministrados fora da Marinha

Muitos fuzileiros do Destacamento de Acções Especiais estão hoje habilitados com diversos cursos ministrados fora da Marinha, nomeadamente o de Pára-quedismo Militar.

Foi um longo caminho mas hoje os "brevet's" de pára-quedista militar e do DAE convivem sem complexos!

Foi um longo caminho mas hoje os "brevet's" de pára-quedista militar e do DAE convivem sem complexos!

(1) Cf. “Um pioneiro dos pára-quedistas saído da Marinha” Revista da Armada, Março de 2006, p. 27.
(2) Recorda-se que até 1994 os Pára-quedistas encontravam-se na Força Aérea, passando a partir desta data a pertencer ao Exército.
(3) Ao abrigo da Portaria 494/85, de 20JUL, esta valência constitui condição para ingresso no DAE.
(4) Vulgo Curso SOGA (Saltador Operacional de Grande Altitude).
(5) Altitude máxima (normalmente 12.000 ft) até onde a tripulação da aeronave e os saltadores não sofrem os efeitos de hipóxia – sintoma originado pela falta de oxigénio.
(6) Conforme definido na Directiva Operacional 12/CEMGFA/99 – Forças de Operações Especiais, Operações Conjuntas.

Sobre o DAE leia também aqui no Operacional:

DISTINTIVO DO PESSOAL APTO A SERVIR NO DESTACAMENTO DE ACÇÕES ESPECIAIS (DAE)

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