O JALLC ESTÁ A MUDAR
Por Miguel Machado • 15 Jul , 2017 • Categoria: 03. REPORTAGEM, EM DESTAQUE PrintA Aliança Atlântica está a recentrar a sua acção na Europa, sobretudo a Leste mas também – embora de modo muito modesto – a Sul. Anos de missões expedicionárias originaram algumas transformações que agora estão desajustadas das operações em curso, há coisas a mudar. Uma delas, aqui mesmo em Portugal, está actualmente neste processo de reajustamento e o Operacional foi ver o que tem feito e para onde caminha o NATO Joint Analysis and Lessons Learned Centre.
O assunto não é fácil mas pode ser simplificado, mesmo correndo o risco de deixar alguma coisa menos aprofundada. É isso que nos propomos fazer neste artigo!
Na realidade este discreto Comando NATO em Portugal, conhecido pela sigla JALLC – e a NATO é o reino das siglas e acrónimos com bem sabe quem lida com esta organização! – está ele próprio em processo de mudança porque, dedicando-se à análise de problemas complexos que surgem na NATO e a propor hipóteses de solução, percebeu ele próprio que neste fase da vida da organização é necessária menos análise e mais lições aprendidas.
Missão e organização
O Joint Analysis and Lessons Learned Centre, depende do Allied Command Transformation, (ACT) Quartel-general da NATO localizado em Norfolk nos EUA cujo comandante é o general francês, Denis Mercier.
A missão genérica do JALLC – tradução da nossa responsabilidade – é “fazer a análise conjunta das operações, exercícios e acções de treino da NATO. Apoiar a troca de experiências e lições aprendidas, desenvolvendo esta capacidade, reforçando assim a contínua transformação e modernização das forças e capacidades da Aliança”. Note-se que aqui o “conjunta/o” (joint) é no sentido “inter-agências” – os vários departamentos da NATO – e não naquele que em Portugal costumamos usar de “vários ramos das forças armadas”.
De assinalar que sendo um Centro dependente do ACT o JALLC trabalha em proveito de toda a Aliança, os países membros e parceiros e mesmo outras organizações, no sentido de apoiar o desenvolvimento das capacidades em que está especializado. Isto é especialmente notório nas acções de formação que o JALLC realiza, que vão do simples curso online que qualquer pessoa pode fazer – sim este curso o leitor se quiser pode ir ao portal do JALLC e candidatar-se, basta um par de horas – ao NATO Lessons Learned Staff Officer Course que o JALLC ministra na Swedish Armed Forces International Centre (Kungsängen/Suécia), ou mesmo o Joint Analysis Training Course em Monsanto/Lisboa.
Para se ter uma ideia do alcance do trabalho de formação do JALLC, dentro e fora da NATO, atente-se nesta lista de missões de formação/apoio prestadas nos últimos tempos: Ethiopia, African Union, Addis Abeba; Azerbaijan, MoD, Baku; Hungary, MoD, Budapest; Finland, MoD, Helsinki; Japan, MoD AF Staff College, Tokyo; Ukraine, MoD, Armed Forces Staff, Kiev; Lithuania, Armed Forces Staff, Vilnius; Italy, Italian Air Force, Ferrara; The Netherlands, JFCBS, Brunssum; Afghanistan, Resolute Support; Estonia, CCDCOE,Tallinn; Greece, NRDC, Thessaloniki; Bulgarian Army LL Seminar, Sofia.
E nas que estão previstas: Algerian, National LL Centre; LANDCOM, Izmir; NRDC-ITA, Milan; eFP, Poland; KFOR, Kosovo; Afghanistan, Resolute Support.
O JALLC sob o comando de um brigadeiro-general, alternadamente de nacionalidade portuguesa e romena, e com um chefe de estado-maior sempre português (tudo cargos de 3 anos), tem neste momento ao serviço 68 militares e civis, sendo os militares de 16 nacionalidades. São 14 os militares dos três ramos das Forças Armadas Portuguesas que aqui trabalham e também há civis portugueses funcionários da NATO no JALLC. A organização do centro é a seguinte:
Análise e lições aprendidas a partir de Portugal
Estivemos em Monsanto/Lisboa onde este comando está localizado, falamos com o seu comandante, Brigadeiro-General Piloto Aviador Mário Salvação Barreto, com o Chefe de Estado-Maior, Coronel Tirocinado de Artilharia, Henrique Pereira dos Santos, com o gestor de vários projectos alguns dos quais iremos sucintamente apresentar, o Coronel de Artilharia Joaquim Ramalho, e fomos guiados pelo Tenente-Coronel Técnico de Operações de Circulação Aérea e Radar de Tráfego, Paulo Gonçalves, oficial de Relações Públicas. Parece-nos que dar a palavra aos actores desta importante actividade no seio da NATO – e naturalmente em muitas outras organizações militares e civis em Portugal e no estrangeiro – será a melhor forma de transmitir aos nossos leitores o que tem sido e o que se prevê que venha a ser esta actividade na NATO. Portugal desempenha aqui um papel que sendo discreto, tem real importância e cada vez mais.
As entrevistas do Operacional com os militares identificados resulta no que aqui fica escrito, com uma ou outra explicação da nossa parte. Não sendo a totalidade do que foi falado, até porque muitas questões são classificadas e não podem ser públicas – logo não nos foram ditas – parece-nos ainda assim que ficará mais claro para os leitores o que é o JALLC, o que ali se faz e como.
Brigadeiro-General PILAV Salvação Barreto, 52 de idade 35 de serviço, comandante do JALLC desde Agosto de 2016.
Neste momento estamos empenhados em optimizar e adaptar o JALLC às futuras necessidades da NATO, as quais se traduzem numa atenção maior aos exercícios em curso e daí extrair lições para os melhorar. Recordo que nos anos 80 e 90, depois de terminada a “guerra fria” a NATO manteve-se com uma dimensão considerável mas foi reduzindo a sua actividade, foi simplificando a sua organização, encerrando comandos, adaptou-se aos novos tempos. Chegou-se a uma altura que havia aliás mais exercícios nacionais do que da Aliança. Na primeira década do século XXI surge a questão do terrorismo no combate ao qual a NATO se juntou e novamente se adapta. Mas era um combate lá longe, fora das fronteiras, no Iraque e no Afeganistão. Agora, nesta segunda década do nosso século, surge nova necessidade de mudar. O que nos faz mudar agora? Sendo certo que temos o terrorismo dentro das fronteiras da Europa e está a ser combatido com os meios e pelas estruturas adequadas, a NATO depara-se com a inesperada questão da Ucrânia. Daqui surge imediatamente a questão dos Países Bálticos como uma situação de risco a que a Aliança tem que acudir. É nesse sentido que a NATO coloca tropas nesses países para evitar uma situação “de facto” como na Ucrânia e, tenta ao mesmo tempo, a Sul, olhar para o problema das migrações e do terrorismo.
Perante estes empenhamentos começou a ser evidente que os exercícios estavam ainda muito marcados por missões com o Afeganistão – que foi evoluindo ao longo dos anos e incluía muito apoio às forças locais, reconstrução do estado, operações especiais, etc – e não a levar a cabo missões de combate de alta intensidade como no passado. Se quiser, como no tempo da “guerra fria” com forças convencionais “frente a frente”!
Para Sul as coisas ainda estão mais atrasadas, há necessidades muito diferentes do Leste, mais viradas para acompanhar esse outro tipo de ameaça que vem com as migrações, que tem que ser feito com outro tipo de forças, mais viradas para a vigilância. É assim que surge em Nápoles um centro que está neste momento a acompanhar esta ameça Sul.
A NATO está assim novamente em processo de ajustamento das suas estruturas, mas fique claro estamos a falar de ajustamentos não de uma transformação radical.
Se até aqui o nosso foco era mais na Análise onde se identificavam os problemas dos dois comandos supremos da NATO e nas agências na sua dependência, agora estamos e vamos ficar mais focados nas Lições Aprendidas. Para isso contamos por exemplo com melhorias que vamos introduzir no nosso portal internet – naturalmente tem uma parte aberta e outra classificada – de modo a que as lições que cada utilizador teve no âmbito da sua actividade operacional ou de treino possam sejam partilhadas por todos. Isto é assim um trabalho liderado pelo JALLC mas só terá sucesso se conseguirmos envolver os comandantes que estão no terreno. São eles, os que estão nos exercícios, que se deparam com as dificuldades, os erros, e partilhando essa informação estão a contribuir para a melhoria do todo. Para isso as pessoas têm que saber o que fazer, e essa é uma das nossas missões, dar formação, e serem conhecedoras das ferramentas que colocamos à sua disposição. Pretende-se assim que a NATO tenha cada vez mais gente empenhada neste processo das lições aprendidas.
O JALLC está em plena mudança, queremos influenciar o futuro aprendendo com o que se está a passar e nesse sentido estamos também em plena mudança, até a nossa imagem visual está a mudar! Não tomamos a iniciativa de elaborar análises por nossa conta, somos uma organização da NATO, fazemos os trabalhos que a Aliança nos pede para fazer.
O nosso ciclo é simples, observação, análise, implementação da solução, e esta é realmente a lição aprendida.
Coronel Tirocinado de Artilharia, Pereira dos Santos, 52 anos de idade, 36 de serviço, Chefe de Estado-Maior do JALLC.
O que fazemos, sob direcção do ACT, é desenvolver um conjunto de actividades que colaboram no processo de transformação da NATO. Ao longo dos anos, fruto exactamente do processo de lições aprendidas, o JALLC especializou-se naquilo a que genericamente designados por “Joint Analysys”: análise e proposta de solução para problemas complexos (mais uma vez recordamos que aqui o “Joint” é usado no sentido “Inter-Agências”).
Quando surge um problema que não é fácil de resolver por parte do próprio departamento, aí somos solicitados a participar, naturalmente através da cadeia de comando, que nos atribui essa tarefa. Destacamos uma equipa multidisciplinar que inclui militares e civis, usualmente composta por 4 elementos. Inicia-se então um processo “de investigação”, contactando pessoas, organismos, todas as fontes que possam dar contributos para identificar as diferentes dimensões do problema. Quase e sempre elaboram também um questionário que é enviado aos países para que estes se pronunciem sobre o assunto. Coligidas as diferentes informações a equipa procura avançar com uma proposta de resolução do problema. Há aqui uma fase que designamos por “lição identificada”, em que o problema foi suficientemente contextualizado e identificada uma hipótese da sua resolução. Sendo certo que o processo não termina aqui, mas termina isso sim a nossa parte. Como se compreende a implementação da solução por nós apresentada cabe à própria estrutura onde foi identificado o problema. Cabe ao comando respectivo implementar – ou não, diga-se! – a nossa solução. Nada obriga a seguir a nossa solução, podem seguir apenas em parte ou até adaptar o que propomos por exemplo. A responsabilidade é do comando respectivo.
Neste momento temos em curso, entre outros, um projecto sobre “Cooperação com países parceiros” (da Parceria para a Paz – PfP, países não-NATO que colaboram com a Aliança). A NATO identificou há bastante tempo que nem sempre as relações com os países parceiros decorre da melhor forma. Por razões diversas que vão das culturais, à língua, às bases doutrinárias diferentes, interoperabilidade dos equipamentos, enfim, uma série de aspectos. Estamos assim a procurar as vulnerabilidades existentes para tentar apontar eventuais soluções.
Temos também vários trabalhos directamente ligados à actividade operacional. Por exemplo um estudo com a designação genérica de “Protecção de Civis”, ou seja como é que a NATO pode conduzir operações minimizando as baixas civis. Não foi um tema fácil como se compreende e neste como em outros temas nunca há respostas absolutas. Recolhemos o histórico – aliás fazemos sempre isso – avaliamos casos em que as coisas correram bem e casos em que correram mal e fizemos muita análise sobre a ISAF (Afeganistão).
Os projectos regra geral duram 6 meses, até serem apresentadas as conclusões finais, mas há alguns que pela sua complexidade demoram mais.
Na NATO os estados-maiores de diversos escalões de comando – e isso também acontece em Portugal por exemplo no Estado-Maior do Exército – dispõem de oficiais de “lições aprendidas”, seja em exclusivo nessas funções, seja em acumulação. Quase e sempre são pessoas formadas por nós que trabalham em prol dos seus comandos, sem ligação hierárquica ou funcional JALLC. Um dos problemas que temos identificado com estes oficias é o facto de estarem, regra-geral, num patamar da hierarquia muito abaixo do que seria desejável. Por outras palavras, estão muito “longe” do respectivo comandante, logo a sua capacidade de influenciar nem sempre é a maior.
Várias vezes destacamos equipas para exercícios ou durante uma operação real para apoiar os comandos respectivos. As operações da NATO no Afeganistão que duraram muitos anos e significaram um grande esforço, levaram a que, durante um largo período de tempo tivéssemos mesmo um oficial nosso em permanência em Cabul, além de equipas que lá se deslocavam para alguns projectos concretos.
A partilha da informação é um aspecto muito relevante, a tendência natural das pessoas é não partilhar erros e isto é uma questão cultural que estamos a tentar, gradualmente, alterar. As questões culturais como se sabe… são das mais difíceis de ultrapassar.
Estamos numa fase de abertura a instituições que antes não colaboravam directamente connosco, sejam militares sejam civis, havendo no entanto muito cuidado com questões de segurança. Desde que haja interesses em comum estamos disponíveis para trabalhar com ONG, universidades, ramos das forças armadas, empresas, etc. E isto é válido para instituições portuguesas e estrangeiras, o facto de estarmos em Portugal não limita a nossa acção.
Coronel Artilharia Joaquim Ramalho, 54 anos de idade, 34 de serviço, “project manager” de vários projectos e um dos oficias portugueses mais antigos no JALLC.
O JALLC trabalha com base em planos semestrais que nos chegam do ACT, elaborados com base em documentos de trabalho que já são do conhecimento prévio do nosso sector de planos (ver organigrama – Plans & Programming Division). O que o “cliente” – na gíria do JALLC a entidade que pede um trabalho – espera de nós é que consigamos atingir o objectivo, fornecer uma solução para o problema apresentado!
O comandante do JALL distribui os pedidos de trabalho que lhe chegam do ACT pelas equipas. A equipa base tem 3 a 4 pessoas, militares e civis, sendo um dos militares o gestor do projecto que recebe uma “carta de missão”, um mandato, onde está estabelecido quais são os objectivos a atingir, o que é que se vai fazer e como. O gestor tem recursos humanos e materiais à sua disposição e administra-os para levar o trabalho a bom termo.
Posso falar de um caso que liderei em 2014 e 2015, foi um trabalho longo, mais do que o normal, demorou um ano, mas muito interessante: “Attack the Networks”. Estamos a falar de avaliar as lições recolhidas das acções de “Countering Improvised Explosive Devices” (Counter-IED) da ISAF, de modo a tentar melhorar, tornar mais eficaz o combate a este “inimigo” (um IED é um explosivo improvisado, não convencional portanto, que pode ser construído e accionado de inúmeras maneiras. É uma das principais causas de baixas militares e civis em muitos conflitos da actualidade. O Primeiro-Sargento Comando João Paulo Roma Pereira morreu no Afeganistão em 2005 – e outro militar ficou ferido com gravidade, fruto do rebentamento de um destes engenhos. A actividade para combater esta ameaça designa-se C-IED).
O cliente deste trabalho foi o QG da NATO no decurso das preocupações manifestadas pelos seus directores de ameaças emergentes e “intellegence” (sensivelmente aquilo que chamamos “informações”). A NATO desenvolveu no Afeganistão uma doutrina de C-IED que assentava em três pilares: Preparar a Força; Atacar as Redes (de fabricação e distribuição dos engenhos); Desactivar o IED (traduções da nossa responsabilidade). Conclui-se que o este pilar da doutrina NATO para combater os IED – attack the networks – só por si não era suficiente e que havia que alargar muito a área de actuação, para a Intelligence. As recomendações incluíram, criar pessoas na estrutura organizacional das forças que tratassem especificamente deste assunto; fazer evoluir a doutrina no sentido de aumentar a troca de informação com todas as “agências” relevantes que actuam no teatro de operações, nos países limítrofes e mesmo nos países que enviam as forças para o terreno.
Não só a NATO como alguns dos seus países membros criaram “armazéns“ e bases de dados, algumas de enorme dimensão – a dos EUA, no FBI, que visitamos no decurso destes trabalhos é uma dessas estruturas que recebia diariamente do Afeganistão tudo o que ali era recolhido e tinha interesse nesta área – onde os materiais e dados eram avaliados e estudados. O trabalho no teatro de operações que as tropas desenvolviam, nomeadamente as operações especiais, e as unidades atacadas, era estudado e propostas alterações, algumas das quais com carácter de urgência. Claro que nem todos os países têm não só a capacidade de estudo como, ainda menos, de introduzir alterações significativas por exemplo nos materiais. Para se ter uma ideia, basta dizer que os EUA conceberam e produziram (em ligação com a indústria bem entendido) os Mine-Resistant Ambush Protected – MRAP e os introduziram em operações porque a ameaça dos IED no Iraque permitiu ver que só uma viatura com determinado peso, dimensões e resistência podia fazer face a esta ameaça (os High Mobility Multipurpose Wheeled Vehicle – HMMWV, mesmo os blindados, como os URO VAMTAC – Vehículo de Alta Movilidad Táctico onde o Sargento Roma Pereira morreu, não forneciam a protecção que os EUA queriam para os seus soldados em operações).
Neste trabalho depois da recolha de dados e literatura sobre o tema, fizemos um plano de pesquisa que incluiu o Pentágono, os laboratórios do FBI, as agências de intellegence britânica e francesa – aqui visitamos um centro onde a experiência do Mali tem sido muito trabalhada e dá bons resultados operacionais – e o NATO Counter Improvised Explosive Devices Centre of Excellence (C-IED COE), em Hoyo de Manzanares, Madrid, Espanha. No total entrevistamos 70 organizações e depois então partimos para a análise, num processo em que por várias vezes alteramos a nossa abordagem ao assunto.
No Afeganistão haviam redes de produção dos diversos componentes dos IED, com autênticas fábricas sectoriais – cada uma fazia um pequeno componente – dentro e fora do país, por exemplo no Paquistão de onde se importavam substância e materiais aparentemente inócuos e que depois entravam neste circuito. O tratamento da informação contida nas tais bases de dados, a análise e estudo detalhados dos materiais, das vítimas, tudo, foi determinante para se perceber este sistema. A conclusão principal foi a de que o combate aos IED não pode ser um assunto apenas táctico, mas o foco tem também que estar virado para todos os actores e muitos até podem estar fora do teatro de operações. A ligação entre todos os que combatem, das operações especiais que recolhem informação, às polícias, às organizações civis que actuam no terreno e as instituições que actuam na nossa retaguarda é absolutamente necessária. Muitos laboratórios nacionais nos países que tinham forças expedicionárias e estudavam este assunto não partilhavam informações entre si. A NATO por sua vez tem que desenvolver capacidades próprias nesta área e a partilha de informação entre as diferentes agências de segurança e “Intelligence” tem que ser uma realidade. É muito difícil quebrar esta barreira, têm que ser agilizados procedimentos, mas tem que ser feito. Um exemplo, em Portugal para haver partilha de uma informação entre uma força policial e uma força militar, o que é necessário? Quem tem a informação, que documentos têm que ver assinados, a que níveis da hierarquia policial e política têm que ir, para que a informação chegue ao destino? Quanto tempo demora e quantas pessoas interferem no processo? É este tipo de coisas que se pretendeu identificar na NATO.
15 anos em Portugal
O JALCC está em Monsanto desde 2002 e desde então nota-se que esta é uma actividade com influência crescente no processo de transformação da Aliança. Uma das medidas em que é possível “medir” o interesse e o sucesso da sua missão pode ser o de haver sempre um número mais elevado de pedidos de estudos do que aqueles que o JALLC tem capacidade de realizar.
Qualquer entidade da NATO pode pedir a colaboração mas o assunto é sempre centralizado no ACT e este comando tem que fazer uma priorização para escolher quais os projectos que avançam, quais os que entende mais urgentes.
Uma das realizações do JALLC que se tem revelado um sucesso é a Lesson Learned Conference – Conferência sobre Lições Aprendidas – a qual junta em Portugal toda a comunidade que estuda esta problemática. No ano passado estiveram na Academia Militar na Amadora, onde se realizou a edição desse ano, cerca de 300 pessoas de todo o mundo, NATO e não-NATO (até do Japão chegaram representantes!) e ali se discutem assuntos de modo aberto e sem entraves burocráticos ou hierárquicos! Há até o caso curioso de um desses entraves típicos das organizações militares que ali foi resolvido com sucesso, informalmente, através de uma “ligação directa” entre um general francês e a nossa força que iria partir para o Mali!
As alterações organizacionais que o JALLC está a iniciar levaram a não fazer a edição deste ano, remetendo para a Primavera de 2018 e próxima edição.
As alterações internas do JALLC estão para ser implementadas a título experimental muito em breve mas desde já uma alteração está feita e aprovada, a nova simbologia. Vai ser oficialmente introduzida no dia 20 de Setembro de 2017 por altura das comemorações do 15.º Aniversário, mas o Operacional recebeu “luz verde” para a divulgar, aqui fica.
As “Lições Aprendidas” são na realidade uma boa “ferramenta” para melhorar uma organização em variadissimas vertentes, aumentar a capacidade de sucesso das tropas em campanha. A NATO usa-a e a sua influência tem vindo a aumentar. Há no entanto barreiras culturais de monta para ultrapassar e basta pensarmos um pouco na nossa realidade nacional. Nos outros países, mais coisa menos coisa, as diferenças não serão muitas.
Quem está disposto a partilhar com seriedade os seus erros – e sucessos, bem entendido, mas estes são de fácil aceitação – no portal das Lições Aprendidas e assim contribuir para uma NATO mais eficaz? Sem dúvida um dos grandes desafios que o JALLC vai continuar a enfrentar, estimulando pessoas e organizações a percorrer este caminho.
Divulgar os objectivos do JALLC dentro e fora da Aliança é fundamental para conseguir uma participação empenhada na melhoria das instituições que cada um serve.
Miguel Machado é
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