Estamos perante um livro muito interessante, mais do que o título pode deixar antever, porque na realidade o episódio, sem dúvida marcante, foi aproveitado pelos autores para ir mais além, colocam-nos num dos tempos mais conturbados do século XX português.

Em linhas muito gerais, tentando fazer aqui uma síntese certamente injusta pelo que de importante fica de fora, diremos que o livro aborda muitos dos aspectos que caracterizaram o período que antecedeu a entrada de Portugal na Grande guerra (1914-1918), desde a implantação da República (05OUT1910), e que foram férteis em intervenções militares, muitas delas talvez melhor classificadas como intervenções “de” militares, porque na realidade, como este livro bem nos mostra, algumas não primavam pela organização típica da instituição. Foi um tempo violento, muito, em que civis armados matavam, colocavam bombas, em nome de organizações de carácter político e em que a desconfiança – justa ou injusta – pela fidelidade dos militares à causa republicana era ainda uma realidade em muitos sectores.

Os autores, José Rodrigues da Costa, António José Telo, João Vieira Borges, Nuno Lemos Pires e Jorge Silva Rocha, partilham o índice da obra, que inclui ainda relatórios e documentos da época e notas biográficas dos dois militares da Escola de Guerra abatidos a tiro pelos assaltantes nesse fatídico dia de 15 de Maio de 1915. O livro é dedicado à memória do General de Divisão José Estêvão de Morais Sarmento, comandante da Escola nessa data, e militar distinto a vários títulos, como fica expresso em várias passagens desta leitura.

O Índice da obra (abaixo) mostra o que cada autor aborda, e sem dúvida nos colocam de modo muito vivo perante a realidade daqueles tempos, que lidos hoje, a espaços, não tanto nos factos em si mesmos mas nas atitudes de alguns intervenientes – por exemplo no modo como é manipulada a nossa entrada na guerra – nos parecem familiares!

Não vamos naturalmente antecipar uma leitura que se recomenda vivamente, mas ainda assim aqui ficam os tópicos que cada autor desenvolve:

José António Costa, “Introdução”

José Telo, “Revolução e Contra-Revolução em 1915 – o Primeiro Ciclo da Beligerância Portuguesa:

– A novidade politica em 2015;

– O modelo revolucionário Republicano;

– As reformas militares alhadas;

– A guerra civil intermitente;

– A posição inicial perante a guerra;

– O papel da França;

– A Divisão Expedicionária para França;

Os Antiguerristas ao ataque: o Movimento das Espadas

– A obra da “Ditadura”

– As provocações que preparam a revolta;

– O 14 de Maio

– Lisboa a saque – 15, 16 e 17 de Maio;

– O primeiro ciclo de beligerância;

João Vieira Borges, “A Escola de Guerra em 1915”:

– Introdução;

– Missão, organização, cursos e instalações da Escola de Guerra;

– O comandante;

– O assalto à Escola de Guerra;

– Considerações e lições.

Nuno Lemos Pires, “Carreiras, Desafios, Ambições e Oportunidades dos Cadetes da Escola de Guerra”:

– Da envolvência social e politica nas opções de carreira para os futuros oficiais;

– Dos temas em maior discussão sobre as diferentes Armas e Serviços;

– Das opções de carreira e das oportunidades em aberto;

– Dos vários quadros do Exército;

– Do Serviço no Ultramar;

– Dos vários quadros protocolados com o Exército: Guarda Nacional Republicana, da Guarda Fiscal, Policia Civil (de Segurança Pública);

– Breve reflexão final.

Jorge Silva Rocha, “A Escola de Guerra na revolta de 5 de Dezembro de 1917”:

– Uma era de confluência de descontentamentos;

– A revolta 5 de Dezembro de 1917;

Os anexos são cópia parcial dos documentos da época, e dão-nos também eles, nomeadamente o do comandante e o dos oficiais encarregados da investigação, uma boa imagem da época, pelas muitas considerações que todos fazem nos respectivos textos.

O livro é uma edição da Academia Militar e da Fronteira do Caos Editores, com a 1.ª edição de Outubro de 2015. Formato 16X23,5cm, 170 páginas, fotografias retiradas de publicações da época e do arquivo da Academia Militar. ISBN 989-989-8647-48-1.