Serão as Forças Armadas Portuguesas tão caras como nos querem fazer crer? Quem é militar, quem vive o dia-a-dia nos quartéis em território nacional ou nas operações exteriores onde convive com militares de outros países, tem dificuldade em acreditar. Não só por cá as limitações são  inúmeras como nas missões internacionais, olhamos para o lado, e não raramente invejamos equipamentos e armamento dos tais que, supostamente, gastam menos do que nós.

A comparação estatística com outros países da NATO mostra que, sendo certo que se pode reorientar a despesa, estamos longe, em Portugal, de sermos gastadores: antes pelo contrário.

Na realidade em tempos de reformas, reorganizações, reestruturações, transformações, e ainda outras designações que vão aparecendo, é habitual aparecerem publicamente dados estatísticos estrangeiros para as justificar. Mas nem tudo o que parece, é…e aquilo que empiricamente os militares pensam como acima vimos, talvez tenha razão de ser.

Na actualidade de novo nos assalta diariamente este paradigma. Face à crise em que estamos atolados e às dificuldades que dia-a-dia batem à porta dos portugueses – militares incluídos, convém não esquecer – nada como atirar com uns milhões de euros para a fogueira das justificações para nos convencer a todos que é da redução da despesa militar que virá a salvação da Pátria.

Já foi assim durante a guerra do Ultramar, diziam-nos na altura os inimigos da presença portuguesa em África, que o fim do conflito traria a abundância económica a este Portugal europeu tão pequeno e que caminharíamos para a Europa (dos grandes) de igual para igual. Muita gente acreditou, mas afinal parece que não foi bem assim.

Porque terá sido? Não se cortou o suficiente nas despesas militares, parecem dizer-nos hoje!

E a dúvida muitas vezes ataca até as pessoas ligadas ao meio perante uns estudos misteriosos que vão aparecendo nos jornais. Hoje (11SET2012) por exemplo, o Diário Económico lá nos comparava com dois ou três países para justificar que, «…A Defesa tem um peso pequeno no PIB, mas tendo em conta a crise, é outra área apontada como passível de cortes…». Como quem diz, “estão a ver, outros gastam menos do PIB em defesa do que nós?!”

Assim sendo, e porque falando com os militares todos dizem, dentro e fora do país, que cada vez mais a situação é de maior penúria, fui ver os números oficiais da NATO. Estão disponíveis na internet. E, espanto, afinal…estamos abaixo da média da NATO e da média dos países europeus da NATO em todos os parâmetros…gastos por habitante em percentagem do PIB; percentagem do PIB atribuído à defesa; efectivos em percentagem da população activa.

Quero com isto dizer que nada se deve alterar? Não! Pode e deve, se queremos melhorar a capacidade operacional das forças armadas – ou será que afinal não é esse o objectivo? Mas justifiquem isso com verdade, argumentos sérios, e não com trapalhices. É pedir muito?

Segundo os últimos dados divulgados pela NATO, relativos a 2010 (comunicado PR/CP(2011)027 de 10MAR2011):

1) O custo anual por habitante da defesa militar em cada país (tendo em atenção a relação com o poder de compra respectivo) é em média na NATO de 35.943 (dólares americanos), 29.443 se considerarmos apenas os seus membros europeus e em Portugal é de 25.568;

2) A média dos gastos em defesa pelos países da NATO é de 3,3% do PIB quando consideramos a totalidade dos seus membros, de 1,7% do PIB quando consideramos apenas os seus membros no continente europeu e 1,6% para Portugal;

3) Os efectivos afectos à Defesa Nacional, militares e civis, é em média de 1,1 % da população activa no conjunto dos países da NATO, 1,0% se considerarmos os países europeus da Aliança e de 0,9% em Portugal.

Dados completos retirados do site oficial da NATO em 11SET2012:

Gasto anual por habitante (em US dólares).
Média dos países europeus da NATO: 29.443; Média Total (Europa, EUA e Canadá): 35.943
Luxembourg 87.168
Norway 55.835
United States 47.285
Netherlands 41.699
Canada 39.432
Denmark 38.960
Germany 38.093
Belgium 37.126
Iceland 35.833
United Kingdom 35.826
France 34.458
Spain 32.409
Italy 32.400
Slovenia 28.171
Greece 28.065
Czech Republic 26.176
Portugal 25.568
Slovak Republic 24.170
Hungary 20.722
Poland 19.766
Estonia 20.541
Croatia 19.974
Lithuania 17.531
Turkey 15.338
Romania 14.114
Latvia 16.333
Bulgaria 14.113
Albania 7.381

Gastos com a defesa em percentagem do PIB
Média dos países europeus da NATO: 1.7 % do PIB; Média Total (Europa, EUA e Canadá): 3.3 % do PIB
United States 5.4
Greece 2.9
United Kingdom 2.7
France 2.0
Albania 2.0
Poland 1.9
Turkey 1.9
Estonia 1.8
Bulgaria 1.7
Slovenia 1.6
Portugal 1.6
Norway 1.5
Canada 1.5
Croatia 1.5
Czech Republic 1.4
Germany 1.4
Denmark 1.4
Italy 1.4
Netherlands 1.4
Slovak Republic 1.3
Romania 1.3
Spain 1.1
Belgium 1.1
Hungary 1.1
Latvia 1.0
Lithuania 0.9
Luxembourg 0.5

Efectivos militares (em milhares
United States 1.427
Turkey 495
Germany 246
France 234
United Kingdom 198
Italy 193
Greece 128
Poland 100
Spain 131
Romania 69
Canada 55
Netherlands 48
Portugal 43
Belgium 34
Bulgaria 30
Czech Republic 24
Norway 20
Hungary 20
Slovak Republic 14
Denmark 18
Croatia 16
Albania 10
Lithuania 8
Slovenia 7
Estonia 5
Latvia 5
Luxembourg 0.9

Efectivo (militares e civis) em percentagem da população activa.
Média dos países europeus da NATO: 1.0; Média Total (Europa, EUA e Canadá): 1.1
Grèce 2.8
Turquie 2.1
Albanie 1.1
Etats-Unis 1.4
Bulgarie 1.1
Croatie 1.1
France 1.1
Norvège 1.0
Estonie 0.9
Italie 0.9
Portugal 0.9
Royaume-Uni 0.9
Danemark 0.8
Pologne 0.8
Roumanie 0.8
République slovaque 0.8
Slovénie 0.8
Belgique 0.7
Lituanie 0.7
Pays-Bas 0.7
Espagne 0.7
République tchèque 0.6
Allemagne 0.6
Hongrie 0.6
Lettonie 0.5
Luxembourg 0.4
Canada 0.4