MAX SCHMELING: PUGILISTA E PÁRA-QUEDISTA MILITAR
Por Antonio Carmo • 14 Jan , 2011 • Categoria: 09. ONTEM FOI NOTÍCIA - HOJE É HISTÓRIA Print«…Morreu o ex-campeão mundial Max Schmeling.
O antigo campeão mundial de boxe na categoria de pesos pesados, MAX SCHMELING, morreu na quarta-feira e foi enterrado ontem. Tinha 99 anos. O ex-pugilista entrou em coma três dias antes da sua morte, em consequência do frio polar que atingira o país durante o Natal. “MAX SCHMELING pertence aos imortais e terá sempre um lugar no coração dos alemães”, declarou o presidente do Comité Olímpico da Alemanha, Walter Troeger.»
Foi assim que em 5FEV05, o jornal diário PÚBLICO noticiou a morte «do maior desportista alemão de sempre», conforme foi considerado em 1987 por toda a imprensa desportiva alemã.
Recordado como o único pugilista germânico que se sagrou campeão mundial em todas as categorias, depois de bater o norte-americano JACK SHARKEY, no dia 12 de Junho de 1930, e o também norte-americano JOE LOUIS, por KO ao 12º assalto, em 19 de Junho de 1936 em Nova Iorque, MAX SCHMELING destacou-se também pela sua capacidade e entrega na ajuda ao próximo, pela sua incomensurável generosidade, coragem e elevado civismo.
Quando deflagrou o maior conflito mundial entre a Alemanha e os países aliados, MAX SCHMELING, apesar do seu estatuto de “cidadão estrela”, não se furtou aos seus deveres cívicos, tendo sido o único desportista de alta competição a cumprir o serviço militar, como voluntário, nas míticas unidades pára-quedistas ( FALLSCHIRMJÄGER ) da Luftwaffe.
Para recordar os principais traços biográficos deste grande desportista mundial e, apenas numa perspectiva histórica, a acção de combate em que participou como militar pára-quedista durante a 2ª Guerra Mundial, aqui deixo este breve apontamento.
MAX SCHMELING: ALGUNS TRAÇOS BIOGRÁFICOS
MAXIMILIAN SIEGFRIED ADOLF OTTO SCHMELING nasceu a 28 de Setembro de 1905 em Brandemburgo (Klein-Luckow), no leste da Alemanha.
Filho de um piloto da marinha mercante e de uma mãe de origem humilde, viu despertar a sua vocação para a prática do pugilismo, depois de ter assistido a um filme de boxe no princípio dos anos 20.
Em 1922 muda-se para a região da Renânia, no oeste da Alemanha, lugar onde na época se aglomeravam as principais academias de boxe. Aqui se fixou, ao mesmo tempo que garantia a sua subsistência, alternando o seu trabalho com alguns combates de índole amador.
A sua primeira vitória no pugilismo é conquistada em 1924, e do dia para a noite tornou-se na maior sensação do desporto alemão.
Opta pela carreira profissional, vindo a conquistar o título alemão de meio-pesado em 1926. A par do seu percurso desportivo, ainda consegue alguma disponibilidade para participar nos filmes intitulados EIN FILMSTAR WIRD GESUCHT (PROCURA-SE UM ASTRO DE CINEMA) e LIEBE IM RING (AMOR NO RINGUE).Em 1927 e devido a problemas de excesso de peso, o temido pugilista, apesar da sua média envergadura (1,85m e 85Kg) é obrigado a mudar de categoria, passando a pesos-pesados, É já nesta categoria que em 1928 conquista o título alemão, iniciando ainda algumas lutas nos EUA.
A 12 de Junho de 1930, sagrou-se campeão mundial na categoria de pesos-pesados , depois do seu adversário, o norte-americano JACK SHARKEY, ter sido desclassificado ao 4º assalto por um golpe desferido abaixo da cintura, tornando-se no primeiro europeu a conquistar um título mundial nesta difícil categoria.
No ano seguinte defendeu o título contra outro norte-americano, YOUNG STRIBLING, mas em 1932 perde para Jack Sharkey, depois de controversa decisão do árbitro (um velho amigo do seu adversário).
Casado com a actriz checa de origem judia, ANNY ONDRA, e com a ascensão dos nazis ao poder, nega-se a separar-se da sua mulher e do seu treinador (Joe Jacobs), também de origem judia. Com o incumprimento desta determinação cultiva algumas antipatias e incompreensões, porém consegue fazer uma transição para o novo regime sem grandes sobressaltos.
Em 1936 participa nos Jogos Olímpicos (Berlim), tendo convencido os norte-americanos a participarem.
A 19 de Junho de 1936 vence o norte-americano JOE LOUIS (um jovem negro de Detroit), por KO no 12º assalto, facto que provoca uma inquestionável popularidade mundial, desde logo usada pela máquina de propaganda do 3º Reich (Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda nazi chegou mesmo a enviar um telegrama de felicitações). Dois anos mais tarde perde o título conquistado contra o mesmo JOE LOUIS, depois de ter combatido cerca de 124 segundos!!!.
Chamado para combater durante a 2ª Guerra Mundial, MAX SCHMELING alista-se, em 1940, nas tropas pára-quedistas da Luftwaffe.
Depois de ultrapassar com galhardia os rigores da instrução que este tipo de tropas impunha, e de frequentar com aproveitamento o Curso de Pára-quedismo Militar, vê a sua unidade ser empenhada na operação com o nome de código « MERCÚRIO » que tinha como objectivo o ataque à ilha grega de Creta.
Dado como morto em combate, reaparece algum tempo depois numa cama de hospital. As causas do seu internamento, ainda hoje, são contraditórias, muito embora os seus delatores a atribuam a «disfunções estomacais».
Terminado o conflito mundial foi ilibado de quaisquer crimes de guerra por um tribunal britânico, iniciando a reconstrução da sua vida com alguns combates de demonstração e exibição.
Mais tarde dedica-se à plantação de tabaco e consegue uma licença para distribuir os refrigerantes Coca-Cola na Alemanha, onde consegue reequilibrar as suas finanças com algum sucesso.
Em 1954 viajou de novo, aos EUA para visitar o seu antigo adversário e grande amigo JOE LOUIS que ajudou financeiramente, tendo inclusive pago parte das despesas do funeral e carregado a sua urna em 1981.
Viveu sempre com a mesma mulher (falecida em 1987), não teve nenhum filho e, apesar da sua avançada idade, nunca dispensou a sua manutenção física diária.
Faleceu no dia 2 de Fevereiro de 2005, depois de ter estado em coma durante três dias, com 99 anos de idade.
Eis a vida de um CAMPEÃO MUNDIAL (56 vitórias em 70 combates como profissional), PÁRA-QUEDISTA MILITAR e CIDADÃO EXEMPLAR!
OPERAÇÃO MERCÚRIO: OBJECTIVO «CRETA»
Maio de 1941: o ataque à ilha grega de Creta foi a maior operação aerotransportada desenvolvida e levada a efeito pelas TROPAS PÁRA-QUEDISTAS da Luftwaffe durante a 2ª Guerra Mundial.
Estrategicamente localizada, esta pequena parcela de terra tinha-se tornado num problema acrescido para os exércitos alemães no Norte de África, pois servia como base para os bombardeiros aliados que atacavam os comboios de provisões no Mediterrâneo.
Iniciada em 20 de Maio, com o nome de código « MERCÚRIO » foram usadas, para o assalto, todas as unidades aptas a fazerem uso da terceira dimensão com excepção da 22ª DIVISÃO AEROTRANSPORTADA que teria a missão de proteger as refinarias de Ploetsi (Roménia).
Nesse dia são lançados 13.000 pára-quedistas e cerca de 9.000 militares das unidades de montanha (5º Gebirgs Division). Para o efeito são utilizados 502 JUNKERS JU-52 e 85 planadores DFS 230.
Ao iniciar a operação, os alemães desconheciam que os serviços secretos britânicos tinham descodificado todos os seus códigos secretos, sendo este facto agravado com uma “desvalorização da capacidade de combate do inimigo” elaborada pelos serviços secretos alemães: a temida ABWEHR.
Dividida em três grandes grupos denominados Oeste, Centro e Este, a força de ataque é lançada em duas vagas: a primeira salta sobre o aeroporto de Maleme e a segunda incluía um ataque ao aeródromo de Rethymnon.
Porém, os bombardeamentos executados pela Força Aérea alemã alertam os cerca de 27.500 soldados britânicos e 14.000 gregos e os combates tornam-se encarniçados.
Centenas de pára-quedistas germânicos são mortos sem nunca terem tocado o solo e muitos outros nunca conseguiram alcançar os objectivos (aterram no mar) devidos a erros nos lançamentos.
Com um início desastroso e surpreendidos por um adversário implacável, os FALLSCHIRMJÄGER fazem emergir a sua reputação de soldados de elite e conseguem obter uma preciosa e decisiva vitória, apesar do elevado número de baixas: 3.250 mortos e desaparecidos e 3.400 feridos, contra 2.500 mortos e 10.000 prisioneiros britânicos e gregos.
Impressionado com o elevado número de baixas, Adolfo Hitler nunca mais autorizou o uso em grande escala de tropas pára-quedistas.
SUPORTE DOCUMENTAL:
– Lippe, George Von Der. MAX SCHMELING: AN AUTOBIOGRAPHY. USA, Bónus Books ic. ISBN 1-56625-108-7
– Nasse, Jean-Yves. FALLSCHIRMJAGER EN CRÈTE. Paris-France, Histoire & Collections. ISBN 2-913903-36-3
(*) – As fotos, salvo indicação contrária, foram extraídas dos seguintes livros/publicações:
– Davis, Brian L., UNIFORMS AND INSIGNIA OF THE LUFTWAFFE 1940-45. VOL-2.
– Revista SINAL PORTUGUESA – Julho de 1941 (Col. de Miguel Machado).
– Este artigo já publicado em algumas revistas da especialidade foi adaptado pelo autor para o sítio electrónico «operacional.pt» .
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