MARINHA DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA EM PORTUGAL
Por Miguel Machado • 1 Mai , 2013 • Categoria: 03. REPORTAGEM, 14.TURISMO MILITAR PrintLisboa recebeu no passado mês de Abril uma visita pouco frequente, duas fragatas lança-mísseis e um navio reabastecedor das Forças Armadas da República Popular da China (RPC). Mário Diniz foi a bordo e mostra-nos o que viu!
Escala em Lisboa
Na realidade, segundo foi noticiado, esta é apenas a segunda vez que navios da Marinha do Exército Popular de Libertação da RPC, escalam Lisboa, a anterior foi em 2002. A visita de cortesia inseriu-se num périplo que esta “13.ª Flotilha”(*) efectuou a diversos países depois de ter terminado uma missão de luta anti-pirataria no Índico. Tendo largado do porto militar de Zhanjiang, no Sul da RPC (província de Guangdong) a 9 de Novembro de 2012, a Flotilha, composta pelas fragatas “Huangshan” e “Hengyang” e o reabastecedor “Qinghaihu”, actuou no Índico tendo realizado 161 missões de escolta a navios comerciais chineses e estrangeiros. Em 13 de Março a 14.ª Flotilha rendeu a 13.ª nas águas do Golfo de Adém, fizeram cinco dias de actividade conjunta, tendo depois a 13.ª rumado a ocidente fazendo escalas – semelhantes à de Lisboa – em Malta (Valletta), Argélia (Argel) e Marrocos (Casablanca). Terminada a visita ao nosso país e antes de regressar à RPC ainda escalaram Toulon em França.
Chegados a 15 de Abril de 2013 ao cais de Santa Apolónia, assistiu-se ao mesmo figurino das escalas anteriores pelo Mediterrâneo. Em todos os portos, civis chineses residentes nas cidades visitadas receberam em festa os navios; cinco dias de duração, alguns deles com visitas autorizadas a bordo; contactos de alto nível com as Marinhas e entidades ligadas à Defesa Nacional de cada país. Uma operação de relações públicas bem montada quer no terreno colhendo a atenção dos órgãos de comunicação social locais quer “world wide” através de reportagens fotográficas que foram sendo publicadas no site do Ministério da Defesa da RPC.
Mário Diniz visitou a 13.ª Flotilha, fez as fotografias que apresentamos (Ernâni Balsa cedeu-nos uma que mostra os navios ancorados no Tejo) e transmitiu-nos as suas impressões: muita simpatia, navios novos, material claramente a lembrar aquilo que está ao serviço em muitos outros países.
A Marinha do Exército de Libertação Nacional
De acordo com o último “Livro Branco da Defesa Nacional” da RPC, publicado por coincidência este mês de Abril de 2013, com a designação, em inglês, de “The Diversified Employment of China’s Armed Forces”, a Marinha dispõe de 235.000 efectivos e é composta por 3 Esquadras, Beihai, Donghai e Nanhai, cujos quartéis-generais estão localizados, respectivamente em Qingdao (Província de Shandong) Ningbo (Província de Zhejiang ) e Zhanjiang (Província de Guangdong). Cada uma destas Esquadras tem aviação, navios e fuzileiros navais.
Segundo este mesmo documento, as Forças Armadas da República Popular da China são compostas pelo Exército Popular de Libertação (EPL), a Força Armada de Policia Popular e a Milícia. O EPL inclui, Exército com 850.000 efectivos, Força Aérea com 398.000, a Marinha e há ainda uma “Segunda Força de Artilharia” – misseis convencionais e nucleares.
A Marinha evoluiu de uma quase “Guarda Costeira” nos seus primórdios no início dos anos 50 do século XX para se tornar na última década uma força oceânica com poder considerável que já inclui um porta-aviões – o “Liaoning” (ex-“Riga” e ex-“Varyag”, que foi vendido pela Ucrânia e teve uma passagem por Macau onde seria supostamente transformado em casino!) que opera desde Setembro de 2012, mas não está ainda completamente operacional – que tudo indica será o primeiro de vários.
Esta Marinha da RPC – no seu 64.º aniversário – está atenta à reorientação que os EUA têm em curso no seu dispositivo militar (sobretudo aeronaval) em direcção ao Pacífico, às disputas com o Japão sobretudo por causa de questões territoriais em diversas ilhas que ambos os países reclamam e, como sempre, na luta contra os “separatistas” de Taiwan, a República da China, herdeiros dos nacionalistas que perderam a guerra civil no continente contra os comunistas em 1949.
O aumento da participação das Forças Armadas Chinesas em geral e da Marinha em particular em missões internacionais tem sido uma constante. Um dos capítulos deste “Livro Branco” é mesmo dedicado à Salvaguarda da Estabilidade Regional e da Paz Mundial, onde se incluem as missões da ONU, as de ajuda humanitária e a segurança das linhas de comunicação marítimas, para além dos exercícios internacionais que a RPC efectua com cada vez mais parceiros.
Esta evolução é suportada pelo crescente poderio económico da RPC, a qual é hoje o segundo maior comprador de armamento do mundo e o terceiro maior exportador. Segundo o “Stockholm International Peace Research Institute” as suas despesas militares cresceram 172% entre 2003 e 2012!
Os navios
As duas fragatas lança-mísseis que visitaram Lisboa eram iguais. São do Tipo 054A designadas pela NATO de Jiangkai-II Class, e entraram ao serviço em 2008. Destinadas primariamente à defesa aérea mas com capacidade para missões anti-navio e outras (como as que acabaram de efectuar no Índico). Deslocamento máximo de 4.053 toneladas (contra 3.320ton. para as “Bartolomeu Dias” da Marinha Portuguesa, a título de comparação)
O reabastecedor “Qingaihu”, é o ex-“Vladimir Peregudov” que começou a ser construído na antiga União Soviética e depois foi comprado inacabado pela RPC à Ucrânia. Finalizado na RPC entrou ao serviço já depois do ano 2000 e de ter mudado várias vezes de nome. Desloca 37.000 toneladas (o “Bérrio” da Marinha Portuguesa desloca 11.522ton.).
(*) Por cá na comunicação social usou-se a designação “Esquadra” em vez de “Flotilha”. Optamos por esta última por nos parecer mais correcta dado o número de navios e para não se confundir com as 3 Esquadras em que a Marinha Chinesa está organizada.
(Os dados sobre os navios chineses recolhidos do site http://www.sinodefence.com, onde se pode encontrar informação com algum detalhe sobre os armamentos instalados nos navios)
Miguel Machado é
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