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MALVINAS UN SENTIMIENTO

Por • 1 Out , 2009 • Categoria: 08. JÁ LEMOS E... Print Print

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« MALVINAS UN SENTIMIENTO »

de Mohamed Ali Seineldín

Editorial Sudamericana, S.A., Buenos Aires, 1999

(223 pp., 12 fotos, 2 mapas/croquis)

MOHAMED ALÍ SEINELDÍN, figura incontornável na história da criação das unidades especiais argentinas, faleceu no dia 2 de Setembro p.p., na cidade de Buenos Aires vítima de uma paragem cardiorespiratória.

Pára-quedista militar, com o posto de Tenente-Coronel participou no conflito pela recuperação das Ilhas Malvinas, onde comandou o Regimento de Infantaria 25. Era o “homem” mais temido pelas forças britânicas e as suas acções em combate provaram os seus dotes de liderança e comando e a “preocupação” manifestada pelos oficiais ao serviço de “Sua Majestade”.

Este comentário ao livro que publicou (1999) no período pós-conflito, é uma singela homenagem ao pára-quedista militar que tive a oportunidade de conhecer, pessoalmente, em 1 de Outubro de 1998, quando cumpria uma pena de prisão perpétua na Prisão Militar de Campo de Mayo (arredores de Buenos Aires), por motivos que a história e o tempo se encarregarão de corrigir e esclarecer, depois de ter sido destituído do seu posto (Coronel), e de terem tentado “apagar” o seu passado brilhante de soldado ao serviço da Nação argentina.

É seguramente um livro indispensável para os estudiosos compreenderem com (mais) rigor a Campanha das ILHAS MALVINAS ou, usando uma expressão tipicamente argentina, para melhor compreender a “GESTA DAS MALVINAS”.

Não é, seguramente, mais um livro qualquer, escrito por um autor circunstancial.

O autor foi, neste encarniçado conflito do século passado, testemunha privilegiada, participando nele como combatente nas difíceis e delicadas funções de Comandante do REGIMENTO DE INFANTARIA 25 (RI-25), principal elemento de manobra do Exército Argentino durante a Operação « VIRGEN DEL ROSARIO » pela recuperação da soberania das Ilhas Malvinas, usurpadas e em poder do Reino Unido durante os últimos 150 anos.

Esta obra (o seu primeiro livro) é o testemunho pessoal do mítico Coronel Pára-quedista MOHAMED ALÍ SEINELDÍN, escrito nas masmorras do Instituto Penal das Forças Armadas Argentinas, em Campo de Mayo (arredores de Buenos Aires), em 1997/98.

A origem e a opção pela temática abordada é explicada pelo autor no “Episódio 1”, e resultou de um compromisso assumido entre o autor e o seu filho, em 23 de Abril de 1998, depois de um sincero diálogo.

Inicialmente para Seineldín, algumas razões fortes o impediam de iniciar tão delicada tarefa. E justifica de forma simples: «…a primeira é que não sou escritor nem pretendo ser; a segunda é que é muito difícil procurar passar para um escrito um sentimento tão profundo e maravilhoso, como considero a Gesta, realmente; a terceira é que dentro de mim, existe algo parecido como uma resistência a desenterrar um tesouro tão sagrado; temo não saber transmitir a verdade em toda a sua plenitude, especialmente aos jovens.»

Mas, apesar de tão compreensível resistência, o sonho tornou-se realidade.

O livro em forma de “diário”, e sem grandes preocupações estético-literárias, é composto de 55 episódios, todos escritos com profunda realidade, rigor histórico e alguma emoção.

Realço o “Episódio 32” que marca o início do ataque britânico às posições argentinas. Pretendiam as forças armadas de “Sua Majestade” neutralizar as posições argentinas por meio de um  ataque frontal. Tal intenção foi frustrada, apesar do intenso bombardeamento aéreo e naval que antecedeu o assalto. A tenaz resistência dos “corajosos militares sob o comando de Seineldín” obrigou a uma mudança de planos nas hostes britânicas.

Neste dia não houve “baixas”. O Coronel pára-quedista Seineldín, homem de fortes convicções católicas havia evocado a protecção da Nossa Senhora de Fátima (na Argentina é conhecida por Senhora do Rosário). Para os leitores melhor enquadrarem esta relação espiritual, informo que esta referência religiosa é, na Argentina, “Padroeira” da especialidade “COMANDO” (a Companhia de Comandos 601, sediada em Campo de Mayo, nos arredores de Buenos Aires, dispõe de um memorial com uma imagem trazida directamente da localidade de Fátima/Portugal).

Outro episódio importante, e que ajuda a desmistificar parcialmente a versão britânica, é o “EPISODIO 40”. Aqui são narrados, com algum pormenor, os momentos que antecederam a morte em combate do Comandante dos pára-quedistas ingleses (2 PARA), Coronel H. Jones, na Batalha de “GOOSE GREEN” em 28 de Maio de 1982.

Escreve o autor que após encarniçados combates travados entre os “infantes” argentinos e os pára-quedistas ingleses foi, a dada altura, mandado «alto ao fogo». «…Meu Subtenente, os ingleses suspenderam o fogo – gritou o Sargento Sergio Ismael García, Comandante da Secção. Que farão agora? – o Subtenente seguia cada um dos movimentos com os binóculos. – Estão a agitar as suas espingardas e os seus capacetes em sinal de tréguas parlamentares – disse o Sargento García, com entusiasmo.

A distância aproximada era de 200 metros. Chegou primeiro e ali o esperou.

-Do you speack english? – perguntou o inglês, que parecia ser o tenente-coronel Jones, Comandante do 2º Regimento de Pára-quedistas.

– Yes – respondeu Gomez Centurión; dominava o idioma inglês, devido à sua permanência no exterior, quando acompanhava o pai.

– Terminou tudo para vocês, se me entregarem o armamento de todas as suas tropas, garanto que continuarão vivos – disse Jones.

– Eu pensei que você vinha render-se! – respondeu o Subtenente, num perfeito inglês, confiante na critica situação em que os ingleses se encontravam. Haviam sofrido muitas baixas, os feridos estavam a ser retirados pelos maqueiros, à vista de todos.

– Lieutenant Colonel, you have to retired. In two minutes, I will start the firegritou, enojado, recriminando-o pela sua atitude arrogante; e retirou-se com a mesma rapidez com que havia corrido ao nosso encontro. Após chegar à sua posição, o fogo iniciou-se.»

O resto da história já é conhecida de todos. O inestimável e arrojado valor de combatente pára-quedista do Coronel H. Jones, mesclado com a tradicional arrogância militar anglo-saxónica, levou-o a liderar, pessoalmente, uma pequena secção de ataque para neutralizar uma posição de metralhadoras do Exército Argentino que impedia, de forma decisiva, o avanço do seu Batalhão. Foi atingido mortalmente.

A título póstumo recebeu a “Vitória Cross”, a mais alta condecoração militar britânica e, hoje, é uma lenda no Regimento Pára-quedista (The Parachute Regiment).

Apesar de existirem outros episódios dignos de realce e importantes para a história deste conflito, fico-me por estes dois, deixando os restantes abertos à natural curiosidade dos leitores.

A terminar, uma referência ao PREFÁCIO da obra: foi escrito pela senhora María Delicia Rearte de Giachino, viúva do Capitão-de-Corveta de Infantaria de Marinha Pedro Edgardo Giachino.

Comandante de uma patrulha de combate que desembarcou durante a noite, no dia 1 de Abril de 1982, numa praia ao sul de Puerto Argentino, liderava a fracção de “Comandos Anfíbios” (AGRUPACION DE COMANDOS ANFÍBIOS) que tomou de assalto, no dia 2 de Abril, a sede do governo colonial britânico nas Ilhas Malvinas (os ingleses baptizaram-na com o nome de Falklands Islands).

É considerado o primeiro herói das Malvinas Argentinas, depois de ter conseguido cumprir, com rigor absoluto, a missão recebida pelo Alto Comando Argentino: «…obter a rendição do Governador britânico e de toda a guarnição militar, composta por fuzileiros navais, evitando baixas nas hostes britânicas e futuros confrontos no meio urbano, depois do desembarque total das forças argentinas».

E a missão foi cumprida !

Ilhas Malvinas: Tenente-Coronel Pára-quedista MOHAMED ALÍ SEINELDÍN durante o comando do Regimento de Infantaria 25. (Foto cedida ao autor pelo Coronel Seineldín)

1982 - Ilhas Malvinas: Tenente-Coronel Pára-quedista MOHAMED ALÍ SEINELDÍN durante o comando do Regimento de Infantaria 25. (Foto cedida ao autor pelo Coronel Seineldín)

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