LANÇAMENTO DA “HISTÓRIA DO BATALHÃO DE CAÇADORES PÁRA-QUEDISTAS N.º 21-ANGOLA 1961-1975”
Por Miguel Machado • 15 Mai , 2012 • Categoria: 01. NOTÍCIAS PrintA última guerra que Portugal travou em África continua a ser relembrada e passada a escrito pelos que a viveram. Mais um capítulo sobre esta época acaba de ser publicado: nada mais nada menos que a História da primeira unidade que saiu de Portugal após o início da guerra em 1961 – horas depois dos ataques no Norte de Angola – e que foi também a última a regressar em 1975, horas antes da Independência.
A “História do Batalhão de Caçadores Pára-quedista N.º 21” que oportunamente divulgaremos na nossa secção “Já Lemos”, foi ontem lançada na Academia Militar, na Amadora, e daquilo que lá foi dito e visto, desde já nos congratularmos com mais esta edição sobre o inesgotável tema da guerra no antigo Ultramar português.
Bem sei que os portugueses são um bocado dados a invejas e têm dificuldade em homenagear os seus heróis, ainda por cima se esses seus concidadãos estiverem vivos e não se enquadrarem no “politicamente correcto” dos tempos que correm. Mas só a leitura da “folha de serviços” do autor – o qual pediu aliás para o considerarem apenas a pessoa que recolheu elementos com a ajuda de muitos – é ela própria uma lição de história e de patriotismo! Ainda bem que estavam presentes umas dezenas de cadetes da Academia Militar – até me parece que deviam ter estado de todas as Escolas militares! – porque houve portugueses cuja acção nos campos de batalha, em dezenas e dezenas de operações de combate, anos e anos seguidos, são sem dúvida um exemplo daquilo que deve ser um combatente. E um militar, oficial, sargento ou praça, seja qual for a cor do seu uniforme, tem que ser acima de tudo um combatente, um Soldado. E houve muitos assim, não tenhamos vergonha disso, não tenham vergonha disso. Uns foram recompensados outros não, todos o sabemos, e essa é uma constante da nossa história que vem de longe e se mantém. Mas para a História isso é o menos importante, aceitemo-lo, o importante é que o seu esforço tenha contribuído para o cumprimento da missão. E a missão era a defesa da Pátria, tal como era então entendida. Hoje, custe a quem custar, não é muito diferente. Os militares também têm que ser, e são, combatentes, e a missão é cumprida nas zonas mais perigosas do mundo. Ninguém se iluda, nem os próprios militares, o país precisará sempre é de Soldados e o exemplo dos que nos antecederam deve ser estudado e divulgado, sem preconceitos.
Este livro, nas palavras do autor, major-general José Manuel Garcia Ramos Lousada, é afinal de contas, também, a história de um desses Soldados, o Caçador Pára-quedista: «…recrutado apenas na situação de voluntariado, devendo efectuar provas de selecção muito rigorosas que incluíam exames médicos muito rigorosos e testes físicos, intelectuais e psicofísicos muito exigentes. Após a incorporação o jovem cumpria um período de três anos de serviço militar, ocupando as primeiras vinte e seis semanas na sua formação, trabalhando os aspectos físico, táctico e técnico e recebendo sólida formação moral, jamais se esquecendo da sua futura reintegração na sociedade (…) Conseguindo o aproveitamento necessário no final da instrução de combate, o pára-quedista obtinha a designação de “Caçador” e encontrava-se finalmente apto a combater em qualquer tipo de teatro de operações. O “Caçador Pára-quedista” foi, sem dúvida, uma das grandes figuras da nossa presença em África de 1961 a 1975.»
A cerimónia de lançamento decorreu não só com a presença de muitos que integraram esta unidade, muitos Caçadores Pára-quedistas, familiares, amigos e cadetes da Academia Militar, mas também, e significativamente, perante os chefes máximos dos Ramos a que as Tropas Pára-quedistas pertenceram. O Chefe do Estado-Maior do Exército, general Pina Monteiro, e o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general Augusto Pinheiro.
Esta obra é parte de um conjunto mais vasto, a “História das Tropas Pára-quedistas Portuguesas”. De carácter oficial porque elaborada pela instituição, primeiro no âmbito da Força Aérea e agora no Exército. É constituída por uma colecção de 6 volumes, que têm vindo a ser publicados ao longo dos anos e ainda não se encontra finalizada. Logo em 1980, escassos 5 anos depois do regresso das unidades de caçadores pára-quedistas de Angola e de Timor-Leste, deu-se início à sua preparação. O então comandante do Corpo de Tropas Pára-quedistas da Força Aérea Portuguesa, brigadeiro Heitor Almendra, determinou em 27 de Outubro desse ano a constituição de um grupo de trabalho com essa finalidade. Aquilo que hoje parece normalíssimo – escrever sobre a guerra em África – era à data um assunto muito mas mesmo muito delicado. Assim o processo de início da obra foi demorado e só em 1986 foi publicado um volume, o relativo ao Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 31 (Lourenço Marques e Beira-Moçambique). Para se ter uma noção das precauções que houve necessidade de tomar em relação a este tipo de livro, atente-se que ele era quase um documento reservado, sendo apenas vendido a militares do Corpo de Tropas Pára-quedistas e a antigos pára-quedistas militares e todos os exemplares estão numerados. A comissão que coordenou o lançamento desta iniciativa entregou a responsabilidade pela elaboração de cada livro a um pequeno núcleo de militares, incluindo o autor. O volume III sobre o BCP 31 teve como autor o brigadeiro François Martins; seguiu-se em Novembro de 1987 o volume IV sobre o BCP 12 (Guiné) pelo coronel Martinho Grão; em 1993 foi publicado o volume V sobre o BCP 32 (Nacala-Moçambique) pelo coronel Orlando Pires; já no Exército o Comando das Tropas Aerotransportadas publica o volume I sobre Batalhão de Caçadores Pára-quedistas (Tancos 1955-1961), também da autoria de Martinho Grão.
Em 2012 é assim lançado pela Escola de Tropas Pára-quedistas, com patrocínio privado, este II volume sobre o BCP 21, da autoria do major-general José Manuel Garcia Ramos Lousada.
Os livros sobre os batalhões do Ultramar obedeceram ao mesmo formato e organização semelhante, embora com alguns aperfeiçoamentos ao longo das edições. Para esta época da história das Tropas Pára-quedistas da Força Aérea, até ao final da guerra em África, falta agora a publicação do volume relativo ao Regimento de Caçadores Pára-quedistas (Tancos, 1961- 1975). Depois, seria interessante a publicação dos alusivos ao Corpo de Tropas Pára-quedistas (1975-1993).
Aqui fica a reportagem fotográfica do Alfredo Serrano Rosa, mais uma, a quem muito agradecemos. Oportunamente voltaremos ao tema apresentado então o livro com algum detalhe.
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