LANÇA-FOGUETES DE 37mm PARA TROPAS TERRESTRES
Por Miguel Machado • 12 Abr , 2009 • Categoria: 07. TECNOLOGIA PrintNascida no inicio da guerra em África por iniciativa de um jornalista estrangeiro, esta curiosa arma foi depois desenvolvida e mesmo sem grande valor operacional era apreciada pelas forças portuguesas. Leve e causando grande efeito psicológico no inimigo foi fabricada nas OGMA até 1975.
No inicio de 1962 aparece em Nóqui (Norte de Angola) um jornalista italiano aparentemente o serviço da revista francesa “Paris-Match” chamado Cesare Dante Vacchi. Aventureiro e falador já teria acompanhado as tropas francesas na Argélia e consegue autorização para se juntar às tropas portuguesas em operações. De imediato começa a fazer sugestões acerca do emprego táctico em acções de contra-guerrilha, em grande medida desconhecido dos militares nacionais.
Assim no Batalhão de Caçadores 280 do Exército, tenta-se uma nova experiência: Os “Comandos”. Vacchi integra a primeira equipa de instrutores que formaram estas tropas especiais do Exército. Este “grupo de Nóqui” utilizava, montado num Jeep, um tambor de foguetes de avião SNEB 37mm e o italiano teve então a ideia de utilizar um dos tubos para fazer uma arma anti-pessoal destinada a substituir a bazooka de fabrico americano. Esta pesada arma estava em uso no Exército mas era claramente desajustada para aquele tipo de guerra.
Assim Vacchi constrói o 1º “lança-foguetes”, muito rudimentar em que as pilhas que originavam o disparo eram coladas com fita na parte traseira da arma.
As oficinas do Exército em Luanda começam a fabricar o “lança-foguetes” em pequeno número e casualmente alguns oficiais pára-quedistas vêem a arma. Acham-na interessante até porque usavam a bazooka e ainda o Lança-Granadas Foguete 8,89cm com os mesmos defeitos. Pertencendo à Força Aérea os pára-quedistas de imediato propõem a este ramo que a fabrique nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico de Luanda e assim se iniciam os trabalhos no qual também colaboraram técnicos dos Caminhos de Ferro.
Nasce assim o “Lança Foguetes de 37mm para Tropas Terrestres”, cópia no criado por Vacchi, mas com algumas inovações para o tornar mais funcional e fiável. Mais tarde o já popular “lança-rockets” como era conhecido, passou a ser fabricado pelas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico em Alverca – Portugal, e fornecido aos outros ramos das Forças Armadas. O fabrico terá terminado em 1975, data na qual se conseguiram obter os últimos registos escritos sobre a sua distribuição.
Na Marinha surgiu também durante a guerra em África uma versão desta arma, designada Armada 69. Segundo Luís Sanches de Baêna no livro “Fuzileiros, factos e feitos na guerra de África, 1961/1974”, os destacamentos de fuzileiros especiais usaram esta arma apesar das sua deficiências, afirmando ainda que a versão das OGMA seria a mais evoluída. Segundo este autor o “lança-rockets 37mm” da Marinha revelou-se algo frágil devido a inúmeras peças e guarnições em plástico que o compunham.
Mesmo depois de terminada a guerra é curioso notar que pelo menos até 1982, a Policia Aérea, ainda o utilizou em exercícios.
Foi uma arma muito utilizada em combate, era bastante popular entre os militares, mas tinha no entanto, segundo vários depoimentos de quem a usou em África, efeito sobretudo psicológico sobre o inimigo. O disparo era relativamente silencioso mas o rebentamento da cabeça explosiva do foguete era assustador, muito ruidoso, o que causava pânico no local da explosão.
Havia também alguns problemas eléctricos recorrentes e nem sempre era fácil obter munições (os foguetes 37mm) em quantidade suficiente para as necessidades operacionais. Há mesmo relatos de explosões da carga propulsora do foguete no interior da arma no momento do disparo.
Principais características:
Peso: 3Kg.
Comprimento: 1,80m
Calibre: 37mm
Alcance máximo: 2.300m
Alcance útil: 400m
Alcance prático: 100m
O aparelho de pontaria era um simples tubo com um orifício de 1cm sem qualquer tipo de lente. Os foguetes de 37mm não eram de grande qualidade e até constava que a Força Aérea os adquiriu em França por canais pouco claros – fruto do embargo internacional de que Portugal era alvo – e já com o prazo de validade ultrapassado. Talvez por isso há alguns relatos, mesmo que não muito frequentes, de funcionamento deficiente da arma.
Foi uma arma curiosa mas não satisfazia as tropas em campanha e era sobretudo muito inferior ao temível RPG 7 (e mesmo RPG 2) que os guerrilheiros utilizavam. Certamente por isso as forças portuguesas procuraram sempre dotar-se de um melhor lança granadas, tendo sido muito utilizado, por exemplo pelos pára-quedistas na Guiné, os RPG 7 capturados – segundo algumas fontes que agora começam a ser conhecidas, partes deles e das granadas foram mesmo comprados por Portugal no mercado de armas internacional – e no final da guerra estavam também comprados os Lança-Granadas 68mm SARPAC de fabrico francês.
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