GRUPOS ESPECIAIS PÁRA-QUEDISTAS (GEP – MOÇAMBIQUE)
Por Antonio Carmo • 24 Dez , 2008 • Categoria: 05. PORTUGAL EM GUERRA - SÉCULO XX Print
NOTA DO AUTOR
Este modesto contributo para a história dos GRUPOS ESPECIAIS PÁRA-QUEDISTAS – GEP foi publicado, pela primeira vez, na revista «BOINA VERDE» Nº 150 / 1989 (págs. 22 a 24), publicação oficial das TROPAS PÁRA-QUEDISTAS PORTUGUESAS.
Em 2006 esta unidade especial de pára-quedistas, organizada exclusivamente na ex-Província de Moçambique, completou o 35º aniversário da sua activação e organização oficial.
Este singelo facto, por si só, foi motivo suficiente para que fosse reeditado em formato de livro, o artigo que publiquei em 1989.
Actualizado e melhorado nos textos, grafia e documentos fotográficos, aqui fica este testemunho como uma homenagem a todos aqueles que entroncaram as suas fileiras, sem esquecer jamais o seu principal impulsionador e entusiasta: o General KAÚLZA OLIVEIRA DE ARRIAGA.
Por outro lado, e sobretudo pelo que aqui escrevi, quero também deixar registado o meu agradecimento a todos aqueles militares pára-quedistas dos BATALHÕES DE CAÇADORES PÁRA-QUEDISTAS (BCP) que participaram na activação dos GEP, e com quem tive, ainda, o raro privilégio de conviver nas fileiras da melhor organização militar que o pós-25 de Abril de 1974 produziu: o CORPO DE TROPAS PÁRA-QUEDISTAS da Força Aérea Portuguesa.
INTRODUÇÃO: MOÇAMBIQUE / DADOS BÁSICOS
A ex-Província de Moçambique (hoje país independente com a designação oficial de República de Moçambique) está situada na costa sul-oriental de África.
Confina ao norte com a República Unida da Tanzânia, ao sul com a República da África do Sul e o Reino da Suazilândia, e a oeste com a República do Malawi, República da Zâmbia e a República do Zimbabué. A leste, é banhada pelo Oceano Índico.
Com uma superfície de 799 380 km2 (786 380 km2 de superfície de terra firme e 13 000 km2 de superfície de águas interiores), tendo a fronteira terrestre uma extensão de 4.330 km, foi uma das três frentes de combate em que as Forças Armadas Portuguesas estiveram empenhadas durante uma década, e onde alguns milhares de militares dos três Ramos, cumpriram com elevado espírito de missão o seu Serviço Militar Obrigatório.
Como é do conhecimento geral, a administração militar atingiu nesta ex-Província Ultramarina Portuguesa, principalmente a partir de 1969/70, uma dinâmica singular que nenhum pretexto ideológico ou razão histórica tem legitimidade para escamotear ou omitir.
É dentro desta perspectiva que divulgo algumas curiosidades militares dos GRUPOS ESPECIAIS PÁRA-QUEDISTAS (vulgo GEP), unidade de escol recrutada localmente e que constituiu uma reserva de intervenção do Comando-Chefe de Moçambique.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
É frequente ouvir de muitos ex-militares não pára-quedistas e de outros que cumpriram o seu Serviço Militar Obrigatório (SMO) nas ex-Províncias Ultramarinas Portuguesas em unidades de quadrícula ou forças regulares, a seguinte afirmação: “Eu fui GEP”.
Confrontados com algumas questões histórico-militares menos familiares do público em geral, conclui-se ainda hoje, na maior parte dos casos que o nosso interlocutor nunca entroncou as fileiras desta unidade militar que a Região Militar de Moçambique criou e administrou.
Por outro lado, alguns «historiadores estrangeiros» de temas militares, dedicaram em alguns livros de grande tiragem, bastante espaço a este assunto, tendo conseguido uma mescla de meias-verdades e aldrabices com graves deturpações e imprecisões histórico-militares. Tudo isto, agravado pelo facto de alguns cidadãos portugueses(!) terem colaborado na elaboração de tais livros. Como exemplo do que acabo de referir, transcrevem-se os dois casos mais deploráveis.
Do livro «PARACHUTE BADGES and INSIGNIA of the WORLD», de R. J. Bragg Roy Turner (Ed. Blandford Press), página 49, transcreve-se a seguinte informação:
«Com o desenvolvimento das guerras em África as tropas coloniais negras estavam organizadas em unidades de elite. Foi por volta de 1970 que o Grupo Especial de Pára-quedistas (GEP) entrou em actividade, sendo composto por nativos negros, normalmente oriundos da mesma tribo e alguns oficiais portugueses.
Em Moçambique, receberam o seu treino no Dondo e participaram em operações contra as linhas de comunicação das guerrilhas e em raides. Outro grupo de nativos foi formado pela Direcção-Geral de Segurança (DGS) e denominado “FLECHAS” trabalhando como unidades de reconhecimento de longo alcance. Os homens eram normalmente ex-guerrilheiros, sendo estas unidades bastante semelhantes aos “KIT CARSON SCOUTS” utilizados pela América no Vietname; pelo menos uma unidade de “FLECHAS” tinha treino pára-quedista.»
Do livro «MODERN AFRICAN WARS (2): ANGOLA and MOÇAMBIQUE 1971-74», de Peter Abbott e Manuel Ribeiro Rodrigues (Ed. Osprey/Men-at-Arms Series), página 34, transcreve-se a seguinte informação:
«De 1971 em diante, os melhores recrutas eram incorporados nos “Grupos Especiais Pára-quedistas”, unidade de elite usualmente multi-étnica. Em complemento, os agentes da PIDE organizavam em Angola e Moçambique, grupos de “Flechas”. Existe ainda, presentemente, uma nuvem de segredo, envolvendo estas últimas unidades e mantendo-as quase desconhecidas; contudo, elas eram essencialmente pequenos grupos de ex-guerrilheiros que transportavam armas de padrão soviético, vestiam roupas de guerrilha e eram destacados em demoradas actividades de penetração (semelhantes aos pseudo-“gangs” no Quénia ou aos Selous Scouts na Rodésia).»
Ainda do mesmo livro, transcreve-se da página 42 a seguinte informação:
«Os GEP parecem ter preferido as boinas amarelas. Os regulamentos não tinham determinado quaisquer insígnias particulares ou outros distintivos, mas por fotografias entende-se que estas tropas usavam frequentemente a insígnia da boina dos “COMANDOS”, e o escudo da própria Unidade.»
Como se pode verificar após leitura atenta destes extractos, a confusão é de tal ordem negativa que divulgar um pouco da história dos GEP e seus principais distintivos tornou-se uma necessidade urgente e imperativa.
OS GRUPOS ESPECIAIS PÁRA-QUEDISTAS (GEP): SUBSÍDIOS PARA A SUA HISTÓRIA
Procurando solucionar parcialmente o problema da insuficiência numérica de tropas pára-quedistas na Província, e ao mesmo tempo melhorar a eficiência e capacidade militar das tropas recrutadas localmente(1), melhorando a sua instrução e enquadramento, «e introduzindo um factor extremamente importante em termos de selecção e motivação: o salto em pára-quedas (2)», o Comandante-Chefe das Forças Armadas de Moçambique, General Kaúlza de Arriaga, decidiu organizar os GEP(3). Assim, «…em Maio de 1971 teve início a concentração, no BATALHÃO DE CAÇADORES PÁRA-QUEDISTAS Nº 31 (BCP 31), com trânsito pelo Batalhão de Caçadores Nº16 (BCaç 16), dos mancebos voluntários para a frequência do 1º Curso de Formação de “GRUPOS ESPECIAIS DE PÁRA-QUEDISTAS – GEP.»(4)
Adaptados à natureza da contra-subversão e às características do Teatro de Operações de Moçambique, a missão destes GEP consistia basicamente no «…desempenho de missões operacionais e de intervenção como reserva do Comando-Chefe, em qualquer ponto do Teatro de Operações, estando especialmente vocacionados para acções de recuperação, defesa e controlo das populações. Cada GEP (o seu número total chegou a 12) era constituído por um Comandante, um adjunto (orientado para a acção psicológica), 4 comandantes de subgrupo, 16 cabos e 48 soldados.
Os comandantes de grupo eram oficiais subalternos, o adjunto e os comandantes de subgrupo eram sargentos, uns e outros, normalmente, graduados, e oriundos das tropas pára-quedistas (na sua maior parte), ou do Exército, ou directamente do meio civil. Os quadros eram obtidos por voluntariado, a partir de civis, a partir de oficiais milicianos na situação de disponibilidade, e a partir de oficiais e sargentos do Quadro Permanente (QP) ou do Quadro de Complemento (QC), de cabos, no serviço activo, em situação de diligência, uns e outros sendo graduados, os cabos em sargentos, os sargentos em oficiais subalternos, e os oficiais subalternos em capitães. Os não pára-quedistas tinham de fazer o curso de pára-quedismo dos GEP. Os pára-quedistas, quando no activo, tinham de ter já cumprido 20 meses de comissão na Província. Além do benefício da graduação, os quadros GEP recebiam uma gratificação de GE, paga pela Região Militar de Moçambique (RMM), e tinham direito ao abono permanente de subvenção de campanha independentemente de estarem ou não na zona de intervenção…» (5).
Até 30 de Setembro, os GEP estiveram aquartelados no BCP 31, de quem dependiam quer sob o ponto de vista logístico, quer sob o ponto de vista de instrução (6). A partir dessa data foram aquartelados no Dongo (a 30km da Beira) onde foi constituído o CIGE (CENTRO DE INSTRUÇÃO DE GRUPOS ESPECIAIS) e o BATALHÃO DE GEP.
Os primeiros quadros foram constituídos quase exclusivamente por militares pára-quedistas, dos dois Batalhões de Caçadores Pára-quedistas de Moçambique (BCP 31 e BCP 32), e o primeiro Comandante dos GEP foi o Coronel Pára-quedista SIGFREDO VENTURA DA COSTA CAMPOS.
A partir de 1 de Julho de 1973 (7) assumiu o Comando do Batalhão de GEP o Major Pára-quedista MANUEL ANTÓNIO CASMARRINHO LOPES MORAIS que fora até então oficial de operações e informações do BCP 31, e que se manteve como Comandante do Batalhão de GEP, até à sua morte, em operações, em Agosto de 1974 (8).
CONDIÇÕES DE ADMISSÃO, ELIMINAÇÃO E REGALIAS A CONCEDER(10)
Eram condições de admissão:
– Ser voluntário;
– Ser miliciano para os postos de Furriel/Sargento;
– Possuir qualidades de comando que permitam exercer com eficiência as funções de Comandante de Pelotão ou de Secção, para os postos inerentes, dos GEP;
– Ter revelado excelentes qualidades militares e demonstrado ser um combatente valente, decidido e disciplinado;
– Obrigar-se a, pelo menos, prestar serviço nos GEP durante um ano, após a formação dos Grupos.
Eram condições de eliminação:
– Revelar não possuir as qualidades julgadas indispensáveis, pelo que haverá lugar a punição e despromoção.
Eram concedidas as seguintes regalias:
– Promoção de praças a furriel pára-quedista e desta a alferes pára-quedista, por graduação, após a aprovação da proposta;
– Vencimentos nos seguintes quantitativos:
1) Furriel – Igual ao vencimento de um furriel pára-quedista em zona de subvenção de campanha, acrescido de uma gratificação de 1.500$00, o que perfaz um total de 8.080$00, recebido quer em zona de100% ou 50%;
2) Alferes – Igual ao vencimento de um alferes pára-quedista em zona de subvenção de campanha, acrescido de uma gratificação de 2000$00 o que perfaz um total de 11.185$00, recebido quer em zona de 100% ou 50%;
– As demais que o pessoal de igual posto já aufere;
– Continuação nos GEP por períodos sucessivos de um ano, se o desejarem e mantiverem as qualidades necessárias à sua admissão.
O CURSO DE PÁRA-QUEDISMO “GEP”
O Curso de Pára-quedismo GEP tentou seguir, tanto quanto possível, o Curso de Pára-quedismo do Regimento de Caçadores Pára-quedistas (RCP – Tancos), e o ministrado nas escolas de pára-quedismo civis no que concerne à qualificação «A» (abertura automática).
Nos auxiliares de instrução verificou-se sempre a ausência de uma torre para treino das aterragens (tipo Torre Francesa) e das saídas (tipo Torre Americana), e raramente era efectuado o tradicional «voo de adaptação» que antecede o primeiro salto em pára-quedas.
Após 6 saltos e na própria ZL, tinha lugar a característica imposição das boinas (11), cerimónia que prosseguia depois no CIGE, no Dondo, com a graduação do pessoal de enquadramento dos novos GEP (GRUPOS ESPECIAIS – GE e mais tarde GRUPOS ESPECIAIS DE PISTEIROS DE COMBATE – GEPC), seguindo-se o compromisso de honra – JURAMENTO-DE-BANDEIRA – que consistia no seguinte texto:
«Juro defender a minha terra, a minha família e os meus camaradas.
Juro dar todo o meu esforço, para melhorar a vida do meu povo.
Juro combater os inimigos da ordem, até haver paz na nossa terra.
Juro obedecer aos meus chefes.
Juro defender a Bandeira e a nossa Pátria PORTUGUESA.»
Por último e a finalizar tão significativo evento militar, era imposto aos militares do Batalhão de GEP o distintivo ou «brevê» de qualificação pára-quedista GEP.
É importante destacar que o Curso de Pára-quedismo GEP nunca foi homologado como Curso de Pára-quedismo Militar, tal com está definido no Decreto-Lei N.º 42075 de 31DEZ58. Por este mesmo facto, e porque só o RCP (e sucessivamente o Corpo de Tropas Pára-quedistas (CTP); o Comando das Tropas Aerotransportadas (CTAT) e a Escola de Tropas Pára-quedistas (ETP) da Brigada de Reacção Rápida) se encontra habilitado em Portugal, a formar pessoal especializado em pára-quedismo, qualquer designação homónima à das Tropas Pára-quedistas Portuguesas carece de suporte legal.
UNIFORMES E INSÍGNIAS
Os GEP nunca utilizaram, em desfiles ou cerimónias militares da Província de Moçambique, o tradicional uniforme preto e a boina amarela dos GRUPOS ESPECIAIS – GE (12).
O distintivo de qualificação pára-quedista (ver a imagem dos distintivo), metálico, prateado, usava-se colocado no lado esquerdo do peito, acima da costura de portinhola do bolso centrado com o eixo desse bolso.
Os instrutores e monitores oriundos dos BCP, apesar de usarem o uniforme de campanha da FAP, tinham de usar a boina «vermelho-vinho» com o respectivo distintivo GE de boina.
NOTAS:
(Fotos cedidas pelo Sargento-Chefe Pára-quedista (R) VICTOR COUTO)
(1) Os GEP foram criados apenas na Província de Moçambique.
(2) In “ História das Tropas Pára-quedistas Portuguesas “, Vol. III, pág. 275, Edição do CCTP.
(3) O General Kaúlza Oliveira de Arriaga, de acordo com o constante na alínea h) do número 2 da sua Carta de Comando, datada de 19 de Novembro de 1970, organizou ainda os GRUPOS ESPECIAIS (GE) e os GRUPOS ESPECIAIS DE PISTEIROS DE COMBATE (GEPC). Todos os encargos com estes grupos (GE – GEP – GEPC), quer no relativo a despesas de pessoal, quer no relativo a despesas de material e outros, eram satisfeitos pelas dotações normais da Região Militar de Moçambique.
(4) In “ História das Tropas Pára-quedistas Portuguesas “, Vol. III, pág. 275, Edição do CCTP.
(5) Nota Nº 11 842/71 – Pº 4.2 de 30 de Novembro de 1971 da DDSIC 3, transcrita na O.S. Nº 288 de 11 de Dezembro de 1971, do BCP 31.
(6) Os mancebos do 1º Curso GEP apresentaram-se no BCP 31, durante o mês de Maio de 1971, vindos do Batalhão de Caçadores 16, a fim de receberem instrução de GE Pára-quedista, nos termos da Nota Nº 18760/A – Pº E.M./7/6.71 de 1 de Maio de 1971 da 1ªREP/QG/RMM, conforme consta na O.S. Nº 158 de 7 de Junho de 1971 do BCP 31.
(7) O.S. Nº 159 de 7 de Julho de 1973 do BCP 31.
(8) O Major Pára-quedista CASMARRINHO MORAIS foi ferido mortalmente por um tiro que atingiu a aeronave Dornier em que estava realizando o PCV sobre uma zona de operações em Inhaminga durante uma acção dos GEP em 4 de Agosto de 1974.
(9) In “ História das Tropas Pára-quedistas Portuguesas “, Vol.III, págs. 275 e 276, Edição do CCTP.
(10) Estas condições aplicavam-se essencialmente aos militares oriundos dos BCP 31 e BCP 32 (Nota Nº 68/71 – Sec. Pessoal do BCP 32 de 6JUL71)
(11)A cor da boina usada pelos militares dos GEP (vermelho-vinho ou “bordeau”), nada tem de semelhante, nem deve ser confundida com a cor “vermelho-púrpura”, cor da boina que as tropas regulares do Exército Português habilitadas com o Curso de Comandos, adoptaram posteriormente.
(12) Os primeiros GRUPOS ESPECIAIS (GE) foram organizados, em cooperação, pelo Governo-Geral e pelo Comandante-Chefe (Despacho do Comandante-Chefe Nº 6/71 de 7JAN71). Este facto deve-se porque a 1ª Carta de Comando do Comandante-Chefe das Forças Armadas de Moçambique, datada de Março de 1970, não conferia, ao mesmo, autoridade para a organização de quaisquer grupos especiais de combatentes. A 2ª Carta de Comando, datada de 19NOV70, já conferia essa autoridade. Daí o facto dos GE existentes terem passado à total responsabilidade militar (em Angola e Guiné não eram tutelados pelos militares) e de os novos GE, e os GEP e GEPC, todos posteriormente criados, terem sido sempre da total responsabilidade militar (Despacho do Comandante-Chefe Nº 25/71 de 23JAN71).
(13) «Fora do âmbito estritamente militar é de todo o interesse registar que as TROPAS PÁRA-QUEDISTAS PORTUGUESAS, para além de terem colaborado na formação pára-quedista e militar dos GEP, em 1975, e já no denominado período de transição, organizaram um Curso de Pára-quedismo frequentado por civis, militares dos três Ramos, e guerrilheiros da FRELIMO (já reconhecidos como militares neste período), antes de regressarem definitivamente a Portugal. Através do Comando do BCP 31 e da REGIÃO AÉREA, ao Alto Comando, foi elaborada uma proposta de realização de um Curso de Pára-quedismo civil que este considerou de grande interesse, pois iria contribuir para um melhor entendimento entre aqueles que se haviam combatido durante largos anos. Foram instrutores e Monitores deste curso, realizado em Lourenço Marques (hoje Maputo), no Aeródromo Base Nº 8 (AB-8), os capitães pára-quedistas AVELAR DE SOUSA e MELO DE CARVALHO, e os sargentos pára-quedistas CIRO e SERIGADO. Mais tarde, como largadores deste Curso, colaboraram também os sargentos pára-quedistas CASACA FERREIRA e POSSIDÓNIO MENDES. No final terminaram, com aproveitamento, 17 militares da FRELIMO, 5 militares da Armada, 3 ou 4 do Exército, 2 ou 3 da Força Aérea, 10 ou 12 civis, dos quais pelo menos 3 mulheres». (In “História das Tropas Pára-quedistas Portuguesas, Vol. III, págs. 273 e 274, Edição do CCTP).
Facto curioso é que na cerimónia de imposição do distintivo de qualificação pára-quedista deste curso, foi entregue um distintivo com um desenho heráldico diferente: o distintivo era em tudo igual ao militar (desenho das asas e cor do metal), com excepção de uma “Cruz de Cristo” que foi colocada ao centro, no lugar da “esfera armilar”.
É do domínio público que mais tarde, os ex-guerrilheiros da FRELIMO “brevetados” neste curso seriam integrados no BATALHÃO DE PÁRA-QUEDISTAS da República Popular de Moçambique quando este foi activado. Esta unidade pára-quedista das Forças Populares de Libertação de Moçambique (FLPM) tinha o seu quartel na Beira, nas infraestruturas do antigo BCP 31. A República Popular de Moçambique chegou a ter uma Escola de Pára-quedismo, sedeada em Nacala, nas antigas infraestruturas do BCP 32, montada e assessorada por militares soviéticos (URSS). Alguns ex-graduados que prestaram serviço militar nas TROPAS PÁRA-QUEDISTAS PORTUGUESAS, nascidos em Moçambique e que optaram pela nacionalidade moçambicana, foram admitidos como instrutores civis nesta Escola de Pára-quedismo que hoje (2008/2009) se encontra desactivada e em péssimo estado de conservação.
Nos final dos anos 80, alguns militares moçambicanos frequentaram um Curso de Pára-quedismo em Tancos (BETP) e, no fim do curso, receberam o novo distintivo de qualificação pára-quedista das FAM/FPLM que contou com a assessoria portuguesa para a sua concepção heráldica e respectiva fabricação. Como curiosidades históricas refere-se, ainda, que os novos pára-quedistas moçambicanos foram integrados na Força Aérea (FAM/FPLM), e o primeiro Comandante da recém-nascida FAM/FPLM foi o Major-General (R) JACINTO SOARES VELOSO, um ex-oficial subalterno piloto-aviador da FAP que desertou, em 12 de Março de 1963, com uma aeronave Harvard T-6, tendo aterrado em Dar-es-Salaam (Tanzânia) onde solicitou asilo político.
NOTAS DISPERSAS
(*) O CENTRO DE INSTRUÇÃO DE GRUPOS ESPECIAIS – CIGE estava sedeado na vila do DONDO (a 30 Km da cidade da Beira). Elevada a cidade em 24 de Julho de 1986 é, actualmente, uma cidade da província de Sofala – República de Moçambique.
A propósito da ZL denominada «LUSALITE», e como curiosidade histórica, refere-se que os militares da COMPANHIA DE TRANSMISSÕES Nº2 (CTm2 – Beira) ficaram estacionados numa área adjacente à fábrica “Lusalite”.
(*) Para conhecimento dos militares GEP, informa-se que existe uma colectividade denominada «ASSOCIAÇÃO DE GRUPOS ESPECIAIS E GRUPOS ESPECIAIS PÁRA-QUEDISTAS», localizada em Caldas da Saúde – Santo Tirso.
(*) Os distintivos são da colecção privada do autor.
(*) As fotografias coloridas dos GEP foram cedidas pelo Sargento-Chefe Pára-quedista (R) VICTOR MANUEL PEREIRA DO COUTO.
(*) Os documentos oficiais foram cedidos pessoalmente pelo General Kaúlza Oliveira de Arriaga ao autor, em sucessivas audiências concedidas na sua residência particular em Lisboa.
(*) Todos os restantes documentos gráficos, não assinalados, são do Arquivo de Miguel A. G. da Silva Machado e António E. S. do Carmo.
SUPORTE DOCUMENTAL
LIVROS:
· HISTÓRIA DAS TROPAS PÁRA-QUEDISTAS PORTUGUESAS. Volume III. Edição do CCTP, 1986
· ARRIAGA, Kaúlza, GUERRA E POLÍTICA/EM NOME DOS NOS DECISIVOS, Editora Referendo, Lisboa, 1987
· GUERRA, João Paulo, OS “FLECHAS” ATACAM DE NOVO, Editorial Caminho, 200 págs., Lisboa, ISBN 972-21-0181-1
· Publicação «BCC» – 5ª REP/CC/RMM de Maio de 1973
· MACHADO, Miguel A. Gabriel da Silva e António E. Sucena do Carmo, TROPAS PÁRA-QUEDISTAS PORTUGUESAS 1956-1993, Edição dos Autores, Lisboa, 1993 – ISBN 972-95847-0-2
· CARMO, António E. Sucena, OS GRUPOS ESPECIAIS PÁRA-QUEDISTAS – GEP/MOÇAMBIQUE – 1971-2006, Edição do Autor, Lisboa, 2006
PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS E ELECTRÓNICAS:
· Diários do Governo (1970-1974)
· http://ultramar.terraweb.biz
· http://guerracolonial.home.sapo.pt/asssociacoes/associacoes.html
TESTEMUNHOS ORAIS (os postos foram actualizados):
· General (R) Kaúlza Oliveira de Arriaga (falecido)
· Major-General (R) CRISTÓVÃO F. AVELAR DE SOUSA
· Tenente-Coronel SG/PQ (R) CASACA FERREIRA
· Sargento-Mor Pára-quedista (R) POSSIDÓNIO MENDES
· Sargento-Mor Pára-quedista (R) ANTÓNIO DOMINGOS SERRANO
· Sargento-Chefe Pára-quedista (R) VICTOR M. PEREIRA DO COUTO
· 1º Sargento Pára-quedista SERENO (falecido – foi graduado em Capitão durante o tempo da sua comissão de serviço nos GEP)
Antonio Carmo é
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