Passados 50 anos do inicio da actividade operacional em larga escala para responder às agressões sofridas em África e na Índia, fomos reler um livro publicado exactamente em Março de 1961 sobre as Forças Armadas Portuguesas.

Como se viam a si próprias e estavam organizadas no inicio de um ciclo de empenhamento que se havia de encerrar passados catorze anos com o fim da descolonização de Angola e a ocupação do Timor Português, é a grande mais-valia da obra. “Forças Armadas Portuguesas”, mandado fazer e prefaciado pelo Ministro da Defesa Nacional em 31 de Dezembro de 1960, General José Botelho Moniz, é uma interessante obra por várias razões quer no respeitante ao conteúdo quer à forma. Foram feitas edições em língua portuguesa, francesa e inglesa, sendo hoje possível encontrar o livro, pelo menos, em muitas bibliotecas militares.

Botelho Moniz (escassos meses antes de ser demitido por atentar contra o governo) escreveu no prefácio: “A monografia ilustrada das Forças Armadas Portuguesas destina-se a divulgar, copiosamente, a conjuntura político-militar da Nação, de uma forma singela e atraente, matizada com ligeira coloração geopolítica. Aspira a ser uma obra eminentemente portuguesa, patriótica, emotiva, vivida no passado e do presente para o futuro, obra de síntese, expressiva, vinculada à ideia mestra da experiência no colorido cenáculo da vida e que englobe, num contraste palpitante, tudo o que prenda, entusiasme e perdure (…) O opúsculo, que procura focar todos os elementos essenciais – unindo no mesmo abraço o território, as raças, as populações, a história e quantas coisas mais, pretende ter um pouco de tudo que lembre as tradições de nobreza do esforço português através dos séculos, a antologia e a cronologia militares portuguesas, a acção no Ultramar, as descobertas e as conquistas, a arte, a cultura, a acção social, a expansão da civilização, enfim…É ditado em três idiomas – português, inglês e francês – o que o faz acessível a todos os que manifestem interesse e carinho pela Nação Portuguesa – nas suas parcelas da Europa, da África, da Ásia e da Oceânia – e muitos, por certo, serão (…)”
Sendo certo que é um livro oficial julga-se que seria redutor apresentá-lo como um mero livro de propaganda. Foi então um veículo de informação pública, nacional e internacional, e assim nós o lemos, hoje, como um documento histórico.
Nestes nossos tempos em que os vários poderes sempre alardeiam muita (senão total) transparência, aqui, há meio século e na vigência de um regime político muito diferente do actual, estamos perante muita informação factual e uma apresentação graficamente bem conseguida – simples mas eficaz – do que era toda a cadeia de comando e obrigações de cada um dos patamares de decisão, a organização superior da Defesa Nacional e a de cada um dos ramos das Forças Armadas, tudo com detalhe suficiente para o grande público e mesmo para leitores mais interessados em aprofundar a temática. Embora apresente muitas ilustrações e  de elevada qualidade, é pena que não tenha fotografias dos militares e meios de então.

É bem patente o forte pendor patriótico do livro, referindo-se aos aspectos históricos que decorreram desde a criação de Portugal até ao inicio do século XX (Informação Histórica e geográfica sobre a Nação Portuguesa), com especial destaque para a expansão ultramarina e os diferentes territórios que compunham à data o nosso país.
O índice do livro (ver abaixo) mostra como está organizado e dentro de cada capítulo respeitante aos ramos abrange:

Exército
Resumo Histórico.
Organização do Exército – Missão; Constituição Geral; Direcção Superior, Comandos Territoriais; Serviços do Exército; Ministro do Exército; Imediatos Colaboradores; O Chefe do Estado-Maior do Exército; Inspector-geral;
Esquema geral de preparação do Pessoal do Exército:
Acesso ao oficialato; Promoções; Cursos e Especializações.
Acesso à Classe de Sargentos; Especializações.
Praças.

Marinha
Resumo Histórico.
Organização – Constituição Geral; Direcção Superior; Ministério da Marinha; Chefe do Estado-Maior da Armada; Estado-Maior da Armada; Superintendência dos Serviços da Armada; Comandos Territoriais; Unidades e Forças Navais; Bases Navais.
Esquema geral de preparação do Pessoal da Armada:
Oficiais do activo; Oficiais da reserva; Sargentos e praças do activo; Sargentos e praças da reserva; Estabelecimentos de Ensino.

Força Aérea
Resumo Histórico.
Organização da Força Aérea – Missão; Constituição Geral; Direcção Superior; Subsecretariado de Estado da Aeronáutica; O Gabinete do Subsecretário de Estado da Aeronáutica; Estado-Maior da Força Aérea; Conselho Superior da Força Aérea; Comissão Técnica da Força Aérea; Serviços da Força Aérea; Órgãos de Apoio; Regiões Aéreas; Unidades da F.A.; Comandos Aeroterrestres e Aeronavais permanente eventualmente construídos;
Esquema Geral de Preparação do Pessoal da Força Aérea: Oficiais; Sargentos e Praças.

Uma palavra especial para as ilustrações de José Silveira Machado e pinturas de uniformes, de José Garcez ambas de excelente qualidade e que muito enriquecem a obra.

O livro foi distribuído com um mapa em A2 das principais rotas efectuadas por navegadores portugueses, uma vez que a obra também teve a finalidade de prestar homenagem a D. Henrique por ocasião das "Comemorações Henriquinas" que então se assinalavam.

O livro tem formato 21×27,5cm, capa em tela «Algol» simples  (houve edições especiais com capa em pele e ferros especiais e capa em tela «Algol” com ferros especiais, com tiragens reduzidas e variáveis consoante as línguas), 200 páginas e o livro apresentado teve uma tiragem de 2.650 exemplares. As outras edições tiveram tiragens muito reduzidas e variáveis consoante as línguas.