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ENFERMEIRAS PÁRA-QUEDISTAS LOUVADAS PELO CEMGFA

Por • 13 Jun , 2015 • Categoria: 05. PORTUGAL EM GUERRA - SÉCULO XX Print Print

Tendo nascido para a Guerra do Ultramar e nela prestado relevantes serviços, bem assim como mais tarde em diferentes ocasiões, em território nacional e no estrangeiro, as Enfermeiras Pára-quedistas da Força Aérea Portuguesa, foram agora louvadas pelo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.

12 de Fevereiro de 72, Guiné, o Alouette III acaba de chegar de Bisssau com uma enfermeira pára-quedista para proceder a uma evacuação.  "O ferido era o  Victor Lincho atingido no Sara, num contacto com o inimigo, na operação “Mocho verde”. O pára-quedista que regressa do héli, é o Sousa enfermeiro do meu pelotão e que veio a morrer no dia 10 de Março em consequência dos ferimentos em Gampará (Victor Tavares)"

12 de Fevereiro de 72, Guiné, o Alouette III acaba de chegar com uma enfermeira pára-quedista para proceder a uma evacuação em direcção ao Hospital de Bissau . “O ferido era o Victor Lincho atingido no Sara, num contacto com o inimigo, na operação “Mocho verde”. O pára-quedista que regressa do héli, é o Sousa enfermeiro do meu pelotão e que veio a morrer no dia 10 de Março em consequência dos ferimentos em Gampará (Victor Tavares)”

Entre 1961 e 1974 foram ministrados 12 cursos e formadas 47 enfermeiras pára-quedistas, sendo estas portuguesas durante muitos anos, as únicas mulheres militares em Portugal. Com o fim da guerra em África e a descolonização – onde aliás participaram – esta especialidade da Força Aérea que tinha quadro próprio – oficiais e sargentos – foi considerada em extinção progressiva, não recebendo novos elementos. Em 1994 restavam 4 Enfermeiras Pára-quedistas (todas com a patente de capitão) que foram transferidas para o Exército, onde acabariam por deixar o serviço activo com este mesmo posto, tendo o última passado à situação de Reforma em 2002.

Isabel Bandeira de Mello (Rilvas) a primeira mulher pára-quedista portuguesa, muito ligada ao pára-quedismo cibil e mesmo militar, e que esteve ligada à criação deste corpo de enfermeiras – por iniciativa de Kaúlza de Arriaga, Secretário de Estado da Aeronáutica e concordância do Presidente do Conselho de Ministros, Dr. Oliveira Salazar –  fruto do contacto que manteve em França com este tipo de “força”, em 1955, escreveu na introdução do livro que abaixo referimos:

…Pelas suas funções, assistiram feridos nos locais de combate, tendo estado debaixo de fogo com muita frequência. Efectuaram centenas de evacuações aéreas entre as ex-Províncias Ultramarinas e a Metrópole, dentro do próprio território africano para os hospitais e também de Goa e Timor, acompanhando os feridos de guerra, doentes, familiares e crianças. Trabalharam no Hospital Militar Principal, Hospital da Força Aérea na Ilha Terceira, Açores, e, quando este foi extinto, no Hospital da Força Aérea em Lisboa, nos Hospitais de Luanda, Lourenço Marques, Nampula, Guiné e nos postos médicos das Unidades das Tropas Pára-quedistas, das Bases Aéreas, nas respectivas Províncias e na Metrópole. A sua acção era prestada aos três Ramos das Forças Armadas, bem como aos civis…

Sempre muito acarinhadas e lembradas não só pela Força Aérea e pelos Pára-quedistas, mas também por muitos combatentes dos outros ramos – ainda este ano no 10 de Junho, em Belém, Encontro Nacional de Combatentes, elas foram homenageadas – as Enfermeiras Pára-quedistas não esquecem os seus “congéneres” masculinos, os Socorristas Pára-quedistas que acompanhavam as operações de combate. Em obra mais recente – Nós Enfermeiras Páraquedistas, coordenada por Rosa Serra, da Fronteira do Caos / 2014 – onde muitas expressam as suas memórias, fazem questão de lhes dedicar uma homenagem: “…eram geralmente os primeiros a chegar junto dos seus companheiros feridos, prestando-lhes o primeiro auxílio, tantas vezes debaixo de fogo intenso! Em algumas ocasiões , os socorristas também eram o seu único resguardo, protegendo-os, em prejuízo da sua própria segurança…. …por vezes tinham de cuidar dos seus camaradas e amigos vendo-os completamente desfigurados ou mesmo fisicamente desfeitos, e ajudá-los a sobreviver, enquanto as balas rasavam as suas cabeças, granadas rebentavam por perto… …nós tivemos oportunidades para observar a sua atuação, e afirmamos que eles nos deram exemplos de enorme coragem e solidariedade…“.

Anos 90, área de embarque da Base Aérea n.º 3, Tancos. As três últimas enfermeiras pára-quedistas no activo preparam-se para mais um salto de abertura automática no Arripiado. Da esquerda, Maria de Lourdes Lobão, Francis neves Matias e Maria Natália dos Santos.

Anos 90, área de embarque da Base Aérea n.º 3, Tancos. As três últimas enfermeiras pára-quedistas no activo preparam-se para mais um salto de abertura automática no Arripiado. Da esquerda, Maria de Lourdes Lobão, Francis neves Matias e Maria Natália dos Santos.

Tudo tem um tempo e o tempo do louvor em forma de lei chegou às Enfermeiras Pára-quedistas que agora vêm a mais elevada hierarquia das Forças Armadas reconhecer os seus méritos e feitos.

Louvor n.º 288/2015 (*)

Louvo as antigas Enfermeiras Paraquedistas, que tendo servido na Guerra do Ultramar entre 1961 e 1974, desenvolveram obra marcante, fruto do espírito de patriotismo, de audácia, de inovação, e de devoção humana que sempre alardearam durante os anos de serviço na Força Aérea. Desde o início da guerra do Ultramar, trinta anos antes da inclusão do género feminino nas Forças Armadas Portuguesas, souberam responder ao chamamento da modernidade, abraçando uma carreira de entrega e sacrifício físico e emocional em prol dos militares seus camaradas chamados a combater por Portugal.

A decisão de incorporar mulheres nas Forças Armadas no princípio dos anos sessenta do século passado, ainda hoje causa alguma perplexidade, mas trabalhar no meio de homens, de igual para igual, na frente do combate, agitou a sociedade daquela época. As antigas Enfermeiras Paraquedistas foram precursoras e souberam suportar o impacto de dar o salto que ninguém antes delas tinha dado.

Para o Combatente Português, cada uma delas era o anjo que descia do céu para o confortar com uma palavra de irmã e de mãe, para lhe dar esperança que iria haver um amanhã, para lhe tirar as dores lancinantes que lhes percorriam o corpo. Ainda jovens, souberam sempre ser as mulheres maduras que um militar precisava ter a seu lado para lhe apontar o futuro; ainda tão jovens, expostas às agruras da urgência da guerra, sempre assumiram compromissos de dedicação e eficácia perante quem tudo esperava delas, antes que a vida se escoasse.

Sempre souberam resistir à ansiedade de cada evacuação, ao contacto com o grito e com o sangue; e conseguiram não chorar para não tirar a esperança a quem olhava com medo para o futuro; as suas palavras calaram desânimos e as suas mãos foram o bálsamo para o momento aziago.

No transporte de doentes e feridos da frente de combate para os hospitais de retaguarda foram exímias nas boas práticas de evacuação aeromédica, inovando e melhorando procedimentos aprendidos nos cursos. Foram também as psicólogas tão necessárias no intervalo entre operações, confortando e inspirando os mais carentes nos instantes de medo ou de dúvida. Para além do teatro africano, tiveram também oportunidade de apoiar decisivamente ações de evacuação de civis e militares prisioneiros das tropas indianas e de civis refugiados de Timor -Leste.

Com o seu sentido de dever, sempre cumprido, com o seu espírito de superação das dores alheias, as antigas Enfermeiras Paraquedistas ainda são um exemplo de capacidade dos portugueses para realizar ações ao mais alto nível; são merecedoras de respeito e de gratidão e devem ser publicamente apresentadas como exemplo de que a dádiva aos outros e à comunidade é uma atitude superior, uma superação das naturais limitações humanas.

Pelo exposto e pela importância de toda a obra desenvolvida pelas antigas Enfermeiras Paraquedistas, que serviram as Forças Armadas e Portugal, na Força Aérea entre 1961 e 1974, é de inteira justiça considerar que são totalmente dignas deste público reconhecimento, que mereceu o apoio e acolhimento por unanimidade do Conselho de Chefes de Estado-Maior em sessão realizada a 15 de maio de 2015.

4 de junho de 2015. — O Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, Artur Pina Monteiro, General.

 (*) Publicado no Diário da República, 2.ª série — N.º 113 — 12 de junho de 2015 15575

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