E POR CÁ, COMO SERIA?
Por Miguel Machado • 29 Nov , 2015 • Categoria: 02. OPINIÃO PrintHá coisas que devem fazer pensar os nossos decisores políticos sobre o ponto de penúria a que as Forças Armadas podem chegar, e as implicações directas que isso tem na eficácia e segurança dos militares que são empenhados em missões.
Como se constata pelo exemplo que se segue, isto é em maior ou menor dimensão transversal as muitas forças armadas na Europa. Quando os problemas acontecem, a dolorosa realidade vem ao de cima.
Do que estamos afinal a falar?
Os EUA acabam de assinar um acordo com a Bélgica para emprestar coletes balísticos ao Exército Belga (genericamente aliás mais bem equipado que o nosso). Diz o Ministério da Defesa da Bélgica – que divulgou a informação publicamente, louvamos isso, ali há transparência – que o aumento do número de militares na rua a isso obrigou, porque os modelos de coletes existentes em depósito na Bélgica ou são antigos ou inapropriados para este tipo de operações e todo o material que está a ser usado é moderno e de elevada qualidade. Refere-se que apenas se têm comprado os necessários às missões exteriores e pouco mais tendo surgido a necessidade de empregar, de um dia para o outro, umas largas centenas de militares nas ruas da Bélgica devido à ameaça terroristas.
Não se esclarece se não houve tempo para adquirir novos – o que por vezes não é fácil de um dia para o outro, não há sempre os modelos desejáveis em depósito nos fabricantes – ou se é mesmo falta de orçamento? Isso o ministério da defesa da Bélgica não esclarece, apenas que os EUA têm na Europa material suplementar, e incluem este empréstimo por tempo indeterminado, na ajuda à Bélgica para fazer face às ameaças terroristas.
Em Portugal como bem sabem os militares (e polícias!), as coisas não são muito diferentes. Quem não se lembra do episódio das viaturas 4X4 para o Afeganistão? Primeiro empréstimo dos VAMTAC de Espanha e depois dos HWMMV por parte dos EUA? E as viaturas blindadas IVECO para a GNR no Iraque cedidas inicialmente pelos Italianos?
Os estados de emergência, como os actuais em França e na Bélgica, vieram destapar esta realidade que afinal Portugal já conhece. Os decisores políticos que determinam o emprego dos contingentes militares, no interior ou no exterior do território nacional, têm a obrigação de garantir que estes estão bem equipados e armados. Só assim o sucesso nas missões pode ser alcançado e a segurança dos utilizadores acautelada. Não há equipamento que possa anular completamente, nem de perto nem de longe, os riscos que militares e polícias assumem no cumprimento das suas missões e eles sabem disso. Agora há faltas básicas, recorrentes ao longo do tempo, que se não forem supridas, parecem roçar a indiferença ou mesmo a negligência.
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