DISTINTIVO DE QUALIFICAÇÃO DO CURSO DE «PRECURSOR AEROTERRESTRE»
Por Antonio Carmo • 12 Fev , 2012 • Categoria: 10. DISTINTIVOS, INSÍGNIAS E CONDECORAÇÕES PrintINTRODUÇÃO
«Uma operação aerotransportada nasce e cresce no campo de batalha como se fora um edifício imenso; os seus tijolos são vidas, vidas de bravos…e a sua base, a massa granítica do trabalho divino da equipa que nos precede, a EQUIPA DE PRECURSORES. Após muito tempo no comando da 82ª Divisão Aerotransportada, aprendi a amar e a respeitar o trabalho daqueles homens que a todo o instante oferecem as suas próprias vidas em holocausto à segurança de milhares de paraquedistas.»
General paraquedista MATTHEW B. RIDGWAY (US Army)
Se tivermos presente a envergadura dos meios aéreos e terrestres que as operações aerotransportadas exigem, bem como os elevados índices de segurança obtidos em lançamentos de pessoal e material ao longo de décadas, é justo destacar e elevar o trabalho contínuo, firme e competente dos militares que integram este grupo de escol no seio das unidades paraquedistas – o «PRECURSOR AEROTERRESTRE» – e, melhor compreendemos as experientes e gratas palavras proferidas pelo General MATTHEW B. RIDGWAY.
Selecionar uma zona de lançamento, livre de obstáculos naturais e/ou outros que possam fazer perigar a vida do soldado paraquedista, é uma das múltiplas missões das equipas de precursores aeroterrestres. Eles saltam antes da “massa” para, posteriormente, desenvolverem o seu trabalho específico: marcagem da ZL, apoio à rápida reorganização das subunidades lançadas, bem como outro tipo de orientações às aeronaves para lançamentos de material e cargas.
Nos primeiros anos da atividade operacional das tropas paraquedistas, esta missão específica foi cumprida por oficiais e sargentos experientes, integrados nos Destacamentos Avançados de Combate (DAC). Foi assim, nos primeiros saltos operacionais em combate efetuados em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
Contudo, a necessidade de adquirir novos conhecimentos e implementar esta imprescindível especialidade no seio das unidades paraquedistas, levou Portugal a enviar militares paraquedistas a países amigos para se especializarem. No caso vertente, foi a Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército Brasileiro(**), sedeada na cidade do Rio de Janeiro, a unidade pioneira no apoio e formação dos primeiros precursores aeroterrestres portugueses:
1956
– Prec Nº32 – TEN/PARAQ ARGENTINO URBANO SEIXAS,
– Prec Nº33 – CAP/PARAQ SIGFREDO VENTURA DA COSTA CAMPOS.
1971
– Prec Nº104 – CAP/PARAQ JOSÉ MANUEL GARCIA RAMOS LOUSADA.
1973
– Prec Nº115 – CAP/PARAQ EDUARDO MARIA PASSARINHO FRANCO PRETO;
– Prec Nº123 – 2SAR/PARAQ LUÍS FILIPE LOPES ESPÍRITO SANTO.
É com os conhecimentos técnicos adquiridos por estes militares que é ativado um núcleo de precursores no então Regimento de Caçadores Paraquedistas (RCP).
Com o fim das campanhas em África, e a criação do Corpo de Tropas Paraquedistas, esta especialidade desenvolve-se com maior intensidade, fruto dos contatos internacionais e dos inúmeros exercícios conjuntos realizados.
Colocados no Grupo Operacional Aeroterrestre (GOAT) durante o período em que as unidades paraquedistas eram tuteladas pela Força Aérea, e nos nossos dias organizados numa Companhia de Precursores, acantonada na Escola de Tropas Paraquedistas (Tancos), os PRECURSORES AEROTERRESTRES impuseram-se pela competência do seu trabalho e granjearam a confiança de todos os “soldados da terceira dimensão».
É sobre o distintivo que identifica e qualifica os oficiais e sargentos com o Curso de «PRECURSOR AEROTERRESTRE», aprovado oficialmente pelo Despacho Nº166/CEME/11, e ministrado na Escola de Tropas Paraquedistas (ETP) que se revelam algumas curiosidades históricas e heráldicas(1).
SIMBOLOGIA HERÁLDICA DO DISTINTIVO DE QUALIFICAÇÃO DO CURSO DE «PRECURSOR AEROTERRESTRE»(2)
Descrição:
– Um facho de ouro com chama tocada a vento e meio voo(*) à dextra.
Simbologia e alusão das peças:
– O FACHO é o símbolo falante dos PRECURSORES AEROTERRESTRES, aludindo aos elementos de marcagem, ajudas visuais e eletrónicas conferidas pelas Equipas de Precursores às Forças Terrestres e Aéreas empenhadas nas Operações Aerotransportadas e de Desembarque Aéreo;
A CHAMA, tocada a vento, faz alusão ao ardor, à coragem e ao risco inerente à função aeroterrestre. O vento, elemento suporte no desembarque aéreo, simboliza pela sua inconstância e força os determinismos atmosféricos presentes nestas Operações;
O MEIO VOO faz alusão à componente aeroterrestre dos PRECURSORES, nomeadamente ao tipo de infiltração caraterístico destas forças: o salto em paraquedas.
Os esmaltes significam:
O OURO, simboliza a excelência da especialidade, representando as caraterísticas de firmeza, força, nobreza e sabedoria que lhe são peculiares;
O VERMELHO da chama traduz a bravura, a audácia e a grandeza de alma na ação;
O VERDE, faz alusão à componente terrestre dos PRECURSORES e simboliza a esperança e empenhamento no cumprimento do dever.
REGRAS DE ATRIBUIÇÃO DO DISTINTIVO DE QUALIFICAÇÃO DO CURSO DE «PRECURSOR AEROTERRESTRE»
ALGUNS PRÉ-REQUISITOS E OBJECTIVOS:
– Este curso é destinado a oficiais e sargentos já habilitados com o Curso de Instrutor de Paraquedismo (CIP), e tem como objetivo final prepará-los para as funções inerentes ao cargo de PRECURSOR AEROTERRESTRE.
Após a conclusão do curso este reduzido universo de oficiais e sargentos fica a dominar os seguintes conhecimentos técnico-táticos:
– ARMAMENTO e TIRO;
– TRANSMISSÕES e TOPOGRAFIA;
– SAPADORES e RECONHECIMENTO;
– PATRULHAS e LUTA PRÓXIMA ANTICARRO;
– SOCORRISMO;
– TÉCNICAS DE TRANSPOSIÇÃO DE OBSTÁCULOS, NAUTISMO e SOBREVIVÊNCIA;
– COMBATE EM ÁREAS URBANIZADAS;
– FUGA E EVASÃO;
– FOTOGRAFIA AÉREA e METEREOLOGIA;
– TRÁFEGO AÉREO;
– MATERIAL (EQUIPAMENTO PECULIAR DOS PRECURSORES; SUA ORGANIZAÇÃO E EMPREGO;
– TÉCNICAS DE LANÇAMENTO.
Para além destas habilitações técnicas que suportam o perfil do PRECURSOR AEROTERRESTRE, o curso desenvolve um sólido espírito de equipa (principal caraterística do seu trabalho) e impõe/exige grande disponibilidade física, terminando com um exercício final de caraterísticas puramente aeroterrestres a todos aqueles que terão como missão orientar, guiar e liderar as grandes formações de unidades paraquedistas.
DADOS TÉCNICOS DO FABRICO DO DISTINTIVO DE QUALIFICAÇÃO DO CURSO DE «PRECURSOR AEROTERRESTRE»
Cores:
– em dourado fosco (facho e meio voo – e/ou tocha alada); a chama tocada a vento apresenta as cores vermelho (chama exterior) e verde (chama interior).
Dimensões:
– altura – 3,6 cm X largura – 4,5 cm.
Versão em metal: o distintivo foi produzido a partir de uma liga de cobre (latão ou bronze) com acabamento por “banho de ouro oxidado” com reverso-liso, e o “cunho” foi executado a partir de uma escultura (3) para permitir realçar os baixos e altos-relevos e outros contornos que compõem todos os elementos heráldicos da peça; é fixado nos uniformes com dois fechos tipo “prego” (do tipo norte-americano), dispostos longitudinalmente no reverso para contrariar o seu desalinho nos uniformes. O seu reverso permite a gravação do número de Precursor Aeroterrestre.
Versão em pano / baixa visibilidade (para uso nos uniformes operacionais): o distintivo pode ser produzido a negro, bordado, sob fundo verde oliva e/ou camuflado ou em material vulcanizado nas mesmas cores, confecionado em cloreto de polivinil (PVC) pelo processo de modelagem a quente sobre um retângulo imitando tecido de padronagem camuflada ou verde oliva e/ou ainda em metal de cor totalmente escura (preta) sem brilho.
NOTAS
(*) FACHO: haste que tem uma extremidade com substância inflamável, usada para iluminação ou sinalização, também conhecida como archote ou tocha. No meio castrense internacional é conhecida, também, por TOCHA ALADA.
(**) A numeração dos precursores aeroterrestres portugueses formados na Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército Brasileiro, refere-se à numeração dos Cursos de Precursores ministrados nesta grande unidade.
(1) O distintivo de PRECURSOR AEROTERRESTRE é considerado o mais “internacional” de todos os distintivos de qualificação aeroterrestre, pois o seu desenho e formato, independentemente dos países, mantêm sempre alguma familiaridade com o primeiro distintivo concebido, nos EUA (1944), pelo Tenente PRESCOT, um navegador da 9th TROOP CARRIER PATHFINDER GROUP (PROVISIONAL).
(2) A autoria do primeiro desenho/esboço do distintivo de qualificação do Curso de «Precursor Aeroterrestre» português (1994/95), e todo o esforço inicial junto da estrutura do Exército para a sua aprovação oficial, deve-se ao seguinte militar: Tenente-Coronel Paraquedista AGOSTINHO DIAS COSTA (atualmente é Major-General em serviço na GNR). A descrição heráldica é também da sua autoria.
(3) Com este tipo de fabrico, dificulta-se o processo de falsificação dos distintivos e o seu consequente “sucateamento”, levado a efeito por intermediários/comerciantes, cujo único objetivo é o lucro puro, ignorando a qualidade e beleza heráldica dos distintivos das Forças Armadas Portuguesas.
SUPORTE DOCUMENTAL
– CARMO, António E.S., «DISTINTIVOS E INSÍGNIAS DAS TROPAS PARA-QUEDISTAS PORTUGUESAS», Edição do Autor (em preparação);
– MACHADO, Miguel e António CARMO, TROPAS PÁRA-QUEDISTAS – A HISTÓRIA DOS BOINAS VERDES PORTUGUESES 1955-2003, Ed. Prefácio, Lisboa, 2003, ISBN 972-8563-97-3;
– Portaria Nº 254/2011 de 30JUN11;
– Despacho Nº166/CEME/11;
– Arquivo particular de Miguel Silva Machado & António E. S. Carmo.
Antonio Carmo é
Email deste autor | Todos os posts de Antonio Carmo