CORAGEM, FORMAÇÃO, TREINO E EQUIPAMENTO
Por Miguel Machado • 12 Mai , 2011 • Categoria: 03. REPORTAGEM PrintO impacto do disparo a curtíssima distância foi brutal. Bruno Quintão, ferido, consegue manter o escudo balístico que transporta em posição de proteger os restantes militares da Secção de Intervenção Táctica e identifica o atirador a recarregar a caçadeira. Numa fracção de segundos vai buscar forças e motivação sabe-se lá onde e lança-se sobre o alvo, derrubando-o e impedindo novo disparo. A Secção neutraliza o criminoso sem o alvejar…mesmo que o merecesse!
O Soldado Bruno Ricardo Ferreira Quintão, da 1.ª Companhia do Grupo de Intervenção de Operações Especiais da Unidade de Intervenção da Guarda Nacional Republicana, teve uma acção heróica – não devemos ter vergonha das palavras – que permitiu concluir com sucesso uma arriscada missão que estava atribuída à sua unidade. O facto que também não deve ser esquecido, de ter sido treinado e estar equipado para isso não diminui em nada o seu feito. Foi ele que o fez e não outro. Muitos outros certamente o fariam, na GNR como em outras forças militares ou de segurança, em Portugal ou no estrangeiro. Mas ainda mais cidadãos por nada deste mundo ali estariam naquela madrugada de 3 de Dezembro de 2009, segurando o escudo balístico, à espera de ser o primeiro a encarar um “doido” armado que já havia demonstrado claramente estar disposto a matar e a morrer.
A história conta-se rapidamente, na localidade de Vila Fresquinha de São Pedro, Concelho de Barcelos, um individuo profere ameaças e efectua disparos de caçadeira sobre vizinhos além de ameaçar matar a mulher, que no entanto expulsa, ficando barricado em casa. A GNR chamada ao local tenta negociar e mesmo abordar o indivíduo em casa, mas as várias divisões da habitação, todas trancadas tornam impossível a missão. O indivíduo na posse de grandes quantidades de cartuchos efectua disparos sobre a GNR e está atento ao cerco. É chamada a 1.ª Companhia do Grupo de Intervenção de Operações Especiais da Unidade de Intervenção da GNR e as horas passam sem se conseguir qualquer negociação. Decidida a intervenção, ela inicia-se e o facto de todas as portas terem que ser arrombadas dificulta a missão, torna-a menos “instantânea” (nos filmes isto é sempre mais fácil!) e, perdendo-se o efeito surpresa, arrisca-se mais a cada divisão que se ultrapassa. Coube a Bruno Quintão na posição de “brecha” da sua Secção, ser emboscado e…o resto já acima está descrito.
A GNR reconheceu e bem a acção do seu militar e o texto do louvor que tivemos oportunidade de ler, honra o comportamento do Soldado Bruno Quintão, e mostra bem a fibra destes homens.
Há no entanto mais um factor que hoje a aqui trazemos – o equipamento – e que por vezes passa despercebido. Os profissionais, aqueles que enfrentam o crime quer nas áreas rurais como esta quer nas problemáticas áreas urbanas onde a violência com armas não abranda, esses de um modo geral têm consciência do valor do equipamento. Mesmo assim há quem pense que nunca é demais sensibilizar profissionais e público para esse factor “material” que salva vidas.
Diz-nos Arnt Myhre do grupo americano “Safariland”, que há anos se juntou a outras firmas do sector e lançaram um registo global de “vidas salvas” pelos equipamentos de protecção, à margem de uma cerimónia de homenagem ao Soldado Bruno Quintão que teve lugar em 9 de Maio de 2011 em Gaia, na sede da firma “Milícia”: “A nossa firma fornece equipamento de protecção e levamos muito a sério a sua eficácia e os resultados que esses materiais têm na vida dos utilizadores, têm a salvar vidas. Nesse sentido quando nos reportam que alguém foi salvo graças a um dos nossos produtos, a Associação “Saves Club”, investiga o que se passou e no caso de se provar que mais uma vida foi salva, atribuímos um número de registo de incidente e efectuamos uma cerimónia como esta“. Neste tipo de eventos em que tanto podem ser distinguidos indivíduos que envergavam um colete de protecção – como foi este caso português – ou um capacete, ou mesmo quem se encontrava no interior de um veículo acidentado dotado de protecção destas firmas, as famílias costumam ser convidadas a participar. Percebe-se bem porquê, uma vez que se está perante uma homenagem a pessoas que foram salvas, a famílias que graças a estes equipamentos não ficaram destruídas. Continua Arnt Myhre, “Sabemos bem que muitas vezes olham estas cerimónias como meras acções publicitárias o que achamos injusto. Sabemos por experiência própria que em muitos países europeus, há quem prefira não falar de polícias baleados para não assustar a opinião pública e não dar destaque a estes casos, mas nós achamos que com estas cerimónias e com estas placas que oferecemos para colocarem nos seus locais de trabalho se quiserem, motivamos os profissionais a usar o equipamento de protecção. Há vários casos reportados de polícias mortos por não usarem equipamento ou por o usarem mal. É muito importante o uso e o uso correcto. Dar publicidade a estes casos é um aviso sério a quem arrisca a vida. Isto acontece“.
Bruno Quintão foi gravemente ferido no braço, tendo os projécteis embatido na “protecção bíceps” de um colete AR.0046 da “Safariland” que a firma “Milícia” concebeu para o Exército Português usar nas missões exteriores e que também forneceu ao Ministério da Administração Interna. Sem esta protecção é bem provável que o braço atingido tivesse sido decepado o que provocaria uma hemorragia dificilmente controlada. Mesmo com o colete o ferimento foi grave mas não muito profundo. As imagens do ferimento com poucas horas que não publicamos por poderem ferir algumas sensibilidades, são prova disso, mas mesmo a do local já cicatrizado dão uma ideia a área afectada e da concentração de “zagalotes” num espaço reduzido. Lembra-se que foi um disparo a muito curta distância.
Uma vida foi salva, em 2010 foram mais de 60 no mundo inteiro pelos materiais dos associados do “Saves Club”. Bruno Quintão passa a constar com o n.º 1.768 em cerca de duas décadas de registos. Os dois seguintes foram polícias australianos…a contabilidade não pára.
Na cerimónia de Gaia no passado dia 9 de Maio, Bruno Quintão não esteve presente pois está em Timor-Leste integrado no Sub-Agrupamento Bravo da GNR, mas receberam em seu nome o medalhão e a placa de reconhecimento, a sua mulher, Carina Andrade e a filha de ambos, Rita Quintão.
O Operacional e a Milícia
Esta cerimónia, por coincidência, teve lugar no momento em que se cumprem dois anos de apoio da firma “Milícia” ao “Operacional” e em que esta inaugurou novas instalações em Gaia. Decidimos assim assinalar esse facto aqui.
Viveríamos sem a “Milícia”, mas que seria mais difícil ainda, lá isso seria!
Independentemente do que o futuro reservar a esta parceria, ficamos satisfeitos por ver a evolução da “Milícia” desde 1994 e o seu contributo para o reequipamento das Forças Armadas e das Forças de Segurança portuguesas. Tendo iniciado a actividade com um pequeno espaço na Praça da Batalha no Porto, desenvolveu-se, conseguiu fornecer equipamentos e acessórios adaptados às novas necessidades militares decorrentes das missões de paz – alguns mesmo de concepção própria, passou vender também materiais às Forças de Segurança e conquistou o seu lugar no panorama nacional desta área de actividade. As instalações entretanto tinham passado para a Rua de Entreparedes e passou em 2008 a poder vender “bens e tecnologias militares” (vulgo, armamento), além de alargar as suas vendas a áreas como a emergência médica. comunicações, material forense, fardamento e ainda outras. Facturou mais de 5 milhões de euros em 2009, tem hoje 19 funcionários a tempo inteiro e alargou as suas actividades para Espanha, Angola e Cabo Verde, mercados responsáveis por cerca de metade dos proventos da firma.
Miguel Machado é
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