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COMANDANTE DA 6.ª FND (CONJUNTA) NA MINUSCA FALA AO “OPERACIONAL”

Por • 3 Dez , 2019 • Categoria: 02. OPINIÃO, EM DESTAQUE Print Print

No final de Setembro 2019 a 6.ª Força Nacional Destacada das Forças Armadas Portuguesas na MINUSCA – RCA, foi novamente empenhada em missões de combate. Uma acção de rotina transformou-se num dos mais intensos combates que os portugueses enfrentaram desde que chegaram à RCA em Janeiro de 2017.  Mais uma vez os pára-quedistas que constituem a maioria do efectivo operacional – a companhia de manobra – “deram conta do recado”, desbarataram o inimigo, protegeram as populações.

O Tenente-Coronel Paraquedista Victor Gomes comandante do 1.º Batalhão de Infantaria Paraquedista da Brigada de Reacção Rápida do Exército comanda actualmente a 6.ª FND(Conjunta) na MINUSCA.

Tem sido uma constante para as FND assentes nos 1.º e 2.º Batalhões de Infantaria Paraquedista – 1.º BIPara: 3.ª e 6.ª FND; 2.º BIPara: 4.ª FND – os quais têm provado a sua competência em combate, apesar das dificuldades que aquele teatro de operações apresenta, das limitações materiais da própria força e dos apoios multinacionais de que dispõe. Mas não só os pára-quedistas que têm cumprido bem a missão como fica bem expresso na entrevista do Tenente-Coronel Paraquedista Vítor Gomes, são muitos os contributos para a FND vindos de outras unidades do Exército e da Força Aérea.

Ainda no rescaldo dos combates de 23 a 30 de Setembro 2019 em Bocaranga, na região Noroeste da República Centro-Africana, uma operação que aliás foi divulgada por alguns (poucos) OCS portugueses, o Tenente-Coronel Paraquedista Victor Gomes respondeu às questões do Operacional. Parece-nos que se conseguiu uma entrevista “didáctica”, onde o que é a nossa FND na MINUSCA RCA e o que ali vai fazendo em prol da Paz fica bem perceptível.  

A participação portuguesa nesta missão – e o papel nela desempenhado pelos batalhões de paraquedistas em particular – tem aliás atraído a atenção internacional, umas vezes de modo mais discreto que outras e são várias as entidades – e países – que querem saber da nossa experiência. Ainda recentemente – Outubro de 2019 – um oficial paraquedista esteve a transmitir a sua experiência em combate no Global Special Operations Symposium na Bélgica e outros exemplos poderiam ser dados. Saibamos nós aproveitar as lições aprendidas destas operações, a experiência de quem lá andou de facto com “as botas no chão”, não só os sucessivos comandantes mas também os subalternos, os sargentos e as praças, e sem dúvida que as vantagens para elevar o nível de competência operacional do Exército e das Forças Armadas serão muitas.  

Sendo a última FND portuguesa que vai utilizar a veterana espingarda automática HK G-3 na RCA, também assim se encerra mais um capítulo neste teatro de operações. Desconhecemos quando serão os mais do que desgastados HMMWV substituídos pelos novíssimos URO, mas se a intenção governamental é manter esta participação portuguesa na RCA, só podemos desejar que seja em breve!    

 

Operacional: Como está organizada a 6ª Força Nacional Destacada na Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização na República Centro-Africana? Em termos organizacionais houve algum ajustamento para esta FND ou segue o formato anterior? Sendo uma força maioritariamente composta por pessoal do 1BIPara, gostava de saber de quantas (e quais) as unidades que fornecem pessoal para esta FND?

Comandante 6.ª FND: A força actual é composta por 180 militares e está organizada da seguinte forma: Comando; Estado-Maior; Módulo Pandur; Destacamento de Controladores Aéreos Táticos Avançados da Força Aérea Portuguesa; Companhia de Paraquedistas a 3 Pelotões; e Destacamento de Apoio.

Esta organização segue os moldes das anteriores forças, com a exceção da integração da equipa RAVEN, oriunda do Regimento de Artilharia Nº5 (Vendas Novas), com o sistema mini UAV Raven*, adquirido recentemente pelo Exército, que está a ser empregue pela primeira vez em operações na República Centro-Africana.

O Comando da 6FND é composto por militares do 1º Batalhão de Infantaria Paraquedista (1BIPara) do Regimento de Infantaria N.º 15 (Tomar), assim como a maior parte do Estado-Maior. Este conta com a referida Equipa Mini UAV Raven, do Regimento de Artilharia Nº5 (Vendas Novas), a Secção Financeira (graduados da Escola de Serviços – Póvoa de Varzim e da Tesouraria da Direção de Finanças – Lisboa) e um Sargento de Segurança, da Especialidade de Polícia do Exército, nomeado pelo Regimento de Lanceiros Nº2 (Lisboa).

O Destacamento de Controladores Aéreos Táticos Avançados (TACP), composto por militares do Comando Aéreo da Força Aérea Portuguesa, conta com dois “Joint Terminal Attack Controllers (JTAC)” e um sargento de apoio à equipa, responsável pela manutenção dos seus equipamentos.

O Módulo Pandur é todo oriundo da Brigada de Intervenção, com militares do Regimento de Infantaria N.º 14 (Viseu), do Regimento de Cavalaria N.º 6 (Braga) e do Regimento de Infantaria N.º 13 (Vila Real).

Por sua vez, o Destacamento de Apoio é composto pelo seu Comando, com origem no 1BIPara do RI15 (Tomar), Módulo de Engenharia do Regimento de Engenharia N.º 1 (Tancos), com capacidade de inativação de explosivos (EOD), Módulo Sanitário, nomeado pela Direção de Saúde com base nas suas subunidades de serviço de saúde (Lisboa, Évora e Santa Margarida), Módulo de Comunicações do Regimento de Transmissões (Porto), Módulo de Reabastecimento e Serviços, Módulo de Alimentação da Escola de Serviços (Póvoa de Varzim) e Módulo de Manutenção do Regimento de Manutenção (Entroncamento).

A companhia de Manobra é totalmente composta por Paraquedistas. A grande maioria destes militares é oriundo do 1BIPara, com reforços pontuais de militares do Regimento de Paraquedistas e do Regimento de Engenharia N.º 1.

*sistema de aeronaves não tripuladas, de pequenas dimensões. É lançado manualmente e tem um raio de ação até aos 10 quilómetros de distância. É empregue essencialmente para recolha de informações e vigilância, contribuindo assim para a eficiência e segurança da força.

Operacional: Quando foi nomeado para assumir esta força e como decorreu a preparação para a missão? 

Comandante 6.ª FND: A minha indigitação decorreu de forma natural, pela experiência adquirida aos longo dos anos em Forças Nacionais Destacadas, no próprio 1BIPara e, em particular, pela função anteriormente ocupada como assistente militar do segundo comandante da força da MINUSCA, que me permitiu conhecer em profundidade este teatro de operações.

A grande maioria dos militares que compõem a força apresentou-se no início de abril.

Foi notória a importância da experiência dos militares do 1BIPara e do Regimento de Infantaria Nº 15 no treino e aprontamento de forças, para que o aprontamento sanitário e o treino nas áreas do socorrismo de combate e dos primeiros socorros, decorresse com fluidez e fosse atingindo o nível definido como necessário.

O avançado ponto de partida em que se encontravam os militares permitiu evoluir muito além da formação base minimamente exigida, constituindo-se como um valor acrescentado, não só do ponto de vista dos cuidados médicos, mas também da confiança mútua, que em muito contribui para a eficiência e eficácia da Força.

Os militares do Módulo de Transmissões realizaram diversos cursos, pela inerência da especificidade das suas funções.

O reconhecimento prévio realizado ao Teatro de Operações (TO), permitiu-nos realizar adaptações no treino da força e otimizar os pedidos logísticos para a situação atual. Nesta ação, foi benéfico ter no grupo militares estreantes e outros com experiência de missões anteriores neste TO.

A maior parte do material passou da 5FND para a 6FND, sendo a diferença mais significativa o acréscimo do sistema Mini UAV Raven, recentemente adquirido pelo Exército Português.

O TACP é constituído por militares que já integraram a 3FND com o 1BIPara e estiveram a trabalhar na sua função específica, tendo efetuado as suas certificações internacionais enquanto decorria o aprontamento da força. Durante o aprontamento foi mantida uma ligação próxima entre estes militares e a força.

Depois da força ter sido considerada “Combat Ready” (pronta para combate segundo a avaliação estandardizada da NATO), houve ainda oportunidade de desenvolver algum treino adicional para a integração e confirmação de TTP (Táticas, Técnicas e Procedimentos).

Operacional: Nesta 6.ª FND tem certamente militares que já estiveram anteriormente na RCA, sabe qual é a percentagem de veteranos desse TO que o acompanham? E veteranos de outras missões? Qual é a média de idades da FND? E quantos militares femininos a integram e em que áreas?

Comandante 6.ª FND: Entre os militares que participaram na 3FND do 1BIPara e alguns que participaram na 2FND e na 4FND, para além do comandante, existem cerca de 35% de militares com experiência nesta missão. Na Companhia de Paraquedistas a média aproxima-se dos 50%.

A idade média na 6FND é de 28 anos.

Existem 11 militares femininos na Força, colocadas no Módulo Sanitário, no Módulo de Alimentação, no Módulo de Reabastecimento e Serviços e no Módulo de manutenção.

Operacional: Fale-nos do local onde estão instalados e das rotinas diárias da FND nesta fase inicial da missão?

Comandante 6.ª FND: A Força está instalada no Campo francês de M’Poko, na capital da RCA, Bangui, à semelhança das FND anteriores. As rotinas diárias são as normais de manutenção de uma força, das quais se salienta as tarefas específicas de cada função e a preparação permanente para operações futuras, tanto na vertente de treino como na vertente da preparação de equipamentos.

A fase inicial da missão foi pautada pelos cuidados com os materiais e pelos treinos específicos de adaptação aos equipamentos com que contamos para a Missão, a par de um elevado volume de tarefas logísticas.

Foi necessário reajustar os planos de carregamento* para as diferentes tipologias de operação, fazer alguns treinos de integração das subunidades em diferentes situações táticas e fazer tiro. O treino de tiro, nesta fase inicial, é extremamente importante pois os militares recebem o armamento no teatro de operações e há necessidade de aferir e ajustar os aparelhos de pontaria, tanto mecânicos como ópticos, às características de cada militar. Em TO dispomos de uma boa variedade de aparelhos de pontaria e optronicos, com vantagens significativas em operações, mas que requerem adaptação aos mesmos.

* Plano que define que materiais e equipamentos, na sua tipologia e quantidade, devem ser carregados em cada viatura. Isto permite garantir que a força dispõe de tudo o que pode necessitar no decorrer da operação e também que os equipamentos estão organizados de forma a que todos saibam onde está cada tipo de equipamento e que esse equipamento esteja rapidamente disponível em caso de necessidade.

Operacional: Sabendo que já esteve em missão na RCA anteriormente acha que há evolução? Em que ambiente vivem e atuam os militares portugueses neste momento? 

Comandante 6.ª FND: Regressei de missão anterior em março deste ano de 2019 (esta FND partiu para a RCA em Setembro 2019). Os recentes eventos na RCA enfatizaram a necessidade de uma reação apropriada, quando vidas civis são ameaçadas.

A Força Portuguesa na MINUSCA é a prova viva da necessidade de um “pacificador robusto” nesta organização, como aconteceu no final de setembro na região de Bocaranga, onde, uma operação que seria de “rotina”, acabou por se transformar numa das ações mais intensas que tivemos até hoje na República Centro-Africana.

Operacional: A 6.ª FND tem capacidades próprias mas há algumas áreas, por exemplo o apoio aéreo, que é fornecido por outros países e tem sido várias vezes referido como potencial limitação ao emprego das nossas forças. Qual é atualmente a capacidade de apoio aéreo que a MINUSCA tem disponível?

Comandante 6.ª FND: Neste momento a MINUSCA continua a contar com helicópteros MI 17 da aviação do Paquistão e do Sri Lanka e MI24 da aviação do Senegal. Estes últimos, com capacidade de ataque ao solo.

Normalmente estes meios aéreos são empregues para evacuação sanitária, para reconhecimentos e vigilância e para comando e controlo. Sempre que a Força Portuguesa está em operações, um destes meios está disponível para eventuais evacuações sanitárias.

Militar do TACP da Força Aérea, armado com a HK 416 5,56mm

Operacional: A força sob o seu comando quando atua é empregue de modo autónomo ou em conjunto com outras unidades terrestres da MINUSCA ou das Forças Armadas locais?

Comandante 6.ª FND: Ambas as situações são possíveis, dependendo da operação, da situação tática ou do tempo disponível para preparar as operações. A colaboração com outros contingentes é sempre positiva, desde que as tarefas de cada força estejam bem definidas e sejam asseguradas as coordenações necessárias para garantir a segurança para ambas as forças.

Operacional: Em termos de armamento e equipamento, depois da chegada do Módulo Pandur em finais de 2018, houve mais melhorias/reforço?

Comandante 6.ª FND: Desde 2018 chegaram os novos lança granadas automáticos, alguns meios optronicos (aparelhos de visão noturna e câmaras térmicas) e o sistema “Mini UAV Raven”. Além destes, houve um reforço de drones tipo “quadcopter”, com capacidade de transmissão de imagem.

As HK G-3 7,62mm, tudo indica terminarão a sua missão na RCA com esta 6.ª FND a próxima força já fará uso das novas FN que o Exército adquiriu.

Operacional: Em Portugal muitos militares e antigos militares vivem com alguma emoção esta vossa missão através do pouco que se vai sabendo através dos OCS e das redes sociais. Como é que a FND lida com o uso das redes sociais pelos seus elementos?

Comandante 6.ª FND: Os cuidados a ter com as redes sociais fazem parte do treino efetuado no aprontamento. Os militares que compõem a 6FND têm a noção dos riscos pessoais ou coletivos que as redes sociais podem representar, a par do seu potencial para ligar e aproximar as pessoas que se preocupam connosco.

Para quem regulamente acompanha as atividades da 6FND, é feito um trabalho de divulgação das nossas principais ações pelo Gabinete do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, ao qual fazemos chegar imagens para esse efeito.

Veja aqui vídeo da 6.ª FND em combate no passado mês de Setembro.

Leia também no Operacional entrevistas com os comandantes da 3.ª e da 4.ª Forças Nacionais Destacadas na RCA:

ABRIL 2018: COMANDANTE DA FND PORTUGUESA NA RCA FALA AO OPERACIONAL

JANEIRO 2019: OS COMBATES EM BAMBARI E O BAPTISMO DE FOGO DAS PANDUR II

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