O “museu do ar” de Espanha é uma instituição do Ejército del Aire, a Força Aérea, instalado junto à Base Aérea de Cuatro Vientos, muito perto do Aeródromo civil de Madrid com o mesmo nome. O visitante pode ver cerca de 200 aviões e toda uma série de outros artigos ligados à aviação, expostos quer ao ar-livre quer nos vários hangares que actualmente estão visitáveis. Vale bem as 6 horas de carro desde Lisboa!
O Museu de Aeronáutica Y Astronáutica do Ejército del Aire, nos arredores de Madrid tem expostas cerca de 200 aeronaves, a maioria serviram na aeronáutica militar em Espanha e em vários outros países (como Portugal!) , muitas em combate no Marrocos Espanhol e na Guerra Civil . Na imagem, o Lockheed F-104 “Starfighter” e à esquerda o CASA Northrop RF-5A fabricado em Espanha.
Introdução
Para nós portugueses um dos aspectos interessantes neste museu reside no facto do Ejército del Aire e dos seus antecessores na aviação militar em Espanha, terem usado muitos aviões diferentes dos nossos. Claro que também houve alguns em comum, dos Junkers 52 aos Dakotas passando pelos C-212 Aviocar e F-86 Sabre por exemplo, mas vários exemplares de origem alemã, italiana, soviética e mesmo americana ou espanhola, nunca foram usados em Portugal e ali estão visitáveis. Não nos devemos esquecer que na Guerra Civil (1936-39) a aviação teve um papel muito relevante – é comum a afirmação que ali se ensaiou em grande medida a 2.ª Guerra Mundial – com o emprego de aviões e pilotos estrangeiros, entre os quais portugueses, em ambos os campos e que a colecção de aviões que nela participaram é muito interessante. Mesmo que nem todos os aviões da colecção do museu relativos a esta época estejam expostos, o que é pena, a maioria estão. Na realidade dois bombardeiros de origem alemã muito significativos e raros, o CASA 2.111 (Heinkel He 111H-16, fabricado em Espanha e que voou até 1974!) e o Heinkel He 111E-1 “Pedro” (de origem alemã, este modelo chegou a Espanha com a Legião Condor em 1938 e voaram até 1956) e ainda o hidroavião Dornier Do 24T (a voar de 1944 a 1970), estão no Hangar 6, actualmente fechado ao público, uma vez que os dois bombardeiros estão a ser reparados e não há condições de segurança para os visitantes.
A Associação de Amigos do Museu tem o papel activo no restauro de aeronaves e outras peças de museu (todos os sábados de manhã, há trabalho!) e ainda realizam conferências temáticas no museu e organizam visitas a unidades áreas ou outros pontos de interesse aeronáutico.
General Peres Vives Vich , fundador da aeroestação e aviação espanholas. Fundou Cuatro Vientos, primeiro aeródromo militar de Espanha, foi primeiro director do Servicio de Aerostación y Aviación e em 1913 organizou a primeira esquadrilha espanhola em África. No monolito à esquerda homenageia-se o maior “às” da aviação espanhola e dos nacionalistas na Guerra Civil com 511 missões de combate e 40 aviões inimigos abatidos. Morreu em 1939, pouco depois de terminada a guerra num acidente de aviação, tinha 35 anos de idade. Este monumento estava no local do acidente (Griñón) e em 1983 foi trasladado para este museu.
Visita
O museu está bem sinalizado mas convém ter atenção à entrada desde a auto-estrada A-5 porque se falhamos este único acesso…temos que andar bastante para o voltar a conseguir. A entrada é livre embora se solicite um contributo simbólico de 3,00€ para ajudar a Fundación de Aeronáutica y Astronáutica Españolas, que colabora com o museu. Há estacionamento grátis para os veículos privados mesmo junto à portaria do museu, autocarros de transporte público com paragem bem perto, e uma estação de metro (Cuatro Vientos) já mais afastada. O museu está aberto das 10H00 às 14H00 o que não permite muita calma para quem o visita apenas uma única vez. Na loja do museu há um guia do museu muito completo, mesmo que não esteja 100% actualizado há sempre novas aeronaves a “chegar”, com pequenos textos e fotos de praticamente todas as aeronaves expostas e de muitos outros elementos (motores, monumentos, viaturas, peças artilharia antiaérea, etc.).
O visitante recebe um pequeno folheto (4 páginas A4) com a planta do museu, e uma síntese do que pode ver me cada hangar, além de uma notas históricas e indicações úteis. Nós começamos pelo exterior e depois visitamos os vários hangares.
Quero deixar aqui uma referência a duas pessoas que me guiaram na visita, ambos da Associação de Amigos do Museu: Vicente Talon Ortiz, jornalista e escritor com uma vida dedicada às temáticas da Defesa e Forças Armadas em Espanha e no Mundo, cobriu várias guerras (até a nossa no antigo Ultramar) para a imprensa espanhola e foi fundador em 1978 da revista “Defensa” sendo seu director até 2007. Hoje reformado é um entusiasta da aviação militar e civil e do museu; Antonio Torres Portero, antigo engenheiro da CASA e depois da Airbus com uma carreira profissional dedicada à aviação militar e civil pelo ângulo da tecnologia, que o levou a muitos países (e guerras!) para apoiar a introdução de aviões fabricados em Espanha, entre outros Angola e Portugal, onde chegou com os primeiros Aviocar! Pareceu-me que não há nada no museu que não consiga explicar em detalhe, seja um episódio histórico seja um motor! Os meus agradecimentos a ambos.
O Junkers CASA 352 (T.2) – em baixo – Espanha fabricou 160 exemplares e – em cima – o original Junkers JU 52, cerca de 60 foram empregues na Guerra Civil.
O CASA 207 “Azor”, avião de transporte de pessoal e carga que viria a ser substituído pelo “Aviocar”. A força aérea recebeu apenas 10 unidades, este serviu entre 1968 e 1981.
O Douglas DC-3 vulgarmente conhecido por “Dakota” com o CASA Junkers em segundo plano.
CASA 207 “Azor”; De Havilland Canada DHC-4 “Caribou”; Douglas DC-4 “Skymaster”.
O CASA C-212 “Aviocar”, em baixo o primeiro construído, foi o maior sucesso comercial da industria aeronáutica espanhola, está ao serviço em todo o mundo para missões militares e civis em várias versões.
Exposição no exterior
O museu tem uma grande área de exposição ao ar-livre, o que naturalmente complica a manutenção mas é agradável de ver, o tempo estava óptimo. Não vou referir todas as mais de 40 aeronaves expostas, as fotos mostram a sua maioria, apenas referir que de um modo geral estão bem mantidas, uma ou outra mais afectada pelos elementos. Além de helicópteros e aviões podemos ver uma série de memoriais, esculturas alusivas à história da aviação espanhola e a alguns dos seus heróis – alguns deles quase só aqui se podem ainda ver uma vez que a expressão pública da história do século XX em Espanha está condicionada por leis de natureza ideológica.
O museu apresenta uma interessante colecção de hidro-aviões, aqui o um Consolidated PBY-5 “Catalina” de origem chilena, recebido por troca. O “Catalina” que serviu em Espanha – entre 1949 e 1954 destinou-se ao combate a incêndios. Os Grumman SA 16B “Albatross”, serviram em Espanha de 1954 a 1979, substituídos pelos “Aviocar” e “P3” nas missões de patrulha marítima.
O Canadair CL-215, conhecido mundialmente pelo seu papel no combate a incêndios. Espanha comprou 30 entre 1971 e 1991! À esquerda um Piper P-24 “Comanche” e um P-30 “Twin Comanche”, ambos da Armada Espanhola.
O Boeing KC-97L “Stratotanker” impressiona pelas dimensões! Espanha adquiriu 3 em 1972 para executar o reabastecimento de voo dos F-4 “Phantom”, só estiveram ao serviço até 1976. Tem a curiosidade de dispor de 4 motores a hélice e dois reactores, estes iguais aos que usava o F-86 “Sabre”.
Canhão anti-aéreo Krupp 88/56, de 88mm fabricado em Espanha pela Fábrica de Trubia, em 1954. Em cima maqueta escala 1:1 do foguete lançador de satélites “Capricórnio – INTA” um projecto que foi abandonado em 2000.
O CASA HA-220 “Supersaeta” projecto do célebre engenheiro alemão Willy Messerschmit, foi o sucessor do HA 200 D primeiro avião a jacto fabricado em Espanha em 1955. Este avião da imagem, monolugar (embora não pareça!) destinado a missões de ataque ao solo serviu entre 1970 e 1981.
O CASA C-101 AVIOJET “Mirlo”. O que está em em primeiro plano e em cima – assistimos à sua colocação em exposição – serviu na Patrulha Acrobática da Força Aérea Espanhola, a “Patrulla Águila” (em actividade desde 1987!). O primeiro C-101 fabricado, em 1977, está em segundo plano. O “Mirlo” continua ao serviço. Chile, Honduras e Jordânia também compraram este avião dos quais foram fabricados cerca de 170 exemplares. Entre os dois C-101 pode-se ver uma secção do Muro de Berlim que foi decorada por Patrice Lux e oferecido ao museu por ocasião da apresentação na capital alemã de Patrulla Águila no festival aéreo por ocasião da ILA – Innovation and Leadership in Aerospace – em 2018.
O North Americam F-86 “Sabre” que serviram em Espanha a partir de 1955. O Ejército del Aire chegou a operar 270 destes aparelhos. Este exemplar integrou a Patrulla Ascua (daí a pintura) que foi criada em 1956 com estes aviões e manteve a sua actividade até 1965.
Panorâmica em que se pode ver, da direita, Mirage F-1B, Mirage III E, depois os F-5, F-86 e dois Saab, um AJ 37 “Viggen e um J32 “Lassen”, estes aviões suecos não serviram em Espanha. À esquerda um Nort American B-25 “Mitchell”, oferecido por uma companhia americana, Espanha usou um único destes aviões até 1954.
Mirage IIIE . Os Mirage, em várias versões serviram em Espanha entre 1975 e 2013. Desta versão foram recebidos 24 unidades até 1992. Foram substituídos pelos F-1 que Espanha recebeu 91 unidades.
O Mcdonnell Douglas F-4 “Phantom”, na versão RF -4 em segundo plano e em cima, recebidos por Espanha em 1971 e aqui serviram até 2002.
E agora aviões do Pacto de Varsóvia, em baixo o SU-22 “Fitter” que aqui chegou vindo da Alemanha – integrou as forças aéreas da RDA e ainda não foi reparado – e em cima o Mig – 17 “Fresco” com as cores da Força Aérea da Bulgária. Em fundo a curiosa opção que foi feita para expor as cabines do Douglas DC-9 e do Boeing B-727 no Hangar 6, o tal que está fechado para manutenção e trabalhos nos Dornier Do24T, Heinkel He 111E-1 “Pedro” e no CASA 2.111 (Heinkel He 111H-16).
Um Mig-21 “Fishbed” já devidamente recuperado para exposição, também recebido da Alemanha onde serviu na extinta RDA.
Hangares
A exposição em área coberta onde estão as melhores “peças”, algumas mesmo raras ou de relevante significado histórico, muito bem conservadas e identificadas, ocupa 7 hangares, um dos quais não visitamos, está dedicado a miniaturas e aeromodelismo (desconheço sequer se estava aberto) e optamos por dedicar mais tempo aos outros espaços e ainda à oficina onde os voluntários da Liga dos Amigos estão a recuperar um Stinson Reliant SR-7C.
Hangar n.º 1: está excepcional, foge ao padrão mais usual nos museus deste tipo e apresenta os aviões inseridos no “ambiente operacional” da sua época. Ou seja, o visitante vê não só a aeronave mas também o cenário em que actuou, seja com outros elementos reais seja com pinturas ou fotografias e adereços. Há bastante espaço para o visitante e há quer aviões com as rodas no solo quer em suspensão. Inclui uma sala dedicada aos primeiros anos da aviação, outras às operações no Norte de África a partir de 1913 e outras às grandes viagens aéreas.
Hangar n.º 2: tem uma enorme colecção de motores, sendo interessante de se ver mas acima de tudo de ouvir as explicações de quem sabendo muito tem a capacidade de sintetizar em minutos e em termos correntes o que ali está e como funciona. Inclui também bombas de aviação, simuladores e um sector dedicado ao aeroespacial.
Hangar n.º 3: o que tem mais aviões expostos, não só porque aqui estão os de menores dimensões como o modo de exposição, alinhados “em formatura”, sem “cenário”. Aqui se encontram por exemplo os aviões que serviram nas duas guerras mundiais, e na Guerra Civil, quer com os Nacionalistas quer com os Republicanos. Neste período podemos ver alguns dos aviões mais significativos, mas faltam naturalmente muitos. Recorda-se que na Guerra Civil foram usados pelos dois “bandos” mais de 1.000 aviões…de cada lado! Na obra de Juan Abellan Garcia-Muñoz “Galeria de aviones de la guerra civil española (1936-1939)” podemos constatar que ambos os lados usaram, cada um, mais de 35 aviões diferentes, divididos em aviões de caça, assalto, bombardeiros, instrução, ligação, transporte e hidro-aviões. Republicanos e Nacionalistas usaram os melhores aviões da sua época, fabricados em França, Alemanha, União Soviética, Itália, EUA, Checoslováquia, Polónia, Reino Unido e Espanha. Vários modelos serviram de ambos os lados!
Hangar n.º 4: dedicado aos helicópteros e autogiros – não devemos esquecer que este foi uma invenção espanhola, do engenheiro Juan de La Cierva cujo primeiro voo teve exactamente lugar ali ao lado no Aeródromo de Cuatro Vientos em 1923. Aqui podemos também ver instrumentos de voo e material médico ligado à aviação.
Hangar n.º 5: aviões de caça e de acrobacia, quer a hélice quer a reacção, nomeadamente os entre nós pouco conhecidos caças a jacto de fabrico espanhol, Saeta e Supersaeta, mas também o T-6 e o Sabre, e um avião histórico que aliás passou por Portugal (Porto e Lisboa), o Dragon Rapide que transportou o general Franco das Canárias para o Marrocos Espanhol onde assumiu o comando do Exército de África e iniciou a guerra contra a República. Aqui também se encontram algumas viaturas, com destaque para uma rara de origem alemã que serviu Legião Condor durante a Guerra Civil. Uma pequena área deste hangar está dedicada a material antigo dos pára-quedistas militares, sobretudo pára-quedas, e muitas insígnias.
Hangar 6: muito curioso pelo modo como ali foram expostas as cabines de dois aviões comerciais, um DC-9 e um Boeing 727, guarda os tais “tesouros” que estão em reparação e não podem ser visitados como acima explicamos.
Esta estátua aos que morreram voando, erigida por subscrição pública, foi inaugurada em 1918 numa rua de Madrid. Com os anos a sua deterioração levou a que o original fosse para a aqui trasladado (é o da imagem), enquanto uma réplica está hoje frente ao Quartel General da Força Aérea Espanhola. Em primeiro plano um Avro 504K (reconstrução de um original). Espanha usou 20 destes aviões britânicos entre 1919 e a década de 30. Foi a sua fuselagem que veio a ser utilizada para um dos autogiros de La Cierva, o C-6 que abaixo mostramos.
Aspecto geral da sala dedicada às operações no Marrocos Espanhol a partir de 1913. À esquerda um De Havilland DH-4. Espanha recebeu 39 que empenhou nesta guerra e 3 dos seus pilotos foram agraciados com a mais elevada condecoração espanhola. À direita (e na foto de baixo) um Bristol F-2B, dos quais Espanha usou 64 unidades, era inicialmente um avião problemático mas acabou provando bem em Marrocos embora com várias baixas. Um dos seus pilotos também recebeu a mais elevada condecoração espanhola. O da imagem é uma réplica executada com algumas peças originais.
O Bristol F.2B aqui a ser “municiado” com as Bombas de Aviação Carbonit “Gotha”. De origem alemã, adaptadas pelos espanhóis com um sistema de lançamento, foram empregues em Marrocos, naquilo que é considerado o 1.º bombardeamento aéreo da história com bombas especificas para esta finalidade. Foi em 17NOV1913. As bombas eram presas com uma corda à fuselagem, um tubo regulável (de acordo com a velocidade do avião) servia de aparelho de pontaria, e ao localizar o alvo o piloto cortava a corda e a bomba caía.
As grandes viagens aéreas realizadas pelos espanhóis algumas das quais como era normal nesses anos constituíam verdadeiras aventuras, que nem sempre corriam bem.
Dornier Wal “Plus Ultra” um dos mais conhecidos desta época em Espanha uma vez que bateu recordes de distância em velocidade. Em 1926 um destes hidro-aviões fez a viagem designada por “Plus Ultra”, entre Palos de la Frontera (Huelva) e Buenos Aires na Argentina (com escalas) em 59 horas e 39 minutos. O piloto Ramón Franco (irmão do mais tarde Chefe do Estado), fazia parte da tripulação e cobriu-se de glória. Este oficial de infantaria, depois piloto, combateu em Marrocos e na Guerra Civil, na qual morreu num acidente de avião em 1938. Era um herói da aviação militar e no museu encontra-se um busto seu.
CASA Breguet XIX “Cuatro Vientos”. Este avião é uma réplica mas o original fez a primeira travessia do Atlântico Central em 1933, voando de Sevilha até Camaguey (Cuba). Depois voaram para Havana de onde iniciaram um voo para a cidade do México onde nunca chegaram. O avião foi uma última vez visto sobre a península do Yucatán e nunca mais foram localizados apesar de buscas exaustivas. Avião e dois pilotos desapareceram.
O Fokker DR.I do “Barão Vermelho”. Este foi construído em Espanha no ano de 1995 com um motor original “Clerget”. Anteriormente o museu tinha um outro que voava fabricado em 1975 para o filme sobre Manfred Von Richthofen, recebido de um museu alemão, mas acabou incendiado na Expo de 1992.
O Polikarpov I-15 “Chato” um dos melhores aviões de origem soviética utilizado pelos Republicanos na Guerra Civil num número que se calcula em 423, parte deles fabricados em Espanha durante a guerra. Terminada a guerra 127 “Chato” sobreviventes foram incorporados no Ejército del Aire. Não há um único original, este foi construído com peças de originais de vários. NA imagem, da esquerda, Vicente Talon e Antonio Torres.
Polikarpov I-16 “Mosca” de origem soviética que foi fornecido aos Republicanos a partir de Outubro de 1936 e dos quais utilizaram cerca de 400 com grande sucesso. Este exemplar é uma réplica. Um dos pilotos espanhóis que mais se destacou usado estes aviões, com 10 vitórias confirmadas, ingressou mais tarde na Força Aérea Soviético e morreu como coronel da 2.ª Guerra Mundial: Manuel Zarauza.
O alemão Fieseler F1 156A “Storch” (Cegonha), conseguia descolar em 50 metros e aterrar em 15! A Legião Condor usou apenas 6 em Espanha e depois da guerra civil chegaram mais 20, que foram retirados de serviço em 1962. Intensamente utilizado pelos alemães na 2.ª Guerra Mundial (mais de 2.800 foram construídos). Ficou imortalizado por ter servido a Otto Skorzeny para transportar Benito Mussolini em condições muito além do que a segurança permitiria,depois de o libertar numa arrojada operação nos Apeninos onde estava preso em 1943.
Fiat CR 32 “Chirri” que Itália utilizou na Guerra Civil em Espanha e também foi fornecido aos Nacionalistas. Terão sido usados 380 destes Fiat em Espanha, era um excelente caça e aos comandos de um Garcia Morato (ver foto no inicio deste artigo) abateu 32 inimigos. Este do museu é um dos 100 que Espanha fabricou em Sevilha. Curiosamente os Republicanos também usaram 5 destes aviões.
Hispano Aviación HA -1112 K.1.L “Tripala”. Fabricado sob licença em Espanha este M-109 estava armado com canhões 20mm e foguetes 80mm. Este é um dos 65 que foram fabricados, de 200 previstos porque entretanto o motor foi substituído por outro de origem britânica. Serviram entre 1951 e 1955. A outra versão com motor Rolls Royce o “Buchón” (em segundo plano) esteve ao serviço entre 1954 e 1965 e chegaram a ser fabricados 172.
Os De Havilland DH-89 “Dragon Rapide” estiveram ao serviço em Espanha com os Republicanos mas este é um caso especial. Trata-se de um avião civil britânico que foi oferecido ao museu em 1957 pelo seu proprietário (um empresário inglês) pela sua história! Em 1936 descolou de Inglaterra, escalou Bordéus, Biarritz, Porto, Lisboa e Las Palmas, onde embarcou o General Francisco Franco e o transportou até Tetuão (no Marrocos Espanhol) – via Agadir e Casablanca – onde o general assumiu o comando do “Exército de África” e iniciou o levantamento militar contra a República.
Autogiro La Cierva C-6. O 6.º destes aparelhos construído por D. Juan de La Cierva (o seu inventor!) voou a primeira vez em 1924 e foi construído aproveitando a fuselagem de um Avro 504. este é uma réplica.
Aerotécnica AC-12 “Pepo”. Voou a primeira vez em 1954, foi o primeiro helicóptero fabricado em série em Espanha, e o Ejército del Aire adquiriu 12 que usou até 1967. Curiosamente um muito semelhante (o Aerotécnica AC 14, em segundo plano) do mesmo desenhador – Jean Cantineau, engenheiro francês da Matra – tinha uma solução revolucionária, sem rotor de cauda (na realidade uma antecipação do “no tail rotor” da americana Huges). Chegou a voar em 1957 mas a Força Aérea desistiu de uma encomenda de 10 e o projecto não teve seguimento.
O museu tem uma boa colecção de helicópteros, quer no Hangar quer no exterior, apenas uma pequena amostra: dois Bolkow MBB Bo 105 em primeiro plano – um das Forças Aeromóveis do Exército de Terra e outro da versão civil da Policia Nacional – e um Aerospatiale SA 319B “Alouette III” , este afecto ao controlo de tráfego rodoviário. No museu podem ainda ser vistos pelo menos os seguintes: Agusta Bell 47-J2, 47J-3B, 47G-3, AB-205 e 206A, um Sikorsky-Westland S-55, um Bell 47 OH-13, um Huges 300 HE.20, um Aerospatiale SA-318-C “Alouette II”, um MI 2 e um SA-330 “Puma”!
E voa! O Transavia PL-12 “Airtruck” australiano concebido para agricultura teve várias versões desde ambulância a observação e mesmo uma versão anti-guerrilha. Um destes estranhos aviões participou no filme Mad Max III. Este veio da Austrália a voar (22.000 km) e foi oferecido pela Transavia ao museu em 1991.
Este Stinson Reliant SR-7C está a ser reconstruído pela Associação de Amigos do Museu do Ar, a qual tem um trabalho notável – sempre com base no voluntariado – no museu. Além destes trabalhos e pinturas que deixam os aviões pontos para serem expostos, fazem visitas a unidades, conferências e publicações.
Conclusão
A aviação espanhola está aqui bem exposta e sente-se muita actividade no museu. Aeronaves “novas” estão a ser regularmente aumentadas ao acervo museológico – assistimos casualmente a um destes casos, um CASA C-101 Mirlo proveniente da patrulha acrobática do Ejercito del Aire, a Patrulla Águila – os voluntários da Associação de Amigos todos os sábados aqui estão a trabalhar para colocar mais aeronaves das reservas em exposição e dizem-nos que sobretudo aos fins-de-semana o número de visitantes é muito significativo.
Para quem não conhece a história da aviação espanhola talvez seja com surpresa que toma contacto com as primeiras operações que desenvolveram no Norte de África (Protectorado do Marrocos Espanhol) entre 1913 e 1927, onde pela primeira vez na história se fez um bombardeamento aéreo com as “bombas de mão” Carbonit Gotha (23NOV1913), antes da 1.ª Guerra Mundial, portanto. Neste período de 14 anos a aviação espanhola usou 15 modelos de aviões diferentes, foram abatidos 63 aeronaves e igual número foi perdido em acidentes. Morreram 36 tripulantes em combate e 45 em acidentes.
Também não é muito conhecida entre nós aquilo que designam por Grandes Vuelos, também nos anos 20 do século XX e que levou a aviação espanhola a ligar a Península Ibérica a Manila nas Filipinas ou a Buenos Aires ambos em 1926, e depois também à Guiné Equatorial, Rio de Janeiro, Havana, Cidade do México.
O período da Guerra Civil (1936-39) está representado pelos aviões de Nacionalistas e Republicanos e por alguns memoriais – por exemplo, lápides funerárias de pilotos alemães da Legião Condor. Num conflito onde cerca de um milhar de aeronaves de cada lado actuaram, muitos dos mais modernos da sua época, claro que merecia um hangar dedicado a este assunto, mas tal não será certamente viável no actual momento político em Espanha.
No pós-2.ª Guerra Mundial há a curiosidade de vários aviões alemães continuarem a voar em Espanha, alguns fabricados localmente com adaptações ou motores de outras origens, e os novos aviões de fabrico espanhol com …desenho alemão. Na realidade o célebre criador de alguns dos caças alemães mais famosos da guerra, o engenheiro Wilhelm Emil Messerschmitt, depois de dois anos de prisão no final do conflito, e porque a Alemanha não estava então autorizada a construir aviões, foi trabalhar para Espanha e esteve na origem dos caças Saeta.
Segue-se o período em que o Ejército del Aire começa a receber material de origem americana e assim podemos ver não só alguns dos nossos conhecidos T-6 (Espanha chegou a ter 201 destes aviões, alguns recebidos de França), T-33 e F-86 (chegaram a dispor de 270) mas também os F-4 Phanton, F-104 Starfighter, Lockheed P-3 Orion, ou o enorme Boeing KC-97L Stratotanker, só para citar alguns exemplos. Também de assinalar a existência dos franceses Mirage que tiveram grande importância na aeronáutica militar espanhola e aviões que chegaram ao museu por trocas ou ofertas e que nunca fizeram parte do Ejército del Aire como alguns Saab, Mig e Sukoi.
Por último uma referência às aeronaves fabricadas em Espanha, não só as de concepção própria, como já referimos os caças Saeta e Supersaeta mas também o Mirlo, o CASA 207 Azor e o CASA C-212 Aviocar, aviões de transporte a hélice, este último um enorme sucesso comercial em todo o mundo, além dos fabricados localmente sob licença como os CASA 352 (o Junkers 52 espanhol), os DO-27 ou os F-5 Freedom fighter.
A CASA (Construcciones Aeronáuticas S.A.) hoje faz parte do consórcio AIRBUS, continua a construir aviões em Sevilha, nomeadamente o C-295M que a Força Aérea Portuguesa opera e o A400M Atlas programa do qual Portugal se retirou. Curiosamente quando estivemos no Museu de Aeronáutica y Astronáutica, “caiu” a notícia que estavam à espera de uma novo avião, nada mais nada menos que um…A400M! Vai ser certamente uma das grandes atracções nos próximos tempos, um motivo para voltar.
É uma manhã bem passada para quem gosta de aviões, chegue cedo e não perca tempo, tem muito para ver!
Site oficial do Museu do Ar: MUSEO DE AERONÁUTICA Y ASTRONÁUTICA
Site oficial da Associação de Amigos do Museu: Asociación Amigos del Museo del Aire