CÃES DE GUERRA SALTAM EM TANCOS
Por Miguel Machado • 26 Jul , 2010 • Categoria: 03. REPORTAGEM PrintOntem como hoje o cão continua a ter emprego militar um pouco por todo o mundo. A experiência mais recente é no Afeganistão onde vários países os utilizam. O cão, pela mão do seu tratador, continua a cumprir uma enorme diversidade de missões. Algumas começam com um salto em pára-quedas.
Nota prévia: este artigo não pretende fazer a história dos cães nas Forças Armadas e nas Forças de Segurança em Portugal. Apenas assinalar alguns aspectos marcantes desse interessante e rico percurso e mostrar as fotografias que Alfredo Serrano Rosa fez na primeira missão de salto em pára-quedas a partir de um C-295M da Esquadra 502 “Elefantes” da Força Aérea Portuguesa, com a Secção de Cães de Guerra da Escola de Tropas Pára-quedistas.
Pioneiros
O chamado “Cão de Guerra”, foi introduzido nas Forças Armadas Portuguesas em finais dos anos 50, pelo Batalhão de Caçadores Pára-quedistas (BCP). Os primeiros animais “militares” foram trazidos da Alsácia (França), onde os então Capitão Pára-quedista Fausto Marques e Segundo-Sargento Pára-quedista Castro Gonçalves, frequentaram o curso de Tratadores de Cães de Guerra. Foi no “X Grupo Veterinário Autónomo do Exército Francês”, perto de Estrasburgo, no ano de 1958.
Nesse mesmo ano a Força Aérea, onde se integrava o BCP, divulgou por todas as suas unidades, “Normas Respeitantes ao Emprego de Cães Militares” e os pára-quedistas criaram em Tancos o Centro de Instrução de Cães de Guerra que em Abril de 1959 alojava os 10 primeiros canídeos. Foi ainda em França que os portugueses tomaram contacto com os materiais e técnicas que permitiam o lançamento em pára-quedas destes cães militares, facto que pela primeira vez teve lugar em Portugal em Fevereiro de 1960. Neste mesmo ano um pequeno destacamento de cães de guerra do BCP foi enviado para Angola para reforçar a segurança da Base Aérea n.º 9 (Luanda) e foram ainda utilizados em diversos patrulhamentos preventivos em diversas zonas da cidade.
A história dos cães ao serviço das Forças Armadas Portuguesas, assim iniciada, teve algum desenvolvimento e este meio foi mesmo empregue na guerra em África em números significativos. As opiniões dividem-se sobre o seu valor operacional em campanha. Há quem lhes atribua mais aspectos desfavoráveis do que vantagens e o seu contrário.
Nos três ramos das Forças Armadas
Terminada a guerra em África o emprego militar do cão foi algo reduzido em Portugal e as suas missões passaram a incidir muito na segurança de unidades, com destaque para a Força Aérea que os continua a utilizar intensamente e em grande número através da Polícia Aérea. Além do Centro de Treino Cinotécnico da Força Aérea, em Maceda, a FAP dispõe de muitas dezenas de equipas (homem-cão) para segurança nas suas instalações e algumas equipas de detecção de explosivos e de estupefacientes.
O Corpo de Fuzileiros da Marinha também desenvolveu esta capacidade e a Escola de Fuzileiros criou na década de 70 um Centro de Treino e Criação de Cães de Guerra, vocacionado para missões de guarda de instalações e segurança. Mais tarde transformada em Secção Cinotécnica orientou a sua atenção para a busca e detecção de estupefacientes e de engenhos explosivos improvisados.
O Exército também desenvolve a sua actividade neste campo. O Regimento de Lanceiros 2 dispõe de equipas cinotécnicas para emprego por exemplo no controlo de tumultos ou em missões de patrulhamento e segurança. Garantem ainda a protecção imediata directa de instalações e equipamentos e cumprem as missões de detecção de estupefacientes.
Forças de Segurança
Quer a GNR quer a PSP fazem utilização intensa de cães numa grande variedade de missões. O Grupo Operacional Cinotécnico da Unidade Especial de Polícia (em Belas) dispõe de cães com valências várias para utilização de acordo com as competências próprias desta força de segurança e que vão, entre outros, da detecção de explosivos ou armas até à manutenção de ordem pública. A GNR dispõe de um Grupo de Intervenção Cinotécnico (na nova Unidade de Intervenção), em Queluz e na Ajuda, cujos binómios homem/cão estão aptos a cumprir missões que vão da busca e salvamento, à detecção de cadáveres, passando pelas missões de segurança, manutenção de ordem pública ou detecção de explosivos e estupefacientes.
Tancos 2010
Em Tancos, se o então Corpo de Tropas Pára-quedistas da Força Aérea e a sua Brigada de Pára-quedistas Ligeira assegurou esta especialização e a desenvolveu a realidade é que no inicio dos anos 90 foi decidido extinguir gradualmente esta actividade que até se tinha expandido para S. Jacinto. Mas alguma formação e actividade se foi mantendo não só na área da segurança como mesmo na realização de saltos em pára-quedas para inserção das equipas cinófilas em terrenos de difícil acesso. Com a passagem ao Exército a situação não melhorou e só por volta do ano 2000 houve condições e vontade para voltar a colocar esta especialização no “activo”. Em boa hora!
Hoje em dia está a funcionar uma Secção de Cães de Guerra no Batalhão Operacional Aeroterreste e parecem reunidas condições para o seu desenvolvimento e aproveitamento em tarefas de carácter marcadamente operacional, de segurança ou acções humanitárias e de protecção civil.
A utilização dos cães de guerra é hoje prática comum nos exércitos mais modernos do mundo. A inserção das equipas cinófilas através de salto em pára-quedas de abertura manual ou automática é treinada quer nas Special Forces US quer nos SAS britânicos quer…em Portugal pelo Batalhão Operacional Aeroterrestre.
A história das Instituições é feita de pequenos episódios e aqui fica registado no “Operacional” mais um que encheu de orgulho quem nele participou. Os 5 binómios cinotécnicos da Secção de Cães de Guerra do Batalhão Operacional Aeroterrestre da Escola de Tropas Pára-quedistas foram os seguintes (por ordem de saída da aeronave):
1SAR/PQ/LIMA + INDIE (Pastora Alemã)
2FUR/PQ/AMORIM + UXO (Pastor Belga Malinois)
2CAB/PQ/PINTO + LUCKIE Pastora Alemã)
SOLD/PQ/PEDRO + CHÉ (Pastor Alemão)
SOLD/PQ/BISCAINHO + GARTH (Fila de S. Miguel)
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