BRIGADA DE REACÇÃO RÁPIDA COMEMORA 6.º ANIVERSÁRIO
Por Miguel Machado • 1 Out , 2011 • Categoria: 03. REPORTAGEM, EM DESTAQUE PrintA Brigada de Reacção Rápida do Exército é uma força com vocação expedicionária que nasceu da vontade do ramo em colocar as suas três unidades especiais debaixo de um mesmo comando. Criada com esta designação em 2005 foi no ano de 2008 que sofreu um reajustamento orgânico no sentido de, então sim, apresentar uma estrutura coerente com a designação “brigada” e o que a NATO e a União Europeia adoptam nas suas forças de maior prontidão, as «Immediate Response Forces».
No passado dia 29 de Setembro de 2011 assinalou-se o 6.º aniversário da Brigada de Reacção Rápida, na Escola de Tropas Pára-quedistas, em Tancos. Tratou-se de uma comemoração adaptada aos tempos que vivemos, no interior do quartel, logo com uma logística muito simplificada e onde 99% dos meios envolvidos eram…pessoal. Na sua alocução o comandante da BrigRR, Major-general Campos Serafino fez uma retrospectiva do trabalho da unidade no último ano – com destaque para os envolvimentos operacionais no estrangeiro, o treino e a formação de novos efectivos em Portugal – e perspectivou o que vão ser os difíceis tempos que se avizinham. Campos Serafino não tem dúvidas que a brigada será duramente atingida pelas restrições em curso e as que se avizinham, incentivando o seu pessoal a manter-se coeso e empenhado nas missões que serão chamados a cumprir, mesmo que com menos meios.
Já é um lugar-comum dizer que as crises geram oportunidades, mas a realidade é que a simplificação das cerimónias permitiram desta vez centrar a atenção não no que é habitual nesta força eminentemente operacional, vocacionada para as missões de maior risco e os teatros de operações mais difíceis, mas em algo que passa despercebido a muitos: a capacidade de lançar cargas em pára-quedas a partir de aeronaves em voo.
A BrigRR, através da Companhia de Abastecimento Aéreo do Batalhão Operacional Aeroterrestre da Escola de Tropas Pára-quedistas, é a única entidade em Portugal apta a preparar e lançar cargas em pára-quedas. Capacidade que nasceu naturalmente de necessidades militares, foi desenvolvida pelas Tropas Pára-quedistas na Força Aérea e mantêm-se hoje no Exército em estreita ligação com as Esquadras da Força Aérea que efectuam os lançamentos de carga aérea, as 501 “Bisontes” (C-130) e 502 “Elefantes” (C-295M) e também com as Esquadras 751 “Pumas” (EH-101) e 552 “Zangões” (AL III), no respeitante a cargas suspensas.
Esta actividade que tem sofrido um enorme desenvolvimento a nível internacional, especialmente no teatro de operações do Afeganistão onde é muito usada, tem também uma importante vertente “civil”. Para usar um termo em voga – outra vez a necessidade de rentabilizar meios – será uma valência de “duplo uso”, militar e civil. Quem lança um blindado também lança um contentor com todo o género de materiais ou alimentos em socorro de populações em perigo ou isoladas. Esta é claramente uma área onde a colaboração militar com as autoridades responsáveis pela protecção civil é um imperativo. É uma capacidade na qual a BrigRR tem pessoal habilitado e material de ponta (recentemente entrou ao serviço por exemplo o “Joint Precision Air Drop Sistem”, guiado por GPS, que permite a colocação de cargas no solo com uma precisão até agora pouco vulgar!), e a qual aqui no “Operacional” tentaremos desenvolver um destes dias.
Pára-quedistas, criados em 1955 na Força Aérea, Operações Especiais e Comandos criados no Exército em 1960 e 1962, respectivamente, são os antecessores das actuais Tropas Especiais do ramo terrestre. Com conceitos de emprego que variaram ao longos dos anos e vocações diferentes mas ainda assim com pontos de encontro, têm desde 2007, talvez como resultado de um amalgamento realizado apesar de tudo com algum cuidado, algum bom-senso, o seu âmbito de emprego definido com clareza, dizem-nos.
Cumprem missões no exterior com unidades constituídas (quase e sempre batalhões de efectivos reduzidos(*) ou companhias), ou pequenos destacamentos e equipas, ou ainda empenhando quadros em missões de assessoria técnico-militar nos PALOP, de “mentoria” no Afeganistão – um coronel Pára-quedista vai ser o próximo comandante das Forças Nacionais Destacadas e uma Companhia de Comandos vai fornecer a “force protection” no mesmo teatro de operações – mas também estão especialmente adaptados para missões no âmbito da protecção civil de modo autónomo ou em cooperação com outros ramos. O treino conjunto com unidades da Força Aérea e da Marinha, ou a execução de operações reais no exterior do território nacional com estes ramos, são uma das características de muitas das componentes da BrigRR.
Sendo a sua face mais visível as tropas especiais não são a única componente da BrigRR como é sabido. Militares de diversas armas e serviços, provenientes de unidades regimentais, umas sob comando da BrigRR outras não, servem na brigada. Em exercícios e em missões exteriores. São uma parte integrante desta unidade que lhe dão parte importante do apoio de combate e do apoio de serviços, são no fundo o que lhe confere a tal coerência como brigada.
O comandante da BrigRR tem na sua dependência unidades da estrutura fixa do Exército, a saber, os Regimentos de Infantaria n.ºs 3 (Beja), 10 (S.Jacinto) e 15 (Tomar), a Escola de Tropas Pára-quedistas (Tancos), o Centro de Tropas de Operações Especiais (Lamego), o Centro de Tropas Comando (Serra da Carregueira), o Regimento de Artilharia n.º 4 (Leiria) e a Unidade de Aviação Ligeira do Exército (Aeródromo Militar de Tancos). No entanto algumas das sub-unidades operacionais da BrigRR (ver organograma) estão aquarteladas em unidades sob outros comandos: Regimento de Cavalaria n.º 3 (Estremoz) onde se encontra o Esquadrão de Reconhecimento; Escola Prática de Engenharia (Tancos), onde se encontra a Companhia de Engenharia; Regimento de Artilharia Anti-Aérea N.º 1 (Queluz), onde se encontra a Bateria de Artilharia Anti-Aérea.
O Grupo de Helicópteros do Exército, aquartelado na UALE/ Aeródromo Militar de Tancos desde 2000, aguarda a chegada de meios aéreos.
A Brigada de Reacção Rápida segue o seu caminho, a coesão interna parece adquirida. As dificuldades, comuns aliás a grande parte do Exército como a falta de efectivos em regime de contrato ou orçamentos muito reduzidos para determinados investimentos, estão para ficar. A Brigada de Reacção Rápida existe porque o Sistema de Forças Nacional aprovado pelos representantes legítimos do povo português o determina.
Portugal necessita de ter forças prontas para o tipo de missões que esta grande unidade no seu conjunto ou os seus elementos por si só podem cumprir. E se as primeiras são pouco prováveis as últimas estão sempre a acontecer. Em ambos os casos, uma futura alteração do quadro legal de intervenção das Forças Armadas em missões de segurança interna potenciará a maior rentabilização de muitas das capacidades actuais desta brigada de elite do Exército Português.
Aqui ficam as imagens captadas pelo Alfredo Serrano Rosa em Tancos na Escola de Tropas Pára-quedistas a 29 de Setembro de 2011.
(*) Os efectivos orgânicos de um batalhão aproximam-se dos 600 militares. Nas últimas missões exteriores (tipo Kosovo) este número era reduzido para 300 (em 2011 os batalhões portugueses neste TO têm apenas cerca de 160).
Leia aqui o “DISCURSO DO MAJOR-GENERAL CAMPOS SERAFINO NO DIA DA BRIGADA DE REACÇÃO RÁPIDA”
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