BÓSNIA 96 NA IMPRENSA ESCRITA, O “LE JOURNAL DE L’IFOR / IFOR INFORMER”
Por Miguel Machado • 10 Fev , 2016 • Categoria: 09. ONTEM FOI NOTÍCIA - HOJE É HISTÓRIA, 11. IMPRENSA PrintOs militares portugueses que participaram na missão IFOR, e depois na SFOR, foram por algumas vezes objecto de notícias/artigos no órgão de informação interna da força multinacional. Com grande difusão pelos diversos contingentes em operações na Bósnia e por vezes mesmo nos seus países de origem – sobretudo no meio militar –, constituía o principal suporte informativo à disposição do comando da força multinacional, uma “ferramenta” importante para fomentar o conhecimento mútuo de militares de tão diferentes origens e o desenrolar da operação.
Recorda-se que em 1996 a internet não estava disseminada – poucos teriam conhecimento da sua existência sequer – era ainda o tempo do telefone fixo e do fax, do jornal em papel e da rádio e televisão. A IFOR mal chegou à Bósnia e Herzegovina em finais de 1995 tratou de criar as condições para passar a distribuir tão breve quanto possível, entre os seus cerca de 60.000 efectivos, um jornal – duas edições, simultâneas, uma em francês e outra em inglês – dedicado sobretudo à informação interna da força, aos militares, para os “informar e divertir”!
O Almirante US Navy, Leight Smith Jr. comandante da IFOR, referia no editorial do n.º 1 (14FEV1996), que os desafios que se colocavam à força para fazer aplicar os Acordos de paz eram enormes – enumerava-os – e só com trabalho de equipa isso seria possível. Assim o jornal devia completar a cadeia de comando para criar esse conhecimento mútuo e compreensão do que estava em curso na Bósnia. Era naturalmente um órgão institucional mas escrito “tipo jornal”, fugindo à terminologia militar técnica e abordando assuntos relativos aos diversos contingentes, ao que se passava no país e ainda com secções como desporto e curiosidades.
Eram publicados dois números por mês, e nos primeiros 6 meses de missão – o objecto deste artigo de hoje – foram publicados 13 números. Portugal ou os portugueses foram referidos na maioria deles como aqui se comprova, primeiro de modo modesto e depois com o avançar do tempo de modo mais expressivo, o que aconteceu não por obra do acaso mas pelo trabalho de divulgação do contingente nacional.
Não sendo pequena a força portuguesa a realidade é que estando no “escalão batalhão” tinha que “lutar contra” os países do “escalão brigada” e do “escalão divisão” para “aparecer”. A força dispunha de 30 batalhões – além de outras unidades de apoio ou especializadas – enquadrados em 10 brigadas e 3 divisões, o que dá uma ideia do patamar em que nos encontrávamos, a que se juntou o facto de não haver oficiais generais portugueses na cadeia de comando, actuando os de maior graduação apenas no escalão brigada. Esta terá sido aliás uma das lições aprendidas nesta missão em 1996, a necessidade de negociar determinados cargos na estrutura de comando de uma força em que se participe, importantes senão decisivos para que muitas decisões tomadas tenham em linha de conta os nossos interesses. E não me estou naturalmente a referir apenas a questões como a informação interna, outros sim mais importantes. Mas isto é outro tema!
O LE JOURNAL DE L’IFOR / IFOR INFORMER começou por funcionar a partir de Nápoles, onde mantinha uma pequena redacção, 3 pessoas, e uma equipa em Sarajevo, também 3 pessoas, que garantiam as reportagens no terreno. Os contingentes nacionais eram encorajados a participar na elaboração do jornal com envio de artigos/fotografias, o que acontecia pontualmente. A tipografia que imprimia a jornal era em Nápoles. Com o desenvolvimento da operação, mantendo-se parte da redacção em Nápoles a equipa de Sarajevo foi reforçada e em Agosto, quando termina este artigo, já ali trabalhavam 6 militares (oficiais, sargentos e praças) que garantiam a grande maioria dos textos e fotografias que eram impressos.
O director do jornal era o comandante da operação e o chefe de redacção o seu oficial de informação pública (Capitão de Mar-e-Guerra US Navy, Mark Van Dyke). Em 31JUL96 o comando da IFOR foi assumido pelo Almirante US Navy T. Joseph Lopez. Os militares em serviço no jornal, em Sarajevo, provinham de diversas nacionalidades, a maioria americanos, mas também ali serviram, neste período, por exemplo espanhóis e franceses. Os americanos, todos os que contactamos, ao contrário de outras nacionalidades, já desempenhavam anteriormente funções semelhantes na imprensa militar do seu país.
O jornal manteve-se durante toda a missão IFOR e depois continuou, embora com algumas alterações, na missão SFOR. Que se saiba, pelo menos a Biblioteca do Exército em Lisboa dispõe de uma colecção completa deste jornal.
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