BÓSNIA 96 NA IMPRENSA ESCRITA, MORTOS PORTUGUESES EM SARAJEVO
Por Miguel Machado • 21 Jan , 2016 • Categoria: 11. IMPRENSA PrintEm 24 de Janeiro de 1996, com parte importante da força ainda em Portugal, a morte em Sarajevo de dois militares portugueses e um italiano, com vários feridos graves um dos quais português, teve um brutal impacto na opinião pública. No terreno o choque emocional foi enorme, mas o desenrolar da missão em nada afectado. Nem no calendário de entrada no teatro de operações da totalidade do contingente, nem nas tarefas de instalação em curso. Nas datas previstas o 2.º Batalhão de Infantaria Aerotransportado iniciaria as missões operacionais.
Horas de profunda angústia para milhares de portugueses, com os familiares dos militares já destacados na Bósnia ou os que se preparavam para partir em destaque, marcaram essa noite de 24 de Janeiro. Televisões e rádios abriam os serviços informativos com noticias ainda sem detalhes mas com “vários mortos e feridos” a considerar. O despacho impreciso de uma agência noticiosa internacional a partir de Sarajevo tinha dado a informação em primeira mão, e dada sua natureza, o resultado só podia ser o que foi. O pequeno destacamento português que estava em Sarajevo só tinha um telefone satélite – uma única linha – que estava permanentemente ocupado por toda a espécie de comunicações relacionadas com o acidente, havia poucos jornalistas portugueses no local, as informações sobre o acidente que vitimou os Primeiros-Cabos Pára-quedistas Alcino José Lázaro Mouta e Rui Manuel Reis Tavares e feriu com gravidade o Primeiro-Cabo Aquilino Branco Oliveira, foram mal geridas por italianos e portugueses, com alguma descoordenação. As regras para a gestão da informação pública entre os contingentes dos dois países – ambos ainda em fase de instalação – não tinham ainda sido estabelecidas. Também neste caso, os militares portugueses estavam – e iriam continuar por mais umas boas semanas – a aprender a trabalhar num ambiente de pressão mediática diferente de tudo aquilo a que alguma vez na sua história tinham sido sujeitos.
As notícias na imprensa escrita, âmbito desta série de artigos, foram páginas e páginas em todos os jornais fossem eles “de referência” ou “populares”. Entre 25 e 30 de Janeiro, primeiro as noticias sobre o que se passou em Sarajevo, depois as homenagens à chegada e os enterros com histórias familiares dramáticas, tudo isto “entremeado” com notícias sobre o ferido, reacções oficiais, grande destaque para o ambiente em Lisboa na partida dos militares que seguiam para a Bósnia, artigos a colocar em questão a missão, a competência dos militares portugueses e as relações com os italianos, mas também outros a dizer que na Bósnia a vida continuava sem sobressaltos, de tudo um pouco foi publicado.
A resenha que agora voltamos a recordar é apenas uma pequena parte, julgada mais significativa, do então publicado, mas julga-se que dá bem a imagem do ambiente que então se viveu e perante o qual umas centenas de militares partiram para a Bósnia, mais determinados do que nunca a cumprir aquilo para que se tinham voluntariado. O “factor humano” que foi possível garantir antes, para as Forças Armadas cumprirem a decisão política de intervir com uma força de combate nos Balcãs, manteve-se firme e seguiu em frente. Foi uma dura e desnecessária lição (*), mas a realidade é que serviu de alerta para um dos perigos a que os militares estavam expostos num país devastado pela guerra, servindo de alerta a todos os contingentes no terreno.
(*) Durante os 12 meses da missão IFOR/NATO os países participantes sofreram 52 baixas mortais, a generalidade em acidentes, 4 das quais portuguesas.
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