AVALIAÇÃO DA PRONTIDÃO PARA O COMBATE DO 1.º BIPARA
Por Miguel Machado • 30 Jul , 2014 • Categoria: 03. REPORTAGEM, EM DESTAQUE PrintDentro de poucas semanas novo batalhão português inicia uma missão de 6 meses no Kosovo. Parte o 1.º Batalhão de Infantaria Pára-quedista, regressa o 1.º Batalhão de Infantaria Mecanizado, num “render da guarda” que se repete desde 2005 (*) significando o empenho de Portugal na estabilidade naquela região da Europa. Culminando a preparação para a missão a unidade expedicionária foi avaliada, tendo o Operacional estado presente no exercício PRISTINA 142 pela objectiva de Alfredo Serrano Rosa. Aqui fica a reportagem fotográfica e uma explicação sucinta do que é afinal a avaliação da prontidão para o combate de uma unidade.
CREVAL
A avaliação da prontidão para o combate (Combat Readiness Evaluation – CREVAL) deste tipo de unidades tendo em vista a missão a desempenhar, a qual está perfeitamente definida – o 1.º BIPara vai ser o batalhão de manobra da reserva tática do Comandante da Kosovo Force: Kosovo Tactical Reserve Maneuver Battalion, conhecido localmente pela sigla, KTM – decorre regra geral três fases: a primeira destinada ao grupo de oficiais inspectores da Inspecção Geral do Exército, e na qual o comandante do batalhão apresenta a situação que o batalhão vai encontrar no Kosovo, quer do ponto de vista da organização multinacional onde se vai inserir, quer da realidade das operações em curso neste momento quer ainda os aspectos relativos às informações, à logísticas e a aspectos administrativos. Recorda-se aqui que além do contacto permanente que quer o Estado-Maior General das Forças Armadas quer o Estado-Maior do Exército mantém com as forças que estão no exterior do território nacional – designadas Forças Nacionais Destacadas – fluindo naturalmente todas as informações pertinentes à preparação da força que vai ser empenhada, o comandante do batalhão e alguns dos seus quadros, fazem sempre algum tempo antes, uma deslocação ao teatro de operações para estabelecer contacto com o batalhão em operações e assim melhor preparar o seu próprio empenhamento.
Numa segunda fase, são os avaliadores que dizem ao que vêem, ou seja, em que moldes vai decorrer a avaliação ao batalhão. É também aqui que toda a documentação inerente ao aprontamento, planos da força, bem como a atuação da força no cumprimento de missões e tarefas no terreno, são verificadas.
A terceira fase da CREVAL consiste numa reunião final onde se faz uma conclusão da avaliação realizada. Os avaliadores dizem o que viram seja na parte administrativa e logística seja da conduta das diferentes ações tácticas a que assistiram.
A realização deste processo de avaliação constitui-se como elemento fundamental para a validação da força, e permite regra geral uma proveitosa troca de impressões e de lições identificadas entre os avaliadores e os militares que vão ser empenhados numa acção real.
Pristina 142
Decorreu de 21 a 25 de Julho de 2014, na região de Tomar/Tancos e localidades envolventes, o exercício final de aprontamento do 1ºBatalhão de Infantaria Para-quedista, da Brigada de Reação Rápida, designado PRISTINA 142 (**). Este exercício antecede a projeção do batalhão para o Teatro de Operações (TO) do Kosovo, a ocorrer no último trimestre de 2014.
No decorrer do exercício PRISTINA 142 foi incluída uma CREVAL que decorreu nos dias 23 e 24 de Julho com o objetivo de certificar o 1BIPara como Força Nacional Destacada antes da sua projeção.
Em termos formais o processo de aprontamento para o Kosovo só se iniciou em 23 de Maio de 2014, com a difusão da Diretiva de aprontamento do Comando das Forças Terrestres.
O exercício realizou-se no Regimento de Infantaria nº15 (RI15), sendo adotado um cenário baseado na situação atual do TO do Kosovo, com a finalidade de proporcionar ao 1BIPara condições semelhantes, com vista ao seu emprego como KTM. O quartel do RI15 proporcionou as condições do Campo Slim Lines (***) a partir do qual o 1BIPara foi projetado para o cumprimento das mais diversas tarefas e missões, nas quais foram validadas as Técnicas, Táticas e Procedimentos (TTP) em uso no TO. Das missões mais preponderantes desenvolvidas no PRISTINA 142, destacam-se as missões de controlo de tumultos (CRC – Crowd Riot Control), missões de proteção a altas entidades e missões de segurança e proteção a infraestruturas críticas.
1.º BIPara:2012/2014
O exercício PRISTINA 142 marcou para o 1ºBIPara o fim de um período de treino operacional intenso e extenso, como aliás temos tido oportunidade de documentar aqui no Operacional em vários artigos. Sob o comando do Tenente-Coronel de Infantaria Para-quedista José Manuel Tavares das Neves, que assumiu o comando do batalhão em Outubro de 2012, ocorreu em Novembro de 2012 uma Avaliação da Prontidão para o Combate que certificou o 1BIPara para ficar em stand-by como Land Combat Component da Força de Reação Imediata (LCC/FRI) durante o ano de 2013, missão que exigiu permanente e elevada prontidão e constante manutenção das capacidades operacionais.
No último trimestre de 2013 o 1ºBIPara recebeu a missão de aprontar uma companhia de CRC no âmbito da capacidade de CRC residente nas Brigadas, missão que veio beneficiar o aprontamento para o TO do Kosovo pela disponibilidade de meios materiais e humanos já existentes na unidade para o cumprimento destas missões. Além destas atribuições operacionais, o 1ºBIPara participou nos exercícios da série REAL THAW, APOLO, ZEUS, e HOT BLADE.
24 de Julho 2014
As fotografias que ilustram este artigo foram todas captadas em 24 de Julho último no momento em que o batalhão realizou uma “síntese” das Técnicas, Táticas e Procedimentos desenvolvidas, mostrado num Live Field Exercise (LFX) uma operação de controlo de tumultos, tendo sido empregue uma companhia de manobra em CRC, o Forward Comand Post (FCP), o Módulo Sanitário, o Módulo de Manutenção e o Módulo de Apoio (Destacamento de Operações Especiais). O emprego de apenas uma unidade de escalão companhia de manobra acontece pelo facto de a KTM no TO do Kosovo possuir mais uma companhia de manobra, mas esta de nacionalidade Húngara.
Desejamos ao 1.º Batalhão de Infantaria Pára-quedista uma excelente missão, tendo a certeza que será, agora no Kosovo, como outras unidades nacionais noutros pontos do globo como no Afeganistão ou na Somália, um importante vector de afirmação nacional no quadro da política de alianças internacionais de que Portugal é signatário e que de uma forma continuada contribuem para o clima de estabilidade no mundo.
(*) Desde 2005 ininterruptamente, uma vez que a participação portuguesa na operação da NATO no Kosovo se iniciou em 1999, mas foi interrompida logo em 2000, permanecendo no terreno efectivos muito reduzidos ou nulos até 2005.
(**) Pristina porque é a capital do Kosovo e é nos seus arredores que a unidade portuguesa está aquartelada; 142 – 14 porque estamos em 2014 e 2 porque é o segundo exercício desta série este ano. O Pristina 141 foi realizado pela unidade que agora está no Kosovo, o 1.º BIMec e teve lugar em Fevereiro.
(***) O quartel português é habitualmente identificado como “Slim Lines”. Trata-se de um aquartelamento originalmente do Exército Britânico (edifícios pré-fabricados e contentores) que lhe deu este nome em homenagem a Sir William Joseph Slim (1891-1970), Marechal de Campo, com uma impressionante carreira militar (e de escritor) no decurso da qual combateu na 1.ª e 2.ª guerras mundiais e foi mais tarde governador-geral da Austrália.
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