AS FORÇAS ARMADAS CABO – VERDIANAS
Por Miguel Machado • 18 Jul , 2010 • Categoria: 03. REPORTAGEM Print
Cabo Verde é um parceiro activo na componente militar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, ao mesmo tempo que mantém laços militares com outros países fora deste contexto lusófono. Com a ajuda de militares cabo-verdianos e portugueses ali em serviço, o Operacional mostra a realidade militar actual deste país amigo que a geografia colocou numa posição estratégica no Atlântico.
O arquipélago de Cabo Verde é constituído por dez ilhas e um conjunto de ilhéus com 4.033 km2 de superfície, espalhadas por uma área oceânica com cerca de 87 milhas de raio, 4.200 km de costa e uma área marítima de responsabilidade nacional de 734.265 Km2, que inclui o mar interior, as águas arquipelágicas, a zona contígua e a Zona Económica Exclusiva.
Situado a 455 km da costa noroeste africana, o arquipélago de Cabo Verde encontra-se no cruzamento de algumas das principais rotas de navegação aérea e marítima do mundo.
Generalidades
A Lei nº 89/VI/2006 de 9 de Janeiro estabelece o Regime Geral das Forças Armadas. Baseia-se no serviço militar obrigatório e é composto por cerca de mil e quinhentos militares.
A organização das Forças Armadas Cabo-verdianas (FACV) encontra-se definida no Decreto-Lei nº 30/2007 de 20 de Agosto e compreende os órgãos militares de comando, a Guarda Nacional (GN) e a Guarda Costeira (GC).
Os órgãos militares de comando apoiam o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, que possui o posto de coronel, são constituídos pelo Estado-Maior, pelo Comando de Pessoal e pelo Comando de Logística.
Serviço Militar
Uma praça do Serviço Efectivo Normal (SEN) cumpre catorze meses de serviço militar desde a sua apresentação nas fileiras até à data do espólio.
A formação militar é feita através de duas incorporações anuais com cerca de quatrocentos militares cada. Estes militares são formandos no Centro de Instrução Militar do Morro Branco, na Ilha de São Vicente, com a Instrução Militar Básica que tem a duração de cinco semanas.
Após cumprida esta etapa, inicia-se a formação em diferentes especialidades durante seis semanas, nomeadamente Policia Militar, Infantaria, Artilharia, e Transmissões. A especialidade de Fuzileiros por ter componentes mais específicas tem a duração de dez semanas.
Para os militares mais aptos existe ainda o Curso de Formação de Cabos. Tem a duração de três semanas.
Após terminada a sua formação, o militar vai cumprir mais um ano nas fileiras integrado numa unidade operacional.
Existem igualmente militares em Regime de Contrato (RC). Após terminarem o SEN e havendo interesse para as FACV, as praças e os graduados podem ingressar no RC. O primeiro contrato é de dois anos, sendo depois anual, até ao limite de idade de trinta anos. Um oficial pode atingir o posto de 1º Tenente e um sargento o posto de 1º Sargento.
Um militar do Quadro Permanente passa à reserva quando atinja o limite de idade, que varia consoante o posto, ou quando tenha cumprido 15 ou mais anos de serviço militar, a requeira e lhe seja deferido.
Guarda Nacional
A GN constitui a principal componente das Forças Armadas destinada à defesa militar do país, através da realização de operações terrestres e anfíbias, bem como ao apoio à segurança interna, de acordo com as suas missões específicas.
A sua estrutura compreende os corpos da Policia Militar (boina vermelha), Fuzileiros Navais (boina azul ferrete) e Artilharia (boina castanha de uso comum), para além das Unidades de Apoio, inseridas por três Regiões Militares (RM).
A primeira RM encontra-se sediada na cidade do Mindelo, Ilha de S. Vicente e tem na sua dependência funcional o Centro de Instrução Militar do Morro Branco. Tem jurisdição nas Ilhas de Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia e São Nicolau e os Ilhéus Branco e Raso.
A segunda RM encontra-se sediada na Vila de Espargos, Ilha do Sal, tendo jurisdição nas Ilhas do Sal e da Boavista.
A terceira RM encontra-se sediada na cidade da Praia, Ilha de Santiago, tendo jurisdição nas Ilhas do Maio, Santiago, Fogo e Brava e os Ilhéus Secos.
São missões da GN:
• Assegurar a defesa militar do país;
• Executar, no seu âmbito, a declaração do estado de sítio ou de emergência;
• Prevenir o combate ao terrorismo e garantir a segurança dos órgãos de soberania e de outros objectivos estratégicos;
• Colaborar com as autoridades competentes e sob a responsabilidade destas, na segurança de pessoas e bens e na prevenção e combate ao tráfico de estupefacientes, armas e pessoas e a outras formas de criminalidade organizada;
• Participar no sistema nacional de protecção civil;
• Cumprir missões no âmbito dos compromissos internacionais assumidos;
• Colaborar em tarefas relacionadas com a protecção do meio ambiente, a satisfação de necessidades básicas e a melhoria das condições de vida das populações;
• Desempenhar outras missões de interesse público que especificamente que forem consignadas.
Para cumprir a sua missão, a GN utiliza armamento do Bloco de Leste, nomeadamente espingarda automática AK-47, pistola Makarov, Morteiro 120mm e míssil STRELA 2M.
Guarda Costeira
A GC é a componente das Forças Armadas destinada à defesa e protecção dos interesses económicos do país no mar sob jurisdição nacional e ao apoio aéreo e naval às operações terrestres e anfíbias, de acordo com as suas missões específicas.
A sua estrutura compreende as forças e os meios navais, aéreos e em terra. Utiliza a boina preta.
Na primeira RM encontra-se a Esquadrilha Naval que Comanda os meios navais da GC – o Patrulha Vigilante, de origem alemã (a finalizar período de manutenção), a Lancha Tainha, de origem chinesa (a patrulhar Ilhas de Sotavento, em especial a garantir os requisitos de segurança do Porto do Mindelo), Lancha Espadarte, de origem americana (a patrulhar Ilhas de Barlavento), e Iate Sea Ray Boat, de origem americana (em preparação para patrulhar área marítima do Sal)
Na terceira RM encontra-se o Comando da Guarda Costeira, o Centro de Operações para a Segurança Marítima (COSMAR), a Esquadrilha Aérea com o meio aéreo Dornier 228, de origem alemã, e a Lancha Espadarte responsável pela patrulha das Ilhas de Barlavento, em especial pela manutenção dos requisitos de segurança do Porto da Praia. A estes meios juntam-se o Pelotão de Abordagem da Companhia de Fuzileiros que embora pertencente à GN encontra-se sob o “Comando” da GC integrando os elementos que fazem a segurança das equipas de fiscalização no Mar.
A GC aguarda a entrada ao efectivo de novos meios durante os próximos dois anos: um salva vidas de origem americana (em 2010), dois Helicópteros para SAR de origem chinesa e um Patrulha Oceânico com 56 mts em construção na Holanda (em 2012).
São missões da GC:
• Assegurar a defesa militar do país e o apoio aéreo e naval ao cumprimento das demais missões das Forças Armadas;
• Executar, no seu âmbito, a declaração do estado de sítio ou de emergência;
• Patrulhar o espaço aéreo e marítimo sob jurisdição nacional, incluindo a zona económica exclusiva, podendo empreender a perseguição, a abordagem e o apresamento de navios e embarcações em actividades ilícitas, designadamente fraudes e infracções fiscais aduaneiras, pesca ilegal e poluição marítima;
• Colaborar com as autoridades competentes e sob a responsabilidade destas, no combate à imigração clandestina, bem como na prevenção e repressão do tráfego de estupefacientes, armas e pessoas e de outras formas de criminalidade organizada;
• Garantir a salvaguarda da vida humana no mar e coordenar e executar as operações de busca e salvamento, sem prejuízo das competências atribuídas a outras instituições;
• Exercer as demais funções de autoridade marítima atribuídas por lei;
• Participar no sistema nacional de protecção civil;
• Cumprir missões de fiscalização, controlo e repressão de actividades ilícitas no mar, no âmbito dos compromissos internacionais assumidos;
• Colaborar em tarefas relacionadas com a protecção do meio ambiente, a satisfação de necessidades básicas e a melhoria das condições de vida das populações;
• Desempenhar outras missões de interesse público que especificamente que forem consignadas.
Cooperações
A política externa continua a ser um dos mais importantes vectores da segurança e da defesa de Cabo Verde, alicerçada cada vez mais no respeito pelo Direito Internacional e na defesa do sistema das relações internacionais, da cooperação entre os povos e na prevenção empenhada dos conflitos. Para este fim Cabo Verde integra a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a Organização das Nações Unidas (ONU).
Em termos militares Cabo Verde participa:
• No Exercício de nome FELINO. O Exercício FELINO insere-se na série de Exercícios Militares Conjuntos e Combinados, desenvolvidos no âmbito da cooperação técnico – militar com a CPLP, têm a finalidade de permitir a interoperabilidade das Forças Armadas dos Estados Membros da CPLP e o treino para o emprego das mesmas em operações de paz e de assistência humanitária, sob a égide da ONU, respeitadas as legislações nacionais;
• Em Exercícios Militares Conjuntos e Combinados com meios navais portugueses, franceses e americanos;
• Em Exercícios de Busca e Salvamento com a Espanha;
• Em Exercícios da CEDEAO;
• No Exercício AFRICA ENDEAVOR, liderado pelos Estados Unidos.
É de realçar a realização em Junho de 2006 do Exercício da Força de Reacção Rápida da NATO (NRF), denominado Steadfast Jaguar 2006, que decorreu nas ilhas de São Vicente, Santo Antão, Sal e Fogo.
Actualmente Cabo Verde tem cooperação militar, no âmbito da formação de militares e material bélico com os seguintes países: Alemanha, Angola, Brasil, China, Cuba, Estados Unidos da América, Espanha, França, Portugal e Senegal.
Nota final: Este artigo não podia ter sido feito sem o apoio do Major de Cavalaria do Exército Português Luís Relvas Marino que se encontra em Cabo Verde como Assessor Técnico do Projecto 3 (Polícia Militar), ao qual o Operacional agradece mas não compromete com as nossas afirmações aqui expressas.
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