A QUEM SERVE ESTA ESCARAMUÇA?
Por Miguel Machado • 16 Fev , 2012 • Categoria: 02. OPINIÃO, EM DESTAQUE PrintE porquê? Muitos que nada têm a ver com as AM sentiram-se claramente incomodados. As palavras de Aguiar Branco, político que já foi candidato a Presidente do PSD, logo a Primeiro-Ministro, e desde então dispõe de assessoria de imprensa profissional, “não-militar” portanto, podem ter (pelo menos) duas leituras: ou se tratou de provocação deliberada (foi um discurso escrito, pensado), para iniciar uma batalha com as AM que permita perante a opinião pública aparecer como o ministro que “mete os militares na ordem”, hipótese na qual não acredito; ou tem uma noção incorrecta do que são os militares.
Aguiar Branco parece comungar daquilo que ainda é muito o senso comum em Portugal, de que as Forças Armadas são um corpo onde reina uma rígida hierarquia e disciplina, nas quais se cumprem ordens sem abrir a boca e sem pensar. Já não é assim – aconselha-se vivamente a leitura do livro “Civilinização das Forças Armadas nas Sociedades Demoliberais” de Nuno Mira Vaz.
Há realmente disciplina, cumprem-se ordens e poucas organizações terão regulamentação semelhante. Do soldado ao general todos têm obrigações e alguns direitos. Claro que não reina grande igualdade. Nem nas divisas e galões que os identificam, nem no vencimento, nem em quem faz a continência primeiro – mas o superior tem que corresponder. Curiosamente as regras dão-lhes um sentido de unidade, que muitas vezes, mesmo sendo tão diferentes, os une perante o exterior. O “espírito de corpo” funcionou numa altura em que todos estão com dificuldades semelhantes.
O pior é que estas escaramuças mediáticas vêm afectar a razão de ser da máquina militar: ter forças motivadas, treinadas e equipadas para combater, sempre que o governo o decida.
E isto é que é importante!
O ministro podia conhecer melhor os militares. E para isso permito-me sugerir uma abordagem semelhante à que gostam de ter os generais ingleses – e um ou outro português. Tudo é importante, mas não se ficam pelos auditórios dos Institutos, nem pelos briefings nos postos de comando em campanha. Sem protocolo, falam ao soldado e perguntam-lhe pela qualidade do armamento, pela comodidade das botas; dirigem-se ao sargento e perguntam se a mulher está empregada e se os filhos têm bons resultados escolares, mas também do funcionamento dos rádios, da qualidade das viaturas, e por aí adiante com os oficias subalternos. E têm invariavelmente o ajudante-de-campo por perto a tomar notas para disporem de mais um ângulo dos problemas, sem intermediários.
Esta sensibilidade “do terreno” pode-se adaptar para lidar com as AM e, cara-a-cara, não através dos jornais e televisões – por muito que isso custe aos profissionais do meio – dizer-lhes o que pensa, ouvir os que elas pensam. Sem hierarquia.
Miguel Machado é
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