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A GUERRA NOS BALCÃS

Por • 20 Nov , 2016 • Categoria: 01. NOTÍCIAS Print Print

Vai ser lançado no próximo dia 24 de Novembro, em Lisboa, o livro «A GUERRA NOS BALCÃS, Jihadismo, Geopolítica e Desinformação,  Vivências de um Oficial do Exército Português ao Serviço da ONU» da autoria do Major-General Carlos Branco.

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Trata-se como o título aliás sugere de um trabalho que tem muito da experiência pessoal do autor quando serviu naquela conturbada região da Europa, integrado na missão das Nações Unidas. Através daquilo que foi a sua participação como observador militar na ex-Jugoslávia, desde meados de 1994 a inicio de 1996, Carlos Branco, apresenta-nos quase um “diário”, onde podemos ler quer os aspectos mais detalhados e pessoais da vida de um militar naquelas circunstâncias, quer a envolvente da grande politica regional e internacional com influência no conflito, quer ainda, alguns aspectos da pequena politica nacional (sim, mesmo no mau sentido) e até das “tricas corporativas” que não raramente acompanham estas missões exteriores, as quais, então como agora, raramente chegam ao conhecimento do grande público. Como se pode ver pelo índice que abaixo se publica, o livro aborda também um aspecto raramente analisado naquele conflito, a influência Jihadista na Bósnia e Herzegovina e, entre outros aspectos, aquilo que o autor considera o inicio da “comunicação estratégica” – e a influência na percepção que temos do conflito – que mais viu a funcionar como doutrina no Afeganistão onde também serviu.

O livro tem também a clara intenção de homenagear os seus pares, os militares portugueses que serviram como “boinas azuis” e que no entender do autor nunca tiveram em Portugal, nem a visibilidade nem o reconhecimento que lhes era devido, tendo em conta não só as condições em que serviram – no meio de uma guerra – mas também o valor acrescentando que trouxeram à politica externa portuguesa naqueles tempos. E justifica com exemplos quer do meio militar quer politico-diplomático esta sua opinião.

Diz o autor «…A publicação deste livro representa um parto que se prolongou por cerca de 20 anos. As primeiras notas foram registadas no decurso da missão, ainda no Teatro de Operações, que se foram metamorfoseando na forma de livro consoante o permitiam as disponibilidades profissionais. O texto final incorporou muitas das sugestões e críticas que me foram sendo feitas por especialistas em diferentes áreas, com quem partilhei as diferentes versões do documento a fim de recolher os seus comentários e observações… …Este livro enquadra-se, embora tardiamente, nas celebrações dos 20 anos da assinatura do acordo de Dayton, que terminou com a violência na Bósnia, e do acordo de Erdut, que permitiu a transição pacífica dos territórios da Eslavónia Oriental, igualmente conhecidos como Krajina Leste, para a soberania da República da Croácia… …A minha participação na missão da ONU nos territórios da antiga Jugoslávia como Observador Militar (UNMO) representou o início de um percurso internacional de quase 10 anos – não consecutivos – por várias organizações internacionais, na maior parte dos casos em cargos ocupados através de concursos internacionais, com passagens por Mostar, Zagreb, Florença, Nova Iorque, Cabul, Bruxelas, Moscovo, Kiev, Tbilisi e muitas outras capitais da Europa de leste, Cáucaso e Ásia Central; representou também uma abertura de espírito a outras culturas que me eram estranhas; foi uma janela para o mundo que me permitiu vê-lo de outro modo, com mais cores, com outro olhar.

A experiência na antiga Jugoslávia despertou-me intelectualmente para as questões das operações de paz e da resolução de conflitos. Se não tivesse tido a oportunidade de observar este conflito em primeira mão, teria seguramente formado uma opinião sobre o comportamento dos seus atores, tanto internos como externos, muito diferente daquela que formei, provavelmente até diametralmente oposta. Foi uma oportunidade para me aperceber das subtilezas da verdade. Verifiquei que muito daquilo que eu julgava saber estava errado, ou pior, eram meias verdades.

O conflito étnico que resultou da dissolução precipitada da República Federal Socialista da Jugoslávia alertou-me para um tema em que, uns anos mais tarde, iria estar profissionalmente envolvido, quando fui escolhido pelo SACEUR, o comandante supremo das forças da OTAN na Europa, para porta-voz da ISAF, a força da OTAN no Afeganistão: a comunicação estratégica ou strategic communications, recorrendo à designação anglo-saxónica, uma disciplina que mistura operações psicológicas com relações públicas e diplomacia pública. Em 1995, o conceito não se encontrava ainda formulado nesses termos, mas as ações para condicionar as opiniões públicas já se exerciam de uma forma sistemática e científica.

A célebre frase atribuída ao senador americano Hiram Warren Johnson: “A verdade é a primeira vítima de uma guerra”, aplicava-se e aplica-se que nem uma luva, ainda hoje, ao conflito jugoslavo. Isso explica, pelo menos parcialmente, por que é que tantos académicos e jornalistas perceberam  os factos de uma forma tão enviesada. O conflito bósnio foi servido como uma batalha entre o bem e o mal, entre a Idade Média e pós-modernismo, como uma luta por um Estado democrático e multicultural contra a barbárie cometida por cristãos assassinos que se comportavam como fascistas, na qual não havia meio-termo. Como veremos, a realidade era muito diferente. Quem na academia ou nos media discordasse desta abordagem corria o sério risco de ser acusado de retrógrado; era sensato manter-se quieto e calado.

Este livro é um testemunho pessoal, tanto de acontecimentos vividos em primeira mão, como de ocorrências em que estive indiretamente envolvido. É uma compilação de estórias que vivi e por que passei organizadas cronologicamente (tanto quanto possível). Nenhum dos factos relatados é ficção. A descrição daqueles em que não participei diretamente baseia-se, na maior parte dos casos, em relatórios ou em entrevistas com as pessoas que estiveram diretamente envolvidas. Apesar deste trabalho não ter a pretensão de ser um exercício académico, nem uma incursão na história do conflito poderá contribuir, contudo, para a sua melhor compreensão ao proporcionar mais uma leitura dos acontecimentos.

Num tempo em que o Daesh, os acontecimentos no Iraque, na Síria e no Sul da Ucrânia dominam a agenda internacional, poderão alguns interrogar-se sobre a pertinência do tema; outros poderão mesmo considerar anacrónico falar do conflito jugoslavo. Não me revejo nesse ceticismo.  A sua plena compreensão continua a ser de extrema importância para melhor entender a conflitualidade atual.

O conflito jugoslavo representou a génese de uma nova Ordem Internacional que conduziu ao mundo unipolar e à ascensão da potência global; foi um caldeirão onde podemos encontrar muitas das dinâmicas presentes nos conflitos dos dias de hoje, naturalmente com outros matizes, como, por exemplo, o papel desempenhado pelas grandes potências na ordem política internacional, a justiça criminal internacional, o modo como os acontecimentos são comunicados às opiniões públicas e o jihadismo.

O conflito na Bósnia é talvez um dos conflitos dos tempos modernos mais mal explicado, para grande benefício do Islão radical e da jihad global. Ao contrário do que muitos possam pensar, a jihad global não teve origem no Afeganistão mas sim na Bósnia. Poucos analistas ocidentais consideraram a Bósnia uma frente da jihad global promovida pela Al Qaeda.

Com este livro, pretendo também prestar um tributo a todos os homens e mulheres que participaram no conflito jugoslavo, antes da assinatura dos acordos de Dayton, na manutenção de uma coisa que não existia: a paz! E que, de uma forma desinteressada, deram o seu melhor, pondo muitas vezes as suas vidas em risco. Isto aplica-se naturalmente a todos os militares portugueses que participaram na missão. A visibilidade dada à participação de forças nacionais na Bósnia, no período pós-Dayton, obscureceu e votou por completo ao esquecimento aqueles que estiveram na guerra (antes de Dayton), os quais viveram, nalguns casos, situações dramáticas. Nesses momentos, o Ministério da Defesa Nacional não sentiu a necessidade de convidar jornalistas para acompanhar as “tropas” em operações, como veio mais tarde a acontecer com as Forças Nacionais Destacadas. Muitos portugueses não sabem ou não se recordam dessa participação, começando por quem tem a obrigação de se lembrar»

A obra cujo índice aqui deixamos tem Prefácio do Embaixador Seixas da Costa e Posfácio de João Soares.

Dedicatória

Excertos de uma entrevista feita por Jacques Merlino a James Harff

Prefácio

Siglas e acrónimos

Agradecimentos

Introdução

Ulica Antunovac, 21

Uma Semana em Zagreb

A Caminho da Bósnia

Sta Ima?

Mostar Leste

Esticando a corda

Barragens de artilharia na M17

Sector Soft

Ulica Ilica – A Ambientação

No Rescaldo da Operação Storm

Uma Descida Às Trevas

Atos de um Genocídio

Jihadistas na Bósnia

O Que Parece Não É!

Uma História Mal Contada

Uma Nota Introdutória

Os Combates e a Queda do Enclave

No Rescaldo da Operação

Para Além dos Factos. A Análise

Post-Scriptum

O Fim da Guerra na Bósnia

O Regresso à Pátria Epílogo

À Guisa de Posfácio

Recorda-se que o livro, das Edições Colibri, será lançado em Lisboa no próximo dia 24 de Novembro às 18h00, na Comissão Portuguesa de História Militar (Palácio da Independência), em Lisboa. Apresentação da obra pelo Embaixador Seixas da Costa

Tem as seguintes apresentações públicas previstas:

Dia 25 de Novembro (6.ª feira), às 11h00, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Apresentação: Prof.ª Doutora Maria Raquel Freire

Dia 5 de Dezembro (2.ª feira), às 18h00, na Biblioteca Municipal de Vila Real. Apresentação: Embaixador Seixas da Costa

Dia 6 de Dezembro (3.ª feira), às 18h00, na Foz – Porto. Apresentação: Coronel David Martelo

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