A DEFESA AO ATAQUE…EM VÍDEO
Por Miguel Machado • 19 Jun , 2014 • Categoria: 02. OPINIÃO PrintDiz o povo que a melhor defesa é o ataque, mas nem sempre isto corresponde à realidade. Abundam exemplos, recordo a carga da Brigada Ligeira, na qual a cavalaria britânica sofreu uma estrondosa derrota, a batalha de Dien Bien Phu para aniquilar a rebelião na Indochina francesa mas afinal encerrou a presença gaulesa na região e, Alcácer Quibir que deu no que deu…
Estas batalhas foram ataques glorificados pela história, mas derrotas sangrentas com milhares de mortos, estropiados e prisioneiros. Quem executa no terreno nada pode fazer senão marchar.
Regra geral, em todas as latitudes e épocas, as grandes derrotas foram resultado de más decisões e não de cobardia dos combatentes.
A “nossa” Defesa ao “ataque”!
Recentemente o Ministério da Defesa Nacional (MDN) lançou um vídeo no youtube, que diz “O MDN é criticado por ter…” e depois responde com a “obra feita”. Fica a dúvida, será a oposição que critica? O tribunal constitucional? Comentadores? As associações de militares? O outro partido do governo que não está no MDN? O povo, ou todos juntos?
Os MDN anteriores, em diversos formatos, divulgaram o que fizeram de bem, ou que julgavam estar a fazer bem, o que parece normal. Justificar o investimento feito a quem o paga.
A questão agora é que no vídeo abundam erros e omissões enganadoras. Mesmo sem entrar nas questões de cariz político onde, por exemplo, se atrevem a referir que “prestigiaram a carreira militar”, “descongelaram as promoções” (mas mantiveram-nas anos), “juntaram os hospitais” (sem dizer que o resultado é a degradação generalizada dos serviços prestados), o pior, é o pouco cuidado de quem fez o guião do filme:
“Todas as Escolas Práticas do Exército em Mafra”. Não só parte delas já estavam muito antes na Póvoa do Varzim, como para Mafra foram apenas parte das valências das Escolas Práticas ainda isoladas, mas nenhum quartel fechou com as mudanças;
“Cancelamos o helicóptero NH 90 porque custava dinheiro ao país”. Continua a custar dinheiro ao país, a Unidade de Aviação Ligeira do Exército está a funcionar, tem pessoal, instalações e meios (e continua a não ter helicópteros);
“Construímos dois Navios Patrulha Oceânicos”. Um foi entregue em Abril de 2011, antes deste governo tomar posse, em Junho de 2011, e o outro já vinha a caminho;
“Somos agora vendedores de armamento”. Se o ridículo matasse…Vendemos alguns F-16, mas antes deste governo já tínhamos vendido fragatas e antes disso outros equipamentos cujas fábricas foram falido ao longo dos anos. As pequenas empresas lucrativas que temos estão a ser vendidas/privatizadas como aliás o vídeo diz.
“Mantivemos tropas em 3 teatros de operações”. É verdade mas reduzimos substancialmente os efectivos em alguns casos para níveis meramente simbólicos, com pouca expressão real nas operações;
“Reforçamos a cooperação militar com os PALOP”. Não se percebe em quê, quando outros países e mesmo empresas civis estão cada vez mais no terreno a fazer aquilo que o Estado Português não tem podido ou querido fazer.
“Reforçamos a operacionalidade”. Com menos efectivos, menos aviões, menos viaturas blindadas (os fuzileiros ficaram sem uma única), menos orçamento para manutenção, exercícios, horas de voo e de navegação, como se chega a esta conclusão?
Já agora, o “cancelamento do contrato das Pandur”, por incumprimento há vários anos, o que é verdade, deve-se a quê? É que foi o actual vice-Primeiro Ministro que o elaborou e assinou.
A dúvida aqui é só uma, para quê um documento destes nesta altura? Quanto à substância estamos falados, esta ofensiva vídeo não é informação é uma farsa para consumo de quem ande a leste da Defesa.
Este artigo foi originalmente publicado no Diário de Noticias: Defesa ao ataque
A título comparativo colocamos aqui links para o vídeo elaborado pelo Ministério da Defesa Nacional e um vídeo divulgado, pela mesma altura, pelo Ministério da Defesa de Espanha. Clique e veja:
Vídeo do Ministério da Defesa de Portugal
Vídeo do Ministério da Defesa de Espanha
Miguel Machado é
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