23MAI16: TRADIÇÃO E MODERNIDADE NO DIA DOS PARAQUEDISTAS
Por Miguel Machado • 1 Jun , 2016 • Categoria: 03. REPORTAGEM, EM DESTAQUE PrintTradição e modernidade, inovação e confiança no futuro, foram marcas deste 23 de Maio que assinalou os 60 anos da Tropas Paraquedistas em Portugal. Milhares de antigos paraquedistas militares, muitos com familiares, rumaram mais uma vez a Tancos, estiveram presentes na sua “Casa-Mãe” e celebraram uma memorável jornada de camaradagem, com a garantia de ali voltarem em 2017.
Tem que se estar presente, ver, falar, sentir, uma mística que é forte e até parece reforçar-se a cada ano que passa. Por ocasião do 60.º aniversário da inauguração do então Batalhão de Caçadores Pára-quedistas, que ali teve lugar em 23 de Maio de 1956, no mesmo local, hoje naturalmente muito diferente fruto de décadas de trabalho de sucessivas gerações de paraquedistas, a unidade apresentou-se na sua melhor forma para receber estas comemorações. E, como é timbre nas tropas paraquedistas desde sempre, também se procurou a inovação não descurando a tradição. Para quem não teve oportunidade de assistir, aqui deixamos ao longo deste texto, ilustrado pelas fotografias do Alfredo Serrano Rosa, algumas notas dessa realidade.
A cerimónia oficial não seguiu o guião tradicional. Simplificando, fugiu da sequência habitual, “formatura das forças em parada”, “chegada das entidades”, “estandarte nacional”, etc. Não, este ano os convidados – todos, os anónimos e as altas entidades – deram entrada nos seus lugares na “Parada Alferes Pára-quedista Mota da Costa”, enquanto as forças que iriam constituir a parada permaneceram nos seus locais de concentração. Foi então projectado em ecrã gigante para todos poderem ver, um filme alusivo à história das tropas paraquedistas. Neste mesmo ecrã foram, depois, no decorrer dos eventos, sendo projectados os principais acontecimentos, permitindo um melhor acompanhamento pelos milhares de visitantes presentes. Desde cedo, através do Youtube, tudo o que se ia passando na unidade estava a ser transmitido em directo. Em qualquer lugar do mundo onde houvesse internet, o acompanhamento “on-line” deste dia foi uma realidade.
Terminada a interessante retrospectiva histórica audiovisual, realizada com “a prata da casa” mas com muitas imagens senão inéditas pelo menos pouco vistas pela generalidade dos presentes, uma a uma, as forças deram então entrada na Parada. A cada sub-unidade que entrava era anunciada a sua designação e um pequeno historial. Ficaram as forças em parada, sob o comando do Tenente-Coronel Marçal de Sousa, 2.º Comandante do Regimento de Paraquedistas, organizadas em 2 escalões: o 1.º escalão, mais próximo da tribuna, composto pelo Bloco de antigos Estandartes Heráldicos e por um Batalhão representativo do Regimento de Paraquedistas; o 2.º escalão, mais distante da tribuna, composto por forças representativas das Unidades de Apoio da Brigada de Reação Rápida (Apoio de Fogos e de Defesa Antiaérea), bem como forças pertencentes aos 1.º e 2.º Batalhões de Infantaria Paraquedistas; e a Banda do Exército.
Porque muitos dos que nos lêem ou nunca foram paraquedistas e têm curiosidade em saber, ou tendo sido, podem não estar actualizados em termos da organização do Regimento de Paraquedistas e mesmo de outras unidades da brigada de Reacção Rápida, aqui fica:
Batalhão Operacional Aeroterrestre tem por missão assegurar o planeamento, preparação e execução de todas as missões de caráter aeroterrestre em apoio da BrigRR, do Exército e das Forças Armadas Portuguesas. Foi empregue recentemente no Teatro de Operações do Mali no âmbito da Operação MINUSMA das Nações Unidas através de 2 Destacamentos Avançados de Abastecimento Aéreo.
Batalhão de Formação é a principal unidade de formação do RParas e tem a missão principal de formar militares na área do Paraquedismo Militar. Complementarmente, ministra ações de Refrescamento e de Requalificação em Paraquedismo e dá apoio às Esquadras da Força Aérea Portuguesa em ações de Qualificação do Pessoal Navegante.
Grupo de Artilharia de Campanha constitui a principal Unidade de Apoio de Fogos da BrigRR e pode ser empenhada fazendo uso dos sistemas Obus 105 mm ou Morteiro Pesado 120mm. Já aprontou uma Bateria de Artilharia Ligeira da NRF 14 e 17 e encontra-se em período de StandDown no âmbito da NRF 2015, indo projetar forças para a Lituânia.
Bateria de Artilharia Antiaérea constitui a principal Unidade de Defesa Antiaérea dos órgãos críticos da BrigRR contra aeronaves voando a baixa e muito baixa altitude, bem como garante o Apoio Direto aos Batalhões de Paraquedistas fazendo uso do Sistema Míssil Portátil Stinger.
Batalhões de Paraquedistas, forças ligeiras, facilmente projetáveis, com elevada prontidão e treino, constituem as principais unidades de manobra da BrigRR. Os 1.º e 2.º BIPara são forças veteranas de inúmeras missões nos Teatros de Operações da Bósnia-Herzegovina, Timor-Leste, Kosovo, Afeganistão e Iraque, sendo de relevar: a presente projeção de um efetivo de 30 militares do 1.º BIPara para o Iraque, com a missão de Apoio à Formação e Treino das Forças de Segurança Iraquianas; a atuação do 2.º BIPara como Reserva Tática do Comandante da KFOR no Kosovo até outubro de 2016.
A cerimónia decorreu depois de acordo com o habitual, entrando o Estandarte Nacional e Escolta com a particularidade – muitíssimo apreciada pelos presentes, diga-se! – de integrar a antiga Fanfarra das Tropas Pára-quedistas, sim, isso mesmo, a antiga! É uma história que só por si merecia um artigo, mas aqui fica a síntese desta iniciativa bem demonstrativa do que foi e é o espírito paraquedista! Dada a relevância do evento em causa, e face à ambição de poder contar com a antiga “Fanfarra dos Pára-quedistas”, um dos seus símbolos marcantes durante décadas – nomeadamente o uso de gaitas de foles que para sempre “ficaram no ouvido” de gerações de “boinas verdes” – e que restrições de vária ordem obrigaram a “fechar”, após convite específico foi possível reunir um grupo de 50 militares paraquedistas – sim 50! – na situação de Reforma e de Disponibilidade, que desde logo se prontificaram para abrilhantar esta cerimónia, enfrentado, em ligação com o comando da unidade, as mais variadas peripécias para, “do seu bolso”, ali estarem. E estiveram, sob o comando do Sargento-Ajudante Pára-quedista Manuel Brás, também ele desligado do serviço activo. Releva-se o facto destes antigos militares da “Fanfarra” se terem concentrado no Regimento durante uma semana para treinar a sua actuação, sendo que um número significativo se deslocou do estrangeiro onde residem.
Seguiram-se as alocuções do Comandante do Regimento, Coronel Paraquedista Vasco Pereira que fez uma síntese da intensa actividade da unidade no ano que agora terminou e perspectivou o seguinte, sendo de realçar o facto do “Centro de Excelência Aeroterrestre” há anos previsto para Tancos, não ter “morrido”, e haver desenvolvimentos nesse campo (ler aqui o discurso do comandante do Regimento de Paraquedistas).
O Chefe do Estado-Maior do Exército, General Rovisco Duarte, na sua alocução, que não foi uma simples mensagem para a oportunidade, mas contém vários aspectos ligados às tropas paraquedistas e à Brigada de Reação Rápida que são relevantes, nomeadamente as questões do reequipamento, para além da reiterada confiança nesta unidade com capacidades únicas em Portugal, a apreciação da sua história no Ultramar e nas novas missões expedicionárias, e, não menos significativo, a sentida referência ao seu antecessor, presente, o general Carlos Jerónimo (ler aqui o discurso do Chefe do Estado-Maior do Exército).
Seguiu-se a entrega das insígnias da Medalha de Honra do Concelho de Vila Nova da Barquinha ao comandante do Regimento de Paraquedistas, pelo Presidente da Câmara Municipal e Presidente da Assembleia Municipal, e a imposição de condecorações a militares da unidade:
Ordem Militar de Avis, Grau Oficial: TCor. Vitor Fernandes
Medalha de Mérito Militar, 2ª Classe: Maj. Victor Gomes
Medalha D. Afonso Henriques, 4ª Classe: 1Sarg. Leandro Calvete
Medalha de Comportamento Exemplar, Grau Ouro: TCor. Marçal de Sousa; Maj. António Gil
Medalha de Comportamento Exemplar, Grau Prata: Maj. Nuno Silva; 1Sarg. Paulo Lima; 1Sarg. Abel Valente.
Seguiu-se o desfile das Forças em Parada e a Apresentação das Associações de antigos Paraquedistas, seguida de Cerimónia de Imposição dos “Grifos de Honra”. Esta insígnia foi criada para fortalecer os laços afectivos que ligam Militares e Ex-Militares Paraquedistas com vínculo familiar. O direito ao seu uso é concedido quando existem paraquedistas pertencentes a distintas gerações dentro da mesma família.
De imediato iniciou-se a demonstração terrestre com várias actividades ligadas ao Curso de Paraquedismo Militar e em simultâneo a aeroterrestre com um C-295M da Esquadra 502 da Força Aérea portuguesa a lançar sobre a pista do Aeródromo Militar de Tancos um Destacamento da Companhia de Precursores, do Batalhão Operacional Aeroterrestre. Saltaram a uma altura de 1000 ft, cerca de 300m, com pára-quedas MC 1-C e equipados para combate. Para a “frente da tribuna”, na parada, saltaram de seguida 7 Saltadores Operacionais de Grande Altitude da mesma sub-unidade, equipados com paraquedas operacionais SOV-3 e um com paraquedas Tamdem (bi-lugar). O destacamento utilizou a mesma aeronave, agora voando a 8000ft, cerca de 2500m. Subindo para os 11.000 ft, cerca de 3300m, lançou de seguida Instrutores de Queda Livre Operacional que fizeram uma demonstração em queda-livre com fumos para melhor visualização a partir do solo. Usaram paraquedas STILETTO 150, utilizados também pela Equipa de Queda-Livre “Falcões Negros”. Terminados os saltos teve lugar uma Cerimónia de Imposição de “Brevets” Especiais. São atribuídas aos militares que perfizerem, em registo na caderneta de saltos militares, um número mínimo de saltos com paraquedas. Brevet de Platina (1.000 saltos), TCor Para João Henriques; Brevet de Ouro (500 saltos), Saj Para Manuel Modesto e Saj Para José Camelo; Brevet de Prata (250 saltos), 1Sar Para Jorge Ramalho e 1Sar Para Paulo Lima.
Terminada a cerimónia na “Parada Alferes Pára-quedista Mota da Costa”, foi aberta ao público uma exposição estática no pavilhão gimnodesportivo da Unidade e estavam encerrados os actos oficiais deste dia.
Mas longe de estar terminada a jornada de convívio e celebração! Na unidade, mas sobretudo no “Pinhal do BI” (designação do pinhal junto à “Torre Americana”, utilizado desde sempre pelo então Batalhão de Instrução e assim “baptizado” pelos paraquedistas), muitos, mas mesmo muitos dos que a Tancos se deslocaram neste dia 23 de Maio, ali iriam permanecer até ser noite! E, durante a tarde, várias actividades foram realizadas para que o dia, todo, estivesse à altura da data!
E com forte participação da Força Aérea Portuguesa, ramo das Forças Armadas que acolheu as Tropas Pára-quedistas ainda em 1955 e só delas foi amputada, por decisão política, em 30 de Dezembro de 1993. Os laços técnicos e operacionais permanecem e aprofundam-se, assim tem que ser dada a natureza da actividade dos paraquedistas, mas felizmente também os afectivos não se perderam.
Um Alouette III, aeronave muito ligada aos pára-quedistas quer em África quer no continente europeu, esteve presente em Tancos para eventuais evacuações sanitárias. Durante a tarde e como já começa a ser tradição (e muito aguardada!), uma parelha de F-16 da Base Aérea n.º 5 – Monte Real fez várias passagem baixas pelo Regimento de Paraquedistas.
Ao final do dia, antes do anoitecer, vários balões de ar quente, que desde o dia anterior já tinham feito vários voos na região, quer o do Exército que é operado por militares do Regimento de Paraquedistas quer de particulares – antigos militares pára-quedistas – ainda brindaram os presentes com a sua passagem pela unidade.
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