23 DE MAIO DE 2010: REENCONTRO EM TANCOS
Por Miguel Machado • 31 Mai , 2010 • Categoria: 03. REPORTAGEM
Terminada a cerimónia militar comemorativa do 54º aniversário da Escola de Tropas Pára-quedistas, quando todos começam a abandonar a parada “Mota da Costa” um velho amigo chama o fotógrafo de ocasião e pede-lhe:“tira-nos aqui uma foto! E até te digo a legenda – a última enfermeira a deixar o activo e o seu instrutor!” O antigo instrutor e a enfermeira pára-quedista, reencontrados, visivelmente satisfeitos, posam com a torre francesa em fundo. Click!

...e os parques de estacionamento, de ambos os lados da EN, para ligeiros e autocarros apresentava este aspecto.
Reencontro em Tancos
Todos os anos no dia 23 de Maio, faça chuva ou faça sol, milhares de militares pára-quedistas, a maioria já desligada do serviço activo e muitos com as suas famílias, comparecem em Tancos para assinalar o dia da sua unidade, a “casa-mãe” de todos os pára-quedistas militares portugueses. Batalhão de Caçadores Pára-quedistas, Regimento de Caçadores Pára-quedistas, Base Escola de Tropas Pára-quedistas, Escola de Tropas Aerotransportadas ou, hoje, Escola de Tropas Pára-quedistas, o nome tem mudado em diversos momentos históricos e para cada um tem o seu significado especial mas para todos é o local onde “nasceram” como pára-quedistas militares. Ali enfrentaram o desconhecido e suplantaram os seus medos e receios e, desde sempre voluntariamente, suportaram o rigor da instrução que os tornou soldados aptos a utilizar a terceira dimensão.
Assim começava a reportagem do “Operacional” feita em 2009, num dia de frio e chuva, e assim podia ter começado a de 2010, feita sob um sol escaldante.
É muito redutor designar este dia apenas por “Dia da Unidade” na normal acepção desta designação no meio militar. O 23 de Maio, em Tancos, é uma cerimónia castrense mas é também, e até nos parece que cada vez mais, um momento de autêntica festa popular, um reencontro entre muitos milhares de antigos pára-quedistas militares portugueses. Este ano, domingo, registou-se mesmo uma das maiores enchentes dos últimos anos e o episódio que abre este texto mais não é do que uma ínfima parte do que ali se verificou. O antigo soldado, mais tarde sargento do quadro permanente, que se junta ao antigo aspirante e aos soldados do “seu” pelotão; o soldado que se aproxima do antigo capitão e lhe recorda que esteve com ele na Guiné na mesma operação; o soldado pára-quedista que hoje está “bem na vida” mas não deixa de se juntar aos seus antigos camaradas de caserna para beber “umas imperiais”; os coronéis reformados que descontraidamente comem febra de porco no Pinhal com um antigo major, hoje, personalidade política; o sargento do quadro permanente que tendo deixado o serviço activo, estudou, e hoje por força do cargo que ocupa tem lugar na tribuna à frente de muitos generais, troca impressões com os seus “anónimos” amigos; o cabo condutor que esteve na Bósnia em 1996 e agora troca endereços de e-mail com o antigo capitão; o coronel não pára-quedista que recorda os meses passados em Bagdad com os seus amigos dos páras; o recém chegado do Afeganistão que recebe abraços dos que por cá torcem para que os portugueses ali em serviço, pára-quedistas ou não, cumpram a missão e regressem às suas famílias. Estes momentos multiplicam-se hora após hora durante este dia em Tancos.
E é por estas memórias que de Trás-os-Montes ao Algarve e mesmo do estrangeiro, todos os anos, uma percentagem significativa dos 44.458 portugueses que até hoje conquistaram o direito de usar uma boina verde, ali se encontram.

O Coronel Pára-Quedista Frederico Almendra fez o balanço do ano e abordou os desafios que estão colocados à Escola de Tropas Pára-quedistas.

Oito meses depois de ter recebido das mãos do Major-General Raul Cunha, em Sintra no Dia da Brigada de Reacção Rápida, o Estandarte Nacional da 2ª OMLT Kabul Capital Division, o Coronel Pára-quedista José Correia, procede à sua entrega: missão cumprida!

Como manda a tradição o 2º comandante - Tenente-Coronel Pára-quedista Serra Pedro - comandou as Forças em Parada

Os Guiões das Unidades que antecederam a ETP em Tancos, bem assim como os das extintas unidades de Caçadores Pára-quedistas de África e os do Corpo de Tropas Pára-quedistas da Força Aérea Portuguesa, são presença obrigatória na cerimónia do 23 de Maio. Muitos dos presentes revêem-se neles. Em primeiro plano, a Primeiro-Sargento Pára-quedista Alexandra Serrano Rosa, transporta o Guião do "32" de Moçambique, o último batalhão a ser criado em África.

O movimento associativo de antigos pára-quedistas esteve presente e algumas das suas Associações participaram na cerimónia militar, marchando com garbo. Quando se aprende bem, não se esquece.

A entrega dos "Grifos de Honra" aos "boinas verdes" que têm descendentes directos nos pára-quedistas é sempre um momento bem sentido por todos.

Dentro de escassos meses o 1º BIPara ruma ao Kosovo onde vai render o 2º BIPara. Mais uma missão para este batalhão que volta a este país e já esteve na Bósnia, Timor e Afeganistão.
54º Aniversário
É para este encontro de saudade mas também para ver como está aquilo que consideram seu, aquilo que ajudaram a construir e a consolidar. Como está a sua “Casa-Mãe”? Quem está afastado da vida militar, por vezes há muitos anos, pode não se aperceber de certas dificuldades actuais. As Forças Armadas mudaram muito nos últimos anos e nem sempre no sentido que muitos gostariam. A Escola de Tropas Pára-quedistas não foge por exemplo às limitações de efectivos que atingem todos os ramos e o Exército em particular. Quartéis que ontem albergavam milhares, hoje estão limitados a escassas centenas. Há vários casos por esse Portugal, todos o sabemos.
Bem vistas as coisas, embora por vezes possa até não parecer, o ritmo de trabalho e de realizações dos pára-quedistas a quem hoje cabe “segurar a bandeira”, não é menor do que já foi. E não custa a crer que seja até bem mais difícil de alcançar certos objectivos.
A ETP está empenhada, entre outras coisas, em conseguir “trazer para Tancos”, um Centro de Excelência Aeroterrestre de âmbito NATO. Tal objectivo que é do Exército, julga-se mesmo das Forças Armadas e tem até o apoio de autoridades civis da região, seria sem dúvida um passo muito importante para o futuro da unidade. Mas isto é um grande objectivo, outros de carácter operacional e não só, estão a ser prosseguidos (ver discurso do comandante no final deste texto), para manter a Escola num patamar que é o seu.

Os saltadores operacionais a grande altitude do Batalhão Operacional Aeroterrestre, preparam a aterragem durante o desfile do 1ºBIPara.

SOGA instantes antes da aterragem na parada "Alferes Pára-Quedista Mota da Costa" o mítico 1º oficial pára-quedista a morrer em combate em África (Angola, 1961).

Enquanto a assistência recorda momentos marcantes da instrução para pára-quedista, sobre a pista do Aeródromo Militar de Tancos, um C-295M lança um destacamento de precursores aeroterretres "em automático".

A tradição ainda é o que era! Depois dos JU-52, Noratlas, Dakota e Aviocar, os novos "Elefantes" C-295M da Esquadra 502, permitem que a assistência veja bem de perto o seu avião.

No mesmo dia, em Monte Real, a Base Aérea 5 assinalava também o seu aniversário e não deixou de se associar à festa: Quatro F-16 fizeram uma passagem por Tancos pelas 15h29!
A reportagem fotográfica feita pelo Alfredo Serrano Rosa mostra bem o que foi a cerimónia militar e as capacidades mais uma vez apresentadas. Mostra ainda, e este não é um sinal dos tempos de hoje, mas uma prova que valores de ontem se mantêm inalteráveis, que a Força Aérea Portuguesa continua muito presente na vida dos pára-quedistas. Os “boinas verdes”, praticantes desde sempre, por “dever de ofício”, do chamado “espírito conjunto”, estão hoje ainda mais empenhados do que no passado neste caminho. Só os dignifica e mostra que continuam na linha da frente daquilo que em cada momento histórico se exige ao conjunto da organização militar.

O fotógrafo de ocasião captou a imagem do Tenente-Coronel (R) José Maria Matos, instrutor de pára-quedismo em 1974 e da sua "aluna", Maria de Lurdes, enfermeira pára-quedista formada nesse ano. Foi a última deste singular corpo de tropas, quer a fazer o curso de pára-quedismo quer a deixar o serviço activo (em 2002), com o posto de Capitão.
Clique e leia aqui o discurso completo do Coronel Pára-quedista Frederico Almendra.
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