Muitas unidades militares têm a preocupação de preservar diverso tipo de equipamento que, tornado obsoleto, foi retirado de serviço. Parte deste – por exemplo viaturas – recolhe aos museus militares, outro, permanece ou é transportado para quartéis onde pode ser visto e apreciado não só pelos militares que ali vão servindo ao longo dos anos como pelos muitos visitantes que quase e sempre têm.
A EBR /FL 10 de fabricação francesa (Anciens Établissements Panhard-Levassor SA) dispunha de uma peça de 75mm e esteve ao serviço em Portugal entre 1959 e 1984.
É sem dúvida um elemento mais para enriquecer a história de uma unidade e manter a ligação inter-geracional, o espírito de corpo, que também se constrói com a memória dos que nos antecederam, o conhecimento do que foram as suas condições de vida e de trabalho, o seu esforço e mesmo sacrifício ao serviço das Forças Armadas e de Portugal. O gosto pela “coisa militar” atrai também, por outro lado, muitos que nada tiveram a ver ou têm com a instituição mas, olhando-a com respeito e consideração, muitas vezes com genuína admiração, gostam de tomar contacto, de conhecer, tudo o que tenha a ver com a história militar. E aqui também entra o que sempre existiu mas agora, felizmente, está a ganhar maior dimensão e até a atenção de autoridades nacionais, autárquicas, académicas e privadas, o chamado “Turismo Militar”.
De passagem pelo Regimento de Cavalaria 6 em Braga, deparamo-nos com uma razoável colecção de viaturas militares de carácter histórico em exposição estática, bem apresentáveis, e é disso que aqui damos conta neste pequeno apontamento. Claro que o ideal será manter sempre algumas viaturas que vão sendo abatidas ao serviço activo em condições de funcionamento, seja na instituição militar seja pela alienação a privados sejam eles associações, sejam mesmo indivíduos dispostos a nisso investir o seu tempo e dinheiro. Não sendo possível, como bem sabemos, manter muitas viaturas em diversos pontos do país nestas condições, o que vimos em Braga parece-nos portanto um bom exemplo.
Trata-se na verdade de um pequeno “museu a céu aberto”, muito visto, recordemos são milhares de jovens que por ali passam para o Dia da Defesa Nacional e, senão milhares, largas centenas anuais de antigos combatentes no Ultramar e famílias que ali se reúnem. Serão talvez estes últimos os que mais admiram, sentem, estas viaturas, uma vez que as usaram nessas campanhas de África dos anos 60 e 70 do século XX.
As informações sobre as viaturas que agora publicamos são as constantes no local em painéis identificativos, acrescidas de alguns elementos inseridos em artigos do Sr. Luís Afonso Costa e do Major-General Pereira Coutinho, em diversos números da Revista da Cavalaria.
Viatura Blindada de Reconhecimento Panhard EBR 75 17 Ton. 7,5cm 8X8 M/1959. Todas as 50 adquiridas por Portugal em 1959 vinham com a torre FL 10. Destas 21 foram enviadas para Angola (Luanda e Silva Porto) e as restantes ficaram no Continente. A peça, muito comprida não era adequada às operações em áreas muito arborizadas, nem tinham “objectivos remuneradores” para o seu calibre. Além da peça dispunha de 3 metralhadoras 7,5mm. Guarnição de 4 militares, motor a gasolina e autonomia entre os 650 e os 700 km. Blindagem entre 10 e 40mm. (EBR- Engin Blindé de Reconnaissance).
No Continente as 29 viaturas EBR Panhard estiveram aos serviço na Escola Prática de Cavalaria, nos Regimentos de Cavalaria n.ºs 3, 6 e 7 e uma no Depósito Geral de Material de Guerra em Beirolas. Comprimento 6,15m (incluindo a peça), largura 2,42m e altura 2,58m. Velocidade máxima 100km/h.
Viatura Blindada de Transporte de Pessoal Panhard ETT 13 Ton. 8×8 M/1959. Portugal recebeu 28 destas viaturas, provenientes da mesma fábrica que a EBR, sendo viaturas raras porque únicas, o Exército Português acabou por ser o único cliente a nível mundial, nem o de França as adquiriu.
Como é notório trata-se de uma viatura semelhante à EBR, muitos dos componentes são os mesmos, mas esta tem compartimento de pessoal para 14 militares e uma pequena torre onde se usava uma metralhadora .30 (7,62mm). Comprimento de 5,56m, largura 2,42m e altura 2,58m. Velocidade máxima 100km/h.
Detalhe na blindagem da torre da ETT, com indicação do fabricante, uma companhia francesa especializada em construções em aço e mecânica, que daria origem ao grupo siderúrgico Creusot-Loire, extinto em 1984.
A única viatura portuguesa que se encontra no Museu dos Blindados de Saumur (França) é exactamente uma ETT. Tinha tal como a EBR tracção às 8 rodas, e autonomia para cerca de 700km. Peso total, preparado para combate, 15 toneladas.
Esta viatura foi usada em Angola com êxito, no Grupo de Dragões de Silva Porto e no Continente na Escola Prática de Cavalaria e nos Regimentos de Cavalaria n.ºs 3, 6, 7 e 8. Foi retirada de serviço com a EBR por volta de 1984.
Viatura Blindada de Reconhecimento (AML) Panhard HE60-12,7, 4,8 Ton 6cm 4X4 M/1965, vulgarmente conhecidas por AML 60 ou Autometralhadora Ligeira Panhard. Adquiridas 40 em 1965 em França, foram usadas em Angola, Moçambique e Guiné, e no Continente na Escola Prática de Cavalaria e nos Regimentos de Cavalaria n.º s 3, 6, 7 e 8.
Estavam armadas com um morteiro de 60mm e 1 metralhadora 12,7mm. Guarnição de 3 militares, velocidade máxima de 90Km/h e autonomia de cerca de 500Km. Comprimento 3,79m, largura 1,97m e altura 2,15.
Depois do lote adquirido em França, Portugal ainda recebeu mais 32 viaturas muito semelhantes de origem Sul-Africana, a Eland Mk4 4,8 Ton. 6 cm m/1972. Todas elas foram retiradas de serviço em meados dos anos 80.
Autometralhadora Saladin Mk II 11,5 Ton. 7,6cm 6X6 M/1982. Foram recebidas 39, provenientes do Reino Unido, em 1982, quando este país retirou este material de serviço e, em Portugal vieram substituir as EBR. Não correspondeu ao que dela se esperava e ainda no inicio dos anos 90 foi retirada de serviço. velocidade máxima de 72 Km/h, autonomia 400Km, motor a gasolina. Tinha uma peça de 76mm e uma metralhadora 7,62mm. Comprimento 4,93m, largura 2,54m e altura 2,19. Guarnição de 3 militares, esteve ao serviço na Escola Prática de Cavalaria e nos Regimentos de Cavalaria n.ºs 3 e 6.
Carro de Combate Ligeiro M5-A1 (Stuart) Can. 15 Ton. 3,7cm M/1956. Entrou ao serviço neste ano, de fabrico EUA mas vindos do Canadá e serviu em Portugal até 1984! Três destes CC foram usados em Angola, constituindo assim os únicos blindados de lagartas que o Exército alguma fez empenhou em combate. No Continente serviram na Escola Prática de Cavalaria, Regimento de Lanceiros 1 e 2 e Regimentos de Cavalaria n.º s 3 e 6, Academia Militar e Guarda Nacional Republicana.
Tinha uma guarnição de 4 militares, velocidade máxima de 64Km/h e autonomia de 160Km. Comprimento 4,33m, largura 2,24m e altura de 2,29m. peso pronto para combate, 15.200Kg. Tinha como armamento 1 canhão de 37mm, e 3 metralhadoras calibre .30 (7,62mm). Talvez pelo número recebido, 90, ainda hoje há muitos destes CC em exposição em museus e unidades do Exército. A sua missão em Angola fica imortalizada no livro “Elefante Dundum” do Major Cav. João Mendes Paulo (1932-2006).
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