Mais uma excelente obra alusiva ao período da Grande Guerra acaba de ser lançada, esta alusiva aos uniformes do Corpo Expedicionário Português (a França), da autoria de Pedro Soares Branco e com a chancela da “Fronteira do Caos Editores”.

O autor tem créditos firmados nesta temática que lhe advêm de obras anteriores de elevada qualidade gráfica e rigor histórico e agora, num livro muito acessível, quer pelo modo sintético como está escrito, quer pela dimensão e composição gráfica quer até pelo preço, apresenta-nos os elementos essenciais relativos aos uniformes que os militares portugueses usaram, primeiro em Portugal e depois em França no período em apreço: 1916 a 1918.

Estamos perante um livro profusamente ilustrado, com imagens de grande qualidade, parte da época a que dizem respeito mas também várias actuais de fardamentos e peças de equipamento originais.

O livro começa por seguir no essencial o alinhamento do Regulamento de Uniformes de 1916 cujos excertos funcionam quase como enquadramento para as fotografias seleccionadas (e desenhos) e respectivas legendas. É no entanto muito mais do que isso, não se trata de uma obra “teórica” feita a partir de regulamentos, foi “para o terreno”. Isto porque depois da preparação das forças em Portugal, já na guerra em França – e nos termos de acordos com o governo inglês, este forneceu muito material, equipamento e fardamento ao CEP – e bem ao modo português, as muitas alterações introduzidas foram ou sendo adoptadas de modo avulso com publicações na ordem de serviço do próprio Corpo Expedicionário. Apresenta ainda vários itens que tendo sido usados não constam de qualuer legislação. Como se compreende isto obrigou o investigador a um trabalho muito maior, aqui e ali aliás – honra seja feita pela sinceridade que nem todos os autores seguem em muitos casos, neste e em outros assuntos militares de carácter histórico e por vezes até actuais – referindo possibilidades e não certezas.

O livro tem no final um caderno com a tradução em inglês de todas as legendas e a bibliografia consultada, permitindo a quem se interesse novas leituras.

Não sendo uma surpresa para nós aqui no Operacional que temos batalhado pela manutenção da memória histórico-militar portuguesa, e somos frequentadores assíduos de museus em Portugal e no estrangeiro, é sintomático da instituição militar portuguesa a avaliação com que Soares Branco encerra o livro:

“Num país cheio de História, mas pouco afeiçoado à mesma, poucos cuidados houve em guardar os uniformes da Grande Guerra. Mesmo instituições que tinham a obrigação de os preservar quase nada fizeram.

Nunca se escreveu tanto sobre a presença portuguesa nas trincheiras, mas os uniformes que fizeram a identidade – e o quotidiano – dos nossos soldados continuam largamente desconhecidos. Como é possível? E até quando?”

Permiti-mo-nos acrescentar, “até hoje”, porque o mesmo se passa com o período da última Guerra do Ultramar e, por incrível que possa parecer a quem nos lê, até com muitas das missões de paz. Não há, por exemplo, nos nossos museus militares – ao contrário do que se passa na generalidade dos países que nelas participam – secções dedicadas a este período bem recente e que já levou a empenhamentos significativos de pessoal e com grande diversidade de locais, num espaço temporal muito significativo. Não estão aqui em causa, na maioria dos casos, questões relativas a pessoas, está sim que as questões do Património Histórico, ainda que muitas vezes os militares e civis colocados nesses departamentos tenham a maior da boa-vontade e profissionalismo, estão sempre relegadas para um nível insuficiente de atribuição de recursos. Quando as principais prioridades militares são afectadas, imagine-se o que acontece à História!

Em formato 16×23,5mm, com 64 páginas, “Uniformes do Corpo Expedicionário Português” está profusamente ilustrado e tem o preço de 10,00€ desde que seja pedido para cadernosmilitariaarmamento@gmail.com.

A 1.º edição é de Dezembro de 2014, no Porto e tem o ISBN 978-989-8647-36-58.

Está integrado na série “Cadernos de Militária Portuguesa”, de concepção em tudo idêntica à “Cadernos do Armamento Regulamentar Português”, que já aqui apresentamos, ambas da “Fronteira do Caos Editores”, e estão previstas novas edições, que no livro são anunciadas.

Inserimos aqui a ficha técnica, índice e algumas imagens do seu interior, desejando o sucesso comercial que achamos merecer e que isso motive autores e editores a não abandonar esta temática.