UM HELICÓPTERO PARA AS TRÊS FORÇAS
Por Miguel Machado • 30 Dez , 2010 • Categoria: 07. TECNOLOGIA PrintNo dia 20 de Dezembro de 2010 as Forças Armadas Brasileiras receberam os três primeiros exemplares da encomenda de 50 helicópteros EC725. Construídos em França e concluídos na Helibras (Brasil), foram entregues sua versão básica.
A montagem em série começará nas instalações da Helibras em Itajubá em 2012, com o compromisso de que o índice de incorporação nacional vá chegar a no mínimo 50% em 2016, quando o último helicóptero for entregue.
O texto que a seguir apresentamos – com ortografia brasileira – é mais uma colaboração que nos chega da revista Segurança & Defesa, sobre um assunto que muito interessa do outro lado do Atlântico e recordará a muitos portugueses, um dos antecessores do EC725, o SA-330 “Puma” que ainda voa nos Açores.
Um helicóptero para as três forças
Em dezembro de 2008 o Brasil assinou com a Eurocopter um acordo para a produção local de 50 helicópteros EC725, sendo 18 para a Força Aérea Brasileira (FAB) – dois deles para transporte presidencial -, 16 para a Marinha do Brasil (MB) e 16 para o Exército Brasileiro (EB).
Com isso, nosso país tornou-se o primeiro cliente de exportação dessa aeronave, conhecida genericamente como Super Cougar e oficialmente como Caracal.
O custo dos 50 helicópteros será de R$5,2 bilhões, e a entregas dos três primeiros exemplares (totalmente construídos na França) deverá ocorrer ainda em 2010; os três primeiros helicópteros montados pela Helibras serão entregues em 2013. Também fez parte do contrato o investimento, por parte da Eurocopter, de US$300-400 milhões na Helibras, incluindo a construção, em Itajubá (MG), de um pavilhão especial para produzir a aeronave. Vale lembrar que a Eurocopter detém 70% da empresa brasileira, com os 30% restantes sendo controlados pelo governo de Minas Gerais.
O acordo especifica ainda detalhes como índices de nacionalização, e estabelece a Helibras como responsável pelo treinamento de pessoal e fornecedora de ferramentas, banco de provas, e documentação técnica. A produção será feita na França, e a montagem final das aeronaves será realizada no Brasil (à exceção das três primeiras), bem como os ensaios em vôo e no solo. Ao longo da produção, o índice de nacionalização irá subindo até atingir 50% nas últimas aeronaves, entregues em 2020.
Além da Helibras, uma dúzia de outras empresas nacionais estarão envolvidas no projeto, já que a manutenção e reparo de alguns componentes fundamentais deverá ser realizado no país. Algumas dessas empresas são a Mectron (radares), Aeroeletrônica (aviônicos) e Turbomeca (motores). O governo espera que o empenho brasileiro abra caminho para eventuais encomendas provenientes da América Latina, no preenchimento das quais a participação brasileira seria considerável.
A família no Brasil
A entrada do EC725 em serviço no Brasil representará a incorporação para uso militar em nosso país da terceira geração de helicópteros da família Puma. Nada mau para uma aeronave que representa possivelmente o extremo máximo do desenvolvimento de uma célula básica cujo projeto foi iniciado em meados da década de 1960. Até o presente, mais de 700 exemplares civis e militares do Puma/Super Puma/Cougar já foram produzidos, tendo-se acumulado mais de 3.800.000 horas de vôo. Os helicópteros dessa família atualmente operam com 130 operadores, em 53 países.
O Brasil inicialmente adquiriu seis helicópteros SA330L Puma para a FAB, recebidos em 1981. Foram designados CH-33 e distribuídos ao 3º/8º Grupo de Aviação, sediado na Base Aérea dos Afonsos (BAAF, no Rio de Janeiro – RJ). Esses helicópteros, porém não operaram por muito tempo, pois foram substituídos por oito AS532UL Super Puma. A Marinha, e posteriormente o Exército, também incorporaram o Super Puma ao seus respectivos inventários.
Atualmente, a FAB usa nove AS532UL (oito CH-34 e um VH-34, esse para transporte presidencial), operados pelo 3º/8º GAv, na BAAF. A MB possui hoje sete AS532F1 (designados UH-14), que mobiliam o 2º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (HU-2, sediado na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia). O EB utiliza oito AS352UE, designados HM-3 e operados pelo 2º e pelo 4º Batalhões de Aviação do Exército.
O helicóptero
O EC725 e seu equivalente civil, o EC225, são basicamente variantes do Super Puma/Cougar com motores mais potentes, rotor principal de cinco pás, fuselagem alongada e aviônicos mais modernos. A gênese do EC725 foi o requisito gerado pelo Armée de l’Air para a substituição dos Super Puma utilizados pelo esquadrão 1/67 “Pyrénées” na missão de Busca e Salvamento em Combate (RESCO, em francês – Recherche et Sauvetage de Combat). O problema é que, para o Super Puma, era impossível realizar uma missão típica de C-SAR num raio de 200 milhas náuticas da base. O EC725 Resco veio eliminar essa lacuna.
O desempenho superior do EC725 o tornou atraente também para a missão de transporte, inserção e exfiltração de forças especiais, e assim a aeronave foi também adotada pela ALAT (Aviation Legère de l’Armée de Terre, a Aviação do Exército francês), que equipou o seu DAOS (Détachement ALAT d’Operations Spéciales, ou Destacamento de Operações Especiais da ALAT), com o EC725 UHS. O DAOS, entretanto, manteve em uso seus Puma e Cougar. Vale ressaltar que o desempenho do EC725 é muito superior – em relação ao Puma, por exemplo, o alcance é o dobro, com uma carga útil bem maior. O EC725 pode, por exemplo, infiltrar/exfiltrar um grupo de dez militares a uma distância de 200 milhas náuticas, voando a uma altitude de 500 pés.
Apesar do peso máximo de decolagem ser de 11.000kg, bem maior portanto que o de seus antecessores, o EC725 tem um desempenho superior. O elemento básico para isso é representado pelos motores Makila 2A1, dotados de FADEC (Full Authority Digital Engine Control) em canal duplo, e que desenvolvem, na decolagem, 2.100shp cada um (potência máxima de emergência = 2.382shp).
A aeronave é projetada para voar com qualquer tipo de condições meteorológicas, mas, evidentemente, a suíte de aviônicos é especificada por cada cliente, dependendo da missão. Assim, é de se esperar que cada uma das Forças Armadas brasileiras tenha sua própria configuração, embora provavelmente todas tenham o enlace de dados nacional, o BR2. Para operações noturnas, por exemplo, pode ser instalado no nariz um imageador térmico de visada frontal, cuja imagem não só é apresentada nos displays de 15 x 20cm do cockpit (que é do tipo full glass e compatível com Óculos de Visão Noturna), como também pode ser apresentada aos soldados na cabine.
Cabe mencionar alguns outros equipamentos que podem ser instalados e que mostram a elevada capacidade da aeronave: alerta laser, alerta radar, alerta de aproximação de mísseis, lançadores de chaff e flares, redutores de assinatura infravermelho (instalados nas descargas dos motores, e que reduzem em 90% a assinatura infravermelho), assentos blindados para os pilotos, tanques de combustível auto-vedáveis, etc. – além, é claro, do radar no nariz.
O EC725 é a primeira variante da família Puma/Super Puma/Cougar a ter possibilidade de reabastecimento em vôo, para isso dispondo de uma sonda (removível) no lado direito da fuselagem. Como forma de aumentar o alcance, podem ser instalados na cabine tanques de traslado. Na parte posterior da cabine existe lugar para um tanque com 990 litros de combustível, que pode ser alijado.
Normalmente o EC725 é armado com duas metralhadoras de 7,62mm ou 5,56mm atirando por janelas laterais, e aqueles operando no Afeganistão dispõem de um visor de tiro holográfico. O arco de tiro desse armamento é muito amplo, sendo que as metralhadoras podem ser disparadas verticalmente para baixo. Provavelmente é possível a instalação de armamento mais pesado, atirando lateralmente a partir da porta (metralhadora de 12,7mm ou canhão de 20mm). Podem também ser transportados dois casulos de 19 foguetes de 70mm, ou dois canhões de 20mm em casulos, atirando para a frente, cada um dispondo de 180 tiros.
De 2006 até hoje, o Caracal já foi empregado em missões reais em três teatros de operação: Líbano, Afeganistão e Chade. Desses três locais, o Afeganistão é sem dúvida aquele que oferece mais dificuldades, seja pelo calor e areia, onipresentes, ou pelas características das ameaças potenciais. Lá, os Caracal voam com dois pilotos, dois atiradores laterais e dois comandos, cada um armado com uma metralhadora Minimi, de 5,56mm.
Quer ver mais fotos e vídeos? Clique, aqui, no site da Helibras.
O SA-330 “Puma” no “Operacional”: SUD-AVIATION SA-330 PUMA
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