SUD-AVIATION SA-330 PUMA
Por Miguel Machado • 16 Out , 2009 • Categoria: 07. TECNOLOGIA PrintA introdução do Alouette III nas operações de contra-subversão em África foi um sucesso e muito contribuía para o esforço de guerra português em meados dos anos 60. Transporte de pessoal e sua colocação nos objectivos; armado com o temível canhão MG151; fazendo evacuações sanitárias; transporte de cargas. Tudo o AL III cumpria mas uma das suas principais limitações, para determinado tipo de acções, era a sua reduzida capacidade de transporte de pessoal.
Entre 1969 e 1971 a Força Aérea recebeu 13 helicópteros Sud-Aviation SA-330 Puma, versão SA-330C, sendo os primeiros recepcionados logo enviados para a BA 9, em Luanda. Seguiram também, ainda neste ano mais Pumas para o Aeródromo Base n.º 7 em Tete (Moçambique).
Em 1971, um destes helicópteros foi sabotado na BA 3 por opositores ao governo de então, tendo sido a primeira baixa nesta frota. Outro foi destruído em Moçambique em 1973.
Capazes de transportar mais do triplo dos passageiros e uma autonomia, sem depósito suplementar, quase dupla do AL III, trouxe um aumento significativo da capacidade de transporte táctico à Força Aérea a operar em África.
O SA-330 Puma é um helicóptero biturbina, tripulado por 2 pilotos e um mecânico, tem capacidade para transportar 20 militares equipados para combate. Em alternativa pode ser configurado para transporte VIP (8 passageiros), bancos normais (16 passageiros), 6 macas e 4 assistentes, 2.300 Kg de carga interior ou 2.500 Kg de carga suspensa.
Tem um raio de acção de 560 km, velocidade máxima de 310 km/h, um tecto de serviço de 5.600m e, na Força Aérea Portuguesa, nunca recebeu armamento.
Pára-quedistas e Comandos, os seus principais utilizadores em África, adaptaram-se imediatamente a este novo “meio de transporte”, passando a ser possível colocar mais tropas, mais longe e mais rapidamente.
Infelizmente o seu número manteve-se até ao final da guerra aquém das necessidades.
Terminada a guerra, os Pumas regressaram a Portugal europeu e em1976 e 1977 já estavam a operar na BA 6, Montijo e na BA 4, Lages. Em ambas as unidades estas aeronaves foram primariamente orientadas para as missões de busca e salvamento no mar.
Em 1979 dá-se início à sua transformação, nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, para a versão SA-330H, tendo sido dotados de flutuadores insufláveis e de moderno equipamento de voo por instrumentos, ficando, exteriormente, com as características que hoje lhes reconhecemos.
Em 1988 nova modernização, então com a substituição das turbinas de origem pelas actuais, “Turboméca Makila A1A” com maior potência.
Nos Açores e no continente os Puma, apesar de prioritariamente empregues nas missões SAR, efectuavam missões de transporte aéreo táctico e logístico em proveito do Exército e Marinha. Num caso e noutro o facto de voar “todo o tempo” (noite e dia e em quaisquer condições meteorológicas) era uma das suas características mais úteis e potenciadoras do seu emprego.
Na ilha de Porto Santo (Madeira), operava um Puma da Esquadra estacionada no Montijo para, prioritariamente, assegurar a busca e salvamento naquela Região Autónoma.
A variedade das missões asseguradas pelos Pumas era enorme, mas podem nomear-se o transporte de forças especiais e a sua colocação no solo através de “rappel” ou “fast rope”, o transporte suspenso de morteiros pesados ou peças de artilharia como os “Light Gun” 105mm, a colocação no terreno de equipas dotadas de mísseis anti-carro “Milan”, ou o treino das missões de Resgate de Combate da equipa RESCOM que em tempos a Força Aérea manteve.
Na missões de Busca e Salvamento, tarefa de primordial importância num país como o nosso, com uma extensa zona marítima, a tripulação era acrescida de um operador do guincho e de um nadador-recuperador.
Significativamente quer as esquadras dos Açores quer as do Montijo adoptaram um lema comum: “Para que outros vivam”.
A história “pós-África” dos Pumas portugueses foi feita de inúmeros salvamentos, muitos em condições limite. Nos Açores acrescia o transporte entre ilhas em situações de emergência, onde muitas das vezes esta “velha” aeronave com 30 anos de serviço, na guerra e na paz, era a única solução disponível. Assim era à época e ninguém suspeitava sequer o que estava para vir e que mais reforçaria esta última frase, “…a única solução disponível”!
Com a entrada ao serviço dos EH-101 em 2005 a Força Aérea procedeu à retirada gradual dos “Puma”, primeiro do continente e depois dos Açores. Um foi para o Museu do Ar (em Sintra), e os outros recolhidos em Beja para alienação. Estiveram mesmo na iminência de serem vendidos a um país amigo e, depois, noutro caso, há quem garanta que só a tradicional burocracia nacional e algumas indecisões políticas impediram a sua venda.
Estavam assim os Pumas restantes destinados a apodrecer em Beja quando a Fora Aérea, por sua iniciativa e sem apoios financeiros adicionais ao seu orçamento, como ainda em 9 de Outubro último o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea referiu publicamente na Base das Lajes, decide voltar a meter 4 dessas aeronaves a voar. Motivo? O apoio logístico à frota de EH-101 não estava a correr bem, cada vez havia menos aeronaves disponíveis.
O destacamento EH-101 que foi activado nos Açores em Novembro de 2006 estava em vias de ter que ser desactivado. Não havendo decisões politicas que resolvessem este problema de fundo – as negociações com o fabricante Agusta Westand arrastaram-se anos e só em 2009 foi criada uma sua subsidiária em Portugal.
Ou seja, em 2006 e 2007, com a frota EH-101 muito reduzida, a Força Aérea decide voltar a colocar em estado e voo a Pumas e a enviar estas aeronaves para os Açores! Aquilo que se ia já falando à “boca pequena” em meios ligados ao processo e que a muitos parecia incrível, aconteceu mesmo. Os Pumas foram postos a voar discretamente pela Força Aérea, o poder político ignorou olimpicamente o assunto, e em 24 de Setembro de 2008, os quatro “Pumas” aterram nos Açores e iniciam mais um ciclo de vida. Tratava-se de não deixar de cumprir missões de interesse público na Região Autónoma dos Açores, onde as autoridades não se cansaram aliás de elogiar a atitude da FAP.
Note-se que o EH-101 é um excelente helicóptero, para muitos mesmo o melhor do mundo na sua classe, em uso por vários países – mesmo em situações operacionais onde começa a dar provas – e com vendas em curso. O que está aqui em causa é o apoio à frota.
Este ano de 2009 por altura do seu primeiro aniversário, a (reactivada) Esquadra 752, assinalou não só esta efeméride mas também os seus 40 anos e 70.000 horas de voo ao serviço da Força Aérea Portuguesa. A ocasião a FAP divulgou os seguintes números a reter: 4280 vidas salvas, 2482 das quais, no arquipélago dos Açores.
As fotos e o filme que juntamos a este post foram cedidos pelas Relações Públicas da Força Aérea Portuguesa, a quem agradecemos mas não comprometemos com as opiniões expressas, que são nossas!
Veja aqui o SA-330 Puma comemorativo da Esquadra 752 em voo.
Quer saber mais?
– Cardoso, Adelino, “Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX”, Edição Essencial, Lisboa 2000.
– http://callsignafp.blogspot.com
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