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“SHORLAND” DA GUARDA NACIONAL REPUBLICANA & “COMANDO” BRAVIA

Por • 19 Out , 2013 • Categoria: 07. TECNOLOGIA, 14.TURISMO MILITAR Print Print

Quem passa na Calçada da Ajuda em Lisboa, junto ao Palácio do mesmo nome, se olhar para a entrada do 4.º Esquadrão a Cavalo da Unidade de Segurança e Honras de Estado da Guarda Nacional Republicana, tem uma agradável surpresa: um exemplar da SHORLAND Mk III, em exposição estática.

Na Calçada da Ajuda, frente  ao 4.º Esquadrão a Cavalo da Unidade de Segurança e Honras de Estado da Guarda Nacional Republicana, a "SHORLAND Mk III.

Na Calçada da Ajuda, frente ao 4.º Esquadrão a Cavalo da Unidade de Segurança e Honras de Estado da Guarda Nacional Republicana, a SHORLAND Mk III.

Para quem gosta de viaturas militares a maior parte da vezes as noticias reportam-se exactamente ao contrário: viaturas que apodrecem ou que são vendidas a peso para a sucata e a museus que não têm orçamento para as manter. Aqui pelos vistos, pelo menos esta – e outra que costuma ser usada em exposições ou em paradas – está preservada.

Nesta pequena noticia que suporta as fotos, transcrevemos informação sobre a viatura desde que entrou ao serviço na GNR até à actualidade, com os factos mais marcantes e algumas características. Aproveitamos a ocasião, “a talhe de foice”, para mostrar também uma viatura blindada muito semelhante mas com a particularidade de ter sido fabricada em Portugal, a COMANDO Mk III da BRAVIA -VM. Infelizmente esta nunca passou da fase de protótipo e curiosamente as duas unidades fabricadas ainda existem.

No respeitante ao carro-patrulha SHORLAND Mk. III recolhemos informação em artigos de Luís Afonso Costa nas edições do “Jornal do Exército” de Janeiro e Fevereiro de 1989 e na obra de Nuno Andrade “Para Além do Portão” (Guerra e Paz, 2007), na qual aborda a participação da GNR nos acontecimentos de 25 de Abril de 1974; no respeitante à COMANDO Mk III nos artigos de Luís Afonso Costa nas edições do “Jornal do Exército” de Março, Abril e Maio de 1993.

 2 Shorland GNR B 53  copy

3 Shorland GNR B 53  copy

4 Shorland GNR B 53  copy

Segundo Nuno Andrade, tenente-coronel da GNR e actual Chefe de Divisão de História e Cultura da Guarda, em 1974 com o avolumar da tensão interna no nosso país, a GNR percebeu que poderia ter que enfrentar ameaças para as quais não estava armada e equipada. Assim, «…No sentido de colmatar essas evidentes fragilidades decorria em ritmo acelerado, sobretudo depois do 16MAR74, o processo de aquisição de carros de patrulha blindados “Shorland, Mark III”. Foi recebido um em 13 de Março de 1974 e mais dois em 9 de Abril de 1974. Essas viaturas no dia 25 de Abril (de 1974) estavam operacionais contudo não dispunham de poder fogo. As metralhadoras «FN/MAG cal. 7,62mm NATO» apenas foram recebidas em 12 de Julho de 1974 e mesmo nessa altura não estavam completamente operacionais. De igual forma, os dois conjunto de quatro lança-granadas de fumos ou lacrimogéneas, existentes em cada viatura, não estavam ainda operacionais. Para além das três viaturas recebidas antes de 25 de Abril de 1974, as restantes 35 foram entregues até Março de 1975, tendo inclusive intervindo no 11 de Março (…) o processo de aquisição das viaturas blindadas “Shorland” (destinadas a substituir as auto-metralhadoras “Berliet 6×6 WWB4”, que datavam dos finais dos anos 30 e as auto-metralhadoras “Humber MK IV”, que datavam do início dos anos 50) (…) foram encomendadas à Grã-Bretanha fora do circuito normal do Ministério do Exército (…) para pagar com verbas do Ministério do Interior e o preço (…) unitário foi de 1.309.524$00 (…). Essas viaturas blindadas estiveram logo a seguir 25 de Abril ao serviço da GNR, tendo intervindo no 11 de Março de 1975. Após esta última intentota, foram mandadas recolher ao Exército, sendo restituídas à GNR aquando do 25 de Novembro de 1975, onde intervieram, tendo igualmente participado em diversas acções da GNR, em todo o território nacional, com destaque para as acções de protecção aos partidos políticos de então e ao envolvimento na vulgarmente designada «Reforma Agrária», obtendo pela sua acção ou somente pela presença importante papel na manutenção/restabelecimento da ordem pública….»

Diz-nos Luís Costa, um dos mais antigos, rigorosos e persistentes estudiosos desta temática das viaturas militares em Portugal: «…em linhas muito gerais, a Shorland Mk III, fabricada pela “Short Brothers & Harland Limited” (Belfast, Irlanda do Norte) tinha um chassis do Land Rover ¾ ton 4×4, pesava 3,5 toneladas e alcançava uma velocidade máxima em estrada de cerca de 80 km/h. Em todo o terreno podia atingir a velocidade de 48 Km/h, dispondo de 2 depósitos de combustível com capacidade de 64l cada, o que lhe dava uma autonomia de cerca de 500Km. Usava gasolina super e o consumo em estrada era de 20 a 25l/100. A sua guarnição era constituída por chefe de carro, condutor e atirador e transportava 5 cunhetes de 200 cartuchos para a FN MAG 7,62mm. Os dois conjuntos de lança-granadas tipo 80 eram accionados por disparador eléctrico e transportava 4 cunhetes de granadas. A guarnição, normalmente, usava pistola-metralhadora e granadas de mão. Dispunha de sistema de comunicação interno e emissores/receptores “Racal” ou “Storno”. O motor era um Rover com 6 cilindros, possuía um farol de movimento alinhado com a metralhadora e um rotativo azul para sinalização de polícia, de uma sirene de som continuo e de um equipamento “PYE” de audição pública c/ microfone, amplificador de 50Watts e altifalante. As dimensões da viatura são: comprimento de 4.6m, largura de 1,78m e altura de 2,29m.

5 Shorland GNR B 43 copy

6 Shorland GNR B 43 Detalhe torre copy

Em Portugal os SHORLAND nunca foram atacadas a tiro ou com explosivos, não tendo por isso sido verdadeiramente “testados em combate”. Na Irlanda do Norte o “Ulster Defence Regiment” que as utilizou intensamente em ambiente bem difícil – por exemplo a patrulhar a fronteira com a República da Irlanda – foram, pelo menos em duas ocasiões, vítimas de ataques – minas e disparos directos – e resistiram relativamente bem. Protegeram as guarnições e mesmo danificados conseguiram sair dos locais de emboscada. Embora haja poucos dados, mesmo do fabricante sobre esta matéria, em folhetos de publicidade a fábrica garantia que a blindagem resistia a fogo de armas ligeiras, estilhaços e alguns explosivos improvisados como “coktail molotov”

Esta viatura teve uma longa utilização na GNR e em 2006, mesmo depois da chegada das novas IVECO blindadas (IVECO M40.12/WM/P), em 2003 – adquiridas para emprego no Iraque e que foram depois utilizadas também na Bósnia e em Timor-Leste – ainda havia viaturas operacionais no Regimento de Cavalaria.

Perfil lateral Shorland Mk III 1974

SHORLAND Mk.III versus COMANDO Mk. III

Mais pesada que a SHORLAND da qual era claramente uma cópia, até porque nasceu depois, a COMANDO MK III foi fabricada pela portuguesa BRAVIA – VM. Esta empresa fabricou dois exemplares deste blindado COMANDO, que se destinava em primeiro lugar a tentar fornecer a GNR. Um dos exemplares foi entregue – oferecido – à Guarda para avaliação mas esta força de segurança nunca optou pela sua aquisição, inviabilizando-se assim, por falta de compradores nacionais, a produção em série da viatura. As tentativas de colocação no mercado internacional desta viatura também não tiveram sucesso, tanto mais que surgiu numa altura em que o fabricante – o mesmo das V-200 CHAIMITE – já enfrentava grandes dificuldades de gestão.

Diz-nos Luís Costa: «…a viatura blindada de reconhecimento “Comando” Mk III 4×4 Mod./1974, pesava 4.330 Kg e podia ser equipada com motor Perkins a diesel, de quatro cilindros em linha e 3.860 cm3, mas podia também usar um Dodge H225 a gasolina e seis cilindros em linha e 3.687 cm3. Tinha uma caixa de velocidade de 4 para a frente e 1 para trás. Como armamento, fruto das características da torre – igual à da V-200 Chaimite – podia usar 2 metralhadoras (de diversos tipos, duas 7,62mm ou uma 12,7mm e uma 7,72mm, por exemplo) e tinha instalado um lança-granadas de 60mm. Tinha as seguintes dimensões: comprimento 4.9m; largura 1,9m, altura 2,4m…»

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Comando patente copy

Olhando para a viatura nota-se que tinha mais visibilidade que a SHORLAND uma vez que usava periscópios idênticos aos da V-200 quer na torre quer lateralmente e mesmo na retaguarda. Os instalados na carroceria dispunham ainda de seteiras o que permitiria à guarnição fazer uso do armamento, em todas as direcções, sem apear. Olhando para a viatura notam-se aliás vários outros elementos comuns à V-200 inicial fabricada pela BRAVIA, por exemplo os tampões dos depósitos de combustível, argolas para transporte suspenso, acessórios das portas, entre outros. A guarnição era idêntica à SHORLAND (chefe viatura, condutor e atirador/apontador) mas podia embarcar, embora em condições pouco confortáveis, mais passageiros por ter o compartimento de transporte um pouco maior.

Note-se no entanto que ambas as viaturas não se adequam ao transporte de “infantaria”, não só pela falta de espaço e condições interiores como pela inexistência de portas/rampas para seu uso. Os passageiros tinham que usar as portas da frente para sair, um processo algo moroso, mesmo que apenas fizessem uso de armamento ligeiro e pouco equipamento, sendo assim apenas adequado o seu transporte em movimentos administrativos ou logísticos.

A viatura COMANDO que as imagens mostram – fotografada no parque das Oficinas Gerais de Material de Engenharia na Ajuda, por sinal bem perto da SHORLAND da GNR! – foi incluída no lote de material colocado pelo tribunal à guarda do Exército para desmilitarização, no decurso do processo de falência da BRAVIA – VM. A outra viatura, designada pela GNR de “B-1”, ficou nesta força de segurança até ser alienada para o Clube Português de Automóveis Antigos, mantendo-se na sua posse e havendo neste momento (Outubro de 2013) uma tentativa para a recuperar em curso.

Perfil lateral Comando Mk III

 

Como complemento ao presente artigo inserimos (em 27OUT13) estas imagens que nos chegaram de Carlos Marques. Segundo este nosso leitor ao qual agradecemos a presente colaboração, “…infelizmente nenhum fabricante criou um modelo da Shorland em miniatura… …este exemplar com uma elevada taxa de incorporação de mão de obra caseira“.

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