SEGUNDO ANO DE MISSÃO NO IRAQUE: FORMAÇÃO E TREINO
Por Miguel Machado • 30 Jun , 2016 • Categoria: 04 . PORTUGAL EM GUERRA - SÉCULO XXI, EM DESTAQUE PrintAs Forças Armadas Portuguesas continuam o seu empenhamento no Iraque, tendo já entrado no segundo ano de missão. Trinta militares portugueses actuam num dos teatros de operações mais perigosos do mundo, cumprindo as directivas do poder político nacional no sentido de formar e treinar os militares iraquianos que combatem o “Daesh”.
Segundo ano de missão na Coligação Internacional – Iraque
Em Abril de 2015 o governo português determinou às Forças Armadas, através da Portaria n.º 275/2015(*) a constituição de uma Força Nacional Destacada para o Iraque com a finalidade de integrar a Coligação Internacional – Iraque, liderada pelos EUA, que então como hoje, combate o designado “Daesh” ou “Estado Islâmico”.
A força portuguesa atribuída à Combined Joint Task Force – Operation Inherent Resolve foi integrada no contingente espanhol, em Besmayah, num complexo militar que estes designam por “Base Gran Capitán” e a coligação por “BPC (Building Partnership Capability) Besmayah” ou “Task Force Besmayah”. Ali a cerca de 50 km de Bagdade a Bandeira Nacional foi pela primeira vez hasteada em 17 de Maio de 2015. Neste BPC de comando espanhol servem além dos espanhóis e portugueses, ingleses e americanos.
O Exército Português já enviou 3 contingentes para esta missão, no âmbito da Coligação Internacional liderada pelos EUA, tudo indicando que a mesma vai ser prolongada, pelo menos por mais um ano. À Brigada Mecanizada competirá render a Brigada de Reacção Rápida que empenhou estes 3 primeiros contingentes e depois, tudo indica, uma nova FND será aprontada pela Brigada de Intervenção.
Nova missão, agora com a NATO?
Primeiro o ministro dos negócios estrangeiros (em 20 de Maio) e depois o ministro da defesa nacional (15 de Junho), pronunciaram-se publicamente sobre a eventualidade de Portugal participar numa nova missão no Iraque. Quer um quer outro clarificaram que não é intenção de Portugal participar com meios militares no combate que a comunidade internacional tem em curso para aniquilar o “Daesh”, mas sim, se a NATO decidir avançar com uma missão, Portugal pode ponderar novo envolvimento para ajudar a “estabilizar” o Iraque, afastando os militares portugueses, mais uma vez, de missões operacionais, preferindo as de “formação e logística”, segundo Azeredo Lopes, que considerou que assim projecta «…o nome de Portugal na organização, até porque isso é também uma forma de projectar o País nas relações externas…».
Não queremos ou não temos capacidade?
Estas tomadas de posição sobre a tipologia da participação portuguesa parecem ter mais a ver com opções políticas – legítimas diga-se – de não empenhar forças de combate em determinados teatros de operações do que com as capacidades das Forças Armadas. Já em 2 de Abril deste ano, o ministro da defesa, em entrevista ao Expresso, sem clarificar, havia referido que «…Portugal não está em condições de participar no combate da Síria …». Ora é sabido que todos os chefes militares sempre declararam que todos aos ramos têm capacidade para actuar em qualquer teatro de operações da actualidade como, de facto, empenhamos militares e meios (navais, aéreos e terrestres) em operações reais e exercícios que o provam. As opções políticas são legítimas mas devem ser assumidas. A não participação militar portuguesa em determinadas componentes destas operações multinacionais em teatros de operações de elevado risco e complexidade, tem inevitáveis reflexos não só nas competências adquiridas que são mais limitadas e naturalmente diminuem a nossa real capacidade operacional como em questões relativas à imagem das Forças Armadas e de Portugal. Esta ausência portuguesa nas missões ofensivas comporta também o risco de atrasar ainda mais o mais do que necessário reequipamento, uma vez que as exigências para as missões de formação e treino e logísticas são substancialmente menores que outras “na linha da frente”.
Em Besmayah com as relações públicas da Coligação.
As fotos que hoje ilustram este artigo são provenientes da Combined Joint Task Force – Operation Inherent Resolve Public Affairs Office. Quem nos acompanha aqui no Operacional sabe que temos publicado vários artigos sobre esta missão portuguesa no Iraque (ver listagem/links no final do artigo), invariavelmente compostos por excertos de comunicados e fotografias divulgadas pelo Estado-Maior de Defesa de Espanha. Hoje no entanto, fotos e legendas foram obtidas nas próprias Relações Públicas da operação, que publicou recentemente mais uma reportagem fotográfica com a Task Force Besmayah e das quais retiramos – devidamente autorizados – as fotos onde militares portugueses apareciam e ainda algumas outras (em várias datas), sobretudo de meios auto e armamento (iraquianos), para dar aos nossos leitores uma noção do que estão a fazer os portugueses no Iraque e os meios com que lidam. Em Portugal como é sabido, a nível do EMGFA que tem o comando das missões no estrangeiro, apenas tem sido divulgado o efectivo que temos em presença – 32 militares – e as partidas/chegadas de contingentes. O Exército costuma divulgar no seu site a realização dos exercícios finais de preparação para a missão e a cerimónia de entrega / recepção do Estandarte Nacional.
As fotos inseridas neste artigo são da autoria de militares do Exército dos EUA, aos quais manifestamos o nosso agradecimento. Todas as imagens estão identificadas mas queremos referir em especial o Sargento Paul Sale e o Cabo Jacob Hamby, que fotografaram os portugueses. Sem estes documentos a memória da participação militar portuguesas nesta missão ficaria bem mais pobre.
(*) Esta portaria de 27ABR2015 previa um ano de missão, o qual já foi ultrapassado. Desconhecemos se outro documento legal já prolongou a participação portuguesa na missão.
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