REPÚBLICA CENTRO AFRICANA: APOIO “DE RETAGUARDA” AOS PÁRAS
Por Miguel Machado • 9 Jul , 2018 • Categoria: 04 . PORTUGAL EM GUERRA - SÉCULO XXI, EM DESTAQUE PrintOs paraquedistas portugueses na República Centro Africana têm sido repetidamente notícia e por boas razões! As operações de combate contra grupos armados, a protecção de comunidades atacadas, os elogios recebidos quer na RCA pela hierarquia das Força das Nações Unidas – a MINUSCA – quer em Portugal pelo poder político e chefias militares, aparecem na imprensa nacional e mesmo internacional.
Esta realidade tem várias explicações que vão da formação ao treino dos militares envolvidos, do seu comando e qualidade “dos quadros” à generosidade e espírito de sacrifício “da tropa”. Mas muitas vezes passa despercebida uma outra realidade, a que vamos abordar hoje! Como sempre nas operações militares, alguém tem que criar condições para que os operacionais combatam. Quem são então na RCA os homens e mulheres que raramente são falados mas que garantem o funcionamento da Força Nacional Destacada?
Desde logo o Comando e o Estado-Maior, com o Comando a fazer o acompanhamento directo de todas as actividades operacionais, logísticas e seu planeamento, e o Estado-Maior, ali articulado nas áreas de Informações, Recursos, Operações, Finanças e Ligação. As Informações e as Operações desenvolvem um trabalho meticuloso na preparação e condução das operações; na área dos Recursos a “logística” e o “pessoal” encontram-se fundidos, cabendo-lhe a colocação de recursos, na quantidade necessária, em tempo e no local designado e em condições da componente operacional – os três pelotões de paraquedistas que enfrentam os inimigos de armas nas mãos – cumprir as missões atribuídas.
A área das Finanças é fulcral num país onde os recursos são escassos e constantemente é feito um esforço adicional para aquisição de bens no mercado local, com todos os constrangimentos associados à situação que ali se vive – segurança, corrupção, etc. – bem como lidar com o levantamento de elevadas quantias em dinheiro em bancos com condições muito precárias.
A Ligação, através do seu “oficial de ligação” é de extrema importância, para os contactos com o escalão superior e vice-versa, sendo os ouvidos e a voz do Comandante da Força em todos os momentos que este não esteja presente, actuando por exemplo no Centro de Operações Tácticas da Força Multinacional.
O Módulo Sanitário, acompanha as missões tácticas, tem as suas rotinas diárias, nomeadamente as tarefas inerentes ao tratamento e prevenção de todo o tipo de riscos epidemiológicos associados às limitadas condições sanitárias naquele Teatro de Operações e que poderão com facilidade ser a causa de militares indisponíveis para o cumprimento da missão, estando constantemente a implementar planos preventivos para a força.
O Módulo de Transmissões que mantém em permanência o funcionamento das comunicações (H24), com o comando da MINUSCA, para Portugal e com as forças no terreno. Garante a manutenção de todos os equipamentos rádios, satélite, informáticos etc. e ainda providencia dentro do possível um serviço de internet para a área do moral e bem-estar da força, a ligação ao mundo – sobretudo às Famílias – dos militares em missão.
A Equipa EOD – simplificando, quem procede à neutralização de explosivos e armadilhas – além de acompanhar as missões tácticas, mantém em simultâneo a sua valência na área de engenharia (construções) reforçando a área de manutenção do campo com diversas tarefas de manutenção e mesmo da sua melhoria.
O Destacamento de Controlo Aéreo Táctico da Força Aérea, denominado oficialmente por Tactical Air Control Party que além do empenhamento operacional, coordena e treina as suas capacidades para dar apoio às evacuações aeromédicas com helicópteros MI-17 e helicópteros de combate da MINUSCA. Executam reconhecimentos aéreos de elevada importância no planeamento de operações futuras com estreita ligação aos meios aéreos disponíveis na força multinacional.
O Módulo de Alimentação, que além do seu trabalho “como num quartel” tem que se adaptar em permanência à por vezes bem complexa manobra de fazer chegar alimentação a toda a força onde ela actua. Naturalmente a prioridade é o empenhamento táctico e os horários nestes casos são em sua função o que exige grande flexibilidade de todos e espírito de bem-servir os outros. Quem já andou em missões sabe bem a importância critica que tem a alimentação! Além do seu trabalho normal e deste apoio directo às operações, são mais e variadas as suas actividades, algumas senão mesmo todas, com enorme importância no moral da força. Dias festivos com ementa melhorada e a disponibilidade que existe H24 de ter permanentemente a messe à disposição para os militares fazerem pequenas refeições intervaladas, são dois desses aspectos. Este Módulo também apoia a Secção Financeira aquando dos movimentos para aquisição e levantamento de bens alimentares no mercado local e na Base logística da MINUSCA. Não param!
O Módulo de Manutenção sempre em permanente prontidão para adaptar, manter e reparar as cerca de 56 viaturas de várias tipologias, bem como todo o armamento da força, que em primeiro escalão é feito pelos utilizadores, mas em caso de avaria será na área da manutenção através dos mecânicos de armamento. Não é nada fácil garantir a manutenção e reparação das viaturas quer devido ao desgaste, pela permanência de tempo em TO quer pelo desgaste operacional, como foi o caso recente da última operação de combate na cidade de Bangui em que várias viaturas ficaram danificadas tanto pelos projécteis disparados contra elas, como pela ultrapassagem de obstáculos no terreno. As operações na RCA são de extrema exigência para as pessoas mas também para o material!
O Módulo de Reabastecimento e Serviços tem responsabilidades em toda a área do campo M’ POKO (a base portuguesa junto ao aeroporto internacional com o mesmo nome), nomeadamente nas suas instalações, controla todo o material à carga, é responsável pelo reabastecimento das viaturas e todo material necessário para a vivência de 159 militares. Como já foi referido conta com o apoio dos elementos de engenharia (EOD) para executarem várias tarefas de manutenção e melhoria do campo. Em coordenação com a área dos Recursos do Estado-Maior desenvolvem todas as operações logísticas associadas, nomeadamente quando chega material vindo de Portugal. Prepara e acompanha todas as projecções da força operacional para fora de Bangui, o que acontece com alguma frequência.
É este conjunto de 63 homens e 6 mulheres que contribui discretamente mas com muito trabalho e competência para o sucesso de toda a 3.ª Força Nacional Destacada (Conjunta) e o bom nome de Portugal naquelas paragens.
Sobre a actividade das tropas portuguesas na RCA, clique e leia também no Operacional:
PORTUGAL NA RCA, DE VITÓRIA EM VITÓRIA ATÉ…
NA REPUBLICA CENTRO AFRICANA OS PORTUGUESES NÃO PARAM
COMANDANTE DA FND PORTUGUESA NA RCA FALA AO OPERACIONAL
FORÇA PORTUGUESA NA REPÚBLICA CENTRO AFRICANA
PÁRAS PRONTOS PARA A REPÚBLICA CENTRO AFRICANA
DEFESA NACIONAL E FORÇAS ARMADAS, O PIOR E O MELHOR DE 2017
MILITARES PORTUGUESES EM ÁFRICA AO SERVIÇO DA ONU E UE
BRIGADEIRO-GENERAL PORTUGUÊS COMANDA EUTM-REPÚBLICA CENTRO AFRICANA
MISSÃO NA RCA – REPÚBLICA CENTRO AFRICANA
Miguel Machado é
Email deste autor | Todos os posts de Miguel Machado