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PORTUGAL NO AFEGANISTÃO

Por • 9 Jun , 2012 • Categoria: 04 . PORTUGAL EM GUERRA - SÉCULO XXI Print Print

Porque estamos no Afeganistão? Neste artigo o Coronel Pára-quedista Frederico Manuel Assoreira Almendra, recém chegado de Cabul onde comandou o 3.º Contingente Nacional no Afeganistão, responde a esta e a outras questões pertinentes sobre a participação portuguesa nesta missão, os resultados que a Aliança Atlântica, Portugal incluído, ali vão alcançando e partilha com os nossos leitores alguns aspectos de mais uma missão.

Mais uma missão nocturna para os portugueses está prestes a começar em Cabul.

Mais uma missão nocturna para os portugueses está prestes a começar em Cabul. Neste teatro de operações as deslocações exigem (quase) sempre o emprego da Companhia de Protecção e dos seus HMMWV.

O “Operacional” muito agradece ao Coronel Almendra esta colaboração, com a qual podemos mais uma vez transmitir aos nossos leitores, pela pena que quem anda “com as botas no terreno”, quem são e o que fazem os militares portugueses nestas novas missões das Forças Armadas Portuguesas.

Frederico Manuel Assoreira Almendra, 48 anos de idade e 32 de serviço militar, escreve hoje no “Operacional”. Antigo aluno do Colégio Militar, oriundo da Arma de Infantaria, tem uma carreira quase sempre ligada às Tropas Pára-quedistas onde desempenhou diferentes funções. Desde 1986 esteve ligado quer à instrução quer à componente operacional ou ainda em funções de estado-maior, tendo sido de 2008 a 2011 comandante da Escola de Tropas Pára-quedistas em Tancos. Em S. Jacinto comandou a Companhia de Morteiros Pesados e em Tancos (ex-BA 3) foi oficial de operações da Brigada Aerotransportada Independente. Serviu ainda na área das operações no Comando das Forças Terrestres e na das Informações na EUROFOR (Florença/Itália). Foi observador militar na Croácia em 1994/1995, prestou serviço no Kosovo em 2001, no Afeganistão em 2004/2005, no Iraque em 2007 e ainda no Líbano em 2006. Comandou o 3.º Contingente Nacional no Afeganistão de Outubro de 2011 a Abril de 2012.
Frederico Almendra possui diversas qualificações na área Aeroterrestre, de que se ressaltam as de Instrutor de Pára-quedismo, Precursor Aeroterrestre, Queda Livre Operacional, Chefe de Salto de Abertura Manual e Instrutor de Queda Livre Operacional. Fora do âmbito aeroterrestre possui outras qualificações militares, nomeadamente na área da guerra NBQ; das Operações Psicológicas e Informações Militares ou ainda nas áreas das Operações Irregulares e das Patrulhas de Longo Raio de Acção.
Frederico Almendra está habilitado com o Curso de Estado-Maior e é licenciado em Psicologia Clínica pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada.

O Coronel Almendra e o Tenente-Coronel GNR António Monteiro (de costas), comandante da componente da "Guarda".

O Coronel Frederico Almendra e o Tenente-Coronel GNR António Monteiro (de costas), comandante da componente da "Guarda".

O dia-a-dia dos portugueses é trabalhar com as forças afegãs e com os parceiros da NATO para tentar fortalecer as capacidades militares e policiais do Afeganistão.

O dia-a-dia dos portugueses é trabalhar com as forças afegãs e com os parceiros da NATO para tentar fortalecer as capacidades militares e policiais do Afeganistão.


Portugal no Afeganistão
A Força Nacional Destacada portuguesa no Afeganistão participa numa missão da Aliança que é peculiar a vários títulos:

Importante para o Afeganistão, porque muito embora os seus índices de desenvolvimento humano tenham melhorado muito nos últimos 10 anos e as suas Forças de Segurança, bem como os pilares do Poder do Estado Afegão, terem evoluído decisivamente, o seu futuro continua marcado de grandes incertezas, sobretudo considerado impacto da saída anunciada da ISAF e a importância – crescente nos próximos anos – que as potências regionais assumirão na sua estabilidade interna;

Importante para a OTAN, porque esta missão – complexa, de elevada atrição operacional e de leitura tão díspar e polémica a nível interno para as Troop Contributing Nations – testa, como nenhuma outra antes o fez, os limites da Aliança, amplificando as divergências presentemente existentes entre aliados acerca da sua natureza e propósito, sobretudo á medida que os EUA, reorientando-se para a região Ásia-Pacifico, trazem para o Teatro de Operações (TO) novos aliados que, embora não pertencendo à OTAN, assumem aqui uma pesada e incontornável influência;

Importante para Portugal, porque temos na ISAF um registo de credibilidade a defender – conquistada por uma presença de anos no TO em que nos afirmámos perante Afegãos e Aliados pela capacidade operacional e assertividade das nossas QRF ou das nossas esquadras de C-130, pela competência da nossa liderança em KAIA, ou ainda pela referencial capacidade de penetração e eficácia das nossas equipas de treino e mentoria – e sobretudo porque as exigências excepcionais colocadas pela missão e pelo ambiente operacional impõem que as diversas componentes disponibilizadas com o concurso dos Ramos e da GNR, se preparem e integrem de uma forma que antecipa hoje o futuro das FFAA.

Nos dois anos que se avizinham, o desafio para a FND/ISAF (que é a prioridade nacional declarada) é o de continuar a capitalizar nas mais-valias que possuímos – como as qualidades únicas que a nossa tropa tem para actuar neste TO e com estas gentes, ou o óptimo quartel que possuímos em Cabul, situado numa das poucas bases que permanecerá – procurando continuar a afirmar a nossa qualidade e “especificidade de nicho”, no seio de uma missão que evoluirá doravante a um ritmo alucinante e que precisa desesperadamente de capacidades e competências como as que dispomos. Queiramos nós engajar-nos, esta missão poderá constituir-se um estímulo precioso ao desenvolvimento organizacional, operacional e doutrinário das nossas FFAA.

O 3º Contingente Nacional engajou-se! Empenhámo-nos desde o início com entusiasmo e entrega, insistindo na revisão do processo de aprontamento da força, estabelecendo parâmetros mínimos de proficiência individual e colectiva orientados para a missão; preparámos o pessoal do Contingente de forma exigente e intensa.

No Teatro de Operações, racionalizámos o suporte administrativo-logístico, aumentando a eficácia e reduzindo os custos operacionais de funcionamento. Melhorámos muito as instalações e aperfeiçoámos ulteriormente as comunicações de campanha bem os procedimentos e o desempenho operacional da Companhia de Protecção e do Centro de Operações Táctico do CN. Interpelámos permanentemente a estrutura Superior de Comando da ISAF acerca do estado e evolução da missão, procurando identificar antecipadamente informação relevante para o desenho da nossa participação futura.

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Porquê?
Porque assim foi querido pelos Portugueses, que nos determinaram que cumpríssemos esta missão da Aliança Atlântica – prioritária e reconhecidamente difícil – como expressão sólida e eloquente da nossa Política Externa e de Alianças;

Porque, por imperfeita e polémica que se julgue ser a missão da ISAF, ela permitiu que se alcançasse, em terras do Afeganistão, estes, entre tantos outros feitos positivos:

  • Iniciar a reforma do sector de segurança e prover ao estabelecimento elementar dos pilares de afirmação do poder do Estado Afegão, na latitude suficiente para assegurar: pela primeira vez na história do Afeganistão, a execução de eleições presidenciais e parlamentares livres; o estabelecimento um parlamento representativo (fórum representativo onde os partidos políticos e as regiões afegãs têm voz activa e que conta já com várias mulheres entre os parlamentares); a criação e operação de tribunais; a criação de Forças de Segurança Afegãs que, com um efectivo de 350 000 homens entre efectivos do exército, polícia nacional e local, estende hoje a soberania do estado à maioria do território Afegão;
  • Aumentar o número de professores de cerca de 20 000 (em 2002) para os mais de 175 000 que existem hoje (sendo que 30% destes são do sexo feminino).
  • Aumentar a população escolar de 900 000 alunos (em 2002; quase só rapazes) para os mais de 8 milhões de alunos (dos quais 37% raparigas) que hoje frequentam escolas por todo o Afeganistão;
  • Treinar mais de 20 000 prestadores de cuidados de saúde, permitindo entre outros efeitos de maior relevo, a queda em 22% na mortalidade infantil e duplicar a cobertura de vacinação da população;
  • Permitir a operação da miríade de Organizações Internacionais e de Organizações Não-Governamentais que hoje estão presentes no Afeganistão;
  • Estender o acesso à energia eléctrica da fracção residual da população de Cabul, que em 2001 beneficiava, para os mais de um milhão e meio de habitantes que hoje usufruem dos 230 MW de capacidade instalada na capital. Concomitantemente, em termos de telecomunicações, passar dos menos de um milhão de habitantes que em 2001 beneficiavam desse privilégio, para os mais de 14 milhões de Afegãos que hoje têm acesso às duas redes de comunicações móveis existentes.

Porque – como nos foi repetidas vezes apontado por Afegãos – é normal e expectável que os Europeus queiram ajudar o Afeganistão no seu restabelecimento, afirmando com a sua presença o reconhecimento pelo importante contributo dos Afegãos para a queda do império soviético, com um conflito, longo de 10 anos, que mantiveram e que implicou o sacrifício de mais de um milhão de Afegãos (e o êxodo de outros 4 milhões) mas que, dissolvida a URSS e caído o Muro, contribuiu para propiciar à Europa 20 anos de grande prosperidade, desenvolvimento e bem-estar social;

Porque a participação nesta missão constitui expressão superior da vocação, única e nobre, de ser Soldado de Portugal: em Servir a Pátria Lusa com desinteresse, abnegação e desejo de bem servir, num propósito e renúncia partilhados por Militares e Famílias e que constitui privilégio que só é outorgado a quem vive animado dos mais elevados ideais cívicos e patrióticos.

Coronel Pára-quedista Frederico Almendra.

Nota: as legendas são da responsabilidade do “Operacional”.

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A bordo de um helicóptero de um país aliado o comandante do 4.º Contingente Nacional (que está actualmente no Afeganistão), Coronel António Leitão (em primeiro plano), o Tenente-Coronel Torcato e um oficial da Célula de Informações Militares, sobrevoam...

A bordo de helicóptero de um país aliado o comandante do 4.º Contingente Nacional - que está actualmente no Afeganistão - Coronel António Leitão (em primeiro plano), o Tenente-Coronel Torcato e um oficial da Célula de Informações Militares, sobrevoam...

...estas paisagens, familiares a mais de 2.000 portugueses que desde 2002 servem no Afeganistão, em nome de Portugal.

...estas paisagens, familiares a mais de 2.000 portugueses que desde 2002 servem no Afeganistão, em nome de Portugal.

As placas indicam dezenas de localidades em Portugal, que os portugueses que pelo Afeagnistão vão passando não esquecem. Pelas recentes declarações do Ministro da Defesa Nacional (Aguiar Branco) tudo indica que não faltará muito (2014?) para Portugal retirar definitivamente do terreno.

As placas indicam dezenas de localidades em Portugal. Os portugueses que pelo Afeganistão vão passando não esquecem as origens. Pelas recentes declarações do Ministro da Defesa Nacional (Aguiar Branco) é bem provável que não faltará muito (2014?) para Portugal retirar definitivamente do terreno.

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