OPERAÇÕES ESPECIAIS PORTUGUESAS E DOS E.U.A. TREINAM EM TERRITÓRIO NACIONAL
Por Miguel Machado • 31 Jan , 2011 • Categoria: 03. REPORTAGEM PrintEnquanto ao largo de Lisboa altas entidades nacionais embarcavam “no maior porta-aviões do mundo”, segundo a comunicação social que acompanhou a visita, noutros pontos do país, discretamente, militares de elite portugueses e americanos realizaram um importante exercício de forças especiais. O que fizeram enquadra-se bem no treino necessário para combater as ameaças do momento, nomeadamente o terrorismo.
Este exercício “Joint & Combined Exercise Training” (JCET) permitiu a realização de diversas actividades de treino operacional na qual estiveram envolvidas forças e meios dos três ramos das Forças Armadas Portuguesas e dos EUA. Aqui apresentamos imagens apenas da sua fase aeroterreste, mas outras e bem importantes tiveram lugar longe do nosso alcance!
Foi uma oportunidade pouco vulgar – que já não se realizava há vários anos – para colocar lado a lado: militares portugueses do Destacamento de Acções Especiais do Corpo de Fuzileiros da Marinha; da Companhia de Precursores da Escola de Tropas Pára-quedistas e Elementos de Operações Especiais do Centro de Tropas de Operações Especiais, ambos da Brigada de Reacção Rápida do Exército; meios aéreos e navais da Marinha e meios aéreos da Força Aérea. A Marinha dos EUA enviou SEALs (Sea Air Land) e SWCC (Special Warfare Combat Crew) e um MC-130H Combat Talon II do 352º Esquadrão de Operações Especiais da Força Aérea dos EUA.
A coordenação deste JCET 2011 foi uma responsabilidade, pela parte portuguesa, do Quartel-General de Operações Especiais (QGOE do Estado-Maior General das Forças Armadas) e pelos americanos do Special Operations Command Europe (SOCEUR) comandado pelo Maj. Gen Michael Repass.
O exercício destinou-se a “melhorar o relacionamento entre as forças de operações especiais portuguesas e americanas e aperfeiçoar a interoperbilidade entre ambos“, declarou ao “Operacional” o major Gregory do SOCEUR. Isto foi feito através de uma série de actividades nomeadamente os saltos em pára-quedas de abertura manual em Tancos, pelas diferentes forças especiais americanas presentes, por Saltadores Operacionais a Grande Altitude da Companhia de Precursores do Exército e do Destacamento de Acções Especiais da Marinha, e de saltos de abertura automática (embora com pára-quedas idênticos aos manuais) pelos militares do Centro de Tropas de Operações Especiais.
Questionado sobre o motivo pelo qual o JCET voltou a Portugal depois de um interregno tão grande, Gregory declarou “…o treino actual ocorreu porque surgiu essa oportunidade, mas o desafio para um compromisso mais regular acontece porque estamos a expandir bastante os nossos esforços no sentido de efectuar estes treinos com um maior número de países. Não nos é possível contudo efectuar tantos exercícios com os nossos aliados como gostaríamos…“.
Além da componente aeroterrestre que Alfredo Serrano Rosa acompanhou em Tancos e cujas imagens aqui apresentamos, o JCET 2011, desenrolou-se também em ambiente aquático e terrestre noutras regiões de Portugal, havendo partes do exercício levadas a cabo apenas pelo DAE, SEALs e SWCC e outras em que os elementos de operações especiais de Lamego, do CTOE, também participaram.
Segundo o mesmo porta-voz do SOCEUR, além do treino de procedimentos de comando e controlo, realizaram-se diversos tipos de temas tácticos, operações anfíbias e acções mais “técnicas” com clara predominância para as que têm aplicação no meio aquático e nas zonas de costa com utilização de helicópteros e lanchas de assalto. Tiro “sniper”, infiltrações e extracções sob pressão do”inimigo”, tiro de combate também foram executados.
Não é difícil deduzir que nesta parte do exercício que decorreu na região a Sul de Lisboa e costa Vicentina, o combate ao terrorismo em meio aquático e nas zonas costeiras foi o “prato forte” deste JCET 2011.
Nunca será demais recordar que Portugal não só tem uma extensa costa no Continente, como dois Arquipélagos no Atlântico com mais de uma dezena de ilhas e, potencialmente, cada vez mais interesses económicos “no Mar”. O treino de acções especiais nas ilhas tem aliás sido praticado ao longo dos anos de modo autónomo pelas forças portuguesas envolvidas neste JCET. Acresce que na enorme extensão de Oceano à nossa responsabilidade navegam diariamente numerosos navios, a generalidade em actividades comerciais, mas alguns outros em práticas criminosas e que a Marinha e Força Aérea Portuguesas têm participado em muitas operações “anti-droga” no Atlântico e nos esforços da comunidade internacional para conter a pirataria nas águas do Índico.
Quartel-General de Operações Especiais
O QGOE por vontade própria tem passado relativamente despercebido no contexto do sistema de forças nacional, e mesmo no meio militar permanece algo ignorado. Como em tudo o mais nesta vida, isto tem vantagens e inconvenientes. Quer para as missões que se espera venha a cumprir quer para a noção que a opinião pública (portuguesa e mesmo internacional) tem das capacidades nacionais. Não será agora o momento para aprofundar a temática mas sendo esta a entidade com especiais responsabilidades neste JCET, não podia o “Operacional” deixar de dar a conhecer aos nossos leitores alguma coisa do QGOE.
Sobre os comandos estrangeiros empenhados no exercício os links que abaixo indicamos são bem esclarecedores, quanto ao QGOE, aqui fica a nossa informação.
O Ministro da Defesa Nacional, Paulo Portas, no decurso de uma reunião informal com os seus congéneres da União Europeia, ofereceu a disponibilidade portuguesa para contribuir com um “Combine Joint Special Operations Task Force Head Quarters“. Tratava-se de colmatar uma das lacunas que a UE então apresentava, e a intenção foi formalizada depois em Novembro de 2002, na reunião do Conselho de Assuntos Gerais da União Europeia, para estar operacional no final do ano seguinte. Não existindo nada disto entre nós havia que o “levantar”. Foi constituído um grupo de trabalho conjunto para estudar o assunto e o Almirante Mendes Cabeçadas, CEMGFA, determinou assim no primeiro quadrimestre de 2003 a constituição do “Núcleo Permanente do Combine Joint Special Operations Task Force Head Quarters“, para ser instalado em Oeiras, no interior da unidade do Exército ali aquartelada. Seguiu-se nova orientação do mesmo CEMGFA para estudar como inserir esta capacidade no Conceito Estratégico Militar então em elaboração, e que abordava já de modo claro as novas ameaças e as necessidades de acção conjunta. Assim em 2004 esta capacidade passou a constar neste documento que pela primeira em Portugal definiu o chamado “nível de ambição” para as forças navais, terrestres e aéreas, o que podemos traduzir sem grande preocupação de rigor doutrinário por, “o conjunto máximo de capacidades militares que deveríamos ter”, tendo em conta a realidade nacional.
Detalhes deste processo e as capacidades previstas para o QGOE podem ser lidos aqui: Projecto para o Levantamento do Quartel General de Operações Especiais – Combined Joint Special Operations Task Force HQ (CJSOTF HQ).
Como tudo o que é conjunto em Portugal não é nada fácil de concretizar e as verbas para este órgão não estavam previstas – foi necessário esperar pela Lei de Programação Militar – as coisas foram andando devagar. Mas alguma coisa se fez e como é também bem típico nosso, as pessoas envolvidas empenharam-se nesta nova capacidade nacional. Lutaram por ela. Previsto inicialmente para 2004 só em 2005 o Núcleo Permanente arrancou e foi sendo dotado com pessoal e algum equipamento de comando e controlo. O QGOE e/ou os seus quadros participaram em vários exercícios nacionais “Lusíada” e em alguns internacionais como o “Stedfast Jaguar” e também em operações como a missão da União Europeia na RD Congo.
Finalmente a Lei Orgânica do EMGFA, Decreto-Lei n.º 234/2009 de 15 de Setembro, insere o QGOE na dependência do Comando Operacional Conjunto (COC/EMGFA). Mantém-se aquartelado em Oeiras, está comandado actualmente pelo coronel do Exército, Martins Veloso, oriundo do CTOE (Lamego) e ali trabalham elementos dos três ramos.
Quer ler a legislação sobre o Quartel-General de Operações Especiais? Veja o site do EMGFA, aqui!
Quer saber mais sobre “Comando e Controlo no Emprego das Forças de Operações Especiais”? Veja aqui!
Quer saber mais sobre os US NavY SEALS e os US Special Warfare Combat Crew? Veja o seu site oficial aqui!
Quer saber mais sobre o Comando (americano) de Operações Especiais na Europa? Veja aqui o seu site oficial!
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