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O MUSEU DOS BLINDADOS DE SAUMUR – PARTE I

Por • 27 Set , 2009 • Categoria: 03. REPORTAGEM, 14.TURISMO MILITAR Print Print

No final da 2ª Guerra Mundial a firma francesa AMX de Satory (umas das antecessoras da actual Nexter) que se dedicava à construção de veículos militares, recolheu nos campos de batalha vários blindados alemães. Colocou-os em funcionamento e fez uma avaliação para apoio aos estudos que desenvolvia para a renovação do material blindado francês. Foram estes veículos que constituíram o embrião daquilo que é hoje um dos maiores museus de blindados do mundo, o “Musée des Blindés” de Saumur.

É fácil chegar ao Museu estando os seus acessos muito bem identificados em Saumur

É fácil chegar ao Museu estando os seus acessos muito bem identificados em Saumur

O seu grande impulsionador foi o Coronel de Cavalaria Aubry que aproveitou estes carros alemães para estudo dos estagiários da Escola de Aplicação da Arma Blindada Cavalaria existente naquela cidade. O impulso decisivo teve lugar em 1965 quando o Ministério da Defesa criou o Centro de Documentação de Veículos Blindados, exactamente em Saumur. A missão deste centro – reunir, conservar e restaurar veículos blindados franceses e estrangeiros que oferecessem interesse histórico, técnico e pedagógico – permitiu a Aubry juntar uma colecção (agora já também de material do Exército Francês e das empresas fabricantes) que levou à criação do museu em 1977. Em 1983 o espaço foi aberto ao público e hoje funciona sob a responsabilidade da Associação dos Amigos do Museu dos Blindados, uma vez que, segundo a lei francesa, a exploração financeira de uma instituição militar – mesmo como o museu – não pode ter lugar. O museu vive de subvenções do Ministério da Defesa, dos vários organismos autárquicos da região, das entradas pagas e das receitas a loja e do aluguer de materiais do museu para actividades externas.

O carro "Schneider" e o "Saint-Chamond" foram os primeiros usados pela França na I Guerra Mundial

O carro "Schneider" e o "Saint-Chamond" foram os primeiros usados pela França na I Guerra Mundial

Este "Renault FT17" de 1918 ainda hoje está em funcionamento e actua em diversos eventos do museu

Este "Renault FT17" de 1918 ainda hoje está em funcionamento e actua em diversos eventos do museu

O "Renault B 1bis", o mais potente carro de combate francês em 1940. Em 2º plano  a autometralhadora"Panhard AMD 178" também usada na 2ª Guerra Mundial

O "Renault B 1bis", o mais potente carro de combate francês em 1940. Em 2º plano a autometralhadora"Panhard AMD 178" também usada na 2ª Guerra Mundial

Colecção
O acervo de material do museu é sem dúvida impressionante, cerca de 850 veículos dos quais 200 estão a funcionar. Mas a colecção exposta não se esgota nos veículos. Há uma série de elementos complementares (muitas peças de artilharia, fardas, mapas, ferramentas, armas e outros equipamentos individuais, cartazes, etc.), que enquadram as viaturas nas épocas e locais. Além da parte visitável do museu que a seguir apresentaremos existe uma outra, da qual só vimos “bocados”, onde se recolhem os veículos – muitos! – há espera de recuperação ou destinados a trocas, e naturalmente uma parte oficinal.
Como o próprio guia do museu refere – uma interessante brochura a cores com 47 páginas que se compra por 2,00€ – estamos perante um “museu vivo”, ou seja há alterações regulares ao material exposto. Naturalmente que a parte substancial dos veículos, até pela sua importância, mantêm-se expostos por muitos anos.
Os veículos no interior das salas de exposição estão em bom estado de conservação, o que como bem sabe quem visita museus nem sempre é fácil.
A colecção – em Julho de 2009 – estava dividida nos seguintes espaços:
Entrada e sala da guerra 1914-1918, onde se podiam ver exemplares dos primeiros carros de combate franceses, por exemplo o “Schneider”, o “Saint-Chamond” e o “Renaut F17” (este é um dos que ainda funciona e é apresentado regularmente em festivais), e algumas miniaturas referentes à história deste tipo de veículos;
Sala campanha de França, 1940, com a interessante realidade esquecida pela maior parte dos historiadores – fruto da derrota francesa – sobre a dimensão da arma blindada de que a França dispunha e a sua qualidade. A informação que nos é mostrada garante que os veículos alemães e franceses eram equivalentes em número e em performances, sendo a derrota fruto do seu mau emprego – os generais gauleses estavam agarrados às lições da 1ª Guerra Mundial, para apoiar a Infantaria – e não há luz do que os alemães fizeram na campanha da Polónia. Nesta sala podemos ver os “Hotchkiss H39”, vários “Renault” entre os quais o curioso “EU 31” de reabastecimento que é um pequeno blindado de lagartas com um reboque também de lagartas (como ainda hoje existem os fabricados pela sueca Hagglunds que vários países usam no Afeganistão), o pesado “B1bis” o mais potente blindado francês dessa época, o “Somua”, a auto metralhadora “Panhard AMD 178”, entre outros.

Vista geral da sala dedicada ao material alemão da 2ª Guerra Mundial. O "Tigre II" é o único no mundo em funcionamento.

Vista geral da sala dedicada ao material alemão da 2ª Guerra Mundial. O "Tigre II" é o único no mundo em funcionamento.

Algumas das viaturas expostas foram capturadas no campo de batalha. É o caso deste "Jagdpanzer IV/70A Zwishenlosung" duramente atingido por três projécteis

Algumas das viaturas expostas foram capturadas no campo de batalha. É o caso deste "Jagdpanzer IV/70A Zwishenlosung" duramente atingido por três projécteis

Este "Strumpanzer Brumbar" com uma peça de 150mm destinava-se a apoiar o avanço da infantaria

Este "Strumpanzer Brumbar" com uma peça de 150mm destinava-se a apoiar o avanço da infantaria

Sala alemã da 2ª Guerra Mundial, um dos pontos fortes deste museu, onde se apresentam alguns exemplares raríssimos e, por exemplo o “Tigre II”, é o único no mundo a funcionar. Esta sala é certamente das mais apreciadas pelos inúmeros modelistas e entusiastas de história militar que visitam o museu, o local onde se pode estar junto às “estrelas” mais conhecidas do último conflito mundial, inúmeras vezes vistos em livros, revistas, filmes, kits. Mas além dos poderosos “Tigres” I e II e os conhecidíssimos “Panzerkampfwagen” III, IV e V, podemos ver muitos blindados e viaturas alemãs bem mais discretos. Dos vários “Marders” (canhões anti-carro alemães e russos, adaptados a chassis com lagartas de origem francesa, checa e alemã), aos “caçadores de carros” “Jagdpanzer” e “Jagdpanther”, passando pelos transportes de tropas blindados, os “meia-lagarta” “Schutzenpanzerwagen” e os “Strumpanzer” ou “canhões de assalto” para apoiar a infantaria e que chegavam a dispor de calibre 150mm. Mas também veículos como uma carroça de tracção animal – intensamente usada na guerra – uma moto com lagartas (a “Kettenkrad”), ou um camião “Hanomag” tractor do foguete V2.

Esta sala apresenta uma boa colecção de autopropulsados "de ocasião", aqui um "Marder III", canhão anti-carro soviético 76,2mm captuado foi instalado num chassis do carro de combate Checoslovaco "TNHP".

Esta sala apresenta uma boa colecção de autopropulsados "de ocasião", aqui um "Marder III", canhão anti-carro soviético 76,2mm capturado foi instalado num chassis do carro de combate Checoslovaco "TNHP".

O "Tigre I" com a conhecida blindagem "Zimmerit" que tinha várias finalidades nomeadamente evitar a colocação de minas magnéticas

O "Tigre I" com a conhecida blindagem "Zimmerit" que tinha várias finalidades nomeadamente evitar a colocação de minas magnéticas

O "PZKW V Panther" um dos melhores carros de combate construídos pelos alemães na 2ª Guerra Mundial e destinava-se a fazer frente ao excelente "T34" soviético

O "PZKW V Panther" um dos melhores carros de combate construídos pelos alemães na 2ª Guerra Mundial. Destinava-se a fazer frente ao excelente "T34" soviético

Estes carros italinos, o “Semovente M42” e o “Ansaldo-Fiat M15/42”, combateram n Norte de África

Estes carros italianos, o “Semovente M42” e o “Ansaldo-Fiat M15/42”, combateram no Norte de África

Sala italiana, também dedicada à 2ª Guerra Mundial é um pequeno espaço que apresentava 2 carros dos mais conhecidos deste país nessa época, todos eles originários da Divisão “Ariete” e que haviam combatido em África: o “Semovente M42” e o “Ansaldo-Fiat M15/42”.
Sala (improvisada) de exposições temporárias, onde estavam patentes muitos modelos de veículos franceses numa mostra publicitária da “Nexter” denominada “1916-2009 Nexter, héritier de l’histoire des blindés français”.
Sala das curiosidades, onde…realmente se pode ver um pouco de tudo. Da “vespa” armada com um canhão sem recuo destinada às tropas pára-quedistas, ao carro-mala que se dobra/desdobra e se transforma numa mala, passando por um “Jeep” equipado com mísseis ANTAC ou o “Goliath” alemão, uma espécie de antecessor dos modernos robots que começam a chegar aos campos de batalha. É também aqui eu se encontra uma primeira referência a Portugal: um cartaz do filme de Maria de Medeiros “Capitães de Abril”, para o qual – embora nenhuma referência a isto esteja presente – o museu cedeu viaturas.

A "Vespa" anti-carro, com um canhão sem recuo de 75mm, destinada aos pára-quedistas franceses

A "Vespa" anti-carro, com um canhão sem recuo de 75mm, destinada aos pára-quedistas franceses

Junto a curiosidades civis e algumas destinadas ao cinema, o cartaz do filme de "Capitães de Abril", no qual o museu colaborou

Junto a curiosidades civis e algumas destinadas ao cinema, o cartaz do filme de "Capitães de Abril", no qual o museu colaborou

Este "Jeep" anti-carro está armado com misseis "ANTAC" de 1958

Este "Jeep" anti-carro está armado com misseis "ANTAC" de 1958

Sala Pacto de Varsóvia, a que temos acesso por uma entrada que simula o “Muro de Berlim” e dentro da qual uma grande colecção de veículos “do Pacto” nos é apresentada. Parte deles está bem expresso, sem problemas, foram capturados pelo Exército Francês na Guerra do Golfo e na Bósnia. Aqui também se apresenta aos mais novos o que foi o Pacto de Varsóvia e os países que o compunham. Os principais carros de combate de fabrico russo estão expostos, desde o T-34-85, ao T-72, passado pelo T-54-55 e outros, para além de viaturas blindadas diversas, como a PT 76 da Infantaria de Marinha soviética, as conhecidíssimas e muito distribuídas internacionalmente BMP 1 e BTR 70, ou menos conhecidos como a anti-aérea BOV 3 Jugoslava trazida da Bósnia-Herzegovina em 1996 ou a RM 70T (lança foguetes múltiplos) da Checoslováquia.

Um T-54 junto á entrada da sala Pato de Varsóvia onde se entra por uma réplica do "Muro de Berlin" (mais à frente encontra-se um pedaço real do mesmo)

Um T-54 junto à entrada da sala Pacto de Varsóvia onde se entra por uma réplica do "Muro de Berlim" (mais à frente encontra-se um pedaço real do mesmo)

O T-54/55 em primeiro plano foi "recuperado" no final da Guerra do Golfo. Segue-se um T-62

O T-54/55 em primeiro plano foi "recuperado" no final da Guerra do Golfo em 1991. Segue-se um T-62 com a mesma origem.

Um BOV-3 sérvio trazido da Bósnia em 1996 e em 2ª plano um SPR 1 de guerra electrónica

Um BOV-3 sérvio trazido da Bósnia em 1996 e em 2ª plano um SPR 1 de guerra electrónica

As viaturas mais emblemáticas do "Pacto" estão aqui presentes, bem assim como notas sobre a história desta organização militar

As viaturas mais emblemáticas do "Pacto" estão aqui presentes, bem assim como notas sobre a história desta organização militar

Um "RM 70" de fabrico Checoslvaco mas que pertenceu ao Exército da Alemanha Democrática

Um "RM 70" de fabrico Checoslovaco mas que pertenceu ao Exército da Alemanha Democrática

Veja aqui a 2ª parte desta reportagem: O MUSEU DOS BLINDADOS DE SAUMUR – PARTE II

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