MUSEUS MILITARES DE POZNAN: ARMAMENTO PESADO E AERONAVES
Por Miguel Machado • 17 Mar , 2010 • Categoria: 03. REPORTAGEM, 14.TURISMO MILITAR Print
O Museu do Armamento do qual a parte interior se viu no artigo anterior, dispõe de uma área ao ar livre que apresenta muito material pesado quer do período da 2ª Guerra Mundial quer da época do Pacto de Varsóvia. Alguns, poucos, destes equipamentos ainda servem neste tempo em que a Polónia é, agora, membro da Aliança Atlântica.
2ª Guerra Mundial
A participação polaca na 2ª Guerra Mundial não costuma ser muito falada a não ser para aludir ao inicio do conflito e à derrota face aos Exércitos do III Reich (a Oeste) e da URSS (a Leste). A participação dos polacos no decurso do conflito foi no entanto muito mais do que isso. Na realidade unidades polacas combateram em muitas frentes, ao lado dos Aliados, embora tal facto tenha sido “esquecido” ao longo dos anos de regime comunista. Foi um esforço de muitos milhares de polacos que combateram em diferentes unidades, apoiadas e armadas sobretudo pelo Reino Unido mas também numa fase inicial pela França. Narvik na Noruega, França, Reino Unido (batalha de Inglaterra) Tobruk (Líbia) e Itália, foram os teatros de operações onde se distinguiram tendo-se coberto de glória no assalto final a Monte Cassino onde conseguiram quebrar a resistência alemã. A história destas unidades exiladas e de cada uma, é uma autêntica epopeia que antes destes combates passou pela União Soviética, Pérsia, Síria, Palestina e arrastou centenas de milhares de polacos e suas famílias, muitas vezes desde os campos de prisioneiros para a frente de batalha. Nunca esquecendo – e os polacos não o esquecem – que parte importante dos oficiais polacos foram assassinados pelos russos em 1943 no tristemente célebre massacre de Katyn.
Claro que em termos de material pesado o que vemos neste museu de Poznan reporta-se apenas ao de origem soviética. A participação das unidades polacas ao lado dos aliados na 2ª guerra mundial nunca foi bem aceite pelo poder comunista do pós-guerra – o primeiro livro que abordou a participação polaca em Monte Cassino só foi autorizado em 1956 e os polacos que regressaram ao seu país depois de ter combatido ao lado dos aliados eram aconselhados oficialmente a nunca o referirem publicamente – e recordações dessa vertente da guerra mundial apenas nos apareceu nos outros museus em peças de uniforme e armamento ligeiro.
Podemos aqui ver um interessante conjunto de carros de combate de concepção russa, de um modo geral bem mantidos, tendo em consideração que estão ao ar-livre. Da 2ª guerra mundial destaca-se o T-34, o IS-2 e o ISU-122. Muitas peças de artilharia de vários calibres, desde os pequenos canhões anti-carro às peças de artilharia de campanha de 122mm e morteiros. Ainda presente um exemplar dos primeiros “Katyushas” montados em camiões de fabrico americano “Studebaker” e outras viaturas com finalidades especiais dessa época como as destinadas á defesa anti-aérea.
Pacto de Varsóvia
Esta é a componente forte do espaço com helicópteros, aviões e mísseis, viaturas para várias finalidades e um ou outro carro de combate. De um modo geral trata-se de material de fabrico polaco, embora a generalidade segundo patentes soviéticas.
Os materiais expostos variam muito no seu estado de conservação. Percebe-se que não será fácil (nem barato!) manter com as condições atmosféricas do local, um bom estado geral. Nota-se que parte dos meios foram recentemente pintados e estão em estado novo e outros, sobretudo aeronaves, nem por isso.
As Forças Armadas Polacas eram umas das fortes componentes do Pacto de Varsóvia e à semelhança de muitos dos seus aliados de então acumularam enormes quantidades de armamento pesado nomeadamente carros de combate e artilharia, bem em linha com a doutrina soviética. Para se ter uma ideia da sua dimensão note-se que em 1988 quando Gorbatchev anuncia uma redução unilateral do arsenal do Pacto, só a Polónia reduziu cerca de 40.000 militares, 850 carros de combate, 900 peças de artilharia, 700 viaturas blindadas e 80 aviões. Em termos gerais isto significou uma pequena parcela da sua capacidade de então que incluiria (dados aproximados de 1975) 230.000 militares no Exército, 60.000 na Força Aérea, 25.000 na Marinha e 550.000 reservistas treinados.
Na realidade as Forças Armadas polacas eram as de maior dimensão de todo o Pacto (exceptuando a URSS) e eram também as únicas que tenham unidades de elite de escalão divisão: uma aerotransportada e outra de infantaria de marinha. Organizados, treinados e equipados para fazer frente aos exércitos da NATO não deixaram de ter um papel importante na manutenção do regime comunista no país.
Na cidade de Poznan teve lugar uma importante revolta popular em Junho de 1956 – na historiografia actual do país foi este o principio do caminho que levou à queda do comunismo na Polónia – a derrota da qual só foi possível com o emprego de duas divisões blindadas e duas de infantaria. O regime empregou 10.000 soldados e 400 carros de combate que abafaram pela força a revolta.
Como em muitos outros países estes factos são parte da história, mas estão ultrapassados. As Forças Armadas Polacas estão integradas na NATO, o país tem sido um dos grandes contribuintes em homens para as missões de apoio à paz quer da ONU, quer da UE quer na NATO e ainda em outras coligações internacionais como no caso do Iraque. Nestas operações a Polónia tem envolvido além de efectivos muito consideráveis, meios materiais importantes e tecnologicamente evoluídos.
Da nossa curta passagem por Poznan fica também a imagem que os militares estão bem integrados na sociedade civil, com espaço visível em programas de televisão, vários museus abertos ao público como estes que apresentamos e outros, várias publicações não-oficiais sobre temas militares históricos e actuais disponíveis nas livrarias e a realização de actividades tipo “carrossel” de reconstituição histórica.
Veja aqui a 1ª parte deste artigo: MUSEUS MILITARES DE POZNAN – I
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