MUSEU DO AR (MUSEO DEL AIRE): HISTÓRIAS DA AVIAÇÃO MILITAR CUBANA
Por Antonio Carmo • 30 Mar , 2009 • Categoria: 03. REPORTAGEM, 14.TURISMO MILITAR PrintViajar para a República de Cuba e desfrutar de uns agradáveis dias de férias, passou a ser, nos últimos anos, um destino muito comum entre os turistas portugueses, tornando-se Varadero e as suas esplendorosas praias, numa das maiores atracções da ilha dos irmãos Fidel Castro e Raul Castro.
Ainda incluídos nestes pacotes turísticos de forte índole comercial, são também oferecidas curtas visitas às cidades limítrofes: a Vila de São Cristóvão de Havana fundada em 1519 e, hoje, capital do arquipélago cubano, é uma das principais ofertas.
Uma vez instalado na cosmopolita província de CIUDAD DE LA HABANA, principal centro administrativo, político, cultural e científico, o turista comum é orientado a visitar lugares emblemáticos como o Memorial “José Marti” (inaugurado em 1996), o Passeio do Prado, o Cristo de Havana, o Jardim Botânico Nacional, o Museu do Rum, o Museu da Alfabetização, o Museu Napoleónico, o Museu Nacional de Belas Artes e, já depois do pôr-do-sol, mais concretamente às 21H00, a vistosa e tradicional cerimónia do disparo do canhão que todas as noites é celebrada na fortaleza de San Carlos de La Cabaña. Reza a história que na época colonial, este momento singular – o disparo do canhão – anunciava o encerramento das portas da muralha e da colocação da cadeia que situada entre os castelos El Morro e da Punta, impedia a entrada de navios para o porto.
Hoje é um sinal para os foliões das alegres noites de Havana.
Porém, para além destes ex-libris que a cidade de Havana oferece, outros há que as agências turísticas raramente oferecem nos seus detalhados programas. Entre os muito pouco oferecidos e com elevado interesse histórico, encontra-se o MUSEU DO AR (Museo del Aire), único do seu género em Cuba, pois engloba toda a história da aeronáutica (Força Aérea), a cosmonáutica e a defesa anti-aérea na Pátria de José Martí.
O MUSEU
Com uma área total de aproximadamente 15.000 m2, o Museu do Ar (Museo del Aire) que já se chamou “MUSEU DA DAAFAR – Defesa Anti-Aérea/Força Aérea Revolucionária”, entre 1986 (ano da sua inauguração) e 1996, compõe-se de três grandes salas (área coberta), um planetário e uma área ao ar livre em que estão expostas 52 peças, entre aviões, helicópteros, artilharia anti-aérea e radares de detecção aérea, sempre ligadas a inúmeras etapas dos conflitos que Cuba enfrentou, principalmente a partir do chamado “Triunfo da Revolução”, em 1 de Janeiro de 1959, e que este ano comemora o seu 50º aniversário.
Na América Latina podemos mesmo afirmar que se trata do museu aeronáutico com a maior colecção exposta de lendários aviões Mikoyan Gurievich MiG, incluindo alguns exemplares que combateram na nossa ex-província ultramarina de Angola, durante os anos posteriores à declaração da sua independência, em 11 de Novembro de 1975.
Paralelamente a estas aeronaves mais contemporâneas, podemos apreciar de perto um Lockheed T-33 “Shooting Star”, utilizado durante os combates aéreos na invasão que a história baptizou com o nome de Baía dos Porcos (ou Playa Girón), o pequeno CESSNA – 310 que pilotava e utilizava o lendário guerrilheiro Che Guevara nos primeiros anos da Revolução Cubana, o mítico helicóptero MIL MI-4 “Hound” que usava o Presidente Fidel Castro na década de 60, o histórico P-51 D “Mustang” adquirido por Haydée Santamaria nos EUA, em 1958 e enviado para a Segunda Frente Oriental “Frank País”, onde se formou parte da Força Aérea Rebelde ( o incipiente, mas eficaz poderio aéreo da guerrilha liderada por Fidel Castro Ruz), embrião da actual Força Aérea Revolucionária, e ainda um B-26 exposto com as insígnias da FAR, mas onde existem fortes suspeitas de ser uma das sete aeronaves abatidas ao efectivo da FAP (nº 7101 ?), em 1974, e deixadas em Luanda (Angola) por Portugal.
A fechar este acervo de aeronaves podemos também apreciar e tocar o poderoso Mikoyan-Gurevich MiG-29 UB “Fulcrum”, recentemente incorporado nesta colecção, a aeronave de maiores possibilidades de combate que a Força Aérea Revolucionária tem ao seu serviço.
Mas os tesouros deste espaço não se limitam a aeronaves de asa fixa e rotativa.
ATRACÇÕES DIVERSAS
De acordo com a sensibilidade dos visitantes, podemos igualmente viajar com a imaginação pelo cosmos, num modesto mas bem conservado PLANETÁRIO que foi inaugurado em 22 de Fevereiro de 2002.
Único a funcionar na capital e o de mais elevada tecnologia no país, sobressai pela sua condição bipolar, pois mostra os hemisférios Norte e Sul; inclui ainda aditamentos que ajudam a representar imagens das constelações, os eclipses do Sol e da Lua, bem como dispositivos que projectam vários círculos máximos na esfera celeste como o meridiano, o equador, a elíptica e os círculos horários vertical e horizontal, entre várias acções com carácter didáctico.
Para terminar a visita ao ar livre, e junto da cerca que baliza o perímetro das infra-estruturas do museu, o visitante pode apreciar, entre outras, as inúmeras peças de artilharia anti-aérea que equiparam, desde a sua formação, as tropas desta sensível especialidade da DAAFAR. Particularmente significativa é a exposição da Bateria Anti-Aérea DVINA #3019 – Tipo SA-75 MK que derrubou a aeronave de exploração estratégica e reconhecimento a grande altitude LOCKHEED U-2, matrícula F-2524 da USAF, durante a chamada “Crise de Outubro” em 1962.
Nas três salas integradas na infra-estrutura coberta são exibidas, entre outras peças de cariz aeronáutico como fotografias antigas, cadernetas de voo, uniformes e distintivos de piloto-aviador de diferentes países, bem como objectos de uso pessoal utilizados pelo primeiro cosmonauta do Caribe e da América Latina, o hoje General-de-Brigada Arnaldo Tamayo Méndez, Chefe da Direcção de Relações Exteriores do Ministério das Forças Armadas Revolucionárias (MINFAR).
Situado na rua 212, entre o nº 29 e 31, no bairro de La Coronela, no município de La Lisa, o Museu do Ar encontra-se aberto todos os dias da semana (encerra à segunda-feira), entre as 10H00 e as 17H00. Um ingresso para turistas estrangeiros tem um custo de dois dólares US.
EPÍLOGO: A SURPRESA DA TRANSFERÊNCIA
Já estava concluído este breve apontamento quando fui surpreendido com a inesperada notícia do encerramento do MUSEU DO AR.
Conforme testemunhos credíveis, desde Abril de 2008 que as autoridades cubanas iniciaram o processo de desmontagem e transferência de todo o espólio exposto para uma área adjacente à BASE AÉREA DE “SAN ANTÓNIO DE LOS BAÑOS” (UNIDADE MILITAR 1779 /UM 1779).
Esta importante infra-estrutura aeronáutica da DAA-FAR (Defesa Anti-Aérea – Fuerza Aérea Revolucionária) situa-se no município de San António de los Baños na província de Havana, local onde foram activadas as primeiras Milícias Populares Revolucionárias (1959), e donde descolaram as aeronaves que destruíram toda a capacidade ofensiva da Brigada de Assalto 2506, na famigerada invasão de Playa Girón (Baía dos Porcos).
Apesar do inusitado, mantenho a estrutura do apontamento que terá sempre o seu interesse histórico, e servirá de elemento comparativo quando for reaberto o novo MUSEU DO AR em San António de los Baños.
Desde já uma certeza: os turistas apaixonados por esta temática terão de percorrer uma distância maior para poderem efectuar uma demorada visita.
AGRADECIMENTO:
O autor agradece ao Lic. Rolando Medina Conde, Director de Colecções do Museu do Ar, a sua generosa atenção e permanente disponibilidade que manifestou durante a visita.
Expresso, ainda, o meu grato reconhecimento ao Juan Carlos Peiro Fernandez, um amigo de Havana que me apoiou nestas andanças e ajudou a maximizar o escasso tempo que dispunha.
BREVE CRONOLOGIA HISTÓRICA DA AVIAÇÃO MILITAR CUBANA: 1910-2008
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