MUSEU DA ALAT – AVIAÇÃO LIGEIRA DO EXÉRCITO FRANCÊS
Por Miguel Machado • 12 Ago , 2010 • Categoria: 03. REPORTAGEM, 14.TURISMO MILITAR PrintQuem entra em França pela fronteira de Hendaye e segue na direcção de Bordéus pela A63 / E05 / E70 passa bem perto de Dax. Um pequeno desvio (10Km) da rota em direcção ao Norte coloca-nos na localidade que alberga o Museu da Aviação Ligeira do Exército Francês (Musée de l’ALAT et de l’Helicoptère).
Galeria Histórica
Junto à Base Escola de Dax, de seu nome completo e oficial « École d’application de l’aviation légère de l’armée de Terre (EAALAT) », o Museu da Aviação Ligeira do Exército Francês é uma visita muito interessante para os entusiastas deste tipo de aeronaves e também para conhecer melhor parte da história do exército francês nomeadamente as operações na Indochina e Argélia.
O museu dispõe, além da recepção e loja, um sala de projecção de filmes, um sector com várias salas dedicadas à história desta componente do exército francês, desde os primórdios no período dos balões de observação de artilharia – esta aviação nasceu e desenvolveu-se em França “pela mão” dos oficiais de artilharia observadores aéreos – até às actuais missões de paz e de guerra da Bósnia ao Afeganistão, com algum destaque para as operações na Argélia francesa. Estas salas apresentam muitas fotografias, pequenos objectos alusivos aos militares que operaram as aeronaves de asa fixa e asa rotativa, uniformes, armamento e equipamento individual, mapas e emblemática. Destaque neste sector do Museu para uma sala “de aulas” onde se explica o funcionamento de um AL II e muitas particularidades das aeronaves de asa rotativa, uma sala de motores e também para uma Sala Memorial pelos mortos da ALAT.
Estes espaços iniciais seguem aquilo que podemos considerar, sem desmérito algum, um modo antigo de expor informação. Ou seja, os painéis e vitrinas têm muita informação exposta. Interessante para quem gosta muito do tema, talvez nem tanto para quem não pretenda aprofundar. Nós gostamos!
Seguimos agora para um enorme hangar onde se encontra exposta parte substancial da colecção de aeronaves do museu e também mais uma série de objectos relacionados. Viaturas, motores, equipamentos de apoio, uniformes e armamento também integram a exposição junto às aeronaves. Grande parte dos helicópteros e aviões estão mesmo guarnecidos com as “tripulações” devidamente fardadas e equipadas. Uma nota inicial se impõe. Embora o nome do museu seja “Museu da ALAT e do Helicóptero”, no seu inventário fazem parte muitas aeronaves de asa fixa. Pouco menos de metade dos aparelhos expostos são pequenos aviões que serviram no exército francês. Para instrução de voo mas também em missões operacionais por diversos teatros de operações para observação, reconhecimento e transporte de feridos.
Aviação Ligeira do Exército Francês
Visitar não só a anterior galeria como estas aeronaves é claro que se está mergulhar na história da ALAT. E como acontece em muitas outras organizações militares, a criação desta componente do Exército não foi pacífica nem rápida…Não vamos aqui abordar em detalhe este percurso mas ainda assim julga-se com interesse aludir aos principais marcos da sua história.
Embora os aviadores do Exército tenham a sua origem remota nos balões e dirigíveis militares, esta especialização desenvolveu-se muito no decurso da 1ª Guerra Mundial (1914-1918). No inicio deste conflito a aeronáutica militar francesa dispunha de 4.000 militares, 162 aeroplanos, 6 dirigíveis. No final da guerra, contas feitas, a indústria francesa tinha construído 52.146 aviões! Um salto impressionante. Em 1933 foi criada a Força Aérea Francesa e nasceu a luta pela manutenção no exército de uma componente aérea para apoiar, em termos de observação, a artilharia. E assim se manteve durante o período entre guerra com aeronaves destinadas a este efeito, nomeadamente com “autogiros” em grande número. Depois da derrota de 1940 parte do exército francês reorganiza-se na África do Norte segundo modelo US. E aí, os observadores de artilharia começam a operar aviões ligeiros AEROCA L3 e PIPER. No final da 2ª Guerra Mundial o exército francês vindo de África dispunha de cerca de uma centena destes aparelhos para missões de observação e ligação. Em termos legais, terminada a guerra, competia ao Exército a organização e emprego dos aviões de observação de artilharia e à Força Aérea pertenciam os pilotos e os aparelhos. Com o inicio das campanhas coloniais francesas na Ásia e África, estavam criados 8 Grupos de Aviação de Observação de Artilharia: Indochina (Hanoi; Sigão; Tonkin); França (Essey lès Nancy); Alemanha (Mayence); Argélia (Sétif); Marrocos (Fez); Tunísia (Tunis). E assim se chega há Guerra da Indochina (1946-1954), onde, pela primeira vez, os franceses operam helicópteros em campanha: 2 Hiller UH 12, para missões de evacuação sanitária, adquiridos pelos serviços de saúde militar. Estes Hiller foram quase sempre operados por pilotos da Força Aérea e socorreram a partir de 1951 mais de 300 feridos em 750 saídas. Foi num Hiller que a primeira mulher com brevet de piloto de helicóptero em França (e na Europa), a médica militar Valérie André, cumpriu mais de uma centena de missões operacionais entre finais de 1950 e meados de 1953.
Em 1952 é publicada legislação que define explicitamente pertencer ao Exército a Aviação Ligeira de Observação de Artilharia (mesmo assim deixava de fora e mantinha-os na dependência da Força Aérea, as 3 unidades em operações na Indochina) e determinada que até 1 de Janeiro de 1954 todos o pessoal da Força Aérea regressava ao ramo e seria substituído por pessoal do Exército. Na Indochina, enquanto estas “guerras corporativas” se desenrolavam novos meios aéreos foram chegando, nomeadamente os helicópteros Sikorsky H19 (designados pelos franceses S 55) e aviões Cessna L19, que se juntaram aos Piper L4 e helicópteros Hiller 360. Em 17 de Maio de 1954 cai Dien Bien Phu e termina para a França a guerra da Indochina. O pessoal da aviação do Exército começa, depois de terminado este conflito, a usar uma boina de cor azul, símbolo desde essa época da aviação ligeira do exército francês, cujo comando é criado em Paris em 22 de Novembro de 1954.
Mas, ao mesmo tempo, os observadores aéreos do exército cumpriam muitas das suas missões “conduzidos” pelos seus camaradas da Força Aérea. e alguns balões cativos. Criada oficialmente em 1954, já antes em 1950 na Indochina, ela operou com um estatuto misto. Os meios eram do Exército mas as tripulações da Força Aérea.
Neste ano rebenta a insurreição armada na Argélia e a ALAT vai conhecer um enorme desenvolvimento. Além dos meios já ali posicionados novas unidades vindas de França e da Alemanha rumam ao norte de África. Foi neste conflito que nasceram – dizem os franceses – os termos «helitransporte» e «heliassalto». Mas muitos aviões ligeiros são aqui empregues. Algumas unidades operacionais da ALAT designavam-se inclusive, “Pelotões Mistos Aviões e Helicópteros”. Os principais helicópteros usados na Argélia foram os Sikorsky S11, Vertol H 21 (Banana) e Bell 47.
No total, em 1960, operavam com o Exército Francês, 394 helicópteros e 687 aviões.
Terminada a guerra em 1962 a ALAT regressa a França e reorganiza-se para fazer frente a um conflito convencional na Europa. Surgem os AL II e os AL III, alguns equipados com mísseis anti-carro a partir de 1968 e, em 1969 os Puma começam a substituir os Sikorsky. Em 1974 entram ao serviço os Gazelle, muitos dotados de mísseis Hot, que começam a render os AL II e III. Nos anos 90 a ALAT participa na Guerra do Golfo com 126 helicópteros e estes meios do Exército servem nos quatro cantos do globo seja em missões autónomas do seu país seja nas missões da ONU, NATO e EU.
A ALAT, Hoje
Em termos de organização muita coisa foi mudando ao longo dos anos, e agora mais uma vez se anunciam novas alterações/reduções de efectivos e meios. Em todo o caso o Exército Francês está a receber novos e até já a opera por exemplo no Afeganistão os Tigre e os EC 725 «Caracal» e mantém as seguintes unidades:
1º Regimento de Helicópteros de Combate (em Phalsbourg
3º Regimento de Helicópteros de Combate (em Étain),
4º Regimento de Helicópteros das Forças Especiais (em Pau)
5º Regimento de Helicópteros de Combate (em Pau)
Escola de Aviação Ligeira do Exército (em Le Cannet des Maures)
Escola de Aviação Ligeira do Exército (em Dax)
O Exército opera os seguintes meios aéreos:
Helicópteros: EC 725 CARACAL; Fennec AS 555; Cougar AS 532; Gazelle Canon SA 341; Gazelle Hot SA 342; Gazelle Mistral SA 342 l1; Gazelle SA 342 l1 ; Gazelle Viviane SA 342 l1 ; Puma SA 330 ; Tigre ; NH-90 (brevemente)
Aviões:
Pilatus PC 6 (transporte material e lançamento pára-quedistas); TBM 700 (transporte VIP).
Clique aqui para ver o site Museu da ALAT no site oficial do Exército Francês.
Clique aqui para ver informações sobre o Museu e Dax no site do município.
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